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Engenho Estaleiro, Porto Calvo, Alagoas Mapeamento de

O avanço das pesquisas no litoral norte a partir do projeto mencionado acima, gerou a dissertação de mestrado de Rute Barbosa (2012), que teve como objetivo o estudo das louças de engenhos da cidade de Porto Calvo do século XIX, entendendo as louças "como objetos sociais carregadas de valores e sentidos próprios, e significados por meio de um discurso não verbal"(p. 181). Nesse sentido, foi abordado o fator ideológico representado nos antigos engenhos para demarcar os status de seus donos, frente ao declínio econômico no qual estavam passando.

Ainda no litoral Norte, nos anos de 2006 e 2007, em Porto de Pedras, foi realizado o projeto de Delimitação e Prospecção no Sítio Patacho. O trabalho teve como resultado a demarcação do comércio em larga escala de produtos ingleses pelas famílias da região, a delimitação do antigo povoado e a percepção das rotas realizadas entre Porto de Pedras e Porto Calvo através do rio Manguaba (ALLEN et. al. 2007). O sítio Patacho está situado em uma praia com o mesmo nome, no município de Porto de Pedras, em Alagoas. A área possuía muitas residências no século XIX, e havia algumas casas até a década de 1970. No entanto, nos anos posteriores, o trecho litorâneo de casas de Patacho desapareceu em meio aos coqueirais. Os vestígios do antigo povoado não eram mais vistos na superfície pela população. Em 2006 um dos moradores da cidade achou algumas moedas e levou para a Secretaria de Cultura Municipal, que logo acionou o IPHAN. Além do relatório de pesquisa, a pesquisa gerou o trabalho de conclusão de curso em História da UFAL, do aluno Carleandro Fidelis (2006), que realizou a análise de louças inglesas no cotidiano dos Alagoanos no século XIX. O trabalho buscou compreender o trajeto dessas louças até chegar à mesa das famílias de Patacho, em Porto de Pedras, compreendendo o período de abertura dos portos no Brasil, no século XIX, para entrada do comércio com os ingleses.

O Programa de Educação Patrimonial em Patacho contou com várias ações. Palestras nas escolas, conversas com pessoas que frequentavam a praia de Patacho sobre a preservação e cuidados com o sítio, e visita a ex moradores de Patacho. Os resultados da conversa com ex moradores revelaram o cotidiano do povoado, quando ainda existia, mostrando dificuldades e alegrias. Relataram que o único meio de chegar até o povoado na época era através de embarcações. Também que sua dieta básica era composta por frutos do mar. Inúmeras informações recolhidas com as entrevistas foram de extrema importância para o entendimento da dinâmica local.

Ainda na região de Porto de Pedras, em 2008, o arqueólogo Marcos Albuquerque (Professor do curso de Arqueologia da UFPE), realizou o projeto Levantamento Histórico-

Arqueológico da Zona Urbana de Porto de Pedras. O trabalho levantou diversos períodos de

ocupação da área: pré-colonial, colonial e pós-colonial. O relatório identificou, no contexto pré-colonial de dois períodos, grupos caçadores-coletores da costa e grupos ceramistas, atribuídos à Tradição Arqueológica Tupiguarani. Quanto à ocupação histórica colonial, foi destacado os primeiros pólos de ocupação próximos à foz do rio Manguaba, e em alguns pontos mais em direção ao rio Tatuamunha. Quanto a ocupação pós-colonial, verificou-se que, após meados do século XIX, Porto de Pedras e áreas adjacentes, como Porto da Rua,

Japaratinga, Mata Redonda e Porto Calvo foram bem povoadas nesses período. O sítio de Patacho foi analisado e as conclusões também apresentaram sua intensa ocupação no século XIX, através da abundância de material doméstico encontrado na área (ALBUQUERQUE et. al. 2008). O relatório de pesquisa não apresentou ações de Educação Patrimonial.

Foto 3: Escavação no sítio arqueológico em Patacho, Porto de Pedras, Alagoas, realizada pelo NEPA/UFAL em 2007. (Fonte: Acervo NEPA/UFAL).

Em 2014, o arqueólogo Marcos Albuquerque empreendeu nova pesquisa na região de Porto de Pedras e suas adjacentes. O foco do trabalho foi a identificação de sítios arqueológicos ligados à ocupação holandesa na região, na área que abrange as margens e limites próximos dos trechos navegáveis do rio Manguaba, entre sua foz, na cidade de Porto de Pedras, e o início de seu trecho navegável em Porto Calvo. O trabalho teve por objeto analisar o trajeto no período colonial, principalmente pelos holandeses que ocuparam a região (ALBUQUERQUE et. al, 2014). O projeto não contemplou um programa formal de Educação Patrimonial, no entanto, parte do trabalho foi o levantamento de pontos relevantes para o trabalho através de pesquisa oral com a comunidade.

Mais recentemente, em 2018, Marcos Albuquerque esteve em trabalhando junto com sua equipe para registro do Fortim Holandês Bass, datado de século XVII, localizado na Ilha fluvial do Guedes, município de Porto Calvo. A pesquisa evidenciou a antiga estrutura que estava coberta pela vegetação. A área foi evidenciada e ficou visível as extremidades do Fortin (ver foto 4). Os resultados ainda não foram apresentados no relatório final, tendo como referência apenas informações de relatórios parciais (ALBUQUERQUE et. al, 2018).

Foto 4: Fortin Blass, Ilha do Guedes, Porto Calvo. (Fonte: http://portal.iphan.gov.br/noticias).

Ainda no Norte do Estado de Alagoas, no município de Porto Calvo, foram realizadas escavações no adro da Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação. A Igreja localiza-se na área urbana da cidade, sendo o único prédio restante do Centro Histórico com características coloniais. Sua datação é de 1610, mas o início de sua construção data do período da primeira ocupação da região em 1575. Os dados gerados a partir da escavação arqueológica identificou material histórico e pré-colonial. O material pré-colonial encontrado foram lascas e ferramentas de lítico. Quanto ao material histórico, foram identificados artefatos do período colonial, e do posterior, entre meados século XIX. Foram exumados 16 indivíduos e vários fragmentos de ossos dispersos, todos relacionados ao tempo cronológico da igreja, entre 1575 até 185032 (ALLEN, et. al. 2009).

A distribuição e organização das sepulturas deram subsídios para interpretação dos padrões hierárquicos de sepultamentos em igrejas no período colonial e início do imperial. Em uma das laterais, onde haviam enterramentos organizados, foram identificados um certo cuidado com a disposição dos mortos, com caixões, sepulturas bem demarcadas e enxoval

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(Período que foi implementada a Lei referente a enterramentos, onde os sepultamentos nos adros das igrejas foram proibidos, e passaram para os cemitérios).

funerário. Na parte de trás da Igreja, foram identificados enterramentos sobrepostos, com corpos colocados diretamente ao solo, sem enxoval funerário (ALLEN et. al. 2009).

Além da distribuição dos sepultamentos no adro da igreja foram observados os direcionamento dos corpos dispostos nas sepulturas. Foram verificados o direcionamento dos pés e cabeças em relação ao altar mor. Na bibliografia referente a etiqueta de enterramentos em espaço católico, era práxis as crianças até 7 anos, moças virgens e párocos serem enterrados com a cabeça direcionada para o altar mor (pois estes eram considerados seres mais próximos de Deus), enquanto as outras pessoas eram enterradas como dispostas na missa, com os pés para o altar (ALLEN, et. al. 2009).

A partir dessa observação, vimos que na cidade, há menção por parte da população atual de práticas semelhantes na área rural, com lendas contadas por parte da população, que crianças deveriam ser enterradas com a cabeça para rua, pois estavam mais próximas a anjos. Desta maneira, foi possível constatar a ligação de práticas de enterramentos coloniais expostas na memória local, através das lendas contadas pela população. O Programa de Educação Patrimonial referente ao projeto arqueológico na Igreja Nossa Senhora da Apresentação contou com palestras em escolas locais e visitas da população na escavação. A população ávida por ver os enterramentos no adro da igreja matriz, vinham muitas vezes em caravanas da área rural. O dia a dia contava com a presença de curiosos da cidade, que vinham observar o processo de escavação e contavam histórias sobre lendas. Sentiam estranhamento sobre os enterramentos e ficavam curiosos com os trabalhos de campo.

Foto 5: Visita de estudantes das escolas de Porto Calvo na área de escavação arqueológica.