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3 INVERSÃO AMBIENTAL A OCUPAÇÃO DA FERROVIA SEM REGULAÇÃO

3.2 DORMENTES DE MADEIRA

Estima-se que o número total de dormentes em todo o mundo seja de, aproximadamente, três bilhões de unidades, dos quais cerca de 2,6 bilhões são de madeira, o que o torna, de longe, o tipo de dormente mais utilizado em todo o mundo. Estima-se ainda que desse total cerca de 2 a 5% necessitem ser renovados a cada ano, ou seja, de 52 a 120 milhões de dormentes de madeira por ano. (MARZOLA, 2004)

Uma das causas do sucesso desse tipo de dormente é que a madeira reúne quase todos os requisitos e qualidades para servir como dormentes nas ferrovias. A madeira apresenta as melhores propriedades mecânicas, devido ao seu elevado módulo de elasticidade e grande flexibilidade.

É um bom isolante elétrico quando não saturado de umidade; permite correção de bitola; possui fácil instalação e manutenção, sem prejudicar o tráfego de trens; resistência lateral adequada; apresenta custo inicial baixo.

Os dormentes em madeira possuem altos valores de resistência específica; necessita de baixo consumo de energia na sua produção; possui baixo preço e apresenta possibilidade de uso da matéria-prima de forma sustentada e ambientalmente correta.

No entanto, os dormentes de madeira, amplamente usados, requerem cuidados especiais para se garantir a durabilidade das peças, além disso, geram um importante passivo sobre o meio ambiente, uma vez que, são utilizadas grandes remessas, a taxa de renovação e reutilização é mínima.

A utilização da madeira também implica em outros intervenientes, porque sua vida útil é baixa em relação aos demais dormentes (concreto, aço, plástico)

disponíveis no mercado; a isolação elétrica é boa quando o dormente está seco, caso contrário pode interromper o tráfego de trens.

A durabilidade dos dormentes depende também do clima, da drenagem e do lastro da ferrovia; do volume e da velocidade de tráfego da via; bem como o peso da carga transportada através da mesma; da curvatura geométrica da ferrovia; do uso de placas de apoio; da época em que a madeira foi cortada, da idade da madeira, da natureza do solo em que a árvore cresceu e para madeiras não tratadas, da espécie da madeira empregada. (ALVES, 2009)

As ferrovias, usando em seu leito dormentes de madeira, provocaram um intensivo impacto sobre o meio ambiente. Milhares de m³ de madeira foram extraídos ao longo dos anos, para atender as necessidades operacionais da via sem nenhuma medida efetiva para reparar seus impactos às regiões exploradas.

Cabe ressaltar que no início da implantação das ferrovias no Brasil, as locomotivas eram movidas a vapor, e assim permaneceram ao longo de décadas, agregando-se a fabricação dos dormentes a questão da energia a vapor o corte de árvores para alimentar as caldeiras das referidas locomotivas.

O uso de dormentes nas ferrovias brasileiras foi uma das causas da devastação da Mata Atlântica. Apesar da nova consciência ecológica existente no País, o desmatamento continua a devastar a floresta, permanece o uso dormente de madeira proveniente de espécie nativa, enquanto se poderiam fabricar os dormentes ferroviários com outros materiais ou com madeira oriunda de projetos de reflorestamento (espécies cultiváveis).

Além do violento impacto ambiental, provocado pelo processo de destruição de áreas de mata atlântica, da caatinga, serrado e matas siliares. Os dormentes de madeira apresentavam o inconveniente (como já foi dito) de se deteriorar sob a ação da variação de umidade e ataque de microorganismos, tornando sua substituição muito freqüente, implicando em mais desmatamento.

Para uma madeira ser utilizada como dormente, a mesma deve ser tratada, para se evitar a proliferação de fungos e insetos que podem acelerar o apodrecimento desta, no caso de entalhes e furações no dormente, nesta área onde o tratamento pode ter sido comprometido, é necessário novamente à aplicação do produto preservativo, por meio de pulverização ou similar.

O uso da madeira para fabricação de dormentes ainda implica em uma seleção da madeira a ser empregada para este fim e a conseqüente estagnação das mesmas. Sendo que madeiras macias de baixa densidade, como o pinho, por exemplo, mesmo quando são devidamente tratadas não são adequadas para a utilização como dormentes, pois não possuem a necessária resistência mecânica.

Para o uso da madeira como dormente, foi desenvolvida a norma NBR 7511 e NBR 6966 que especifica a qualidade, dimensão e tolerância da madeira. Quanto às dimensões, as normas estabelecem (comprimento, largura, altura): para bitola de 1,60 m – 2,80 x 0,24 x 0,17 m; bitola de 1,00 m – 2,00 x 0,22 x 0,16 m e dormentes com dimensões especiais para pontes e aparelhos de desvio.

Quanto à espécie de madeira a ser utilizada, os dormentes são classificados em 1ª, 2ª e 3ª classe. Os dormentes de 1ª classe são os feitos com madeira de aroeira, sucupira, jacarandá, amoreira, angico, ipê, pereira, bálsamo, dentre outras.

Os dormentes de 2ª classe são feitos com madeira de angelim, araribá, amarelinho, braúna, carvalho do Brasil, canela-preta, guarabu, jatobá, maçaranduba, peroba, pau-brasil, baru, eucalipto, dentre outras.

Os dormentes de 3ª classe apresentam essência de 1ª ou 2ª classes, mas com defeitos considerados toleráveis. O melhor dormente de madeira é o feito de sucupira, pois tem ótima fixação do trilho, possui dureza e peso específico elevados e grande resistência ao apodrecimento, podendo durar mais de 30 anos na linha.

Atualmente, devido à escassez de madeira de boa qualidade e a distância cada vez maior das fontes de extração aos locais de consumo, tem sido quase impossível obter-se dormentes de madeiras nobres, sobre tudo de puro cerne, a preços competitivos.

A utilização dos dormentes de madeira no Brasil, salvo os dormentes de eucalipto tratado, também tem colaborado para a manutenção dos vergonhosos índices de desmatamento predatório e ilegal, lembrando que as estimativas efetuadas pelos órgãos de defesa ambiental governamentais e não-governamentais, apontam para índices de ordem de 80% de extração ilegal de toda a madeira produzida no país.

Grande parte da madeira utilizada atualmente na produção de dormentes é de baixa qualidade, o que reflete em uma vida útil consideravelmente pequena inferior a cinco anos e consequentemente maior exploração de madeira.

O uso de madeira para fabricação de dormentes não tem sido considerado por muitas operadoras ferroviárias, que continuam adquirindo grandes quantidades de dormentes de madeira com apenas uma preocupação, o preço, em detrimento de questões fundamentais como qualidade e desempenho.

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