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2 DA RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

4.3 POSIÇÃO JURISPRUDENCIAL PÁTRIA SOBRE A RESPONSABILIDADE

4.3.2 Do posicionamento adotado por alguns Estados da Federação no período

Acompanhando o posicionamento adotado pelo Tribunal de Justiça Catarinense, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul tem se manifestado a favor da aplicação da responsabilidade subjetiva nos casos em que ocorram danos em razão da omissão da administração Pública.

Conforme entendimento da responsabilidade subjetiva colhe-se o seguinte julgado:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇAO DE INDENIZAÇAO. MUNICÍPIO. ALAGAMENTO DE IMÓVEL. CASO FORTUITO NÃO CONFIGURADO. REDE DE ESCOAMENTO PLUVIAL INSUFICIENTE. OMISSÃO DO ENTE ESTATAL. CULPA.

1. Não se está diante de caso de responsabilidade objetiva da Administração Pública, em que poderia ser aplicada a teoria do risco administrativo. Trata-se, na verdade, de hipótese de responsabilidade

subjetiva, tendo por fundamento a omissão estatal, decorrente de comportamento ilícito, sendo necessária a prova do dolo ou de alguma das modalidades de culpa. 2. O alagamento do imóvel da autora não pode ser considerado como caso fortuito, tendo em vista que ficou demonstrada a omissão do Município em relação a limpeza dos bueiros da região. 3. Agiu com culpa o Município, principalmente na modalidade de negligência, ao deixar de atuar preventivamente, a fim de evitar a ocorrência de danos aos moradores. 4. Presentes os pressupostos da obrigação de indenizar, evidente se mostra a ocorrência dos danos em virtude do alagamento e destruição do imóvel da autora decorrentes da insuficiente rede de escoamento pluvial existente na região. Danos comprovados. APELO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2006).

Veja-se que os desembargadores da nona Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, por unanimidade de votos, negaram provimento ao apelo do Município de Porto Alegre, isto porque, no caso em comento, por se tratar de omissão do Estado, decorrente de comportamento ilícito, não há que falar em caso fortuito ou força maior, quando comprovada a culpa da Administração Pública.

Assim, tratando-se de ato omisso do Estado, o Tribunal gaúcho entende não ser suficiente que o terceiro prejudicado comprove o nexo de causalidade e o dano, valendo-se da teoria objetiva, mas sim que o evento danoso seja decorrente de qualquer das modalidades da responsabilidade subjetiva, isto é, que o ente estatal tenha sido negligente, impudente ou imperito.

No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul também tem se manifestado favorável a aplicação da teoria subjetiva em casos da omissão do Estado.

Neste contexto, extrai-se o seguinte julgado:

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO POR OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE - AFASTADA - MÉRITO - VEÍCULO DE MUNÍCIPE QUE CAI EM BURACO NA VIA PÚBLICA – RESPONSABILIDADE SUBJETIVA POR FALTA DO SERVIÇO - OMISSÃO DO MUNICÍPIO NÃO CARACTERIZADA -CAUSA EXCLUDENTE DE ILICITUDE - ÔNUS DA PROVA - ART. 333, I, DO CPC - RECURSO IMPROVIDO. (MATO GROSSO DO SUL, 2009).

Destaca-se que a terceira Turma Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul, por unanimidade de votos, deixou de acolher o pedido do apelante para negar provimento ao recurso, por entender que em se tratando de omissão da Administração Pública, o correto a ser aplicado é a teoria subjetiva.

Desse modo, para o alcance da responsabilização estatal, faz-se necessário cumprir todos os requisitos da teoria da subjetiva, ou seja, o apelando além de comprovar que houve o fato e o nexo causal, deverá demonstrar o prejuízo sofrido, bem como que o fato se deu em razão da culpa do Estado, uma vez que exigia-se uma ação do ente estatal, porém este foi omisso.

Por outro lado, diferentemente do posicionamento adotado pelos Tribunais supracitados, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo tem entendido que em se tratando da falta de ação da Administração Pública, para a responsabilização estatal, bastará que o ofendido demonstre o fato e o nexo de causalidade, aplicando- se ao caso, a teoria da responsabilidade objetiva, a qual dispensa a comprovação da culpa daquele que deu causa ao prejuízo, ainda que seja por um ato omissivo, como acontece nos casos de calamidade pública.

Assim, é de toda a importância trazer a baila o seguinte julgado:

RESPONSABILIDADE CIVIL. Residência inundada pelas águas da chuva. COMPROVAÇÃO. Danos morais e materiais. CABIMENTO. Omissão do Poder Público. Recurso provido para julgar a ação procedente. (SÃO PAULO, 2010).

Nota-se que neste caso, para que a Administração Pública fosse condenada a pagar indenização ao terceiro lesado, não foi necessário que o proprietário do imóvel, que teve sua residência inundada pelas águas da chuva, comprovasse a culpa do Estado em qualquer de suas modalidades, negligência, imprudência ou imperícia, mas sim que houve um dano e que este se deu em decorrência da omissão estatal.

Da mesma forma, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro vem manifestando-se favorável a responsabilidade objetiva quando a administração pública se omite em casos de calamidades públicas, senão vejamos.

Neste sentido, colhe-se o seguinte julgado:

AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ. IMÓVEL AUTORAL CONSTANTEMENTE INUNDADO POR CHUVAS. ALEGAÇÃO DE DEFICIÊNCIA NA REALIZAÇÃO DE OBRAS A CARGO DA EDILIDADE. LAUDO PERICIAL DE ENGENHARIA QUE ATRIBUI COMO CAUSA O EQUÍVOCO NA CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM. NEXO CAUSAL COMPROVADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NARRATIVA CONSTANTE DA INICIAL DA QUAL NÃO SE PODE EXTRAIR A PRETENSÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO OU CONGRUÊNCIA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. (RIO DE JANEIRO, 2009)

Veja-se que, segundo entendimento desta Corte, mesmo que a Administração Pública tenha infringido um dos requisitos da teoria subjetiva, não há a necessidade de o terceiro prejudicado comprova-la, aplicando-se ao caso concreto a teoria da responsabilidade objetiva.

Ante o exposto, verifica-se a divergência entre os tribunais pátrios quanto à espécie de responsabilidade civil aplicável aos casos de omissão do Estado, em especial as hipóteses de calamidade pública.