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Dona Benedita Rosendo, mostrando vestimenta da irmandade da

4.2.2 As Escavações do Carmo

Em meio à demanda da descoberta dos caminhos religiosos do Carmo, precisávamos realizar uma escavação que desse cobertura a todo o perímetro que iria ser diretamente afetado pela obra. Desta maneira, poderíamos trabalhar, além do contexto colonial, outras ocupações da região que por ventura pudessem aparecer, Pois a área que compreende o Carmo, não possui documentação histórica suficiente.

A proposta inicial era a cobertura do máximo possível de áreas que abrangiam um total de aproximadamente 7.809m2. As alternativas que tínhamos era abrir poços-testes com cavadores para determinar os melhores trechos, ou abrir unidades ao longo do Largo, para verificarmos as áreas positivas. Fizemos alguns poços-testes, mas os resultados não eram satisfatórios, apenas conseguimos verificar através deles as camadas de aterro.

Decidimos, então, que escavaríamos unidades nas duas laterais do Largo, de 1m por 1m. Essa proposta, além de não criar desconforto na retirada do calçamento para a população, teria uma melhor visualização de áreas positivas e do perfil estratigráfico. Para denominação, colocávamos área I, e se fosse positiva, ampliávamos para unidades subsequentes, nas quais denominávamos Conjunto I, com unidades chamadas I, Ia, e assim por diante. Abrimos a primeira área a 30m contados a partir da parede frontal da Igreja da Primeira Ordem, próximo à antiga pilha de lixo local. Depois de 30m, abrimos a segunda área, denominada área II, e assim fomos, até a área XII.

Em alguns trechos, como, por exemplo, entre as áreas II e III, ampliamos a margem de 30m para 50m, pois os 30m pousou em frente ao campo de futebol improvisado pelas crianças do Largo. Durante as conversas com a comunidade, descobrimos que antes do calçamento o campinho ficava em frente às igrejas, e que ali crianças e adultos jogavam bola em seus momentos de folga. Na maioria dos relatos sobre como era o passado do largo, a primeira coisa que vinha à lembrança era o campo de futebol. Diziam :"Na entrada tinha um muro, com um grande portão, algumas dessas casas, e aqui (em frente às igrejas) era um descampado, um campinho de futebol".

Apesar das mudanças ao longo do tempo, o campinho permaneceu, só que na lateral. Então, decidimos que seria melhor preservar a área, mesmo que temporariamente, pois a obra previa a implantação de um parque infantil e uma academia para pessoas da terceira idade.

Foto 18: Largo da Matriz e área do campinho de futebol, no período de escavações (indicado com seta).

Foto 19: Largo da Matriz, em 1969. Área em frente as igrejas que, segundo relatos pessoas da cidade jogavam futebol. (Fonte: IPHAN/AL).

No total foram, escavadas 43 unidades ao longo do Largo do Carmo. As áreas que tiveram mais incidência de material foram as áreas II, V e VI e VII. Então foram ampliadas para entendimento geral do sítio. Na frente da Igreja foi aberto um plano cartesiano de 10m por 10m, e foram escavadas áreas aleatoriamente, de acordo com a demanda que encontrávamos durante a escavação

Figura 13: Pontos escavados durante a pesquisa no Largo da Carmo.

Os resultados apontaram cultura material pré-colonial e histórica. No que se refere às análises, como a demanda de material foi muito grande, tentamos realizar a leitura do contexto material em sua distribuição ao longo do sítio, e análises tipológicas gerais, verificando aspectos relacionados à morfologia, função e temporalidade. Sabíamos que, por se tratar de um projeto de Arqueologia de Contrato, os prazos eram restritos e não haveria a possibilidade de análises mais profundas. A partir dessa premissa, fizemos o máximo possível para documentar todas as etapas em campo, para que futuros pesquisadores, tenham a possibilidade de realizar análises mais aprofundadas. O material foi todo entregue ao IPHAN/AL, distribuídos em documentações como: fichas de escavação, lista de etiquetas de materiais, croquis com planta baixa dos níveis escavados e desenho de todos os perfis das unidades, além de informações adicionais relevantes para estudo do sítio.

O material pré-colonial foi localizado, em sua maioria, atrás da Igreja da Primeira Ordem do Carmo, Conjunto VI, abaixo de um sepultamento humano. Nessa área foi encontrada uma grande incidência de material lítico, denotando área de oficina lítica.

Foto 20: Artefatos líticos, do nível 80-90cm da unidade VIe.

Quadro 4: Organização espaço-temporal dos artefatos evidenciados no conjunto de unidades VI.

VI VIa VIb VIc VId VIe Total

0-10 1 1 10-20 3 3 20-30 0 30-40 1 1 40-50 0 50-60 1 2 3 60-70 1 10 3 14 70-80 1 40 48 89 80-90 6 94 100 90-100 8 4 12 100-110 0 110-120 5 5 120-130 0 130-140 2 2 Total 1 1 2 51 23 152

O conjunto II foi o mais diversificado. Foram encontrados fragmentos de cachimbos, material cerâmico simples histórico e pré-colonial, faiança, louça34, grés, porcelana, cerâmica simples com engobe vermelho, cerâmica vitrificada, pregos, cravos, contas de colar, dentre outros materiais.

No entanto, foi observado na conformação do sítio, nos processos deposicionais dos pacotes sedimentares, uma enorme perturbação provocada por raízes de árvores grandes, o que impossibilitou uma leitura mais precisa dos perfis estratigráficos. Essa área foi caracterizada como área de descarte, ao longo do tempo.

Mas, em termos de uma prática junto à comunidade, o conjunto II coroou a nossa presença no Largo, possibilitando o diálogo constante com a comunidade local. Tal conjunto II, foi um dos mais visitados, principalmente pelas crianças do Largo, que acompanhavam os trabalhos de perto, ávidos pelas descobertas de artefatos, participando do processo intensamente.

Foto 21 Diversidade de artefatos cerâmicos encontrados no Conjunto II (Unidades II, IIa, IIb, IIc). Da esquerda