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CAPÍTULO IV COMPETÊNCIA JURISDICIONAL TRABALHISTA COMO MEIO À EFETIVIDADE DO DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL À PREVIDÊNCIA

4.2 A COMPETÊNCIA, PROBLEMAS JURÍDIC0S E MÉTODO DE INTEPRETAÇÃO DA TESE

4.2.2 Método de interpretação à superação dos obstáculos jurídicos

No Brasil, o regime atual de competência trabalhista está formatado constitu- cionalmente para as ações oriundas das relações de trabalho e para as demais con- trovérsias delas decorrentes ou derivadas.

Ao exercício dessa competência, em face das causas de natureza trabalhista- previdenciária, preponderantemente tem sido utilizado o positivismo jurídico como critério metodológico de subsunção dos litígios dessa natureza – critério que, por sua característica, submete os valores e os princípios constitucionais comuns ao traba- lho e à previdência à primazia da lei, além de excluir da competência material da JT a matéria que envolve o Regime Geral e o regime privado de previdência.

Para a segurança da tese, apresentamos como matriz interpretativa o neo- constitucionalismo jurídico-social porque confere primazia aos valores e aos princí- pios constitucionais em relação do positivismo jurídico.

A eleição dessa matriz permite concluir com segurança que a nossa tese é ju - ridicamente sustentável, à medida que os valores e os princípios constitucionais con- ferem o suporte à interpretação da linguagem jurídica e à configuração mais adequa - da do regime de competência para solucionar o conflito de natureza trabalhista-previ- denciária.

A matriz neoconstitucional – utilizando-se principalmente das interpretações sistemática e teleológica – coloca os valores e os princípios como esteios da Consti- tuição, nas quais as normas (as leis) devem ser interpretadas e aplicadas nos casos concretos que envolvam o Regime Privado e o Regime Geral de Previdência, quando o litígio tiver por base a relação de trabalho ou uma relação de emprego.

Isso porque, como observa Thaís Novaes Cavalcanti (2010, p.395), “Os princí- pios são a ponte de ligação entre os valores sociais e a normatividade constitucional”. E os valores, na interpretação de Franciane F. Marques (2009) – com a qual concordamos – são esteios constitucionais que identificam o texto constitucio- nal e que marcam e identificam a natureza do regime de competência jurisdicional, no caso específico da nossa abordagem.

Nas palavras da autora (2009, p.28),

Traduzidos na linguagem jurídica como esteios do sistema constitucional, os valores revelam-se importantes pontos de referências para a reafirmação do compromisso pactuado entre a sociedade e suas instituições e representam […] verdadeiras declarações que autentificam o Estado constitucional, identi- ficam a legitimidade do texto constitucional e mostram uma relação direta en- tre a axiologia e as funções de uma constituição.

A interpretação neoconstitucional, por sua capacidade aglutinadora dos valo- res, das normas e dos princípios, sempre alinhará os diversos métodos interpretati- vos (gramatical, histórico, positivismo jurídico ou lógico formal, teleológico ou princi- piológico e sistemático185) para o sentido da eficácia material e formal da Constitui- 185 O método hermenêutico gramatical, conforme KARL LARENZ (1966, p.256 apud BARROSO

(2004, p.127), “consiste na compreensão do sentido possível das palavras, servindo esse senti- do como limite da própria interpretação”. BALERA (2009, p.167-171) escrevendo sobre “A inter- pretação do Direito Previdenciário”, trata sobre os métodos gramatical, histórico, teleológico, lógi- co e sistemático. A mesma enunciação é feita por BARROSO (2004, p.126-149). Além desses métodos, FERRAZ JÚNIOR (2008, p.251-365) acrescenta os métodos hermenêuticos sociológi- co, evolutivo e axiológico. BALERA (2009, p.166) assim define os métodos interpretativos do Di - reito Previdenciário: no método histórico, “o intérprete confere especial solicitude ao curso dos sucessos históricos que levaram à construtura do [referido] instituto”, no método gramatical, a tarefa do intérprete “consiste na descoberta do sentido literal da expressão utilizada da norma”. Acrescenta este autor que, à disciplina da seguridade social, “o método histórico reafirma a identificação da clara constante que a Lei Magna atual consagra como valor social”. (BALERA , 2009, p.167). Ainda na descrição do mesmo autor, no método lógico “o estudioso só examina a norma jurídica e as conexões de validade entre normas”, isto é, só se preocupa com as conexões formais de validade entre as leis; e. no método teleológico, o intérprete vai indagar “a respeito da finalidade da ordenação das normativa”, ou seja, a investigação do intérprete inclui os valores e os princípios (p. 168-169). Para BARROSO (2004, p.136-147), a interpretação sistemática é es- trutural, coordenada para a compreensão da unidade interna e externa da Constituição, já para BALERA (2009, p. 172), congrega todos os métodos exegéticos para a configuração do sistema jurídico. FERRAZ JÚNIOR (2009, p.252) compreende que os métodos hermenêuticos “são, na verdade, regras técnicas que visam à obtenção de um resultado”, pois “com elas procuram-se ori- entações para o problema da decibilidade dos conflitos”. Segundo ainda FERRAZ JÚNIOR (2009, p.261), o método sociológico e o histórico são distinguíveis em consideração da estrutura mo- mentânea da situação ou sua gênese no tempo, mas sendo, na prática, difícil sustentar distinção entre os dois métodos. Acrescenta que, por esse motivo, às vezes surge a ideia de uma interpre - tação histórico-evolutiva. Mas um critério distintivo, de acordo ainda com FERRAZ JÚNIOR (2008, p. 266), é a averiguação das condições específicas do tempo em que incide a norma, sem desconhecer a sua gênese sociológica. Nesse sentido, a interpretação histórica e sociológica cui- dará de descrever, em conformidade em conformidade em condições históricas e atuais, as quali- dades da norma (evolução e a sua gênese). Pelo método teleológico, o autor compreende que,

ção, bem como para a eficácia social e jurídica de qualquer regime de competência jurisdicional, pois é por meio do exercício da jurisdição que, como assinala Eros Grau (2008b, p.316), “[...] o Poder Judiciário é tangido pelo dever de promover a exequibili- dade (efetividade) do direito ou garanta constitucional”.

Tomada a eficácia social no sentido do resultado que produz à coletividade pela aplicação da norma (pelo exercício da competência jurisdicional) caso a caso - como faz Afonso da Silva (2008)186 – temos aqui dois sentidos que se relacionam di- retamente com o método de interpretação adequado da nossa teoria de competên - cia material da JT às causas de natureza previdenciária-trabalhista: o primeiro, a apli- cação da norma (no caso da subsunção de um conflito de natureza trabalhista-previ - denciária, por exemplo) deve ser obrigatoriamente inspirada nos “fins sociais a que se dirige e às exigências do bem-comum” (Art. 5º do LINDB).

Por esse sentido, ter-se-á a interpretação teleológica ou principiológica orien- tando a norma e a jurisdição trabalhista para a efetividade jurídica da proteção social que se busca alcançar pela efetividade do direito fundamental à previdência. Com efeito, sob essa inspiração teleológica, os fins sociais a que a lei se dirige é a prote - ção social, uma exigência do bem-comum.

O segundo sentido está relacionado à natureza do direito que a aplicação da norma pelo exercício da competência trabalhista-previdenciária (inspirada pelos valo- res e princípios) procura efetivar. Como explica Grau (2008b, p. 317), se “o direito ou a garantia for” constitucionalmente “dotados de aplicação imediata, a aplicação da norma que os defina supõe decisão pronta para sua exequibilidade (efetividade)”.

Concebido o direito social à previdência como direito fundamental, na ótica de nossa tese a definição da competência jurisdicional da Justiça Federal do Trabalho às causas de natureza jurídica trabalhista-previdenciária, ainda sob o método de in- terpretação teleológica, assegura o imediato exercício desse Direito, visto que “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”, consoante o parágrafo 1º, artigo 5º da CRFB/88.

ao intérprete, sempre será possível atribuir um propósito às normas, mas também está relacio - nada à interpretação axiológica porque, pelos dois métodos, ativa-se a participação do intérprete na configuração do sentido da norma.

186 Examinando a eficácia social e a eficácia jurídica, AFONSO DA SILVA (2008, 65-66 apud GRAU,

2008b, p. 318) escreve que a “eficácia social efetiva conduta acorde com a prevista pela norma; re- fere-se ao fato de que a norma é realmente obedecida e aplicada”, enquanto que “a eficácia jurídi - ca da norma designa a qualidade, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos”. Afirma ainda o autor “uma pode ter eficácia jurídica sem ser socialmente eficaz”.

Portanto, será a correta adequação do regime de competência trabalhista-pre- videnciária, que confere a eficácia jurídica da decisão judicial trabalhista nas causas dessa natureza, isso porque – como bem assinalado por Grau (2008b, p.318)

a eficácia jurídica designa a qualidade de produzir, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos, ao regular, desde logo, as situações, as relações e compor- tamentos nela indicados.

Para o interesse de comprovação de nossa tese, se considerados e tomados isoladamente, não serão adequados os métodos gramatical, histórico e o positivismo lógico formal. Nesse sentido, a restrição crítica que se faz ao método histórico é por - que, ao se preocupar apenas com o êxito ou com a falta de êxito que configura um determinado regime de jurisdição no curso evolução da histórica, deixa de conside- rar outros critérios também importantes para definição de competências judiciárias.

Inadequado também será o método gramatical se, e quando, tomado na forma daquela interpretação montesquieniana (“os juízes são apenas a boca que pronuncia as palavras da lei”) (MONTESQUIEU, 2005), pois de tal método decorrerá apenas a literalidade formal da lei.

Quando a concepção da atividade judiciária for tipicamente positivista, tão so- mente compreendida e exercida “com a aplicação de regras preexistentes”, (BOB - BIO, 2006, p.98) – prescindindo da natureza da causa de pedir imediata ou da ori - gem do conflito como costuma ser o método adotado pelo positivismo jurídico – não terá funcionalidade à interpretação dinâmica da competência jurisdicional da JT às ações de natureza trabalhista-previdenciária.

Por ser avalorativo, porque só se preocupa com o aspecto formal (do modo de conformação de regime de competência), o positivismo jurídico, pois si só, não é sufi- ciente para melhor interpretar a competência da JT no Regime Geral e no Regime Privado Fechado de previdência. O positivismo jurídico tem na lógica (formal) jurídica o seu braço principal na tarefa interpretativa da norma enquanto definidora de regime de um competência.

À lógica jurídica só interessa “verificar quais as normas que em vigor que inci- dem sobre tal ou qual categoria de fatos”. Identificada qual norma jurídica que está vigendo, a lógica jurídica quer saber apenas se “é válida e se tem vigência para todo o ordenamento” (LOURIVAL VILANOVA, 2005, p.62). Portanto, não é própria de sua

natureza saber se a lei deve ser interpretada para uma finalidade social, nem se a lei deve configurar este ou aquele tipo de regime de competência jurisdicional.

O positivismo jurídico – quando recorre às categorias da lógica formal187, leva em conta apenas que a lei (tal como existe) deve ser interpretada e aplicada em cada litígio, no âmbito de determinado regime de competência. O método juspositi - vista (ou dogmatismo jurídico) e o seu braço principal (a lógica formal jurídica) não se preocupam com a efetividade do direito real, mas com o direito formal188.

Por estes motivos, tomado de forma isolada, não corresponde ao melhor mé- todo que pensamos para interpretar a teoria dinâmica da competência material da JT às causas trabalhistas-previdenciárias.

Tendo-se por centralidade os valores, as normas e os princípios processuais constitucionais que permeiam as relações jurídicas trabalhistas-previdenciárias, com- preendemos que o método mais adequado à sustentação do nosso problema teórico é o método sistemático. Não porque exclua ou elimine os demais métodos interpreta- tivos, mas pelo fato de resumir e compreender “todas as modalidades de exegese”, visto que nenhum dos métodos “é instrumentalmente excludente e todos se agregam ao labor exegético elementos aptos à concepção integral do fenômeno jurídico”. (BA - LERA, 2010, p.172-173).

Como interpreta Barroso (2004, p.136), o método sistemático permite “a visão estrutural, a perspectiva de todo o sistema”, pois “através dela (da interpretação sis - temática) o intérprete situa o dispositivo a ser interpretado dentro do contexto norma- tivo geral e particular, estabelecendo as conexões internas que enlaçam as institui - 187 De acordo com LOURIVAL VILANOVA (2005, p. 57), o formalismo lógico esvazia a linguagem de

qualquer comprometimento com os objetos individuais, pois consiste num sistema de símbolos com significações “tipos ou categorias de significações”. (VILANOVA, 2005, p.48). Na seara da in- terpretação do direito (de um regime de competência formatado pela norma), a lógica jurídica é a metodologia utilizada pelo operador do direito. Por esse método, o operador do direito, nas pala - vras de VILANOVA (2005, 62), “tem um fim específico: verificar quais as normas em vigor que in- cidem sobre tal ou qual categoria de fatos. Com a ajuda da experiência e da ciência jurídica (em sentido estrito), não procura as causas históricas, ou antropológicas, ou sociológicas, ou racionais, que intervêm na criação de regras do direito. Sem tais fatores reais, e ideais, não surgiriam, nem se desfariam tais regras, mas o propósito jurídico-dogmático é verificar se a norma existe. E existir a norma, significa se é válida, se tem vigência por ter sido pos ta por processo previsto no ordena- mento”.

188 BOBBIO (2006, p.135-139) esclarece que a principal característica do positivismo jurídico é a

abordagem avalorativa do direito porque seu esforço é transformar o estudo do direito numa verda- deira e adequada ciência, que tivesse as mesmas características das ciências físico-matemáticas, naturais e sociais . Por isso que, na explicação de BOBBIO (2006, p.144-146), o positivismo jurídi- co representa o Direito como fato pronto e acabado, destituído de valor, sendo por isso que o posi- tivismo interpreta e aplica o Direito formal, sem se preocupar se existe um direito real. É nesse sentido que o formalismo é uma característica da interpretação e da definição do positivismo jurídi- co.

ções e as normas jurídicas.

A interpretação sistemática orienta o magistrado trabalhista na tarefa criativa da decisão judicial adequadamente no regime que compreenda a competência traba - lhista-previdenciária, do que dependerão a eficácia social e a eficácia jurídica de suas decisões em face do direito social à previdência.

Em conclusão, o método sistemático-teleológico é o adequado para interpretar os critérios – os quais apresentamos a seguir como ápice de nosso estudo – que consideramos definidores da competência material da Justiça trabalhista ao proces- samento e julgamento das demandas de natureza trabalhista-previdenciária que re- percutam no âmbito do Regime Geral e do Regime Privado Fechado de previdência.

4.3 ELEMENTOS COMPROBATÓRIOS À COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO