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Doenças de veiculação hídrica

No documento Gestão de Águas Pluviais Urbanas (páginas 33-41)

Existem muitas doenças com veiculação hídrica. Com relação à á-gua, as doenças podem ser classificadas de acordo com o conceito de White et al, (1972) e apresentado por Prost (1993):

doenças com fonte na água (water borne diseases): dependem da água para sua transmissão como cólera, salmonela, diarréia, lep-tospirose (desenvolvida durante as inundações pela mistura da urina do rato), etc. A água age como veículo passivo para o agente de in-fecção.

doenças resultantes da falta de higiene (water-washed disea-ses): dependem da educação da população e da disponibilidade de água segura. Essas doenças estão relacionadas com infecções de ou-vido, pele e olhos.

relacionado com a água (water-related): o agente utiliza a água para se desenvolver, como malária e esquistossomose.

Muitas dessas doenças estão relacionadas com a baixa cobertura de água tratada e o saneamento, como a diarréia e a cólera; outras, estão as-sociadas à inundação, como a leptospirose, a malária e a dengue. Na ta-bela 1.11, são apresentadas a mortalidade infantil e as doenças de veicu-lação hídrica no Brasil. Na tabela 1.12, é apresentada a proporção de co-bertura de serviços de água e saneamento no Brasil de acordo com o grupo de renda, mostrando claramente a pequena proporção de atendi-mento para a população de menor renda. Na tabela 1.13, são apresenta-dos valores do Brasil.

Tabela 1.11 Mortalidade resultante de doenças de veiculação hídrica no Brasil (Mota e Rezende, 1999)

Idade Infecção intestinal Outras*

1981 1989 1981 1989

< 1 ano 28.606 13.508 87 19

1 e 14 anos 3.908 3.963 44 21

> 14 anos 2.439 3.330 793 608

*Cólera, febre tifóide, poliomielite, disenteria, esquistossomose, etc.

Dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) demonstram que, no período de 1995 a 2000, ocor-reram, a cada ano, cerca de 700 mil internações hospitalares em todo o País, provocadas por doenças relacionadas com a água e com a falta de saneamento básico (Santos, 2005).

Tabela 1.12 Cobertura de serviços, por grupos de renda do Brasil (Mota e Rezende, 1999)

Domicílio Água tratada

(%) Coleta de es-goto

(%)

Tratamento de esgo-to

(%) salário

mí-nimo

1981 1989 1981 1989 1981 1989

0 – 2 59,3 76,0 15 24,2 0,6 4,7

2 – 5 76,3 87,8 29,7 39,7 1,3 8,2

> 5 90,7 95,2 54,8 61,2 2,5 13,1

Todos 78,4 89,4 36,7 47,8 1,6 10,1

Tabela 1.13 Número de ocorrência totais no Brasil em 1996 (MS, 1999) Tipo Quantidade

Cólera 1.017

Malária 444.049

Dengue 180.392 Taxa de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias

por 100.000 habitantes (1995) 24,81

As doenças transmitidas pelo consumo de água imprópria preocu-pam, principalmente pelos seguintes motivos:

Cargas domésticas: o excesso de nutrientes tem produzido eutrofiza-ção dos lagos, proliferaeutrofiza-ção das algas, que geram toxicidade. Essa toxici-dade pode ficar solúvel na água ou depositar-se no fundo dos rios e dos lagos. A ação da toxicidade se reflete no fígado, gerando doenças dege-nerativas, como câncer e cirrose.

Cargas industriais: os efluentes industriais apresentam os mais diferen-tes compostos e, com a evolução da indústria, novos componendiferen-tes são produzidos diariamente. Dificilmente as equipes de fiscalização possuem condições de acompanhar esse processo;

Cargas difusas: as cargas difusas provenientes de áreas agrícolas trazem compostos de pesticidas, que, anualmente, apresentam novos compos-tos. A carga difusa de área urbana foi mencionada nos itens anteriores e pode atuar de forma cumulativa sobre o organismo das pessoas.

Na tabela 1.14, é apresentado um resumo dos números das princi-pais doenças transmitidas pela água e os totais recentes no Brasil.

Tabela 1.14 Valores recentes das doenças transmitidas pela água no Brasil (valores de Santos, 2005)

Doenças e características Quantidade

Diarréia (2004) 2.307.957

Cólera (2004) 21

Dengue (2003 e 2004) 112.928

Óbitos relativos a dengue (2003 e 2004) 3

Leptospirose (2001) 3.281

Malária: casos positivos (2001) 389.737 Esquistossomose: municípios na área endêmica (2002) 964 1.6 Comparação entre países desenvolvidos e em

desen-volvimento

A tabela 1.15 compara os cenários de infra-estrutura urbana relaciona-da com a água em países desenvolvidos com o existente em países em de-senvolvimento.

Pode-se observar que, nos países desenvolvidos, grande parte dos problemas foi resolvida quanto ao abastecimento de água, ao tratamento de esgoto e ao controle quantitativo do escoamento na drenagem urbana. Neste último caso, foi priorizado o controle por meio de medidas não-estruturais, que obrigam a população a controlar na fonte os impactos resultantes da ur-banização. O principal problema nos países desenvolvidos é o controle da

poluição difusa resultante das águas pluviais. Já nos países em desenvolvi-mento, o problema ainda está no estágio do tratamento de esgoto.

Em alguns países, como o Brasil, o abastecimento de água, que pode-ria estar resolvido, pela grande cobertura de abastecimento, volta a ser um problema em virtude da elevada contaminação dos mananciais. Esse pro-blema é decorrência da baixa cobertura de coleta de esgoto tratado. Na reali-dade, existem muitas redes e estações de tratamento, mas a parcela de esgoto sem tratamento ainda é muito maior. Devido ao ciclo de contaminação, produzido pelo aumento do volume de esgoto não tratado para a mesma capacidade de diluição, os objetivos também são de saúde pública, pois a po-pulação passa a ser contaminada pelo conjunto do esgoto produzido pela cidade, no que chamamos aqui de “ciclo de contaminação urbana” (figura 1.3).

Tabela 1.14 Comparação dos aspectos da água no meio urbano Infra-estrutura

urbana Países

desenvolvidos Países em desenvolvimento

Abastecimento de

água Cobertura total

Grande cobertura; tendência de redução da disponibilidade em virtude da contaminação das

fon-tes; grande quantidade de perdas na rede

Saneamento Grande cobertura na coleta e no

tratamen-to dos efluentes

Falta de rede e estações de trata-mento; as que existem não

conse-guem coletar esgoto como proje-tado

Drenagem Urbana

Os aspectos quantita-tivos estão

controla-dos;

Gestão da qualidade da água

Impactos quantitativos sem solu-ção;

Impactos provocados pela quali-dade da água que não foram

iden-tificados Inundações

Ribeirinhas

Medidas de controle não-estruturais, co-mo seguro e zonea-mento de inundação

Grandes prejuízos por falta de política de controle

Um exemplo deste cenário é a cidade de São Paulo, que se encontra na bacia hidrográfica do Rio Tietê, e tem demanda total de abastecimento de água da ordem de 64 m3/s, sendo que mais da metade da água é importada (33 m3/s) de outra bacia, a do Piracicaba (cabeceiras na serra da Cantareira).

Isso ocorre pela contaminação de parte dos mananciais existentes na vizi-nhança da cidade, por falta de tratamento dos esgotos domésticos. Os ma-nanciais, como a Billings e a Guarapiranga, têm sua qualidade comprometida.

O controle quantitativo da água da drenagem urbana ainda é limitado nos países em desenvolvimento. O estágio do controle da qualidade da água resultante da drenagem é um procedimento inexistente nesses países. Na América do Sul, assim como em grande parte dos países em desenvolvimen-to, busca-se o controle dos impactos quantitativos da drenagem pluvial, que ainda não estão controlados. Por exemplo, os sistemas de detenção construí-dos nas cidades brasileiras possuem como foco apenas o controle do impac-to das inundações, sem atentar para o componente de controle da qualidade da água.

Problemas

1. Quais os principais mananciais de águas urbano? Quando são uti-lizados e em que condições?

2. Quais as principais causas de contaminação dos mananciais?

3. Quais os principais problemas da coleta e do tratamento dos es-gotos cloacais?

4. Descreva o ciclo de contaminação.

5. Qual a diferença entre as inundações ribeirinhas e as inundações resultantes da urbanização?

6. Quais são as fontes dos problemas desses tipos de inundação?

7. O que diferenciam as cargas poluentes da drenagem urbana e as do esgoto cloacal?

8. Quais são os tipos de resíduos sólidos urbanos? Quando ocor-rem?

9. Por que a vazão aumenta numa bacia urbana com relação às condições rurais?

10. Esse aumento é uniforme ou varia com a magnitude da cheia?

Por quê?

11. Analise a cadeia causal na deteriorização da qualidade da água dos rios a jusante das cidades.

12. Quais são os períodos críticos em que ocorrem os cenários mais desfavoráveis?

13. Qual é a origem da contaminação da qualidade da água pluvial?

14. Por que os sólidos totais aumentam com a urbanização? Como variam ao longo da urbanização?

15. Qual a importância do monitoramento da quantidade de água, sedimentos e qualidade da água no planejamento da bacia urba-na? Se não é possível monitorar todas as bacias, por que então investir nisso? Quais as dificuldades desse tipo de ação?

16. Considerando que as causas dos impactos resultantes das inun-dações e da qualidade da água são decorrência da urbanização como é realizada hoje, que estratégias seriam tomadas para evitar isso?

17. A coleta de lixo recolhe cerca de 0,7 kg/dia, considerando que uma parcela desse total não seja coletado e chega na drenagem.

Considere uma sub-bacia urbana com 50 km2 de área, população densa da ordem de 120 hab./ha. Estime o total anual de lixo que é transportado para a drenagem. Admita que 1%, 5% e 10% do total de lixo coletado cheguem à drenagem. Admita um custo de 5 centavos de dólar o quilo para coletar e dispor esse volume.

Calcule o valor, anual, por pessoa. Esse é o subsídio que a popu-lação recebe do meio ambiente.

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Gestão das inundações

No documento Gestão de Águas Pluviais Urbanas (páginas 33-41)