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4.3 ÂMBITO DE APLICAÇÃO

4.3.1 Domínio de aplicação no espaço

O artigo 1º, acima mencionado, impõe uma dupla condição de internacionalidade do contrato. Uma que dispõe que o vendedor e o comprador devem ter estabelecimentos em Estados diferentes e a segunda disposição de que ambas as partes pertençam a Estados que sejam partes da Convenção

Assim, o critério eleito pela CISG para determinar a internacionalidade reside no estabelecimento em Estados diferentes, de modo que é possível o reconhecimento de um contrato internacional, por exemplo, ainda que ele seja executado no mesmo país do vendedor. Tanto é assim que há expressa menção no parágrafo 3º, do artigo 1º, de que para fins de aplicação da CISG não se considerará nem a nacionalidade das partes, nem o caráter civil ou comercial das partes ou do contrato, ratificando que apenas se levará em conta a dualidade de estabelecimentos em Estados distintos.

O estabelecimento ainda possui outros desdobramentos, tais como a possibilidade de as partes possuírem mais de um estabelecimento, hipótese que foi tratada no artigo 10, letra a, da Convenção, segundo a qual se a parte possuir mais de um estabelecimento será considerado aquele que apresentar vinculação mais estreita com o contrato e sua respectiva execução, tendo em vista tanto as circunstâncias conhecidas pelas partes ou por elas consideradas quando do momento que antecede a conclusão do contrato, ou mesmo no momento em que se dá a conclusão. Nessa toada, ressalte-se que:

Esta tese, concorre na atualidade com outra que foi desenvolvida para determinar a internacionalidade dos contratos, denominada "tese de efeito internacional", segundo a qual o contrato é internacional sempre que afeta os interesses do comércio internacional17. Esta é a concepção ampla que pode ser acomodada em alguns instrumentos constitutivos do direito comercial internacional, como os Princípios UNIDROIT para Contratos Comerciais Internacionais, e que foram seguidos por alguns tribunais internacionais, como no caso "Bottling Companies v. Pepsi Cola Panamericana S.A. ", regido pelo Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, onde, seguindo os Princípios de UNIDROIT, considerou-se que o conceito de contrato internacional deveria ser interpretado o mais amplamente possível, excluindo apenas as situações que não possuíam elemento internacional.149

149 ALBÁN, Jorge Olviedo. Aplicación directa de la convención de naciones unidas sobre los contratos de compraventa internacional de mercaderías. Revista Javeriana – International law. v. 2 n.4, p. 73-94, 2004. p. 79

Tradução livre do original: “ Esta tesis, concurre en la actualidad con otra que se ha venido desarrollando para determinar la internacionalidad de los contratos, que es denominada “tesis del efecto internacional”, según la cual el contrato es internacional cuando quiera que afecte los intereses del comercio internacional17. Esta es la concepción amplia que puede tener cabida en algunos instrumentos constitutivos del derecho comercial internacional, como son los Principios de UNIDROIT para los contratos comerciales

Dessa maneira, não há que se falar em sede da empresa como o estabelecimento para toda e qualquer situação, pois é preciso avaliar caso a caso se o estabelecimento invocado é o que apresenta relação mais próxima com o contrato.

Sob outro viés, o artigo 10, letra b, traz questão diversa, qual seja: a hipótese na qual um dos contratantes não possui nenhum estabelecimento. Nessa situação, deve-se tomar por base a residência habitual com vistas a estabelecer se é caso de contrato internacional, isto é, se há no caso em análise elemento de extraneidade a ensejar o caráter internacional.

O dispositivo em questão estende a possibilidade de que não só pessoas jurídicas, mas também pessoas físicas possam ser sujeitos de uma relação sob a égide do direito uniforme contido na CISG. Todavia, na hipótese de uma das partes ser pessoa física, a relação ali estabelecida não pode ser relação consumerista, porquanto matéria de direito do consumidor está expressamente excluído do âmbito de aplicação da Convenção – artigo 2, letra a.

Os tipos de contratos que são excluídos do âmbito de incidência da Convenção estão dispostos nos artigos 2, 3.1, 4.a e b, bem como o artigo 5 da CISG. Especificamente, o artigo 2 dispõe sobre as hipóteses de não-incidência da Convenção de Viena, quais sejam, os contratos de consumo e vendas em hasta pública, em execução judicial, de valores mobiliários, títulos de crédito e moeda, de navios, barcos, hovercrafts e aeronaves e de eletricidade.

Além disso, a Convenção não regula a validade do contrato ou de qualquer das suas cláusulas, bem como a validade dos usos e os efeitos que o contrato pode ter sobre a propriedade das mercadorias vendidas, matéria disposta no artigo 4, nem a responsabilidade do vendedor pela morte ou lesões corporais causadas pelas mercadorias a quem quer que seja, constante do artigo 5.

A maioria dessas exclusões tem por justificativa a dificuldade em se estabelecer um consenso entre os países devido à grande diversidade regulatória dos ordenamentos jurídicos nacionais, a questão da diversidade legislativa. Todas essas matérias, por conseguinte, encontram-se fora do âmbito de aplicação da Convenção de Viena e

internacionales, y que ha sido seguida por algunos tribunales internacionales, como en el caso “Bottling

Companies v. Pepsi Cola Panamericana S.A.”, fallado por la Corte Suprema de Justicia de Venezuela18, donde siguiendo los Principios de UNIDROIT se consideró que el concepto de contrato internacional debe ser interpretado de la manera más amplia posible, excluyendo sólo aquellas situaciones que no tuvieren ningún elemento internacional”

deverão ser regidas pelo Direito interno do país cuja lei for aplicável, aplicando-se as regras de Direito Internacional Privado150.

Outra hipótese de aplicabilidade da Convenção está consubstanciada no artigo 1, parágrafo 1º, b, que dispõe que também se aplica a CISG “quando as regras de direito internacional privado conduzam à aplicação da lei de um Estado contratante”. Nesse caso, a aplicação se dá por meio das regras tradicionais do Direito Internacional Privado relativa a conflitos de leis.