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Dom Viçoso e os ideais do Ultramontanismo

No documento tatianacostacoelho (páginas 42-45)

Capítulo I Dom Viçoso no contexto da Reforma

1.4 Dom Viçoso e os ideais do Ultramontanismo

De acordo com José Geraldo Vidigal121, a evangelização ministrada por Dom

Viçoso em Minas seria taxada por seus críticos de tridentina e ultramontana dando assim, uma visão pejorativa da ação desse bispo. Esse autor nos mostra que se deve aprofundar nesse termo e historicizá-lo a fim de entender o pensamento romanizador de Dom Viçoso. De acordo com Ivan Aparecido o ultramontanismo ou romanização fora

119 AZEVEDO, Thales. Igreja e Estado em tensão e Crise: a conquista espiritual e o padroado na Bahia.

São Paulo: Ática, 1978. p. 14

120 WERNET, Augustin. A Igreja Paulista no século XIX: A Reforma de D. Joaquim de Melo (1851-

1861). São Paulo: Ática, 1987 p. 18.

uma rejeição “à modernidade e que se tornou mais presente nos escritos dos papas Gregório XVI, Pio IX, Leão XII, Pio X, Pio XI e se realizou através de uma política em âmbito mundial.”122

O termo Ultramontano surgiu na França para caracterizar pensamentos cuja tendência era defender a centralização do poder papal e sua infalibilidade. Os grupos difusores das idéias ultramontanas eram tributários dos jesuítas europeus que acreditavam no poder absoluto do Sumo Pontífice e na autoridade da Igreja perante os governos, preceitos esses afirmados pelo Concílio de Trento no século XVI123. A partir

do século XIX, esse termo passa a significar os religiosos que compartilharam o pensamento do Papa Pio IX e fez essa designação assumir um caráter pejorativo124.

A corrente de idéias representantes do pensamento ultramontano avolumou-se e desenvolveu-se durante o percorrer das décadas da primeira metade do século XIX, alcançando maior influência sob Pio IX125. Durante esses anos, a influência do

ultramontanismo encontrava-se disperso, exclusivamente em alguns locais da França e Alemanha. A Santa Sé acompanhou com atenção o progresso destas idéias, entretanto sem tomar nenhuma atitude de apoio ou condenação do movimento.

Augustin Wernet defende que a divisão do período denominado catolicismo ultramontano em três momentos distintos: o primeiro, do pontificado de Pio VII a Pio IX, onde a estratégia da Igreja estava mais centrada no discurso do que na prática efetiva; o segundo, o do pontificado de Leão XIII, período em que, mesmo mantendo a doutrinação contra o mundo moderno, já se vislumbrava uma reaproximação da Igreja com o Estado; o terceiro período, que se inicia com Pio X e segue até Pio XII, caracterizou-se pela efetivação, através de programas de ação católica, da doutrinação/discurso em uma prática concreta126.

Na definição de Augustin Wernet ultramontanismo seria uma expressão:

122MANOEL, Ivan Aparecido. O pêndulo da História, p. 45 123AZEVEDO, Op. Cit. pp. 15-18

124Ivan Aparecido nos mostra em seus estudos que esse catolicismo denominado romanizador ou

ultramontano seria do período de 1800-1960 nos pontificados de Pio VII a Pio XII, e se norteava por um conjunto de atitudes que reforçavam o tradicionalismo, retornando ao tomismo e condenava bruscamente a modernidade em todo o seu aspecto político, social, econômico e cultural. In: MANOEL, Ivan Aparecido. O pêndulo da história... p. 45

125 WERNET, Augustin. A Igreja paulista no século XIX. Op cit. p. 175 126 WERNET, Augustin. A Igreja paulista no século XIX. Op. cit. p. 170

“usada no início do século XIX na França e na Alemanha, para indicar, na rosa-dos-ventos o ponto escolhido de referência e fidelidade: ele está para lá das montanhas, para além dos Alpes. Seu nome é Roma, é Pedro, o papa. A reação ultramontana se desenvolveu sobre um plano duplo: tendência a reconhecer no Papa da Igreja, uma autoridade espiritual total, e a reinvindicação para a Igreja da independência a respeito do poder civil, e mesmo de um certo poder ao menos indireto sobre o Estado.”127

Pensando por esse eixo, o ultramontanismo foi uma orientação política desenvolvida pela Igreja pós revolução francesa, marcada primordialmente pelo centralismo a Roma e uma recusa de contato ao chamado mundo moderno, isto é ao conjunto de novas relações sociais de produção capitalista128. De acordo com o

pensamento ultramontano, a salvação da sociedade só se daria pela recristianização do mundo. Para isso, seria necessário combater o pensamento moderno, devolvendo à Igreja o monopólio da produção do saber, impondo a concentração do poder institucional nas mãos do papa e da Cúria Romana. Através dos documentos religiosos oficiais como bulas encíclicas e breves divulgados ao longo dos séculos XIX, podemos concluir que a Igreja Católica almejava voltar a ser soberana

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A Encíclica Mirai-vos, escrita por Gregório XVI (1831-1846), árduo inimigo das idéias modernas, reafirmava a doutrina Católica nas relações entre Igreja e Estado chamando os príncipes, ao que ele considera como primordial, que seria defender a religião romana. Essa idéia serviu como potencializadoras de Pio IX (1846-1878), que tomou ares de direção tradicionalista em seu papado, ao condenar a idéia de Igreja Livre no Estado Livre129.

Segundo Pio IX, o liberalismo, progresso e civilização seriam incompatíveis com a Igreja. Em sua encíclica Qui Pluribus, o papa declarava que conferir à razão uma supremacia em relação à fé seria ir contra o sagrado; colocava assim a primazia da fé em relação à razão130. Devemos segundo Pio IX, descobrir a fé revelada por Deus e só

através dos mediadores autorizados que interpretamos essa voz divina, ou seja, somente

127 WERNET, Augustin . Op Cit. p. 178.

128 GAETA, Maria Ap. Junqueira Veiga. Os percursos do Ultramontanismo em São Paulo no

Episcopado de D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho (1873-1894). Tese de doutorado; São Paulo;

USP, 1991.

129 Op. cit. p. 33 130 Op. cit pp. 33-35

o clero tem o poder mediador entre o verbo divino e os fiéis. Essa encíclica propiciouo surgimento de outros escritos (Quanta Cura, Syllabus Errorum) que listavam as proposições inaceitáveis pela Igreja, sendo algumas ações consideradas heréticas131.

Dessa forma, o ultramontanismo ancorado pelos documentos oficiais da Igreja foi se fazendo presente nos principais centros religiosos da Europa. Mais tarde, através de religiosos provindos do continente Europeu, se instalou no Brasil, destacando Dom Viçoso como um dos ícones desse pensamento ultramontano. Dom Viçoso, levou à frente esse pensamento ultramontano e reformulou o clero , ponto principal do pensamento reformador. Várias cartas pastorais, escritas por esse bispo demonstram sua grande preocupação com o clero bem como a sua formação.

No documento tatianacostacoelho (páginas 42-45)