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CAPÍTULO III REGIMES DE COMPETÊNCIA TRABALHISTA-PREVIDENCIÁRIA NO DIREITO COMPARADO E NO BRASIL

3.2 DO SISTEMA DE COMPETÊNCIAS JUDICIÁRIAS NO BRASIL

Um regime de competências judiciárias – delimitado pelo sistema constitucio- nal no Estado de Direito – surge naturalmente da assunção do Estado no controle social como meio de pacificação dos conflitos sociais. Controle exercido pelo poder Judiciário, na tarefa específica de administrar a justiça. Logo, ao Judiciário é conferi- do o poder de jurisdição judiciária.

dependentes numa totalidade sistêmica dinâmica, o critério constitucional define os

regimes de competências para cada um dos ramos do Poder Judiciário, o qual, como

regra, é constituído por dois subsistemas de justiça (ou de organização judiciária), o subsistema da Justiça da União e o subsistema das justiças comuns.

O primeiro subsistema é o ramo da Justiça brasileira que possui jurisdição fe- deral e nele estão ambientadas a Justiça Federal comum, a Justiça Federal do Tra- balho, a Justiça Eleitoral e a Justiça Federal Militar. O segundo subsistema é relativo às justiças estaduais, cuja competência para a organização é privativa e exclusiva de cada Estado da Federação, com regimes de competências definidos pelas Constitui- ções estaduais, porém jungidos aos princípios fixados na Constituição Federal (CRFB/1988, Art. 125).

O modelo de jurisdição e de competências brasileiro é estruturalista porque, por meio dos órgãos158 que compõem o Poder Judiciário, a jurisdição é exercida conforme o sistema do duplo grau de jurisdição, tendo no ápice da estrutura pirami- dal o Supremo Tribunal Federal com jurisdição em todo o país.

Ainda para o âmbito da jurisdição e competência federal, a Emenda Constitu- cional nº 45/2004 ratificou aos Tribunais Superiores jurisdição em todo o território na- cional (CRFB/1988, Art. 92, § 2º), observados os regimes específicos de competên- cias destinados para cada qual. Dada essa estrutura hierárquica, incumbe ao STF, na seara de suas competências, precipuamente a guarda da Constituição, isto é, sua competência jurisdicional é relativa à supremacia constitucional (CRFB/1988, Art. 102) e à unificação da jurisprudência constitucional.

Essa tarefa é desempenhada pela construção da jurisprudência com efeito de repercussão geral (CRFB/1988, Art. 102, § 3º), pela decisão definitiva nas ações di- retas de inconstitucionalidade e nas declaratórias de constitucionalidade com eficácia contra todos e com efeito vinculante (CRFB/1988, Art. 102, § 3º) ou por intermédio da edição de súmulas vinculantes mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional (CRFB/1988, Art. 1023-A) .

As demais competência especificadas e conferidas pela Constituição à Supre-

158 São órgãos do Poder Judiciário brasileiro, conforme o Art. 92 da CRFB/88:: I - o Supremo Tribunal

Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela EC 45/2004: II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV – os Tribunais e Juízes do Tra- balho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 02 Jul. 2012.

ma Corte brasileira (originária ou em sede de recurso extraordinário) estão relaciona - das nos incisos I a III, e parágrafos do artigo 102, cabendo destacar a competência originária para processar e julgar os conflitos de competências entre o Superior Tri - bunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre tribunais superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal. (CRFB/1988, Inciso I, alínea O, Art. 102).

São Tribunais Superiores, nesse regime de jurisdição federal, o Superior Tri - bunal de Justiça (com competências especificadas no Art. 105, I a III); o Tribunal Su - perior do Trabalho (com competência para processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho e os demais conflitos desta decorrentes, conforme o Art. 114 e in- cisos); o Tribunal Superior Eleitoral (com competências para matéria eleitoral, Art. 109, CRFB/88) e o Superior Tribunal Militar (competência para processar e julgar os crimes militares definidos em Lei. (Art. 124, parágrafo único, CRFB/88).

Com efeito, em sentido restrito, a Constituição Federal pátria delimita o mode- lo jurídico de jurisdição para o exercício das competências judiciárias.

É por isso que a Constituição, na visão de Canotilho (1998, p.1047), constitui- se num verdadeiro sistema interno (podemos denominar de ordem jurídica constitu- cional), estruturado em princípios fundamentais, o qual – dada a função circular do sistema – oferecerá os fundamentos para os subprincípios e regras concretizadoras dos princípios constitucionais.

Ao estabelecer o regime de jurisdição para o exercício da competência jurisdi- cional, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 cumpre suprema função jurídica e se apresenta como elemento fundamente de toda ordem jurídica159.

É a natureza constitucional que define os princípios constitucionais fundamen-

tais inerentes à jurisdição judiciária no Brasil160, e.g., princípio da independência judi-

ciária ou funcional, baseado nos princípios da independência e harmonia dos pode-

res (CRFB/1988, Art. 2º); princípio do acesso à Justiça, do qual é corolário o princípio da jurisdição provocada (CRFB/88, Art. 5º, XXXV e CPC, Art. 2º); princípio da jurisdi-

ção exclusiva em matéria judicial ou princípio da autoridade da decisão judicial, que

orienta o agir dos poderes para o respeito e acolhimento, por exemplo, da coisa jul- 159 FRANCIANE F. MARQUES (2009, p. 56-61), tratando sobre as funções e política da Constituição,

sob a ótica da reafirmação da axiologia constitucional, aponta o caráter normativo Supremo da Constituição como elemento fundamente da ordem jurídica e elemento de eficácia a todo or- denamento jurídico, daí decorrendo sua supremacia. (Grifo nosso).

160 O sistema de jurisdição judiciária no Brasil comporta a jurisdição civil, a contenciosa e a voluntária

(Art. 1º, do CPC). A contenciosa e a voluntária definem o modo pelo qual o magistrado deve atuar diante do conflito. A jurisdição civil (e também penal) é relativa ao objeto ou à matéria.

gada material como produto do exercício da competência judiciária (Art. 5º, XIX e XXXVI); princípio da razoável duração do processo e princípio da celeridade proces-

sual (Art. 5º, LXXVIII); e o princípio da competência jurisdicional, pelo qual ninguém

poderá ser processado nem sentenciado, salvo por autoridade competente (CRFB/1988, Art. 5º, LIII).

Todos esses princípios, somados aos outros de natureza universal161, orientam o exercício das competências judiciárias no sistema jurídico brasileiro. Aplicam-se, não de forma subsidiária ou auxiliar, mas com preponderância ao processo judiciário do trabalho, visto que são basilares à especificação das competências trabalhistas.

Por conseguinte, em sentido amplo, o sistema constitucional brasileiro delimita os regimes de competências judiciárias precisamente para o objetivo de garantir a unidade da ordem interior do próprio sistema jurídico, por meio do exercício da juris- dição.

Quando a Constituição brasileira, de 1988, fixa os regimes de competências para cada um dos ramos do Poder Judiciário, o faz – guiada pelo princípio da manu- tenção da unidade da jurisdição – não apenas em direção à função pragmática da Justiça (estabilidade das relações jurídicas pela composição dos conflitos), mas so- bretudo para a efetividade do ideário maior eleito a todos brasileiros e estrangeiros residentes no País, “sem distinção de qualquer natureza” (CRFB/1988, Art. 5º), obje - tivando a construção de uma “sociedade justa, livre e fraterna” (CRFB/88, Art. 3º, I), com ações voltadas à promoção da “dignidade da pessoa humana”. (CRFB/1988, Art. 1º, III).

Sob essa perspectiva teórica, a jurisdição162 é um poder outorgado ao Judiciá- rio para a implementação da Justiça social, que se concretiza pelo exercício das competências judiciárias específicas. Como assinalam Wambier; Talamini e Almeida 161 Na obra “O Livro da Competência”, ANTÔNIO LAMARCA (1979, p. 21-25) enumera diversos prin-

cípios inerentes à jurisdição: princípio da inércia da jurisdição, equivalente ao princípio da jurisdi- ção provocada; princípio da jurisdição territorial, específica ao exercício da competência num deter- minado território; princípio da prestação jurisdicional, relativo ao princípio do acesso ao Judiciário; princípio da indelegabilidade de competência, salvo os casos previstos em Lei; princípio da investi - dura na Jurisdição, que no sistema brasileiro ocorre pelo concurso público de provas e títulos; prin- cípio do juiz natural, relativo ao princípio da autoridade judiciária legítima ao pronunciamento judi- cial.

162 Compreendida dentro do sistema jurídico brasileiro – este, haurido das raízes romano-canônica –

jurisdição é a expressão de poder de soberania do Estado, que é exercida pelas funções executi- va, legislativa e judiciária. No sentido específico da jurisdição judiciária – segundo DE PLÁCIDO SILVA (1993, p. 27) – jurisdição tem origem latina (jurisdictio) composta pelas palavras jus e dice- re. Designa o poder jurisdicional aos magistrados, delimitando limites e extensão de seus poderes de julgar.

(2008, p.112) “jurisdição é a função do Estado, decorrente do exercício de sua sobe- rania, de resolver conflitos”.

Sob a perspectiva jurídica, jurisdição exprime a outorga constitucional que le- gitima e autoriza o Poder Judiciário à “atuação concreta da Lei” na expressão empre- gada por Giuseppe Chiovenda (1998, p.8), cujo sentido é somado à função da “justa composição da lide”, como descreve Francesco Carnelutti (1973, p. 43).

E competência é, na definição de José Afonso da Silva (1992, p.419),

a finalidade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do po- der público para emitir decisões. Competências são diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções.

Assim, a fixação de competência jurisdicional é uma exigência da ordem jurídi- ca constitucional para a construção da sociedade justa, livre e fraterna (como ideário do bem-comum) e para a segurança e estabilidade das relações jurídicas (como ob- jetivo específico). Logo, o regime de competências judiciárias brasileiro é compreen- dido dentro de uma teoria de justiça justificada, na pós-modernidade, especialmente pelo princípio do amplo acesso ao Judiciário.

O amplo acesso à Justiça dar-se pelo livre direito de ação, que é – no âmbito do sistema constitucional de jurisdição brasileiro – um direito fundamental para o exercício da cidadania. É para o sentido da viabilidade do amplo acesso à Justiça que o modelo de jurisdição brasileiro é estruturado em competências em razão da matéria, em razão da pessoa, em razão do valor da causa, em razão da hierarquia e competência em razão do lugar.

Essa estruturação viabiliza a prática judiciária à composição dos conflitos de qualquer natureza judicializados. Por esse sentido, a competência é exercida, como descrevem Wambier; Talamini e Almeida (2008, p.112-113), como “atribuição do ór- gão jurisdicional e não do agente”.

Definidos a todos os ramos do Poder Judiciário nacional, essas modos ou for - mas de competências especificam a maneira pela qual a jurisdição é exercida.

Para o âmbito da jurisdição da Justiça Federal do Trabalho, esse regime de competências também são definidos, em sentido amplo, pela Constituição Federal de 1988, e em sentido restrito, pela Consolidação das Leis do Trabalho163 e pelo Regi- 163 Na CLT, o sistema de jurisdição e o regime de competência das Varas, dos Tribunais e do Tribunal

mento Interno do Tribunal Superior do Trabalho, órgão de cúpula do Judiciário Traba- lhista brasileiro.

3.3 REGIME ATUAL DE COMPETÊNCIA TRABALHISTA NO SISTEMA