• Nenhum resultado encontrado

Nascido no dia 17 de maio de 1755, na cidade de Braga, Diogo de Souza era o segundo dos sete filhos do casamento de dom João de Souza com dona Ana Joaquina Leite de Medeiros Cerveira Pestana.121 Seu pai fora um fidalgo português de renomada família que tinha tradição militar no reino e fora dele, tendo em vista que era neto de Francisco de Sousa, primeiro marquês das Minas e sétimo governador do Brasil. O tio de Diogo de Souza era também destacado militar, sendo governador do Pará no final do século XVIII e vedor da Casa Real, herdou além do nome do avô o título de marquês.122 Além disso, Mário Meireles ressalta que o sobrenome advinha, dentre outros destacados governadores e militares que transitaram pela tessitura administrativa do Império português, do primeiro Capitão-mor do Brasil, Martim Afonso de Sousa.123

Como atesta o próprio Riograndino da Costa e Silva124, no livro geral de mercês do reinado de dona Maria I encontra-se o registro do título de moço-fidalgo de dom Diogo, antes mesmo de ter completado onze anos de idade, em 25 de abril de 1766. Anotado ao lado esquerdo do mesmo alvará está que: “fez a R.ª D.ª M.ª 1ª N. S.ra

m.ce de acressentar do foro de moço Fidalgo ao de Fidalgo Escudr.º com 1$666 e quatro ceiteis de moradia por mez”.125

Mais de treze anos depois, em 15 de agosto de 1779, é interessante que se registrou um novo título a ser somado ao já existente, mas que nada mais era que aquele já anotado ao lado da página, passando dom Diogo a ser fidalgo-escudeiro. O que de fato alterava-se eram os seus vencimentos, que passavam a ser de 2$666 e um alqueire e meio de cevada por dia.126 Nesse

121 Conforme MEIRELES, 1979, p. 31; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/RJ: Editorial Enciclopédia, 1945. Verbete RIO PARDO (conde de). p. 751. Vol. XXV; COSTA E SILVA, Riograndino da. “Dom Diogo de Souza e o Exército Pacificador” in: FERREIRA FILHO; CAMPOS; TABORDA [et. al.], 1979, p. 37. TABORDA, 1966, p. 9. De acordo com os apontamentos do desembargador Inácio José Peixoto, que escreveu algumas memórias particulares sobre a cidade de Braga desde 1740 até 1808, o nome da mãe de dom Diogo de Souza era Anna Pinheiro Leite Villaça, filha de José Antonio Leite Villaça “um dos mais finos da cidade e também muito celebre.” PEIXOTO, José Inácio. Memórias particulares de José Inácio Peixoto: Braga e Portugal na Europa do século XVIII. Braga: Arquivo Distrital de Braga; Universidade do Minho, 1992. Disponível em: <http://www2.adb.uminho.pt/NOVOInacio/>. Acessado em: 20 abr. 2009.

122 MEIRELES, op. cit., p. 31. No oficio no qual está registrado o pedido de revisão das comendas de São Miguel de Vila Franca e São Miguel de Nogueira da Ordem de Cristo, feitos por dom Diogo de Souza, que as havia recebido do Príncipe Regente, consta a atuação e o nome completo de seu tio. ANTT. RGM/F/168757. D. João VI, Livro 13, Fol. 380.

123 MEIRELES, op. cit., p. 32-33.

124 RIOGRANDINO in: FERREIRA FILHO; CAMPOS; TABORDA [et. al.], op. cit., p. 37. 125 ANTT. PT-TT-RGM/93656. D. MARIA I, Livro 7, Fol. 355.

caso em particular, assim como em tantos outros, cada vez mais corriqueiros para a época, pode-se identificar as relações clientelares127 mantidas entre a Coroa e seus súditos.

Como bem destacam Malerba, Schultz, Monteiro e Hespanha, dentre outros autores, as distinções hierárquicas – nisso incluíam-se benefícios de diversas ordens, especialmente econômicos e foros privilegiados de justiça – das quais dispunha a monarquia portuguesa formavam o principal capital simbólico que auxiliava a garantir a estabilidade social do Império, pois ao mesmo tempo em que aquela concedia títulos a funcionários, nobres e comerciantes, exigia em troca obediência e, principalmente nos períodos críticos para a economia, a participação dos “nobres bolsinhos” para a sua manutenção. Consequentemente, dessa maneira, garantia-se a própria ordem da sociedade hierarquizada, regida por interações sociais verticais.128

A distribuição de tais prebendas era, em suma, parte de um emaranhado de redes clientelares e jurisdições nas quais, em última instância, o patrono era o próprio rei. Com isso, a liberalidade com que agia, doando benefícios, gerava, como aponta Edval de Souza Barros, “um campo indefinido de possibilidades de retribuição”129, o que, por outra via, mantinha a

vantagem do poder do monarca sobre os beneficiados. Dessa maneira, o pagamento dessas atribuições deixava à disponibilidade da Coroa a natureza, a forma e o prazo nos quais os serviços seriam cobrados.

Nesse sentido, Nuno Gonçalo Monteiro, analisando as alterações ocorridas nesse processo de controle por parte da monarquia ao acesso a títulos e prebendas reais, assim como dos senhorios e direitos forais privilegiados, aponta que:

127 De forma bastante abrangente, as redes clientelares podem ser consideradas como instrumentos pelos quais pessoas de diversas posições sociais utilizam-se para obterem algum grau de segurança ou satisfação de seus interesses frente a um contexto de instabilidade. Além disso, para o caso de Portugal do Antigo Regime, como registra Edval de Souza Barros, analisando-as sob o foco da micro-história no bojo das alterações ocorridas no decorrer dos séculos XVI e XVIII, as redes clientelares teriam surgido do processo de diferenciação social, que supunha relações desiguais de acesso a algum tipo de bem, e que acabavam por institucionalizar essa mesma desigualdade. BARROS, Edval de Souza. “Redes de clientela, funcionários régios e apropriação de renda no Império português (séculos XVI-XVIII)” in: Revista de sociologia e política, Curitiba, n.17, nov. 2001. pp. 127- 146.

128 MALERBA, Jurandir. A corte no exílio. Civilização e poder no Brasil às vésperas da independência (1808- 1821). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 212-224. Ou ainda MALERBA, Jurandir (org.). A independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 165-170. SCHULTZ, Kirsten. Versalhes Tropical: Império, monarquia e a corte real portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 239-241. MONTEIRO, Nuno Gonçalo. “O „Ethos‟ nobiliárquico no final do Antigo Regime: poder simbólico, império e imaginário social” in: Almanack Braziliense, São Paulo, n.2, nov. 2005. pp. 4-20.

Uma das expressões mais taxativas do primado da coroa na definição dos estatutos sociais vamos encontrá-la na legislação pombalina contra a chamada "seita dos puritanos", núcleo de famílias da alta nobreza acusadas de excluírem quase todas as outras das suas alianças matrimoniais, por as considerarem infectadas com sangue infecto. O alvará de D. José I de, [...], 1768, [...], obriga os respectivos herdeiros a casarem-se fora das casas "puritanas".130

Como demonstrado – e isso seria referendado a cada nova concessão de título ou mercê – dom Diogo fazia parte de uma nobre e reconhecida família do reino, que há gerações vinha prestando diversos serviços à monarquia. Isso, sem dúvida, lhe outorgava um caminho mais fácil e rápido a ser trilhado em prol dos serviços reais. Todavia, diferentemente de seus antepassados (e mesmo de seus progenitores), dom Diogo de Souza não só frequentaria a Universidade de Coimbra, mas se matricularia no curso de Matemática dessa Instituição. Tal curso, implantado com a reforma da Universidade ocorrida em 1772 sob a direção de Pombal, visava introduzir os conhecimentos que:

iluminam superiormente os entendimentos no estudo de quaisquer outras disciplinas: mostrando-lhe praticado o exemplo mais perfeito de tratar uma matéria com ordem, precisão, solidez, e encadeamento fechado, e unido de umas verdades com outras: inspirando-lhes o gosto e discernimento necessário para distinguir o sólido, do frívolo; o real, do aparente; a demonstração, do paralogismo: e participando-lhe uma exactidão conforme ao Espirito Geométrico; qualidade rara, e precisa, sem a qual não podem conservar-se nem fazer progresso algum os conhecimentos naturais do Homem em qualquer objecto que seja.131

Talvez, nesse sentido, a tradição teria ficado de lado, já que a formação em uma área recém introduzida nos estudos do reino sofreria relativo estranhamento. Entretanto, essa foi mais uma das inovações trazidas pelo reformismo ilustrado e, como ressaltou Guilhermino César, dom Diogo então se formaria nos moldes que o contexto em voga exigia, e justamente em um curso que possuía um rigoroso currículo de disciplinas e atividades, como demonstram mesmo os programas e conteúdos que constam em seus estatutos. Assim, em 9 de julho de 1789, foi-lhe concedido o diploma de Bacharel em Matemática.132

Todavia, o tempo mostraria que não bastava apenas o estatuto de nobreza, os bons contatos que possuía na Corte, a origem nobre ou o destaque de determinada casa no serviço

130

MONTEIRO, Nuno Gonçalo. "Poder senhorial, estatuto nobiliárquico e aristocracia" in: HESPANHA, António Manuel (coord.). História de Portugal. vol. 4 . Lisboa: Círculo de Leitores, 1993. p. 338.

131 Estatutos da Universidade de Coimbra, 1772. [Parte referente à Faculdade de Matemática]. Vol. III, Segunda Parte, p. 141-142. (Versão digitalizada por Fernando Figueiredo). Disponível em: <http://scientia.artenumerica.org/estatutos_1772.html>. Acessado em 30 de mar. 2009. Para se verificar uma rápida análise sobre a mesma base ver: FIGUEIREDO, Fernando José Bandeira de. “Os Estatutos da Faculdade de Matemática, a quando da sua criação pela Reforma Pombalina da Universidade de Coimbra em 1772”. Disponível em: <http://www.ipv.pt/millenium/Millenium25/25_29.htm>. Acessado em 31 de mar. 2009.

132 CÉSAR, Guilhermino. “Um iluminista no governo da Capitania” in: FERREIRA FILHO; CAMPOS; TABORDA [et. al.], 1979, p. 23-28.

prestado à Coroa. Os conhecimentos desenvolvidos no projeto educacional implantado por meio das reformas formariam o conjunto de saberes necessários ao bom governo e, principalmente, à boa administração dos domínios do monarca.

Pouco tempo depois, por Carta Patente datada de 21 de julho, mas registrada em 27 de agosto de 1792, passada pelo Príncipe “com guarda”, tendo em vista a saúde mental da rainha133, dom Diogo de Souza foi nomeado para, talvez, a primeira grande tarefa que desempenharia das muitas contidas em uma longa folha de serviços prestados à Coroa de Portugal: ser governador-general da capitania de “Moçambique, Rios de Senna e Soffala”, na costa oriental da África. Com isso, seu governo duraria três anos, nos quais gozaria de todas as honras, poderes, mandos e jurisdições que seus antecessores já possuíam, além de um soldo anual de 8$000 cruzados.134

Logo abaixo do registro do cargo supracitado, vale ressaltar, o Príncipe decidia na mesma data que: “Hey por bem fazer-lhe m.ce do título do meu Conselho, e quero q. com elle

goze de todas as honras privilégios liberdades Izençoens e Perrogativas q. pello dito Titulo lhe competem e jurará na Chancellaria dos Santos Evangelhos q. me dará Conselho Fieletal como deve quando Eu mandar.”135

Tendo já passado por várias provações na costa africana, como registram Adelto Gonçalves136 e Wilson Afonso137, o governador voltaria ao reino e seria localizado novamente

133 Talvez o que tenha contribuído para o acesso de loucura que a rainha teve ao sair do teatro de Salvaterra dos Magos, em 1º de fevereiro de 1792, fora uma sucessão de fatos ocorridos em curto espaço de tempo, dos quais destacam-se: em 24 de fevereiro de 1777, faleceu seu pai, rei de Portugal, dom José I. Em 1781, foi a vez de sua mãe, a rainha dona Marianna Vitória. Em 1786, sobreveio a morte de seu tio e marido dom Pedro. Dos seis filhos que tiveram entre 1763 e 1788, quatro faleceram, inclusive seu primogênito, que seria herdeiro do trono português, dom José, em 1788. No ano seguinte, a Revolução Francesa marcaria uma nova etapa na Europa e, consequentemente, abalaria profundamente o sono das cabeças reinantes. Seu terceiro filho, dom João, foi o único que sobreviveu e veio a substituí-la no trono português a partir de 1792, sendo efetivamente Príncipe Regente a partir de 1799. Para ver mais sobre a vida da rainha dona Maria I, consultar: Portugal. Dicionário Histórico. Verbete: Maria I. A Piedosa. Disponível em: <http://www.arqnet.pt/dicionario/maria1.html>. Acessado em 15 de maio 2009.

134 ANTT. PT-TT-RGM/E-93725. D. Maria I, Livro 10, Fol. 138. 135 ANTT. PT-TT-RGM/E-93725. D. Maria I, Livro 10, Fol. 138.

136 Adelto Gonçalves ressalta, em nota sobre o livro de Robert Darnton, Os dentes falsos de George Washington, além de comentar sobre o tema também em sua tese de doutorado, que dom Diogo de Souza, assim como muitas pessoas ao final do século XVIII, sofrera profundamente com os problemas acarretados pela falta de condições salubres. Nesse caso, apontava para as inúmeras correspondências do então governador de Moçambique, nas quais pedia para retornar ao reino em razão de uma “infecção escorbútica” que lhe fizera cair os dentes e lhe causava constante inchaço e sangramento da gengiva. Entretanto, não teve resposta favorável e permaneceria ali até 1797. Disponível em: <http://www.triplov.com/letras/adelto_goncalves/sofrer_dos_dentes.htm>. Acessado em 20 de dez. 2008. Ver ainda: GONÇALVES, Adelto. Gonzaga, um poeta do iluminismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

em sua casa, em Braga, em 1797, conforme anotações de José Inácio Peixoto.138 Logo em seguida, porém, seria nomeado para nova tarefa a ser cumprida em nome da Coroa: ser governador-general da capitania do Maranhão e Piauí.

Investido desse cargo em 1798, dom Diogo ali ficaria até 1804. Desse governo talvez se tenha as mais abundantes fontes, visto que no Arquivo Ultramarino podem-se encontrar inúmeras correspondências, ofícios e pedidos de um e outro lado. Além disso, no arquivo da Universidade São Paulo há notações específicas de correspondências trocadas entre aquele e o governador da capitania de São Paulo.139 Na historiografia, pode-se ressaltar a obra de Mário Meireles, D. Diogo de Souza, governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí

(1798/1804), na qual são analisadas as ações do mesmo frente àquele governo.140 Nessa

capitania, anexada ao Estado do Brasil pela administração de Pombal, por Carta Régia de 22 de agosto de 1772, vale ressaltar o trabalho que o governador teria para repelir os assédios dos franceses – como das ações na África – , já senhores das Guianas, recebendo constantemente orientações do reino português para garantir a segurança das possessões luso-brasileiras do norte.141

Após esse período o governador retornaria ao reino e lá acompanharia de perto as agruras pelas quais passaria Portugal para defender-se em duas frentes: a primeira e mais imediata seria a pressão exercida por Napoleão juntamente com os espanhóis; a segunda, em assegurar que as relações comerciais e diplomáticas com a Inglaterra permanecessem inalteradas, garantindo a própria soberania do reino diante das ameaças.

137 Segundo este autor, que também teria como pano de fundo de seu texto a relação do governador português com o poeta e jurista português Tomás Antonio Gonzaga, autor de vários poemas dentre os quais se destaca Marília de Dirceu, dom Diogo de Souza teve de lutar contra a morte da esposa, dona Ana Cândida de Sá Brandão, apenas sete meses após ter chegado à África e também contra os franceses, que há muito tempo assediavam aquelas costas atrás, especialmente, de ouro, culminando com o ataque ao forte de Lourenço Marques, em 1796. SANTOS in: FERREIRA FILHO; CAMPOS; TABORDA [et. al.], 1979, p. 57-71.

138 No informativo: Noticia das familias de [ilegível] no anno de 1797 que tinhão nobreza conhecida e das que principiavão a gosar de estado de nobreza, seguindo a situação das suas cazas. Mas não entrão nesta os que cazualmente morão nella, sem caza permanentemente, nem os do termo da cidade e suburbios, nem os eclesiasticos e filhos das cazas que não forem cazados ou tiverem officio publico, Peixoto registrava que Diogo de Souza, fidalgo ilustríssimo por linhagem de seu pai, viúvo e sem filhos, estava vivendo no Campo de Santa Anna, naquela cidade. In: PEIXOTO, 1992.

139 Agradeço a Bruno Aidar, nesse sentido, pelas notações da documentação existente no fundo IEB-USP, Coleção Alberto Lamego-Manuscritos, no qual figuram mais de 300 correspondências emitidas e recebidas, “de” e “para” dom Diogo de Souza enquanto governador e capitão-general da província do Maranhão e Piauí.

140 MEIRELES, 1979.

141 MEIRELES, 1979, p. 25-27. Em 25 de outubro de 1798, por exemplo, o governador informava ao então secretário de Estado da Marinha e Ultramar, dom Rodrigo de Souza Coutinho que o navio no qual se encontrava havia sido atacado por franceses. AHU-ACL-N-Maranhão. Doc. 13103. Disponível em: <http://www.resgate.unb.br>. Acessado em 17 de maio 2009.

Ao que tudo indica, entre 1805 e a fuga da família real de Portugal, acredita-se que tenha vindo dom Diogo, que serviu como conselheiro de capa e espada no Conselho Ultramarino.142 Este órgão, criado por decreto de 14 de julho de 1642, por dom João IV (1640-1656), seria responsável pelas mais diversas matérias concernentes à administração das colônias. Assim, tanto recebia consultas quanto as emitia ao rei, a fim de julgar melhor os casos que envolvessem os domínios de ultramar.143

Com os sucessos ocorridos na Europa, como já fora comentado, e a importância da região do Continente do Rio Grande de São Pedro para a manutenção do acesso à colônia luso-brasileiro pelo sul, ao novo estatuto dado em 25 de fevereiro de 1807, já estava escolhido dom Diogo de Souza para comandá-la. Ao longo deste ano, pelos ofícios e consultas do Conselho Ultramarino ao príncipe regente, vários detalhes concernentes a essa investidura foram sendo decididos: o valor do soldo a ser pago144, os novos funcionários que foram sendo nomeados para a nova capitania-geral, uma sesmaria onde o governador e capitão-general pudesse se estabelecer, etc.

Conforme a Carta Régia na qual fora nomeado, em 19 de setembro de 1807145, dom Diogo deveria tomar posse o quanto antes à frente do governo da Capitania. Mas os sobressaltos na Europa talvez tenham sido o principal motivo para que sua investidura no cargo fosse realizada mais de dois anos depois. Contudo, no ano de 1808, enquanto a família real e os mais de 10.000 séquitos que a seguiram até sua nova morada se estabeleciam no Rio de Janeiro, o governador era agraciado com mais um cargo, o de conselheiro de capa e espada

142 Um ofício de dom Diogo de Souza, como conselheiro do Conselho Ultramarino, de 26 de março de 1806, endereçado ao secretário de Estado da Marinha e Ultramar, visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo Souto Maior, aconselhando-o sobre o estabelecimento de um colégio na cidade de São Luís do Maranhão e indicando o padre Manuel Inácio de Carvalho para dirigi-lo, indica tal assertiva. AHU-CL-N-Maranhão, Doc. 15486. Disponível em: <http://www.resgate.unb.br>. Acessado em 17 de maio 2009.

143 Conforme SALGADO, Graça (coord.). Fiscais e Meirinhos: a administração no Brasil colonial. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 42-43.

144 Neste documento estão contidas as consultas feitas pelo Visconde de Anadia ao Conselho Ultramarino, na qual reclama de não ter chegado a um consenso sobre o soldo que o novo governador-general deveria ter, pois os valores pagos aos que possuíam os mesmos cargos no Brasil eram variados. No dia 29 de abril de 1807, por votação dos conselheiros, motivados pela “similitude” da condição de serem extremos do território, que dom Diogo deveria ter o mesmo soldo do governador-geral do Pará, ou seja, 15$000 cruzeiros. Projeto Resgate... AHU_ACL_CU_019, Cx. 12, D. 706. Todavia, essa decisão parece não ter sido alterada em 6 de maio do mesmo ano, já que em um requerimento do governador, datado de 3 de agosto, no qual pedia para receber o soldo a partir de seu embarque, o valor registrado era menos da metade daquele estipulado em abril, ou seja, 6$000. Idem.

do Conselho da Fazenda, com ordenado (não estipulado no ofício), a vencer desde 29 de junho daquele ano até a sua partida para o Rio Grande.146

Um fato interessante que ocorreria no início do ano seguinte, 1809, é o registro de uma visita que dom Diogo faria a José Presas, então secretário particular da princesa Carlota Joaquina147. Nesse encontro, do qual se pode ter conhecimento por meio do livro em que o dito secretário, apesar de inúmeros elogios, tentaria extorquir a princesa, não se tem maiores detalhes sobre o que pode ter sido conversado (e que seria interessante saber, especialmente em razão do posto que o então conselheiro assumiria alguns meses depois no extremo sul), mas ficava registrado que fora dom Diogo quem havia lhe comentado sobre uma espada que