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No ano de 1906 o crime de roubo da joalheria de Jacob Fuocco, situada à rua da Carioca, deu ensejo a diversas notícias nos periódicos, que relatavam os eventos sob o título – bastante atraente para os leitores ávidos por sensações – “A quadrilha da morte”. A quadrilha de bandidos que cometeu o roubo também estrangulou dois irmãos, sobrinhos de Fuocco – Carluccio e Paulino – e os assassinatos foram considerados brutais. O episódio forneceu material para inúmeras notícias de jornal (muitas com fotografias), um romance, uma peça de teatro e dois filmes. Com exceção do segundo filme, todos foram feitos logo após o acontecimento, indicando o seu sucesso.

Como já vimos no início desta parte da tese, crimes e criminosos geravam histórias sensacionais no Brasil desde, ao menos, a década de 1870. Além dos crimes verídicos que se transformavam em material de consumo através de imagens ou narrativas, as ficções em torno de histórias de bandidos não deixavam de recorrer à utilização de técnicas que instigavam a continuidade da leitura através da sensação. Essas produções tinham denominações distintas – romance histórico, episódios históricos, romance original – e nem sempre a narrativa acabava com a resolução do caso na justiça, embora no final da maioria das histórias de crime exista alguma punição: a morte, a culpa, a loucura, o isolamento. Porém, também podiam fazer relação direta aos crimes e à investigação, como por exemplo, no romance judiciário feito por Gaboriau, ou mesmo em outras narrativas, que apresentavam como fio condutor o desvendamento do crime e tinham algum ponto de contato com casos de Tribunal, mistérios e crimes cotidianos noticiados na imprensa.

Durante os anos que separam o “crime de Pontes Visgueiro” em 1873 e a “Quadrilha da morte” em 1906, muitas histórias de crimes e criminosos foram publicadas em livro e folhetim. O tema comum não condizia com uma mesma forma de construção narrativa. Pode- se dizer que as histórias de crime recorriam a fórmulas que remetiam a um nível de

dramaticidade, porém, existiam diferenças substanciais de representação dos dramas cotidianos. Os casos que serão analisados nos dois próximos capítulos – ocorridos em 1906 e 1908 – tiveram uma exploração incisiva em todos os meios disponíveis: jornal, livro, teatro, cinematógrafo.

“Uma noite trágica” era o título que introduzia ao leitor o crime ocorrido no mês de outubro na rua da Carioca em 1906 e que passaria a ser chamado, logo em seguida, com o instigante nome de “A quadrilha da morte”. Não era uma novidade para aqueles que já estavam habituados às leituras sensacionais se deparar com essas notícias e com o romance Os estranguladores do Rio ou o crime da rua da Carioca, reconhecido como um “romance sensacional” pelo autor Abilio Soares Pinheiro e publicado logo em seguida ao crime, fato que justificaria os erros tipográficos e a edição apressada. Os editores explicavam as imperfeições:

“Na pressa, que nós damos, para servir a legítima ansiedade do público e ao seu desejo de informações completas sobre os autores e as vítimas do trágico acontecimento que ainda ocupa o seu espírito sobressaltado, e desvendar-lhe fatos desconhecidos pela mesma polícia, esclarecendo completamente outros mistérios, que em tempo ocuparam a atenção geral, aprontamos esta edição com a maior celeridade possível.”477

O “Aviso” dos editores indicava que o leitor encontraria uma narrativa feita às pressas, no calor dos acontecimentos. O romance estava dividido em duas partes. A primeira – “Um plano malogrado” – apresentava ao leitor o chefe da quadrilha, Eugenio Rocca, italiano e também conhecido como doutor478 (pela habilidade em executar planos complexos) e a sua relação com uma moça que fazia parte da quadrilha, Malvina. Essa parte não se fixava nos eventos do crime, mas em fatos anteriores. Eram capítulos equivalentes àqueles que foram exibidos na primeira parte de Pedro Espanhol de José do Patrocínio. Malvina desaparecia no final da primeira parte. A segunda parte – “Os estranguladores do Rio de Janeiro” – voltava-se ao crime que era foco das notícias dos periódicos. No final do romance, um anúncio expõe que novas histórias sensacionais continuariam àquela que se encerrava:

477 “Aviso”. Abilio Soares Pinheiro. Os estranguladores do Rio ou o crime da rua Carioca. Romance sensacional

do Rio oculto. Rio de Janeiro: Tipografia Luiz Miotto, 1906.

478 Durante o dia Rocca sempre estava “corretamente trajado” e indicava “pertencer a uma classe social de uma

certa elevação”: era um engenheiro da City Improvement. Durante a noite transformava-se em outro homem: “Mas o doutor já não vestia o elegante traje da manhã. O seu corpo era musculoso e robusto, um tanto encurvado no peito. Era fechado num tricot de marinheiro. Calça azul, paletó azul, chapéu de largas abas e chinelos de couro, calçados nos pés sem meias o transformavam completamente.” Idem, ibidem, p. 9, 13 e 18-9.

“BREVEMENTE Do mesmo autor OS LADRÕES DO MAR

Novo e sensacional romance em continuação a Os Estranguladores do Rio de Janeiro”479

Os estranguladores do Rio apresentavam características que relacionavam a obra a uma produção de narrativas de crime voltada ao consumo. A existência da história sobre um crime muito noticiado dava ensejo a outra narrativa que continuava as aventuras do primeiro romance. A produção sob a forma de fascículo, que passou a ser comum alguns anos depois, tinha relação com essa produção de romances seqüenciados que Os Estranguladores do Rio de Janeiro ilustram adequadamente.

Se o romance sensacional sobre o “crime da rua da Carioca” propiciava a percepção de um processo que levou às inúmeras produções que seriam comuns alguns anos depois, o caso também era singular em relação às variadas formas de narrativas ficcionais que gerou, produzindo ainda mais sensação. Ainda no mês de novembro de 1906 era realizado um documentário sobre os principais acusados – Rocca, Carletto e Pegatto na Casa de Detenção – que se tornaria muito popular.480 Além dessa exibição, outra produção seria filmada dois anos depois, Os estranguladores. Realizada em agosto de 1908, foi baseada na peça teatral A quadrilha da morte481 de Rafael Pinheiro e Figueiredo Pimentel.

A relevância da exibição de Os Estranguladores dois anos depois está na proximidade com a produção de outras quatro fitas que também tinham como foco um crime sensacional ocorrido no dia 1 de setembro de 1908 – “O crime da mala”. De natureza bastante diversa de Os estranguladores do Rio, que envolvia uma quadrilha de assaltantes e tinha como primeira intenção o roubo e não o assassinato, “O crime da mala” girava em torno do assassinato de Elias Farhat, também por estrangulamento, pelo seu sócio Michel Trad, que, como especulavam os noticiários, era apaixonado pela esposa do sócio e amigo. O desfecho que forneceu feições especiais a esse crime estava na mutilação do corpo da vítima, que foi colocado em uma mala que seria jogada ao mar de um navio que partia de Santos. Além disso, um mistério envolvia o criminoso, que confessava o crime, mas não explicava o motivo. Como se verá, Miguel (ou Michel) Trad inspirou alguma simpatia e se tornou célebre.

479 Este livro não foi encontrado durante a pesquisa.

480 Sobre o assunto, ver Roberto Moura. “A Bela Época (Primórdios-1912)”, especialmente pp. 32-3. Em Fernão

Ramos. História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987.

Ainda no ano de 1908, foram produzidos O crime da mala, em São Paulo e A mala sinistra no Rio de Janeiro. A primeira fita se deteve no julgamento do habeas-corpus da viúva de Elias: “Habeas corpus da inocente viúva, vista tirada do natural pela Empresa Cinematográfica Paulista”.482 Segundo José Inácio de Melo e Souza,483 “pode-se inferir que se tratava de uma única tomada”.484 A fita foi exibida entre os dias 19 e 21 de setembro, mostrando a rapidez da produção cinematográfica e afirmando algo que já se verificava desde a década de 1870 em outras formas de publicação, ou seja, a relação direta entre a ocorrência do crime e o sucesso da exploração do assunto nos meios de comunicação.

Houve a exibição de duas Malas sinistras. A primeira foi apresentada no Cinematógrafo Rio Branco no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 9 de outubro e também no Teatro Sant’Ana em São Paulo entre os dias 8 e 9 de outubro. A segunda fita foi filmada e produzida por Marc e Júlio Ferrez e tinha 21 minutos de duração485 e foi exibida no mês de outubro no Rio de Janeiro e São Paulo. Essa produção fez imenso sucesso e, segundo a Gazeta de Notícias, “a rua do Ouvidor, nas proximidades do largo São Francisco, esteve ontem quase intransitável. Eram pessoas que queriam entrar no Cinema Palace. Exibia-se ali, pela primeira vez, A mala sinistra, fita cinematográfica surpreendente, em que se revive minuto por minuto, o célebre crime”.486

O segundo filme produzido em São Paulo foi O crime da mala, uma “ficção com utilização de cenas documentais”.487 A exibição desse filme foi proibida pela polícia. As cenas não eram equivalentes às notícias da imprensa, fornecendo um aspecto negativo à fita. Segundo José Inácio de Melo e Souza, o cinematógrafo, naquele momento, era “um extensão do lido ou do comentado por outros leitores”488 e havia uma “falta de verossimilhança” e a incapacidade de “construir uma narrativa compatível com as experiências dos participantes da tragédia local”.489 Entre alguns elementos de ficção citados pelo autor, estariam a representação da viúva (uma mulher loira) por uma “cabocla” e a ausência de semelhança

482

O Estado de São Paulo, São Paulo, 19.09.1908.

483 As informações sobre os filmes foram citadas em José Inácio de Melo e Souza. “As imperfeições do crime da

mala: ‘cine-gêneros’ e reencenações no cinema dos primórdios”. Em Revista Usp, São Paulo, mar-abr 2000. As fitas não sobreviveram ao tempo, mas é possível o conhecimento dos filmes pelas notícias da imprensa.

484

Idem, ibidem, p. 109. As informações seguintes foram extraídas do mesmo artigo (pp. 109-10).

485 “Filmografia”. Em Fernão Ramos. Op.cit., p. 488.

486 Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 10.10.1908. Apud José Inácio de Melo e Souza, Op.cit., p. 110. 487 “Filmografia”. Em Fernão Ramos, Op.cit., p. 472.

488

José Inácio de Melo e Souza, Op.cit., p. 108.

entre os atores que representavam os policiais e aqueles que investigavam o caso. Além disso, o fato de que a mala, que deveria ser jogada ao mar de um navio, era jogada da varanda de uma casa.

A verossimilhança era uma característica relevante das narrativas de crime. Havia uma expectativa de rever os episódios narrados nos periódicos da maneira como ocorreram. O efeito sensacional no cinematógrafo era ampliado pela possibilidade de uma dinâmica narrativa mais rápida. Em vinte ou quarenta minutos, o espectador poderia vivenciar as cenas do crime de maneira bastante realista. A produção cinematográfica deveria se limitar, no entanto, a mostrar os fatos como aconteceram, detalhando alguns momentos do drama.

Plausibilidade e verossimilhança eram os mais altos desejos dos consumidores de sensações. Porém, para vivenciá-los havia a necessidade de certas construções narrativas apropriadas que produzissem o efeito desejado. “A Quadrilha da morte” e “O crime da mala” exibiram essa condição, dada a quantidade de notícias na imprensa, fotografias dos acusados e vítimas, romances, peças e fitas – tratava-se de uma explosão de sensações. O auxílio da técnica cinematográfica criava outros meios de produção. Decerto, o fracasso de O crime da mala foi conseqüência de uma descrição com feições incipientes de um evento em que era esperado um enfoque em toda a sua “veracidade”.

Histórias que se remetiam à realidade já faziam parte de um processo de feitura de narrativas de crime que possuía raízes na década de 1870. As ficções de crime tinham uma história própria que podiam indicar uma dispersão, dada a sua variedade, mas que mostravam que muita coisa já havia sido feita até o ano de 1908. Mesmo que a exploração massiva de “Os estranguladores do Rio” e “O crime da mala” se mostrasse mais exagerada se comparada a outras narrativas anteriores, de alguma forma remetiam-se a essas mesmas narrativas, das quais eram uma conseqüência.

Em 1910 a Gazeta de Notícias publicava uma entrevista com Justino Carlo, mais conhecido como Carletto, que era reproduzida pelo jornal paulista O Estado de São Paulo. Ele era um dos principais bandidos da quadrilha e foi considerado culpado, assim como Eugênio Rocca, pelas mortes de Carluccio e Paulino. Apesar de ser reconhecido como um homem cruel, ele ficou famoso e se tornou célebre. A entrevista era acrescida de uma introdução que

relatava que ele nunca chegou a confessar os assassinatos, embora existissem “provas esmagadoras” que o acusavam. Além disso: “Nunca comprometeu os outros companheiros do crime. Julgado, negou, condenado, negou ainda. Apelado, continuou a negar.”490

De certa forma, uma qualidade do bandido era ressaltada, ou seja, ele tinha senso de justiça em relação aos companheiros, pois não os denunciava para se salvar da condenação e mostrava que não era covarde. Carletto era um homem que se tornara surpreendente. O título da notícia indica que ele iria confessar o crime, porém, as respostas eram em torno de mostrar a sua inocência e culpar Eugenio Rocca pelos assassinatos. Porém, o mais relevante da entrevista era a imagem que a notícia formava do perigoso criminoso. Ele era rodeado de certo enaltecimento.

Assim, em um primeiro momento, o repórter divulgava uma carta de Carletto que relatava que a existência de um suposto plano de fuga (que noticiavam alguns jornais)491 era absurda, dada as condições de segurança da Casa de Detenção. Se havia a intenção de criar uma aura de homem valente e poderoso, havia também um pano de fundo que valorizava a segurança das prisões brasileiras. Esse significado estava entremeado ao tom irônico da sua transmissão e ao fato de que o informante da “moderna segurança da Casa de Detenção” fosse Carletto:

“- Então o seu plano de fuga... - Uma fantasia a Nick-Carter. - Realizável, não?

- Fácil de escrever, mas sempre na realidade impraticável.

- Muito difícil; impossível, mas não para você, hábil, audaz e forte. - Não basta isso, não dou murros em ponta de faca.”492

O início da entrevista daria o tom que seguiria a “confissão” de Carletto. A “fera humana” (termo utilizado no romance sensacional de Abilio Soares Pinheiro) comentava com desenvoltura e certo descaso sobre os aparatos da justiça. A Casa de Detenção era descrita como um local totalmente seguro. O “relógio de registros” automatizava o trabalho dos guardas, que deveriam dar um sinal de 15 em 15 minutos formando, em 1 hora, a palavra “casa”. Além disso, segundo os comentários de Carletto, para a fuga deveria matar “uma

490 O Estado de São Paulo, 14.07.1910.

491 “Antes de tratarmos da confissão de Carletto, precisamos dar lugar a uma sua carta, relativa às notícias

publicadas por um jornal da manhã, sobre a sua pretendida tentativa de fuga”. O Estado de São Paulo, 14.07.1910.

porção de gente”. Depois de superada todas essas barreiras, conseguiria pular o muro e “sair pelos fundos” que seria, de acordo com o preso, “pior a emenda que o soneto”, já que cairia na Casa de Correção.

Além das qualidades que se relacionavam a Carletto no início da entrevista, mostrava- se que ele era dono de uma inteligência superior à de Eugenio Rocca. O próprio Carletto comparava-se ao companheiro e vangloriava-se de sua atitude. O repórter imprimia o mesmo sentido, ao relembrar o momento da prisão em 1906:

“Como se sabe, embora negando sempre, Carletto atribue a Rocca o insucesso da Quadrilha da Morte.

Notava-se certa disposição de Carletto contra Rocca, mas nunca se soube ao certo o que a motiva.

A vida do cárcere não foi para ele um motivo para uma reconciliação.

Carletto poderia ter respondido a Rocca, quando este confessava o crime, o que aconteceu logo que foi preso Rocca, acusando também este, como este o acusava. Mas Carletto pensava bem, não acusando ninguém, nem mesmo em represália, porque uma acusação a Rocca, Rocca confesso, seria uma confissão de sua parte.

E a confissão de Carletto era a confirmação da confissão de Rocca, como a confissão de Rocca seria então a confirmação da confissão de Carletto.”493

Relacionando a atuação de Carletto a um movimento estratégico de defesa, nota-se algo que é sugerido em outras narrativas de crime: a lealdade com os companheiros como uma tática de defesa e uma forma de acobertar a existência da quadrilha. Quando Pedro Espanhol foi preso pela primeira vez, o romance de José do Patrocínio mostra a preocupação da personagem quando o intendente falava o nome de José Algarve. Porém, Pedro dizia que não o conhecia e mesmo nunca ouvira falar sobre ele.

Rocca, segundo Carletto, fez o inverso. Confessou à polícia a sua participação no crime e a sua posição de mentor do plano. Ao longo da entrevista, portanto, constrói-se uma imagem negativa de Rocca enquanto Carletto se posiciona como o bandido inteligente e audaz e não a “fera humana”. Assim, segundo Carletto:

“- Não sou o idiota do Rocca, que foi o principal criminoso e o principal culpado do insucesso.

Principal, porque foi ele que matou só com as suas mãos os dois irmãos Fuocco. Eu, se me meti na história, foi por causa dele e por julgar que não era preciso matar ninguém.

- Realmente, sempre se disse que ele havia sido o organizador do plano, mas que você tinha sido o executor.

- Puro engano. Faço-lhe justiça. Dou-lhe as devidas honras. O Rocca foi também o executor.”494

A oposição entre Rocca e Carletto imposta ao longo da entrevista difere das imagens que cercaram a “Quadrilha da morte” no momento do crime. De fato, em 1906, Carletto já apresentava características que o relacionavam a um bandido célebre, mas a sua condição de criminoso cruel esteve sempre em paralelo a essa primeira relação. No romance, a fuga para Santos e depois São Paulo faz com que o bandido se depare com agentes que não conseguem prendê-lo. Na estação de trem, por exemplo, um agente tinha a sua foto na mão e não o reconhecia por causa de um truque ardiloso,495 que mostrava que ele era dono de calma e frieza inesperadas nos indivíduos regulares. Assim, chegava “quase a parecer uma fábula”. 496

Naquele ano de 1910, a imagem que permanecia era a do criminoso sagaz e inteligente em oposição à cruel “fera humana” de alguns anos antes. Essas duas posições não eram contraditórias. Como já vimos, era comum a imagem de um criminoso sanguinário e cruel relacionada à esperteza, inteligência e habilidade. Certa superioridade em relação aos “homens normais” fazia com que um perigoso criminoso mantivesse o seu posto de honra entre os especialistas em crânios e medidas corporais e também entre os ávidos leitores de narrativas de crime.

Os Estranguladores do Rio ou o crime da rua da Carioca é um romance sensacional um pouco diverso dos anteriores. A união exagerada de várias formas de produção marcou o efeito sensacional desse crime. A massiva exploração do crime em diversos meios de comunicação foi grande responsável por essa especificidade. Entretanto, ao contrário do “caso Pontes Visgueiro”, em que o sensacional era perceptível somente através de uma análise conjunta de diversas formas de publicação, nesse caso, apenas o romance mostra traços peculiares em relação às características sensacionais.

Abilio Soares Pinheiro em Os Estranguladores do Rio ou o crime da Rua da Carioca, “romance sensacional do Rio oculto”, anuncia as suas intenções no prefácio:

494

Idem, ibidem.

495 Ao notar que o agente tinha em suas mãos uma foto sua, aproxima-se e pergunta-lhe qual o destino do trem

que ali se encontrava. Decerto, essa não seria a atitude esperada de um homem fugitivo e o agente não percebe que o retrato era do suposto viajante. Abilio Soares Pinheiro. Os estranguladores do Rio ou o crime da rua da Carioca. Rio de Janeiro: Tipografia Luiz Miotto, 1906, pp.190-3

“Não é passado um mês que o feroz assassinato de dois mocinhos, conceituados no nosso meio, seguido do saque de uma casa de jóias, comoveu profundamente a sociedade fluminense excitando sobremaneira o espírito público com a empolgante comoção de um drama tenebroso.

As circunstâncias que acompanham o crime que passou a história com a qualificação de Crime da rua da Carioca, a ferocidade fria e calculada com que

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