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Do suposto enriquecimento sem causa por parte das operadoras

2.3 Dos planos de saúde e o ressarcimento ao SUS

2.3.4 Do suposto enriquecimento sem causa por parte das operadoras

Para melhor avaliar a aplicabilidade do enriquecimento sem causa, importante definir seu conceito para possibilitar sua utilização como fundamentação ao ressarcimento ao SUS. Nesta senda, inicialmente colaciona-se o conceito apresentado por Limongi França (1987 apud SOUSA, 2011):

Enriquecimento sem causa, enriquecimento ilícito ou locupletamento ilícito é o acréscimo de bens que se verifica no patrimônio de um sujeito, em detrimento de outrem, sem que para isso tenha um fundamento jurídico.

Conforme o acima exposto, o enriquecimento sem causa, ali tratado como enriquecimento ilícito, é o acréscimo de bens, em desfavor de outrem, sem que não tenha causa justa para o referido. Tal conceituação não é suficiente para aplicação ao dever de ressarcimento ao SUS, uma vez que não ocorre acrescimento no patrimônio das Operadoras de Planos de Saúde. No entanto, giza-se o entendimento apresentado por Cesar Fiuza (2009, p. 50, grifo nosso):

Enriquecimento ilícito ou sem causa, também denominado enriquecimento indevido, ou locupletamento, é, de modo geral, todo aumento patrimonial que ocorre sem causa jurídica, mas também

tudo o que se deixa de perder sem causa legítima.

Neste caso, é possível observar um resquício de enriquecimento ilícito, uma vez que no momento em que o beneficiário de Plano de Saúde, deixa de utilizar o serviço ora contratado, também deixa de causar a onerosidade da qual as Operadoras são obrigadas. No entanto, a referida causa consequência, não ocorre, na maioria dos casos, por opção das Operadoras, mas por uma escolha dos beneficiários.

Vale-se que para que seja reconhecido o enriquecimento sem causa, necessita-se da causa injusta ou ilícita, porém a referida não é clara no que se refere aos planos de saúde, já que possuem contrato regularmente firmado, que prevê seu direito de receber mensalidades, e não há impedimento constitucional que proíbe os usuários de planos utilizarem a saúde pública, ao contrário, é direito de todos (vide artigo 196 da Constituição Federal). Porém, Otávia Míriam Lima Santiago Reis ([s.d], p. 58) expressa sobre a referida questão:

Entretanto, a partir do momento que a operadora recebe as mensalidades e não presta os serviços, pois o beneficiário utilizou o SUS, a empresa privada está se enriquecendo, injustamente, dos valores das mensalidades. Confortável a situação das operadoras, afinal, elas recebem para prestar os serviços, mas não precisam desembolsar nenhum valor para presta-los, porque o Sistema Público atende gratuitamente os seus clientes.

Ainda, é importante ressaltar que a ocorrência do atendimento público, por parte de beneficiários de planos de saúde, afeta a coletividade, uma vez que o sistema de saúde é vinculado a todos os indivíduos.

No sentido adotado para defender o ressarcimento, como um dever ressarcir a coletividade, destaca-se que:

A vedação ao enriquecimento sem causa é apenas um dos fundamentos da obrigação. Ainda assim, melhor seria compreender que ao invés de enriquecimento sem causa, a obrigação veicula uma decisão da sociedade de não tolerar uma específica externalidade, determinado a reinternalização[sic.] nos custos da empresa do benefício auferido e arcado por toda a coletividade. Por essas razões, a obrigação do art. 32 da Lei nº 9.656/98 possui um caráter público, ainda que não se negue eventual fundamento típico de direito civil. (SIXTO, 2014).

Ademais, tendo em vista o princípio da solidariedade, todos o cidadão, pessoa física ou jurídica, tem o dever de zelar pelo bem da coletividade, fato que quando os custos que deveriam ser vinculados às operadoras são encaminhados ao Sistema Único de Saúde, prejudicam toda a sociedade, pois empobrecem o Estado (REIS, [s.d], p. 58).

Por outro lado, existe o entendimento de quem sofre o prejuízo por ter optado pelo atendimento estatal, é próprio beneficiário, pois deixa de utilizar da saúde suplementar da qual tinha direito, fato que não á logico indicar que o SUS é o prejudicado (ESMERALDI; LOPES, 2011, p. 53). Neste sentido, seria então inviável promover o ressarcimento ao SUS, já que quem passa a efetuar o pagamento da contraprestação pecuniária às Operadoras de Planos de Saúde, não deixa de contribuir ao Estado, portanto não se desvincula de seu direito à saúde pública, sendo o beneficiário único prejudicado por não utilizar-se daquilo que tem direito.

No que se refere as previsões legais no ressarcimento ao SUS, a reparação do suposto enriquecimento sem causa, conforme previsto no artigo 884 do Código Civil de 2002, Esmeraldi e Lopes (2011, p. 53), indicam inconsistência, uma vez que o SUS, deverá prestar assistência à saúde, sem impor ônus a outrem, já que possui

previsão constitucional para tal. Portanto, as Operadoras de Planos de Saúde são erroneamente cobradas, pois não é valido cobrar daquele que deixou de gastar, para beneficiar aquele que tem o dever constitucional de prestar a saúde, conforme artigo 196 da Constituição Federal.

3 DO ENTENDIMENTO JURIPRUDENCIAL

Discutir a jurisprudência, tem sido a mais eficiente forma de entender o direito, já que a doutrina e a legislação são aplicadas aos casos do cotidiano da sociedade. Ademais, a jurisprudência tem se consagrado como fonte principal do direito, neste sentido, explica André Rodigheri (2004):

A jurisprudência é a fonte mais geral e extensa de exegese, indica soluções adequadas às necessidades sociais, evita que uma questão doutrinária fique eternamente aberta e dê margem a novas demandas: portanto diminui os litígios, reduz ao mínimo os inconvenientes da incerteza do Direito, por que de antemão faz saber qual será o resultado das controvérsias.

Conforme supracitado, a jurisprudência indica as soluções mais adequadas à sociedade, evitando que questões da doutrina perdurem em discussões sem resolução em vista. Portanto, no que se refere esta dualidade de entendimentos apresentados pela Saúde Suplementar e pela Saúde Pública, é de vasta importância observar o que vêm sendo expressado pela jurisprudência, uma vez que propõe soluções aos casos concretos desta relação de sistemas.

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