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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.3 Docência: a constante busca pelo aperfeiçoamento

Novamente remetemos ao pensamento de Tardif quando fala dos saberes docentes e a relação intrínseca com sua trajetória pessoal e profissional, como também de suas necessidades cotidianas:

[...] o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com aos alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola etc. Por isso é necessário estudá- lo relacionando-os com esses elementos constitutivos do trabalho docente. (2002, p. 11).

As demandas formativas citadas pelas professoras podem ser agrupadas nas dimensões teóricas e práticas, sendo esta última a mais requerida. As professoras indicam que nos espaços formativos se faz necessário contemplar os jogos de alfabetização e letramento; partilha de atividades/materiais/práticas; atividades diferenciadas por níveis; a música na alfabetização e brincadeiras corporais, atividades de artes para as crianças com necessidades especiais; dentre outras, conforme descrição abaixo:

• Jogos de alfabetização e letramento

• Trocas de atividades/materiais/práticas

• Atividades diferenciadas por níveis

• A importância do olhar investigativo na alfabetização

• Etapas evolutivas do desenvolvimento do educando

• Música na alfabetização (atividades e teoria)

• Atividades para PS e com problemas cognitivos

• Brincadeiras corporais

• Leitura

• Matemática

• O texto na alfabetização

• Como despertar a criatividade do professor e dos alunos

• Trabalhar limites: como fazê-lo?

• Atividades de artes para PNEs

• Identificar e trabalhar com as síndromes pouco conhecidas

• Relatos de práticas de alfabetização

• Criação de um espaço com materiais e teorias na SME para acesso direto dos professores.

• Pensar em alternativas pra não chamar tanto os professores no dia do planejamento.

No que tange às questões de cunho teórico, percebemos como temáticas: o aprofundamento da psicogênese; pedagogia de projetos; tipologias de avaliação; a importância do olhar investigativo na alfabetização; o aprofundamento das etapas evolutivas do desenvolvimento da criança; Leitura; Matemática; o texto na alfabetização; como despertar a criatividade do professor e dos alunos; trabalhar limites: como fazê-lo?; e síndromes.

As concepções modernas de formação de professores caminham no sentido de que o professor deve ser o gestor de sua formação, onde é imprescindível saber para ensinar bem em uma sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível, destacando aspectos das competências a serem desenvolvidas na formação dos professores. Competências de referência, tais como: 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2. Administrar a progressão das aprendizagens; 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho; 5. Trabalhar em equipe; 6. Participar da administração da escola; 7. Informar e envolver os pais; 8. Utilizar novas tecnologias; 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10. Administrar sua própria formação contínua. Por lado, organizar uma formação de professores pautada pelos modelos vigentes não atenderia aos anseios dos docentes desesperançados e ao mesmo tempo desejantes de algo que demarcasse o novo tempo.

Nas escutas realizadas no início e 2012, quando da visitas às unidades escolares, num olhar mais auspicioso junto aos professores do Bloco, percebemos que a proposta formativa deveria ser reconstruída e redimensionada conforme as realidades vivenciadas. Uma formação que respondesse às necessidades emergentes dos dispositivos legais cotejada com espaços de escuta e diálogo.

Tal proposta encontrou eco principalmente pela metodologia adotada, permeando em cada um dos encontros, espaço para reflexão, debates conceituais e sínteses, momentos de socialização das práticas pedagógicas, explorando as novas possibilidades de aprendizagem e

abordagens significativas no campo da dimensão humana, com dinâmicas de sensibilização e de cuidado com o Ser.

Proporcionar espaços de trocas e vivências, de fala e de escuta permitem a ampla reflexão sobre seus fazeres e o contexto em que os currículos escolares se pautam, interferindo, portanto em tais realidades. Para Libâneo (2001) as práticas de formação de professores mais recentes são as que concebem o ensino como atividade reflexiva. Para o autor, o importante nessa filosofia é que o professor pense não apenas em sua formação, mas também no currículo, ensino e metodologia de docência, o que ocasiona o desenvolvimento da capacidade reflexiva deste profissional sobre seu trabalho.

O professor está em constante transformação, precisa aprender diariamente novas formas de ensinar os alunos que estão cada vez mais difíceis de trabalhar. Diante desta realidade é necessário mais tempo para a formação do professor, atualmente este tempo está muito reduzido. (Professora BA, 2012).

Julgamos importantes para construção da identidade do professor alfabetizador (bloco) que existam alguns momentos e ações: momentos na escola para reuniões entre paralelos do bloco de alfabetização, pré definidos em calendários; Oficinas de trocas de experiências; Oficinas temáticas que contemplem as áreas do conhecimento; Banco de material (acervo) para acesso dos professores; Momentos de formação aliando teoria e prática; Um calendário específico de saídas pedagógicas/ culturais para turmas do bloco de alfabetização (com verbas municipais). (Professora BA, 2012).

Formação para o professor é válida desde que esse possa escolher o tema de acordo com suas necessidades e expectativas. (Professora BA, 2012).

Também acreditamos na importância de se ter um local para cada área do conhecimento com sugestões e auxílio para os docentes, como o extinto CEP ou SEP que estava disponível para fazermos pesquisas e irmos em busca de novidades para usar na sala de aula. (Professora BA, 2012).

Que as formações fossem voltadas para a realidade do professor em sala de aula. (Professora BA, 2012).

Importância de encontros de professores para trocas de informações e conhecimentos. (Professora BA, 2012).

A formação de processos na escola está se tornando reunião administrativa (parcialmente). (Professora BA, 2012).

Sair da escola para formação é muito importante para troca de ideias, por ser um outro universo desconhecido. (Professora BA, 2012).

Diante destas diversidades o professor se supera porque vai além dos seus objetivos, resolvendo os conflitos que surgem inesperadamente, porém, a cada conflito é um ponto de estresse a mais descanalizando o foco do professor. (Professora BA, 2012).

4.3.1 Protagonismo Docente

Nas últimas duas décadas, o debate acerca de novos modelos sobre os programas de formação continuada tem ocupado a agenda de universidades, principalmente, por se constituírem em espaços de pesquisa e investigação, na produção de respostas aos desafios da comunidade educacional, mas também tema central nas propostas de reformas educacionais. Ao longo das últimas décadas o professor assumiu diferentes lugares no imaginário social, aponta Nóvoa que ora figura de prestígio, ora figura secundária no campo da educação. Segundo ele, os professores:

Não devem saber demais nem de menos; não se devem misturar com o povo; nem com a burguesia; ser nem pobres nem ricos; não são (bem) funcionários públicos, nem profissionais liberais, etc. (NÓVOA, 1995, p. 16).

Mesmo que as reformas na educação apontem a necessidade de repensar a formação, rompendo com a visão da racionalidade técnica, cuja função do professor é meramente a de transmissor de conhecimentos foi somente no final da década de 80 que surgiram as novas concepções a respeito da formação de professor, segundo Nóvoa, numa visão centrada na trajetória de vida, pessoal e profissional. A formação que propiciasse a autoformação participada faria interagir estas duas dimensões, a pessoal e profissional, fortalecendo as práticas pedagógicas coletivas.

A formação não se constrói por acumulação (de cursos, e conhecimentos ou de técnicas), mas, sim, através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. (NÓVOA 1995, p. 25).

O programa de formação continuada em investigação nasceu, de um lado, da ausência de qualquer proposta formativa, e por outro, um ensaio decorrente do desejo de atender aos anseios daquele coletivo de educadores, construindo espaços de socialização, mas também de provocação e desassossego do professor para que ele assumisse o espaço de agente político de seu processo formativo, partindo de sua prática para construir novos conhecimentos.

Se o professor é um adulto que aprende, então ele pode se refazer como profissional.

Nesse sentido, Freire (1996, p. 43), afirma que “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática”. Considerando-se o professor como adulto que aprende, Nóvoa aponta que:

experiência profissional [...]. Mais importante do que pensar em formar esse adulto é refletir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu patrimônio vivencial através de uma dinâmica de compreensão retrospectiva. (FREIRE, 1995, p. 15).

O processo de formação também é um processo interno, de reformulação e deve ser encarada como autoconstrução, ao longo da vida, é, portanto, permanente e indissociável de uma concepção inacabada do ser humano, conforme Freire (1996) e esta condição torna possível compreender que o professor forma a si mesmo a partir de suas interações, além das teorias e conhecimentos aprendidos em sua formação inicial (NÓVOA, 1995). Aprende, segundo o autor, a partir da prática didática de todos os seus antigos mestres e outras pessoas, coisas e situações com as quais interagiu em situações de ensino durante toda a sua vida.