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Doenças crônicas prevalentes no idoso negro: hipertensão arterial e diabetes melitos

Como já dito anteriormente, esse estudo focará apenas a hipertensão arterial sistêmica e o diabete melito em idosos negros. A hipertensão arterial sistêmica é a doença de maior prevalência no mundo moderno, provocam alterações nos vasos sanguíneos e na musculatura do coração, pode ocorrer hipertrofia do ventrículo esquerdo, ocasionando acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio, morte súbita, insuficiência renal e cardíaca, alterações na visão.

Estima-se que pelo menos 65% dos idosos brasileiros são hipertensos, sendo sua prevalência e gravidade maior nos negros, relacionados a fatores étnicos e/ou socioeconômicos. Em estudos do Ministério da Saúde, relaciona a hipertensão no negro a fatores sócio-econômicos do que com o fator biológico. O tratamento torna-se prejudicado devido à dificuldade de acesso ao sistema de saúde, aos remédios de uso contínuo, e a um hábito alimentar hipercalórico e hipersódico ambos prejudiciais para o negro idoso.

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36 No clássico trabalho sobre hipertensão realizado por Ribeiro e AL (1938, p.234)

concluíram que “ a hipertensão aumenta com a idade em ambos os sexos, e apresenta altos níveis pressóricos em homens de etnia negra. A mulher negra apresenta maior prevalência em desenvolver a hipertensão quando comparado a mulher branca”. O nefrologista Artur Beltrame Ribeiro e al (2012, pp. 65-76) relata que a “hipertensão (pressão sistólica ³ 140 mmHg ou diastólica ³ 90 mmHg) tem alta prevalência em países desenvolvidos. Ocorre em um a cada quatro indivíduos em determinada comunidade e indivíduos normotensos com mais de 50 anos tem 90% de chance de desenvolver um aumento da pressão arterial durante os próximos 25 anos. A prevalência é maior entre negros e idosos, especialmente mulheres

idosas”.

Beltrame e al (ibidem) destacam que ambas as doenças como pressão arterial e moléstias cardiovasculares são fatores de risco para outras complicações:

A relação entre pressão arterial e moléstias cardiovasculares é indiscutível e não depende de outros co-fatores de risco. Infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e insuficiência vascular periférica aumentam progressiva e paralelamente ao aumento da pressão arterial. Dados epidemiológicos atestam que na faixa de 40 a 70 anos cada aumento de 20 mmHg na pressão sistólica ou de 10 mmHg na pressão diastólica dobra o risco de eventos cardiovasculares para o espectro de pressão que abrange desde 115 até 185 de pressão sistólica e 75 até 115 de pressão diastólica. A hipertensão arterial é responsável por 40% das mortes provocadas por acidente vascular cerebral e 25% por infarto do miocárdio em nosso meio.

Na tabela abaixo da Sociedade Brasileira de Hipertensão de 2002, relacionam-se os fatores de risco em pacientes em função da presença de fatores de risco e de lesão em órgão alvo, podemos notar que em pacientes que portador de diabetes mellitus, tabagista e idade acima de 60 anos os fatores de riscos são maiores, correndo riscos de doenças incapacitantes.

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Sociedade Brasileira de Hipertensão. "Investigação Clínico-Laboratorial & Decisão Terapêutica". IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. 2002.

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38 No gráfico do Journal Hypertens de 2003, destacam-se as diretrizes para anamnese

para a pressão arterial elevada, relacionando a suspeita da hipertensão secundária, fatores de risco, sintomas de lesões e órgãos, terapia preventiva anti-hipertensão e fatores familiares e ambientais. Na hipertensão no idoso negro os fatores de risco hábitos alimentares e obesidades estão presentes.

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39 O diabete melito faz parte de um grupo de doenças metabólicas caracterizada por

hiperglicemia crônica e associadas a complicações, após alguns anos de evolução, são frequentemente acompanhadas por danos, por disfunções e por falência e por insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos.

Na atualidade, configura-se como uma epidemia mundial, é um importante problema de saúde pública, pois é bastante frequente, está associado a complicações que comprometem a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos custos no seu controle e no tratamento de suas complicações.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2010 estimava-se que o número de diabéticos nos país atingisse a marca de 10 milhões de brasileiros. No negro a doença está relacionada ao diagnóstico tardio e a sua cultura alimentar hipercalórica e hipergordurosa. O diabete melito tipo 2 é a forma mais comum em 90% dos casos, segundo raça, 9% dos homens negros têm mais possibilidades de desenvolver a doença, no caso das mulheres aumenta em 50%. Estudos de Malerbi e Franco (2000) revelam aumento da incidência da doença ser maior na população negra em decorrência de menor freqüência de diagnostico prévio, ocasionado pela dificuldade de acesso ao serviço de saúde.

O aumento da expectativa de vida da população em quase todos os países, como decorrência tem se observado um aumento da prevalência do diabete como relata Franco (2001, p.56) “ entre as causas aventadas, destacam-se o aumento das taxas de urbanização e

industrialização, maior sedentarismo, aumento da esperança de vida da população em geral e maior sobrevida dos pacientes diabéticos”.

Para a endocrinologista Maria Oliveira (2004) “o envelhecimento da população, a

urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como inatividade física e hábitos alimentares inadequados justificam o crescimento da diabete melito no Brasil”.

Na próxima pagina a classificação etiológica dos distúrbios glicêmicos, está relacionada no quadro 1.

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40 Quadro 1

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Classificação etiológica dos distúrbios glicêmicos Diabetes tipo 1

(destruição da célula beta, geralmente levando a uma deficiência absoluta de insulina) – auto- imune

– idiopático Diabetes tipo 2

(varia de predominantemente insulino-resistência com relativa insulino-deficiência a predominante defeito secretório com ou sem resistência insulínica)

Outros tipos específicos de diabetes – defeitos genéticos da função da célula beta – defeitos genéticos na ação da insulina – doenças do pâncreas exócrino

– endocrinopatias

– induzidos por fármacos ou agentes químicos – formas raras de diabetes imunomediado

– outras síndromes genéticas, às vezes associadas com diabetes Diabetes Gestacional

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( Manual de Doenças Mais Importantes , na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p. 57)

Franco (2001, p.58) descreve abaixo que a obesidade abdominal é um fator de risco importante para os portadores de diabete melito tipo 2, e que tenha fatores multifatoriais para a sua prevalência.

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O diabete tipo 2 compreende forma mais comum de diabete, correspondente a cerca de 85% a 90% dos casos e resulta de defeitos na secreção de insulina, quase sempre com uma importante contribuição da resistência insulínica. A maioria dos casos apresenta excesso de peso, o que agrava a resistência insulínica. A obesidade abdominal é um problema maior que a obesidade periférica. As causas etiológicas do diabete tipo 2 são desconhecidas, provavelmente, a doença tenha uma etiologia multifatorial.

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Na realidade brasileira , o diabete melito não é uma doença prevalente na população negra, porém deve-se ressaltar que o diagnostico tardio e as sequelas incapacitantes, prevalece na população negra idosa não permitindo qualidade de vida , para este segmento na velhice.

O risco de desenvolver diabete tipo 2 aumenta com o progredir da idade, especialmente após os 40 anos, com o sedentarismo e excesso de peso. Ocorre mais frequentemente em indivíduos com hipertensão ou dislipidemia e nas mulheres com diabetes gestacional prévio. Sua frequência varia bastante em diferentes grupos étnicos e apresenta uma importante associação familiar. Na América do Norte e nos países do Caribe, têm-se descrito uma maior prevalência de diabetes tipo 2 na população negra, chegando a ser 1,4 vez maior que na população branca, diferença que não se observou na população brasileira. . ( Manual de Doenças Mais Importantes, na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p.58).

O quadro 2 abaixo demonstra os fatores de risco para diabete melito tipo 2

Quadro 2 - Fatores de risco para o diabetes mellitus tipo 2.

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_Idade > 45 anos

_Excesso de peso

_ História familiar de diabetes (pais, irmãos e filhos) _ Sedentarismo

_ Macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal _ Doença arterial coronariana

_Uso de medicação hiperglicemiante (por exemplo, corticosteroides, tiazídicos, beta-bloqueadores)

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42 _Níveis baixos de HDL-colesterol ou aumentados de triglicéride

_Hipertensão arterial

_ Diabetes gestacional prévio

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(Manual de Doenças Mais Importantes, na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p.60).

No clássico estudo populacional , realizado por Franco entre 1987-1989 na população entre 30-69 anos de idade, não foram observadas as diferenças na prevalência de diabetes entre negros e brancos. Não obstante, o autor salienta que no país não existe uma rígida separação entre indivíduos por cor, aliada a uma elevada taxa de miscigenação e percepção de cor influenciada por aparência física, prestigio social e tipo regional de sociedade. No censo de 2010, verifica-se que a população negra está assumindo sua cor, a situação atual é diferente da época em que o estudo foi realizado, porém o estudo é uma referência para compreender a prevalência de diabete melito na população negra brasileira.

O estudo populacional realizado por Franco entre 1987-1989 revela que o fator que diferenciou o diabete da população negra do que na população branca foi a menor frequência da existência de história familiar de diabetes entre a população negra do que na população branca. Segundo o autor essa frequência menor decorra de uma menor esperança de vida, maior número de desagregação familiar e dificuldades no acesso a serviços de saúde entre negros do que propriamente a diferenças étnicas. O gráfico, na próxima pagina, demonstra com dados o resultado do estudo.

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Gráfico 3

Histórico familiar de diabetes mellitus na população brasileira, por sexo e cor.

Fonte: Franco, L.J : Diabetes in Brazil – a review of recente survey data. Ethnicity & Disease. 1992; 2 158-175

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 1 Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras

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CAPÍTULO III

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Capitulo 3

Jardim Ângela

Favela é minha raiz. Favela que me viu nascer, só quem te conhece

por dentro pode te entender.

(Leandro Sapucay, 2008)

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