PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
INÊS MARIA BENEDITA SILVEIRA
IDOSOS NEGROS PORTADORES DE DOENÇAS CRÔNICAS
MESTRADO EM GERONTOLOGIA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
INÊS MARIA BENEDITA SILVEIRA
IDOSOS NEGROS PORTADORES DE DOENÇAS CRÔNICAS
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Gerontologia, sob a orientação da Professora Doutora Elizabeth Frohlich Mercadante
BANCA EXAMINADORA
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Agradecimentos
Agradeço a Deus por me permitir sonhar e realizar este estudo.
Agradeço a minha mãe pelo apoio, pela força e por acreditar na realização deste estudo.
Agradeço a minha família pela compreensão e pelo apoio.
Agradeço a Sônia Maria Ribeiro por auxiliar incansavelmente em meu despertar para a
questão do idoso negro.
Agradeço a minha orientadora Prof. Dra. Elizabeth Frohlich Mercadante pelo apoio que foi
fundamental nos momentos mais difíceis para a construção desta dissertação.
Agradeço a Organização Não Governamental de Saúde Cejam (Centro de Estudos e Pesquisa
Doutor João Amorim) pelo apoio na liberação do horário para o estudo da Pós Graduação.
Resumo:
Este estudo trata das relações entre doenças crônicas e condições de vida, enfocando a
hipertensão arterial sistêmica e o diabete melito, em um grupo de idosos negros moradores em
um bairro do Jardim Ângela. O trabalho visualiza e interpreta o idoso negro, levando em
conta como ele próprio se interpreta, como considera sua qualidade de vida. Avalia-se
também nessa interpretação a adesão ao tratamento e à dieta recomendados. As dificuldades
que encontram para realizar o tratamento para a hipertensão arterial e diabete melito.
Abstract
This study deals with the relationship chronic diseases and conditions of life, focusing on
hypertension and diabetes mellitus in a group of elderly black residents in a neighborhood of
Jardim Angela. The work displays and interprets the elderly black, considering how he
portrays himself as regard his quality of life. Moreover, analysis not only the adherence to
recommend treatment and diet, but also the difficulties that are undergo treatment for
hypertension and diabetes mellitus
SUMÁRIO
Introdução...08
CAPÍTULO I Velhice...10
1.1 Considerações sobre a velhice.... ...11
1.2 Idoso negro...15
1.3 Estatuto do idoso...16
1.3.1 Aposentadoria... 20
1.4 Atenção à saúde da pessoa idosa e envelhecimento... 23
CAPÍTULO II População negra no Brasil... 29
2.1 Perfil da população negra... ...30
2.2 Política Nacional Integral de Saúde da população negra... 32
2.2 Doenças crônicas prevalentes no idoso negro: hipertensão arterial e diabetes melitos...35
CAPÍTULO III Jardim Angela...44
3.1 Seus desafios e conquistas...45
3.2 Metodologia...,,...48
3.3 Caracterizações da população...48
Considerações finais... . 72
Referências bibliográficas... .74
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INTRODUÇÃO
Este trabalho trata das relações entre doenças crônicas e condições de vida,
enfocando a hipertensão arterial sistêmica e o diabete melito, em um grupo de idosos negros
moradores em um bairro do Jardim Ângela. Pretende-se, no presente trabalho, visualizar e
interpretar o idoso negro, e como o negro na maturidade interpreta a sua condição de saúde e
de sua qualidade de vida. Penso que outros trabalhos, dissertações, sobre esse segmento
poderão ser levados a efeito, para que em um futuro não distante contribuam para melhorias
em políticas públicas, principalmente voltadas para a saúde do idoso.
O Estado brasileiro, responsável em desenvolver políticas públicas, voltadas para o
idoso, necessita realmente analisar quais as suas características específicas como idoso. Isso
diz respeito ao desenvolvimento de políticas mais efetivas, no caso específico voltada para a
saúde no sentido de reduzir a morbidade e a mortalidade desse segmento. O interesse pelo
assunto idoso negro e sua qualidade de vida, relacionado com doenças crônicas, surgiu
gradativamente, após minha admissão em um concurso para enfermeiros, para trabalhar na
Estratégia de Saúde da Família, em um bairro do Jardim Ângela no segundo semestre do ano
de 2004, neste período iniciei minhas atividades no Jardim Caiçara, que faz parte do Jardim
Ângela.
Sendo enfermeira e negra, identifiquei-me com a população que tem a sua maioria
compostas de negros e de pardos, migrantes e seus descendentes oriundos da região nordeste
do país. A região tornou-se meu lugar, deste modo, senti-me empenhada em ajudar aqueles,
de quem eu também trago a descendência.
O ato do cuidar é precioso e a enfermagem tem uma responsabilidade marcante nessa
pratica, como observa-se nessa reflexão
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corpo que envelhece; as necessidades e os desejos do idoso; desvios de saúde; promoção de saúde; o ambiente onde ele está; o lazer; sua espiritualidade e sua família” (FIGUEIREDO, 2009, p.09).
Por conseguinte, para lograrmos êxito neste estudo, a dissertação foi organizada da
seguinte forma: no primeiro capítulo, o conceito de velhice é analisado juntamente com dois
artigos do Estatuto do Idoso, a aposentadoria e o caderno de saúde do idoso ; no segundo,
destaca a situação da população negra atual discutindo a Política Nacional de Saúde do
Negro; no terceiro, procura demonstrar o distrito do Jardim Ângela, seus desafios e conquistas
juntamente com as entrevistas realizadas e interpretadas, na perspectiva etnográfica
juntamente com as conclusões.
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CAPÍTULO I
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Capítulo I
A vida segue um curso muito precioso e a natureza dota cada idade de qualidades
próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais, que devemos apreciar cada um em seu tempo. (Cícero, 44 a.C.)
1.1
Considerações a sobre Velhice
Neste primeiro capítulo desenvolvo algumas questões, reflexões sobre a velhice, o
processo de envelhecimento e a longevidade. Beauvoir, S. em sua obra sobre a velhice
explica:
“é um fenômeno biológico: o organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. Acarreta consequências psicológicas: determinadas condutas,
que são consideradas típicas da idade avançadas. Tem uma dimensão existencial como todas as situações humanas: modifica a relação do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com sua própria história. Por outro lado, o homem nunca vive em seu estado natural: seu estatuto lhe é imposto tanto na velhice, como em todas as idades, pela sociedade a que pertence. A complexidade da questão é devida à estreita interdependência desses pontos de vista. Sabe-se, hoje em dia, que considerar isoladamente os dados fisiológicos e os fatos psicológicos constitui uma abstração: eles são interdependentes. O que denominamos vida psíquica de um indivíduo só pode ser compreendida à luz de uma situação existencial; também esta, portanto, tem repercussões no organismo e vice-versa: o relacionamento com o tempo é sentido de maneiras diferentes, segundo esteja o corpo mais ou menos alquebrado. Finalmente, a sociedade determina o lugar e o papel do velho, levando em conta suas idiossincrasias individuais: sua importância, sua experiência, reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade a seu respeito. De modo que uma descrição analítica dos diversos aspectos da velhice não pode ser suficiente: cada um deles reage sobre todos os outros e é por ele afetado. È no movimento indefinido desta circularidade que temos de apreendê-la.” (BEAUVOIR 1990, p. 156)
A partir do que acima foi exposto, entende-se a velhice como uma questão complexa
onde a variável biológica apresenta-se, mas não é a única e, assim importa analisar todos os
outros elementos que produzem a totalidade da velhice. Assim sendo, velhice é alem do ser
biológico é também histórica, social, existencial, psicológica e cultural. Deve-se salientar que
a velhice não é uma questão homogênea, de acordo com Lopes (2006, p.88) “a
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dos percursos, implicando a definição de velhice como constante e inacabado processo de
subjetivação.” Para complementar as questões acima, importa aqui discutir sobre a ciência
Gerontologica a qual estuda o envelhecimento e a velhice propriamente dita. A Gerontologia
apresenta uma perspectiva de análise fundamentada na interdisciplinaridade a qual se faz
necessária para o processo de envelhecer e a velhice possam ser vistas em todas as suas
dimensões. Ressalta-se que a interdisciplinaridade para se constituir necessita da
multidisciplinaridade.
Outro conceito de Gerontologia é citado por Carvalho(1984, p.31) “ a gerontologia
estuda o idoso do ponto de vista científico, em todos os seus aspectos, físicos, biológicos,
psíquicos e sociais, sendo responsável pelo atendimento global do paciente. Assim, a
geriatria, que se ocupa do aspecto médico do idoso, pode ser considerada como parte da
gerontologia”. A Gerontologia e a Geriatria estão voltadas para o atendimento do segmento
idoso, porém não são ciências independentes, são interdependentes para possibilitar o
atendimento integral deste segmento. A Velhice não pode ser analisada apenas como perdas e
incapacidades, e sim como um momento impar na vida desse idoso e para que isto ocorra a
sociedade em que vive o idoso deve ser levada em questão.
Para finalizar as reflexões sobre Gerontologia e Geriatria, cito Reboul, H (1973, p.15)
“a Gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento; a geriatria é a ciência médica que
cuida das pessoas idosas; a primeira noção é médica e social, a segunda é unicamente
médica e se aplica ao domínio da patologia”
A longevidade, presente nas sociedades contemporâneas, é uma questão atualmente
relevante que deve ser analisada e compreendida para responder às questões relativas à
velhice em geral e suas especificidades localizadas nos vários e diferentes contextos sociais
onde a mesma ocorre, como explica Quaresma (2003, p.49) ” o envelhecimento é hoje um
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mudanças sociais, econômicas e culturais indutoras das novas formas da relação de
reciprocidade sociedade/sujeito”
Pensando sobre a sociedade brasileira vemos também a longevidade sendo parte
integrante e importante do envelhecimento e velhice nesta mesma sociedade. Entendemos que
diante desse quadro, a sociedade, a família e o Estado devem repensar novos caminhos que
conduzam as novas soluções, com respostas criativas, concretas, e urgentes surgidas a partir
das necessidades enfrentadas pelo segmento idoso.
Em alguns países da Europa, esse processo já começou há mais tempo. Assim os
países europeus tiveram mais tempo para pensar acerca das questões vividas pelos idosos e
também propor respostas nessa fase mais frágil. Muitos países europeus como França,
Inglaterra, Alemanha, já vêm desenvolvendo políticas públicas concretas para o idoso, no
tocante à assistência prestada de forma integral e contínua, na maioria dos níveis (saúde,
habitação, previdência, lazer) da vida do segmento idoso.
O resultado do censo de 2010, segundo o IBGE revela que o Brasil está
envelhecendo. A população idosa com 60 anos ou mais está crescendo, pois no censo de 1991
era de 4,8%, passando a 8% em 2000 e chegando a 12% em 2010. Em números absolutos o
número de idosos que era de 14,5 milhões em 2000, elevou-se para 18 milhões em 2010. O
envelhecimento da população brasileira é reflexo do aumento da expectativa de vida, devido
aos avanços na área da saúde, ao saneamento básico e à redução na taxa de natalidade, por
conseguinte, implicando um menor número de nascimento e aumento da longevidade que
possibilita constituir um maior contingente populacional de idosos.
Apesar de o segmento idoso ter aumentado, a maior parcela da população do Brasil é
adulta em idade ativa, propiciando condições para o país desenvolver-se, uma vez está no
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condições para se desenvolver, neste período deve-se repensar a política para as pessoas
idosas, com o intuito de prepará-los para os desafios que o futuro pode reservar.
Na próxima pagina, apresentamos o gráfico do IBGE, em relação ao censo realizado
em 2010, que demonstra a atual situação da população brasileira. Podemos observar que o
número de mulheres é maior do que o número de homens, processo que se verifica na idade
adulta persistindo até na fase da velhice. Além disso, observarmos que um número maior de
pessoas tem conseguido ultrapassar a faixa etária dos 100 anos ou mais, processo recente no
país. O gráfico evidencia também a expectativa de vida da população brasileira apontar a
idade de 73,5 ou mais população, em conformidade com o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH de 2011). Portanto, o gráfico permite visualizar que a população idosa também
está envelhecendo.
Gráfico 1
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1.2
O
Idoso Negro
Conforme dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE de
2010, o Brasil está envelhecendo, a população negra chega ao envelhecimento em menor
proporção, que a população branca. O estudo do IPEA sobre a Dinâmica Demográfica da
População Negra Brasileira de 2011 aponta que as causas para essa desproporção seria uma
maior fecundidade na mulher negra e maior mortalidade no homem negro devido a causas
externas principalmente os homicídios.
O estudo do IPEA aponta que devido a ampliação da cobertura da seguridade social, a
proporção de pobres entre os idosos é menor. Conforme o Relatório Anual das Desigualdades
Raciais no Brasil; 2009-2010 esclarece que pardos e negros terminam beneficiando-se com
menor intensidade do sistema previdenciário do que os brancos, devido a estabilidade de
vínculo com o mercado de trabalho e a longevidade.
Conforme os dados dos estudos acima se podem concluir, que a seguridade social é
um sistema positivo para o idoso negro, porém ainda existem assimetrias em relação ao valor
dos salários pagos, beneficiando o idoso branco.
No estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômicos Aplicada (IPEA),
denominado Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira em 2011, relata que o
governo brasileiro avançou, em relação à seguridade social, uma vez que os benefícios da
seguridade abrangiam 77,3% da população idosa negra e 78,3% da população idosa branca.
Em relação aos 80 anos ou mais, 95,5% da população branca recebiam algum benefício, em
proporção comparável para a população negra foi de 90,5%.
O gráfico do Instituto de Pesquisas Econômico Aplicada (IPEA) de 2009, que segue
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social, diminuindo assim o número de pessoas sem rendimentos na faixa etária após 60 anos,
garantindo cidadania para esse segmento da população.
Gráfico 2
Fonte IBGE/PNAD/ 2009
1.3 O Estatuto Idoso
O Estatuto do Idoso foi promulgado na lei n 10.741, de 01 de outubro de 2003, não faz
uma década de efetiva vigência. Contudo, esse estudo elegeu os artigos 8 e 9, para refletir
sobre o cumprimento dos mesmos, para permitir uma melhora qualidade de vida para o
segmento idoso.A presente reflexão resulta da interpretação do Estatuto do Idoso, título II Dos
Direitos Fundamentais, capítulo I Do Direito à Vida:
Art. 8 – O envelhecimento é um direito personalíssimo e a proteção um direito social, nos
termos desta Lei e da legislação vigente. Nota-se que o processo do envelhecimento é um
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por envelhecer, por se tornar frágil, dependente, de ser negro. A proteção ao processo do
envelhecimento é um direito social, mas na atualidade é reclamado por pessoas que estão na
fase adulta, como, sendo muitos benefícios para quem já não é ativo, como também não
contribui com seu trabalho.
O processo do envelhecimento é constante nos países desenvolvidos e em
desenvolvimento na atualidade, leis são promulgadas para proteger a velhice, porém muitas
vezes é necessário um comprometimento do Estado, para que se tornem efetivas. A sociedade
necessita de ter um novo olhar para a velhice, pois pela primeira vez o país está caminhado
para esse processo. É um processo novo para a nossa sociedade, que estava acostumada com
os meios de comunicação mostrar o Brasil como o país jovem, do futuro. Na atualidade,
verifica-se,em muitas repartições públicas e privadas, meios de transportes, um atendimento
preferencial para o segmento idoso. Esse atendimento preferencial necessita de ser
compreendido pela sociedade que é um direito de quem já trabalhou muito na sua fase
produtiva, e necessita deste atendimento em decorrência de sua fase de fragilidade e
dependência.O Estado tem sua responsabilidade, sua autoridade confere meios para aplicar
medidas para que leis possam ser cumpridas e para lograr êxito neste processo a sociedade
necessita caminhar no sentido de ser protagonista no item respeito ao idoso.
A reflexão avança no sentido da obrigatoriedade do Estado, referindo sobre o Estatuto
do Idoso, título II Dos Direitos Fundamentais, capítulo I Do Direito à Vida:
Art. 9 _ É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante
efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em
condições de dignidade.
Não obstante, verificando o resultado do censo 2010, que legitima que o país está
envelhecendo, somos impelidos a indagar acerca da qualidade de saúde dos idosos. Desta
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aumento de verba destinada para sua ampliação e melhorias, no entanto, percebe-se, no dia a
dia, uma diminuição, devido às alterações nas propostas orçamentárias do governo, as quais
não coadunam com a realidade brasileira, uma vez que o Estado brasileiro deve se preparar
para a demanda, cada vez mais crescente do segmento idoso, necessitando de assistência de
saúde especializada e com qualidade. Segundo dados do IBGE de 2000, a cada ano, 650 mil
novos idosos são incorporados à população brasileira. É um número expressivo quando
focaliza as políticas públicas voltadas para a área de saúde.
No livro intitulado SUS Passo a Passo,de Andrade e Barreto, reflete sobre as políticas
de saúde, no qual Lima-Costa&Veras (2003 apud ANDRADE& BARRETO 2007, p.1053)
pondera que “o envelhecimento populacional desafia a habilidade de produzir políticas de
saúde que respondam às necessidades das pessoas idosas. A proporção de usuários idosos de
todos os serviços prestados tende a ser cada vez maior, quer pelo maior acesso às
informações do referido grupo etário, quer pelo seu expressivo aumento relativo e absoluto
na proporção brasileira”.
As políticas públicas voltadas à área da saúde que contemplem o segmento idoso são
urgentes e prioritárias quando se focaliza os mais carentes, com nível sócio econômico mais
baixo, pois são os que mais sofreram devidos às complicações e às sequelas, causadas por
doenças crônicas, como a hipertensão arterial e o diabete melito. Esse segmento da população
ficará mais dependente dos benefícios do Estado, que deverá arcar com esse contingente. Tais
idosos perderam qualidade de vida, aumentando suas perdas e prejuízos.
O panorama atual da saúde do idoso, em relações aos pacientes com sequelas e
incapacidades é dramático, visto que fica a cargo da família a assistência, que não tem suporte
e tampouco está preparada para esta tarefa. Muitos desses pacientes evoluem com piora de
suas incapacidades e sequelas, ocasionando óbitos. A rede de Atenção Básica da Saúde
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com incapacidades, auxiliando as famílias nas suas carências. A equipe multiprofissional
deverá estar aparelhada e preparada para atuar, ajudando a reduzir esses prejuízos.
De acordo com Lima-Costa et al 2003; Ramos, 2002 (apud ANDRADE& BARRETO
2007, p.1050) descrevem o panorama atual da saúde pública brasileira em relação à velhice: “
o Brasil envelhece de forma rápida e intensa, em sua maioria com baixo nível
socioeconômico e educacional e com uma alta prevalência de doenças crônicas e causadoras
de limitações funcionais e de incapacidades”. Essa transição demográfica repercute na área
da saúde, em relação à necessidade de (re) organizar os modelos assistenciais
(Lima-Costa&Veras, 2003). Amaior causa de mortalidade entre os idosos brasileiros é o acidente
vascular cerebral (Lima-Costa et al., 2000). Na transição epidemiológica brasileira ocorrem
incapacidades resultantes do não-controle de fatores previsíveis.
As diferencias culturais devem ser analisadas quando na implantação de políticas de
saúde publicas. O Brasil, por ser um país continente, tem políticas de saúde globalizadas, para
todos os pacientes, entretanto verifica-se a não efetividade de tais políticas, quando não
relevam o fator cultural dessa população na sua implantação e implementação. A sociedade
brasileira necessita confrontar sua nova situação populacional na atualidade, onde o processo
do envelhecimento deve ser enfrentado e analisado, reconhecendo as demandas de saúde, de
habitação, de trabalho, de moradia, de mudanças na estrutura familiar e de lazer deste
segmento.
Nesse processo, o Estatuto do Idoso foi um marco relevante para o idoso, porém
necessita de tornar-se efetivo em sua implementação, para auxiliar e proteger a velhice
brasileira. Logo, o país tem muitos desafios para enfrentar, por estar classificado como um
país - em fase de desenvolvimento - comporta muitos problemas estruturais que atingem todas
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desigualdade na distribuição de renda nacional um dos primeiros problemas que necessitam
ser enfrentados, apesar dos avanços que o país conquistou nas últimas décadas nesse setor.
1.3.1 Aposentadoria
A aposentadoria é um benefício que confere renda para o idoso, merece uma analise,
pois foi uma conquista deste segmento. O artigo 203, da Constituição Federal de 1988,
ressalta a assistência social ao idoso, pela primeira vez, no direito brasileiro, há expressado
uma regra jurídica constitucional referente à proteção do idoso.
Art.203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
da contribuição à seguridade social, e tem por objetivo:
I _ a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice.
A Política Nacional do Idoso que foi promulgada através da lei n° 8.842 de 4 de janeiro
de 1994, não foi divulgada na imprensa e nos meios de comunicação como merecia, conforme
a citação a seguir ressalta. “A legislação que instituiu a Política Nacional do Idoso não
alcançou uma repercussão que merecia, ficou desprovida de campanhas educativas e de
conscientização, sendo desconhecida da maioria da população, inclusive do próprio idoso,
que de seus direitos só conhece a gratuidade de transporte e não ter de entrar na fila, ou
melhor, de ter umafila própria para atendimento” (Sultani, 2002, pag. 77).
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
realizado no Rio de Janeiro, em 1992, aprovou um documento, denominado Agenda 21, que
estabeleceu um pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o próximo
século. O termo ’Agenda’ teve como propósito a fixação de fato, em documento, de
compromisso que expressem desejo de mudança das nações do atual modelo de civilização
para outro em que predomine o equilíbrio ambiental e a justiça social.
“ A Agenda 21, adotada pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
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trata dos idosos, colocando os como integrantes dos grupos vulneráveis, acompanhados dos
pobres urbanos e rurais, populações indígenas, crianças, mulheres, desabrigados, doentes
terminais e incapacitados.
Após a Constituição de 1988, começamos a ter uma nova garantia e o direito do cidadão
começa ser desmembrado em diversas áreas. O idoso juridicamente, começa a criar uma
classe social e, simultaneamente, a aplicação da lei propicia uma vida mais digna,
sociologicamente começamos a discutir as consequências da discriminação, isolamento ,
solidão e abandono que sofrem os velhos, bem como o papel que desempenham dentro de
uma comunidade.
O Estatuto do Idoso de 01 de outubro de 2003, vem reforçar os direitos dos idosos, que
estão claramente colocados Direito Previdenciário e na Politica Nacional do Idoso.
O idoso brasileiro após muitas reivindicações passa a receber benefícios previdenciários, depois da aprovação da nova Constituição Brasileira em 1988. Com a nova
constituição o benefício passa a ser um direito para os aposentados, pessoas portadoras de
deficiência física e dependência comprovada e pessoas maiores de setenta anos ou mais que,
comprovem não possuir meios para prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por
sua família. Em referência ao beneficio para pessoas portadoras de deficiências físicas e
maiores de setenta anos, foi concedido através do decreto n 6.214, de 26 de setembro de 2007,
como Benefício de Prestação Continuada.
A antropóloga Debret aponta que a partir da segunda metade do século XIX, a velhice
é tratada como uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis
sociais. E retifica seu posicionamento ao corroborar que “a tendência contemporânea é rever
os estereótipos associado ao envelhecimento. A ideia de um processo de perdas tem sido
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propícios para novas conquistas, guiados pela busca do prazer e da satisfação pessoal”
(DEBERT 2004, p.14)
Neste tópico são feitas algumas considerações mais gerais sobre aposentadoria e o
segmento idoso. Logo devemos pontuar que a constituição de 1988 introduziu o conceito de
“seguridade social”, entendido como “um conjunto de iniciativas dos poderes públicos e da
sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social”. Ademais, “essa concepção abriu a perspectiva de universalização do acesso à saúde
e assistência social, não mais como direito exclusivo dos segurados, mas de todos os
cidadãos, inclusive os não contribuintes “(SIMÕES 1999, p.106).
Simões (1999, p.107) relaciona os benefícios e serviços da Previdência Social e à
assistência social, particularmente aos idosos, destacando as seguintes proposições, em seu
artigo intitulado A Previdência Social no Brasil: Um Histórico, como segue:
uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;garantia do benefício da aposentadoria, calculando sobre a média dos últimos 36
contribuição, corrigidos monetariamente mês a mês; revisão dos valores da
aposentadoria por tempo de serviço por idade, invalidez e pensão, restabelecendo o
poder aquisitivo expresso em número de salários mínimo que tinham na data de sua
concessão;
estabelecimento de um valor mínimo para os benefícios, de um salário
mínimo;
definição de um benefício mensal, no valor de um salário mínimo, ao idoso que
não disponha de meios para sua própria manutenção ( assim como para as pessoas
portadoras de deficiências graves), na condição de direito independente de
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introdução do critério da seletividade para a maior proteção aos segurados de
baixa renda e seus dependentes (abono-família);
reforço à proteção à maternidade (licença-gestante de 120 dias e introdução da
licença ao pai) e à proteção ao desempregado involuntário (seguro-desemprego) e
participação dos trabalhadores e empregadores na gestão da previdência
social.
O beneficio da aposentadoria do idoso, na atualidade brasileira, compartilha a renda
familiar da casa, não permitindo ao idoso usufruir seu beneficio, de maneira prazerosa. O
valor do beneficio do idoso é destinado às despesas mensais do núcleo familiar. Além tal
beneficio é utilizado como arrimo de família ou/e complementarista da renda da familiar.
Porém , em setores com níveis mais altos de aspirações e de consumo, a aposentadoria deixa
de ser uma forma de assegurar apenas a velhice dos mais pobres. Sendo assim, em virtude
dessa conjuntura que se instaura pode–se ponderar que um contingente cada vez mais
exigente e mais jovem de aposentados será objeto da ação de agências que se especializam na
gestão da aposentadoria (DEBERT 2004, p.59).
1.4 Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento
O Caderno de Saúde do Idoso é o instrumento que os profissionais da Atenção Primária
como, por exemplo, a Estratégia de Saúde da Família utilizam para desenvolver trabalhos e
assistência com os idosos da comunidade. O Caderno é de autoria do Ministério da Saúde,
destinado para todo o território nacional é atualizado conforme diretrizes do Departamento de
Ações Programáticas e Estratégicas (DAPES) do mesmo órgão. Dentro das ações estratégicas
do DAPES incluem Saúde da Criança, do Adolescente, da Mulher, do Homem, do
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No Caderno de Saúde do Idoso publicado em 2010 pelo Ministério da Saúde é
intitulado Atenção a Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento reafirma a necessidade de
mudanças na linha de cuidados e da atenção a essa população, por meio da humanização do
atendimento, bem como do fomento de inovações, por intermédio da disseminação de
conhecimento específicos para gestores e profissionais de saúde que atuam na rede, buscando
parcerias e divulgando a ideia do Envelhecimento Ativo.
A Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa é um instrumento utilizado pelos profissionais de
saúde da Estratégia de Saúde da Família nos grupos semanais de hipertensos e diabéticos, nas
consultas medicas e de enfermagem e nas visitas domiciliares. Por meio da aferição da
pressão arterial, da glicemia capilar e do peso, é realizado um planejamento que consiste em
orientações sobre realização de atividade física, dieta hipocalórica e hipossódica para o
paciente.
Dentro das estratégias da Área Técnica de Saúde do idoso está a Caderneta de Saúde da
Pessoa Idosa que é uma ferramenta de identificação de situações de riscos potenciais para a
saúde da pessoa idosa. Traz ao profissional de saúde a possibilidade de planejar e organizar
ações de prevenção, promoção e recuperação, objetivando a manutenção da capacidade
funcional das pessoas assistidas pelas equipes de saúde. A distribuição da Caderneta de Saúde
da Pessoa Idosa iniciou-se em 2007, por meios das Secretarias Estaduais e Municípios
(capitais e municípios com mais de 500 mil habitantes)..
Por intermédio da Caderneta de Saúde do Idoso, o profissional da Estratégia de Saúde
da Família, acompanha a evolução da saúde do idoso quando portador de doenças crônicas. O
profissional orienta o idoso para que tenha qualidade de vida, por meio de sua pressão arterial
ou glicemia capilar compensado. No entanto, alguns pacientes são resistentes às orientações,
muitas vezes tais situações ocorrem devido permanecerem assintomáticos mesmo quando
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Nos grupos realizados semanalmente, nas consultas médicas e de enfermagem e visitas
domiciliares é solicitado para os pacientes que apresentem a caderneta, para a avaliação.
Quando verificado que o paciente não está aferindo à pressão arterial e/ou a glicemia capilar,
não participando de grupos ou consultas, é orientado a participar e também esclarecido acerca
dos riscos e complicações das doenças crônicas. Deve-se ressaltar que é um instrumento
eficaz, que está incorporado a rotina do programa de saúde.
O Caderno Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa auxilia os profissionais de saúde
da Estratégia de Saúde da Família oferecendo subsídios técnicos para a pratica diária, e
protocolos clínicos para orientar na tomada de condutas. O Caderno de Atenção Básica:
Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa é outra estratégia da Área Técnica de Saúde do
idoso foi elaborado entre 2009 a 2010, com a finalidade de oferecer subsídios técnicos
específicos em relação à saúde da pessoa idosa de forma a facilitar a prática diária dos
profissionais que atuam na Atenção Básica. Com uma linguagem acessível, disponibiliza
instrumentos e discussões atualizadas, além de protocolos clínicos no sentido de auxiliar a
adoção de condutas mais apropriadas às demandas dessa população, com vistas a uma
abordagem integral à pessoa no processo de envelhecimento. O caderno constitui a principal
referência para os processos de capacitação dos profissionais de nível superior que atuam na
Atenção Básica.
Já a Área Técnica de Saúde do Idoso, como estratégia firmou convênio com a Escola
Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ, para capacitar, na modalidade à distância (EAD) 500
(quinhentos) profissionais que atuam na rede de saúde SUS, nas regiões norte e nordeste do
país, sendo estendido às regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste até 2012, objetivando capacitar
mais de 2000 (dois mil) profissionais, mil em 2011 e mil em 2012, um curso de
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que , na unidade básica na qual desenvolvo minhas atividades, estamos em fase de seleção
para realizar o referido curso.
O Caderno Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa traz o Capítulo IV do Estatuto do
Idoso, que foi um marco para as conquistas sociais da população idosa, que demonstra a
responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) na garantia da atenção à saúde do idoso.
Os artigos 15 a 19, do referido capítulo descreve de forma integral todos os níveis de atenção
que o SUS deve ofertar ao idoso, conforme descreve a seguir:
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde - SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços, para prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde,
incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos.
§ 1º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:
I - cadastramento da população idosa em base territorial;
II - atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios;
III - unidades geriátricas de referência, com pessoal especializado nas áreas de geriatria e gerontologia social;
IV - atendimento domiciliar, incluindo a internação, para a população que dele necessitar e esteja impossibilitada de se locomover, inclusive para idosos abrigados e acolhidos por
instituições públicas, filantrópicas ou sem fins lucrativos e eventualmente conveniadas com o
Poder Público, nos meios urbano e rural;
V - reabilitação orientada pela geriatria e gerontologia, para redução das sequelas decorrentes do agravo da saúde;
§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos
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§ 3º É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança dos valores diferenciados em razão da idade.
§ 4º Os idosos portadores de deficiência ou com limitação incapacitante terão atendimento especializado, nos termos da lei.
Art. 16 Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em
tempo integral, segundo critério médico.
Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por
escrito.
Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de duas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável.
Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder á opção, esta será feita:
I - pelo curador, quando o idoso for interditado;
II - pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil;
III - pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar;
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Art. 18. As instituições de saúde devem atender aos critérios mínimos para o atendimento às necessidades do idoso, promovendo o treinamento e a capacitação dos profissionais, assim
como orientação a cuidadores familiares e grupos de auto-ajuda.
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra o idoso serão
obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos:
I - autoridade policial;
II - Ministério Público;
III - Conselho Municipal do Idoso;
IV - Conselho Estadual do Idoso;
V - Conselho Nacional do Idoso.
Os artigos 15 ao 19 do Capítulo V do Estatuto do Idoso descreve a responsabilidade
que o SUS tem para com a pessoa idosa, seus direitos e suas conquistas. Abrangendo todos os
setores de atenção à saúde, ao nível primário, ao secundário e ao terciário. Embora seja um
instrumento importante para promover a cidadania e a proteção, assegurando direitos do
idoso, observa-se que, ,na atualidade, não é de conhecimento da totalidade das pessoas que
compõem os segmento idoso brasileiro, principalmente dos idosos de baixo poder sócio e
econômico.
No que tange ao desenvolvimento da atividade diária da unidades básicas de saúde,
os idosos não têm conhecimento do Estatuto o qual ainda não tem uma década de
promulgação como lei, implicando desinformação e não conhecimento de um instrumento que
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CAPÍTULO II
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Capítulo II
População Negra no Brasil
Um sorriso negro Um abraço negro Traz felicidade... (Dona Ivone Lara, 1982)
2.1 O Perfil da População Negra
Para entender o idoso negro portador de doenças crônicas, esse capitulo, sem o
propósito de aprofundar o tema. Propõe visualizar o perfil da população negra na atualidade,
conceituar o universo do negro brasileiro, fornecer subsídios para entender aqueles que
entram na fase do envelhecimento.
O censo realizado no ano de 2010, evidenciou que o Brasil tem 97 milhões de pessoas
que se declararam negras (negras e pardas) e 91 milhões de pessoas que se declararam
brancas. Reconhece um aumento na taxa de crescimento da população negra de 2.5%, entre
2000 e 2010, enquanto da população branca foi quase próximo de zero. A pergunta que se faz
é por que um maior número de pessoas declararam-se negras. Algumas hipóteses se poderia
propor, como por exemplo: maior consciência desta população; melhora na qualidade de vida;
na situação econômica vinculada aos salários; na assistência prestada à saúde; diminuição do
racismo e da discriminação racial que essa população sofre no país e a diminuição dos
índices de homicídios entre os mais jovens. Tentaremos responder a essas questões, com os
dados oficiais.
Na atualidade, o Brasil é mais negro, fruto da conscientização da população negra que
tem sua auto-estima elevada, devido principalmente a uma maior visibilidade. A mídia
brasileira tem oferecido para a população negra maior exposição nos veículos de
comunicação, tendo em vista décadas passadas. O sistema de cotas nas universidades,
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contribuído para essa valorização. Marcelo Paixão coordenador do Laboratório de Análises
das Relações Raciais da UFRJ esclarece: “a auto-afirmação das pessoas que se declararam
negras é fruto de um processo de valorização étnica, que vem da visibilidade maior tanto de
atores e personalidades negros, quanto de temas como as cotas. Como o aumento de pretos e
pardos foi também nas faixas intermediárias, não só dos que nascem, por exemplo, podemos
analisar ser uma mudança comportamental”. (JORNAL O GLOBOA, 2011).
Apesar dos programas sociais do governo para transferência de renda, aumento da
escolaridade e apoio à maternidade e aos cuidados com crianças nos primeiros meses de
vida,terem sido positivos para a população negra, a mesma continua sendo portadora de
índices discrepantes, quando comparado com a população branca. Em contrapartida, o Índice
de Desenvolvimento Humano 2011 (IDH) que é o instrumento usado pelo programa das
nações unidas para o desenvolvimento para medir o nível de desenvolvimento humano dos
países, a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula) longevidade
(expectativa de vida ao nascer) e renda (PIB per capita), demonstra que o país melhorou,
ocupando a posição de desenvolvimento humano médio com o índice de 0, 718. O Brasil
ocupa a posição de vigésimo lugar relação ao IDH na America Latina. Contudo, o país tem 16
milhões de pessoas situadas na faixa de extrema pobreza (70 reais mensais), sendo que 4,2
milhões são brancos e 11,5 milhões são negros (pardos e negros). (PANUD, 2011). Além
desses fatores, deve-se pontuar outros entraves que impossibilitam a concretização do
principio da isonomia na sociedade brasileira:
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coerentes, posto mesmo se reforçar em mutuamente a cada instante (RELATÓRIO ANUAL DAS DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL 2009-2010, p.22)
O negro quando atinge as classes reconhecidas como media e alta, por meio do estudo
e de oportunidades, apesar de não estar livre das praticas de racismo, que em muitos casos
intensificam-se. É necessário que a presença do negro esteja cada vez mais presente nessas
classes sociais, Para que a elite brasileira tenha um novo perfil, mais diversificada, com mais
democracia racial, resultando em menos desigualdade econômica.
Segundo Mário Theodoro economista, atual secretário-adjunto da Secretária Especial
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), esclarece que o racismo, o
preconceito e a discriminação não afetam única e exclusivamente a população negra pobre.
As práticas de racismo evidenciam-se mais claramente em situações onde o negro sai do seu
lugar natural e encontra-se em uma situação onde sua presença não é habitual, ou seja, nas
posições de maior prestígio social.
2.2 Política Nacional Integral de Saúde da População Negra
A Política Nacional de Saúde da População Negra lançada em 2004 e instituída por
meio da portaria n. 992, de 13 de maio de 2009, foi uma reivindicação do Movimento Negro
Brasileiro, que reconhece ser necessário um tratamento diferenciado em saúde para a
população negra, visando atingir as doenças mais prevalentes neste grupo, por intermédio de
enfrentamentos como o racismo institucional, porém até o momento poucas medidas foram
implementadas para atingir esse objetivo.
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As organizações não governamentais, grupos ligados ao Movimento Negro, e o
próprio Movimento e o Estado, reconhecem ser o racismo institucional o grande entrave para
a não assistência da saúde no SUS, com equidade e qualidade, para a população negra. O
negro sofre vários reveses quando se discute a qualidade da saúde que é prestada para essa
população. O fator socioeconômicos de uma grande parcela da população negra ajuda a
direciona-la para o atendimento no SUS, no entanto, devido o racismo institucional, a
assistência prestada fica prejudicada no sentido da qualidade do serviço que está sendo
prestado.
O enfretamento para combater o racismo institucional deve ser iniciado dentro do
próprio SUS, envolvendo e sensibilizando os profissionais que prestam serviço para a
população. A população negra quando sofre racismo dentro do serviço deveria ser incentivada
a denunciar o ocorrido para que sua cidadania seja realmente resguardada e respeitada. Não
obstante, poucas denúncias são notificadas para os órgãos competentes.
As histórias dos usuários retratam o cotidiano vivenciado por homens e mulheres negros ao acessarem os serviços públicos de saúde. De um lado, revelam o racismo operante nas relações sociais entre negros e não-negros, entre usuários e agentes de saúde; de outro, revelam também o despreparo à atenção de especificidades desta população quanto aos processos de saúde, doença e cuidado. A garantia de atendimento igualitário à população passa, na atualidade, por diferenciações de atendimento no interior dos serviços públicos de saúde, especialmente por Estratégia Saúde da Família (ESF), Programa de DST e Aids ações de combate à hipertensão, diabetes e ao fumo. E se estende à politicas, programas e ações direcionadas à população negra, indígena, deficiente, mulher, criança, idoso, trabalhador (dentre outras), o que nos remete ao principio da equidade instituído pelo SUS quando de sua criação.(BATISTA 2010, p. 2).
As politicas públicas são criadas e aperfeiçoadas pelo Estado para atingir
determinados grupos ou a universalidade da população. Essas politicas devem ser pensadas
pelos legisladores no sentido que sua eficácia e efetividade seja contemplada. A população
que é contemplada com tais politicas publicas, não apresentam transformações ou se
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sejam criados para sua efetivação. Em relação da Politica Nacional Integral da População
Negra, o racismo institucional deve ser enfrentado.
O racismo institucional constitui-se na produção sistemática da segregação étnico-racial, nos processos institucionais. Manifesta-se por meio de normas, praticas e comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho, resultantes da ignorância, falta de atenção, preconceitos ou estereótipos racistas. Em qualquer caso, sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pela ação das instituições e organizações. .(POLITICA NACIONAL INTEGRAL DE SAPUDE DA POPULAÇÃO NEGRA 2007, p.30)
.
Outro aspecto que deve ser analisado em relação à Política Nacional Integral de Saúde
da População Negra é a sua focalização, que de acordo com autores como Sarmiento e
Artega, as políticas focalizadas “compreende um método prático para a superar a exclusão
social dos mais pobres. No entanto, a critica às politicas focais tem mostrado o quanto elas
limitam a superação dos elementos fundantes das desigualdades sociais que mantêm parcela
da populaçãona pobreza”.(SARMIENTO e ARTEGA 1998, XVIII (29.
A Política Nacional Integral de Saúde da População Negra é defendida por outros
autores como Maio e Monteiro como uma política focal: focalização da população,
descentralização das ações, como segue:
(...) no alvorecer do século XXVI voltam à cena pública as relações entre raça e saúde, a partir da proposta de criação de uma política focal direcionada à população negra. Esta se baseia na concepção de que as desigualdades raciais repercutem de forma específica na esfera da saúde pública e, por conseguinte, devem ser objeto de ação governamental para supera-las. Com base numa articulação que envolve ONGS vinculadas ao movimento negro, agências estatais, fundações filantrópicas norte-americanas, instituições multilaterais e fóruns internacionais, especialmente no plano dos Direitos Humanos, a nova política anti-racista surge no contexto da discussão sobre políticas de ação afirmativa no Brasil, iniciada nos anos 90”.( MAIO e MONTEIRO 2005, p. 421 ).
O sociólogo Batista discorda da afirmação dos autores acima, devido a generalização
em relação as ações afirmativas, voltadas para a população negra desencadeadas
principalmente nos primeiros anos do presente século, como políticas apenas focais:
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especificidades inerentes a esta(e outras) populações que justificam a necessidade de uma política ou programas específicos”(BATISTA 2010, p.2)
Ampliando a análise sobre políticas publicas para o idoso e negro é necessário
visualizar a situação atual das politicas de saúde no Brasil: Andrade e Barreto (2007, p.1053)
pondera citando Lima-Costa, e Veras (2003) que , de acordo com o panorama das políticas
de saúde brasileiras, deve enfrentar“o envelhecimento populacional que desafia a habilidade
de produzir políticas de saúde que respondam às necessidades das pessoas idosas. A
proporção de usuários idosos de todos os serviços prestados tende a ser cada vez maior, quer
pelo acesso às informações do referido grupo etário, quer pelo seu expressivo aumento
relativo e absoluto na população brasileira”.
2.2 Doenças Crônicas; prevalentes no idoso negro: hipertensão arterial e
diabete melito
Como já dito anteriormente, esse estudo focará apenas a hipertensão arterial sistêmica
e o diabete melito em idosos negros. A hipertensão arterial sistêmica é a doença de maior
prevalência no mundo moderno, provocam alterações nos vasos sanguíneos e na musculatura
do coração, pode ocorrer hipertrofia do ventrículo esquerdo, ocasionando acidente vascular
cerebral (AVC), infarto do miocárdio, morte súbita, insuficiência renal e cardíaca, alterações
na visão.
Estima-se que pelo menos 65% dos idosos brasileiros são hipertensos, sendo sua
prevalência e gravidade maior nos negros, relacionados a fatores étnicos e/ou
socioeconômicos. Em estudos do Ministério da Saúde, relaciona a hipertensão no negro a
fatores sócio-econômicos do que com o fator biológico. O tratamento torna-se prejudicado
devido à dificuldade de acesso ao sistema de saúde, aos remédios de uso contínuo, e a um
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No clássico trabalho sobre hipertensão realizado por Ribeiro e AL (1938, p.234)
concluíram que “ a hipertensão aumenta com a idade em ambos os sexos, e apresenta altos
níveis pressóricos em homens de etnia negra. A mulher negra apresenta maior prevalência
em desenvolver a hipertensão quando comparado a mulher branca”. O nefrologista Artur
Beltrame Ribeiro e al (2012, pp. 65-76) relata que a “hipertensão (pressão sistólica ³ 140
mmHg ou diastólica ³ 90 mmHg) tem alta prevalência em países desenvolvidos. Ocorre em
um a cada quatro indivíduos em determinada comunidade e indivíduos normotensos com
mais de 50 anos tem 90% de chance de desenvolver um aumento da pressão arterial durante
os próximos 25 anos. A prevalência é maior entre negros e idosos, especialmente mulheres
idosas”.
Beltrame e al (ibidem) destacam que ambas as doenças como pressão arterial e
moléstias cardiovasculares são fatores de risco para outras complicações:
A relação entre pressão arterial e moléstias cardiovasculares é indiscutível e não depende de outros co-fatores de risco. Infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e insuficiência vascular periférica aumentam progressiva e paralelamente ao aumento da pressão arterial. Dados epidemiológicos atestam que na faixa de 40 a 70 anos cada aumento de 20 mmHg na pressão sistólica ou de 10 mmHg na pressão diastólica dobra o risco de eventos cardiovasculares para o espectro de pressão que abrange desde 115 até 185 de pressão sistólica e 75 até 115 de pressão diastólica. A hipertensão arterial é responsável por 40% das mortes provocadas por acidente vascular cerebral e 25% por infarto do miocárdio em nosso meio.
Na tabela abaixo da Sociedade Brasileira de Hipertensão de 2002, relacionam-se os
fatores de risco em pacientes em função da presença de fatores de risco e de lesão em órgão
alvo, podemos notar que em pacientes que portador de diabetes mellitus, tabagista e idade
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No gráfico do Journal Hypertens de 2003, destacam-se as diretrizes para anamnese
para a pressão arterial elevada, relacionando a suspeita da hipertensão secundária, fatores de
risco, sintomas de lesões e órgãos, terapia preventiva anti-hipertensão e fatores familiares e
ambientais. Na hipertensão no idoso negro os fatores de risco hábitos alimentares e
obesidades estão presentes.
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O diabete melito faz parte de um grupo de doenças metabólicas caracterizada por
hiperglicemia crônica e associadas a complicações, após alguns anos de evolução, são
frequentemente acompanhadas por danos, por disfunções e por falência e por insuficiência
de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos.
Na atualidade, configura-se como uma epidemia mundial, é um importante problema
de saúde pública, pois é bastante frequente, está associado a complicações que comprometem
a produtividade, a qualidade de vida e a sobrevida dos indivíduos, além de envolver altos
custos no seu controle e no tratamento de suas complicações.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2010 estimava-se que o número de diabéticos nos país atingisse a marca de 10 milhões de brasileiros. No negro a doença está relacionada ao diagnóstico tardio e a sua cultura alimentar hipercalórica e hipergordurosa. O diabete melito tipo 2 é a forma mais comum em 90% dos casos, segundo raça, 9% dos homens negros têm mais possibilidades de desenvolver a doença, no caso das mulheres aumenta em 50%. Estudos de Malerbi e Franco (2000) revelam aumento da incidência da doença ser maior na população negra em decorrência de menor freqüência de diagnostico prévio, ocasionado pela dificuldade de acesso ao serviço de saúde.
O aumento da expectativa de vida da população em quase todos os países, como
decorrência tem se observado um aumento da prevalência do diabete como relata Franco
(2001, p.56) “ entre as causas aventadas, destacam-se o aumento das taxas de urbanização e
industrialização, maior sedentarismo, aumento da esperança de vida da população em geral
e maior sobrevida dos pacientes diabéticos”.
Para a endocrinologista Maria Oliveira (2004) “o envelhecimento da população, a
urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como inatividade física
e hábitos alimentares inadequados justificam o crescimento da diabete melito no Brasil”.
Na próxima pagina a classificação etiológica dos distúrbios glicêmicos, está
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Quadro 1
___________________________________________________________________ _____
Classificação etiológica dos distúrbios glicêmicos
Diabetes tipo 1
(destruição da célula beta, geralmente levando a uma deficiência absoluta de insulina) –
auto-imune
– idiopático
Diabetes tipo 2
(varia de predominantemente insulino-resistência com relativa insulino-deficiência a
predominante defeito secretório com ou sem resistência insulínica)
Outros tipos específicos de diabetes
– defeitos genéticos da função da célula beta
– defeitos genéticos na ação da insulina
– doenças do pâncreas exócrino
– endocrinopatias
– induzidos por fármacos ou agentes químicos
– formas raras de diabetes imunomediado
– outras síndromes genéticas, às vezes associadas com diabetes
Diabetes Gestacional
___________________________________________________________________________ _____
( Manual de Doenças Mais Importantes , na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p. 57)
Franco (2001, p.58) descreve abaixo que a obesidade abdominal é um fator de risco
importante para os portadores de diabete melito tipo 2, e que tenha fatores multifatoriais para
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O diabete tipo 2 compreende forma mais comum de diabete, correspondente a cerca de 85% a 90% dos casos e resulta de defeitos na secreção de insulina, quase sempre com uma importante contribuição da resistência insulínica. A maioria dos casos apresenta excesso de peso, o que agrava a resistência insulínica. A obesidade abdominal é um problema maior que a obesidade periférica. As causas etiológicas do diabete tipo 2 são desconhecidas, provavelmente, a doença tenha uma etiologia multifatorial.
.
Na realidade brasileira , o diabete melito não é uma doença prevalente na população negra,
porém deve-se ressaltar que o diagnostico tardio e as sequelas incapacitantes, prevalece na
população negra idosa não permitindo qualidade de vida , para este segmento na velhice.
O risco de desenvolver diabete tipo 2 aumenta com o progredir da idade, especialmente após os 40 anos, com o sedentarismo e excesso de peso. Ocorre mais frequentemente em indivíduos com hipertensão ou dislipidemia e nas mulheres com diabetes gestacional prévio. Sua frequência varia bastante em diferentes grupos étnicos e apresenta uma importante associação familiar. Na América do Norte e nos países do Caribe, têm-se descrito uma maior prevalência de diabetes tipo 2 na população negra, chegando a ser 1,4 vez maior que na população branca, diferença que não se observou na população brasileira. . ( Manual de Doenças Mais Importantes, na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p.58).
O quadro 2 abaixo demonstra os fatores de risco para diabete melito tipo 2
Quadro 2 - Fatores de risco para o diabetes mellitus tipo 2.
___________________________________________________________________________ _____
_Idade > 45 anos
_Excesso de peso
_ História familiar de diabetes (pais, irmãos e filhos)
_ Sedentarismo
_ Macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal
_ Doença arterial coronariana
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_Níveis baixos de HDL-colesterol ou aumentados de triglicéride
_Hipertensão arterial
_ Diabetes gestacional prévio
___________________________________________________________________________ _____
(Manual de Doenças Mais Importantes, na População Brasileira Afro-Descendente, 2001, p.60).
No clássico estudo populacional , realizado por Franco entre 1987-1989 na população
entre 30-69 anos de idade, não foram observadas as diferenças na prevalência de diabetes
entre negros e brancos. Não obstante, o autor salienta que no país não existe uma rígida
separação entre indivíduos por cor, aliada a uma elevada taxa de miscigenação e percepção de
cor influenciada por aparência física, prestigio social e tipo regional de sociedade. No censo
de 2010, verifica-se que a população negra está assumindo sua cor, a situação atual é
diferente da época em que o estudo foi realizado, porém o estudo é uma referência para
compreender a prevalência de diabete melito na população negra brasileira.
O estudo populacional realizado por Franco entre 1987-1989 revela que o fator que
diferenciou o diabete da população negra do que na população branca foi a menor frequência
da existência de história familiar de diabetes entre a população negra do que na população
branca. Segundo o autor essa frequência menor decorra de uma menor esperança de vida,
maior número de desagregação familiar e dificuldades no acesso a serviços de saúde entre
negros do que propriamente a diferenças étnicas. O gráfico, na próxima pagina, demonstra
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Gráfico 3
Histórico familiar de diabetes mellitus na população brasileira, por sexo e cor.
Fonte: Franco, L.J : Diabetes in Brazil – a review of recente survey data. Ethnicity & Disease. 1992; 2 158-175
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%
1
Homens Brancos
Homens Negros
Mulheres Brancas
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CAPÍTULO III
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Capitulo 3
Jardim Ângela
Favela é minha raiz. Favela que me viu nascer, só quem te conhece
por dentro pode te entender.
(Leandro Sapucay, 2008)
3.1 Seus desafios e conquistas
O Jardim Ângela é um distrito situado na zona sul da cidade de São Paulo que fica às
margens da Represa de Guarapiranga no seu leito norte. Juntamente com o Jardim São Luís,
conforma a região conhecida como M´Boi Mirim. Sua área é de 37 Km, população 291.798
habitantes(censo 2010), densidade demográfica por habitante 78,02, renda média R$ 568,12,
IDH 0,750 (médio). Na década de 1960, começa com uma ocupação desordenada na região,
que só iria piorar nas décadas seguintes. A região sofria carência de saneamento adequado, de
implantação de redes de água, de pavimento de ruas, de escolas, de creches, de postos de
saúde, de hospital, de equipamentos culturais e de segurança publica.
No ano de 1996, a região é considerada pela ONU (Organização das Nações Unidas) a
região mais violenta do mundo. No ano de 1999, a violência sobe para números alarmantes, o
total de homicídios chega a 11.472, sua serie histórica. O Padre James Crowe, conhecido na
região como Padre Jaime, lidera no final da década de 1990, um movimento de mobilização
da comunidade cobrando do poder público melhorias na região. A partir dessa mobilização,
muitas entidades e organizações sociais começaram atuar na região no início da década de