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3 PROTEÇÃO INTEGRAL E A RESPONSABILIZAÇÃO ESTATUTÁRIA COMO

3.1 DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

A Constituição Federal de 1988, ao tratar de direitos da criança e do adolescente, consagrou em seu artigo 227 os princípios da proteção integral e da prioridade absoluta, consoante infere-se, in verbis:

26 BRASIL. Senado Federal. Diário do Congresso Nacional (Seção II), publicado em 26 de maio de 1990. p. 2413. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datDiario=26/05/1990&tipDiario=1#>. Acesso em: 10 set. 2017.

27 ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do

adolescente comentado artigo por artigo. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 72-73.

28 LIMA, Fernando da Silva; VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente: a

necessária efetivação dos direitos fundamentais. Florianópolis: Fundação Boitex, 2012. p. 54-55. Disponível

em: <http://funjab.ufsc.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/VD-Direito-da-Crianca-18-09-2012.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

29 LIMA, Fernando da Silva; VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente: a

necessária efetivação dos direitos fundamentais. Florianópolis: Fundação Boitex, 2012. p. 149-150.

Disponível em: <http://funjab.ufsc.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/VD-Direito-da-Crianca-18-09-2012.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.30

Para contextualizar a origem do princípio da doutrina da proteção integral consagrado na Constituição Federal de 1988, segundo Wilson Donizeti Liberati, na esfera internacional, a criança e adolescente passaram a serem reconhecidos como sujeito de direitos através da:

[...] Declaração Universal dos Direitos Humanos, [...], a Declaração dos Direitos da Criança, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, Convenção Americana Sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing), as Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil - Diretrizes de Riad, as Regras Mínimas das Nações Unidas para Proteção de Jovens Privados de Liberdade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, a Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o Desenvolvimento das Crianças nos anos 90, [...] X Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo -Declaração do Pananá - "Unidos pela Infância e Adolescência, Base da Justiça e da Equidade no Novo Milênio"31.

Esse substrato de documentos internacionais ilustra a movimentação de proteção dos direitos infanto-juvenis no âmbito internacional. Assim, infere-se que o marco inicial do reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos foi em meados do século XX.

Segundo Pereira, a doutrina da proteção integral vigorou a partir da vigência da Constituição Federal de 1988. Contudo, tal doutrina teve as suas bases advindas do movimento de mobilização a partir da década de 80, na qual houve intenso debate sobre o movimento social pela proteção conferida às crianças e adolescentes.32 Sobre o tema, o doutrinador Liberati ensina que:

Na segunda metade da década de 80, houve uma imensa articulação de movimentos populares, que buscavam orientação e subsídios nos documentos internacionais, visando a um melhor e mais adequado atendimento à nossa infância.

O estudo da Convenção sobre os Direitos da Criança fez mobilizar a sociedade civil, de onde nasceu o Fórum Nacional de Entidades Não-Governamentais de Direitos da Criança e do Adolescente - FÓRUM DCA. Esse Fórum foi um dos principais articuladores perante o Congresso Nacional, que, em trabalho de Constituinte,

30 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 set. 2017.

31 LIBERATI. Wilson Donizeti. Adolescente e ato infracional: medida socioeducativa é pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 07.

32 PEREIRA, Tania da Silva. O melhor interesse da criança. In: PEREIRA, Tania da Silva. O melhor interesse

acatou emenda popular com centenas de milhares de assinaturas, introduzindo, na nova Constituição, os princípios e normas de proteção à infância sugeridos pela citada Convenção.

Os princípios básicos da Convenção materializaram-se no art. 227 da Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, consagrando a doutrina da Proteção Integral, que, em nosso entendimento, é baseada nos direitos próprios e especiais das crianças e adolescentes, que, na condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteção diferenciada, especializada e integral. 33

Assim, destaca-se que a doutrina da proteção integral tem como finalidade o reconhecimento de que “[...] todas as crianças e adolescentes são detentores de todos os direitos que tem os adultos e que sejam aplicáveis à sua idade, além dos direitos especiais que decorrem, precisamente, da especial condição de pessoas em desenvolvimento.”34

Decorridos aproximadamente dois anos da vigência da Constituição Federal, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente35, que veio regulamentar o artigo 227 da Carta Magna.36 Discorrendo sobre o assunto, Lima e Veronese afirmam:

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 consubstancia-se num moderno instrumento jurídico-político de proteção e de promoção aos direitos da infância e da adolescência no Brasil. O Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu no ordenamento jurídico, principalmente, pela necessidade de regulamentar o disposto 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e para contemplar numa lei específica a doutrina da proteção integral. Portanto, o Direito da Criança e do Adolescente tem no Estatuto a completa formatação jurídico-protetiva para a infância brasileira. Rompe-se, pelo menos em âmbito formal, com a velha estrutura assistencialista que coisificava a infância e a enquadrava na situação irregular sob o rótulo da menoridade. É por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente que pela primeira vez na história cria-se para esse público específico um conjunto de dispositivos legais cuja finalidade seja a promoção e a efetivação dos seus direitos fundamentais. 37

Para Veronese e Lima, com o advento da doutrina da proteção integral, denota-se que é exigida a corresponsabilidade do sistema de garantia de direitos a fim de atender o melhor interesse de crianças e adolescentes. Em razão disso, tal corresponsabilidade é

33 LIBERATI. Wilson Donizeti. Adolescente e ato infracional: medida socioeducativa é pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 35.

34 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e ato infracional: medida socioeducativa é pena? São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 44.

35 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

36 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 set. 2017.

37 LIMA, Fernando da Silva; VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente: a

necessária efetivação dos direitos fundamentais. Florianópolis: Fundação Boitex, 2012. p. 54-55. Disponível

em: <http://funjab.ufsc.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/VD-Direito-da-Crianca-18-09-2012.pdf>. Acesso em: 20 set. 2017.

atribuída à família, sociedade civil organizada ou não e ao Estado visando a garantia dos direitos das crianças e adolescentes. 38

O Estatuto da Criança e do Adolescente é dividido em duas partes: parte geral e parte especial. A parte geral subdivide-se em três títulos: no primeiro título trata das disposições preliminares (artigos 1º a 6º), o segundo título versa sobre os direitos fundamentais da criança e do adolescente (artigos 7º a 69), e por fim, o terceiro disciplina sobre a prevenção (artigos 70 a 85).39

Já a parte especial do Estatuto da Criança e do Adolescente é fracionada em sete títulos. O primeiro título da parte especial cuida de política de atendimento (artigos 86 a 97), o segundo das medidas protetivas (artigos 98 a 102), o terceiro da prática de ato infracional (artigos 103 a 128), o quarto das medidas pertinentes aos pais ou responsável (artigos 129 e 130), o quinto a respeito do conselho tutelar (artigos 131 a 140), o sexto refere-se ao acesso à justiça (artigos 141 a 224), e o sétimo trata de crimes e infrações administrativas (artigos 225 a 258-C). Por fim, as disposições transitórias, disciplinadas nos artigos 259 a 267.40

No entanto, serão abordadas tão somente as disposições preliminares constantes nos artigos 1º a 6º, das disposições gerais acerca da política de atendimento previstas nos artigos 86 a 89, das medidas protetivas previstas nos artigos 98 a 102 e da prática de ato infracional, discorrendo sobre os artigos 103 a 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente41, sendo que esta última seção será abordada no próximo capítulo.

No tocante aos artigos das disposições preliminares do Estatuto da Criança e do Adolescente, o artigo primeiro dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente42. Destaca-se que o princípio da proteção integral, previsto na Constituição Federal, foi reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente.43

Dessa forma, evidencia-se a proteção integral dos direitos da criança e do adolescente, com respeito à dignidade humana e a condição peculiar de pessoa em

38 LIMA, Fernando da Silva; VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente: a

necessária efetivação dos direitos fundamentais. Florianópolis: Fundação Boitex, 2012. p.114. Disponível em:

<http://funjab.ufsc.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/VD-Direito-da-Crianca-18-09-2012.pdf>. Acesso em 20 set. 2017.

39 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

40 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

41 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

42 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

43VERONESE, Josiane Rose Petry; SILVEIRA, Mayra. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. São Paulo: Conceito Editorial, 2011. p. 27.

desenvolvimento. Acerca do artigo primeiro do referido estatuto, Rossato, Lépore e Sanches sustentam:

O art. 1º do Estatuto adota expressamente a doutrina da proteção integral. Essa opção do legislador fundou-se na interpretação sistemática e dos dispositivos constitucionais que elevaram ao nível máximo de validade e eficácia as normas referentes às crianças e aos adolescentes, e que, por sua vez, foram inspirados nas normas internacionais de direitos humanos, tais como a Declaração Universal de Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança. Assim, pode-se apontar que o reconhecimento jurídico dos direitos da criança e do adolescente se deu no Brasil já em um novo patamar, mais ligado aos processos emancipatórios e constituído por uma concepção de positivação dos direitos humanos, tornando-os fundamentais. [...] 44

O segundo artigo disciplina que todos os menores de 18 anos são sujeitos à aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, o seu parágrafo único dispõe que “nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade”, referindo à pretensão socioeducativa, a qual deve ser exercida até 21 anos de idade do infrator.45

O artigo 3º do referido estatuto dispõe que são assegurados à criança e ao adolescente toda gama de direitos fundamentais, sendo-lhes conferidas as oportunidades necessárias ao pleno desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, com dignidade, respeitada a condição especial de pessoas em desenvolvimento (artigo 6º).46

Em relação ao artigo 4º do diploma estatuário, o seu teor reproduz basicamente o texto do artigo 22747 da Carta Cidadã. Já o artigo 5º, determina que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.”48

Em seguida o artigo 6º do estatuto mencionado determina que, na interpretação de seus termos, deverão ser observados os fins sociais a que o diploma estatutário se dirige, “[...]

44 ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo e CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do

adolescente comentado artigo por artigo. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 73.

45 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

46 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

47 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 20 set. 2017.

48 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.”49

Assim, com o advento da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, rompeu-se o paradigma de repressão às criança e adolescentes, anteriormente estabelecido no Código de Menores para "[...] um novo paradigma no tratamento destinado à infância e à juventude e, por esse motivo, as políticas de atendimento à criança e ao adolescente deixaram de focar na mera repressão e passaram a se dedicar ao processo socioeducativo."50

No que se refere à prática de atos infracionais por crianças e adolescentes, evidencia-se a importância da doutrina da proteção integral na resposta em razão da sua conduta, na visão de Paula:

Assim, proteção integral constitui-se em expressão designativa de um sistema onde crianças e adolescentes figuram como titulares de interesses subordinantes frente à família, à sociedade e ao Estado.

Mesmo quando diante da prática de atos infracionais o Estatuto da Criança e do Adolescente define relações jurídicas nas quais a criança e o adolescente participam como titulares de interesses subordinantes, expressos em garantias materiais e processuais que impedem o arbítrio do Estado na validação dos interesses ligados à necessidade de coibir a criminalidade infanto-juvenil.

A conceituação de proteção integral é essencialmente jurídica, muito embora seja reflexo da política de um povo em relação à criança e ao adolescente. A lei impõe obrigações à Família, à Sociedade e ao Estado, considerando, reitere-se, o valor da criança e do adolescente em determinando momento histórico cultural. Quando a normativa internacional e o Estatuto da Criança e do Adolescente referem-se a proteção integral, estão indicando um conjunto de normas jurídicas concebidas como direitos e garantias frente ao mundo adulto, colocando os pequenos como sujeitos ativos de situações jurídicas.51

Como a doutrina da proteção integral permeia em todo o Estatuto da Criança e do Adolescente, é presente na política de atendimento, prevista nos artigos 86 a 97 do diploma estatutário. No entanto, serão dissertadas somente as disposições gerais da política de atendimento, compreendido no artigo 86 a 89 do referido estatuto.52

Inicialmente, o objetivo da política de atendimento é o de assegurar a “[...] todas as crianças e adolescentes [...], de maneira concreta, o direito a um nível de vida adequado,

49 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

50 SANTA CATARINA. Ministério Público. Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude: o ato infracional e o sistema socioeducativo. Florianópolis, MPSC, 2013, v.3. p. 09. Disponível em:

<https://documentos.mpsc.mp.br/portal/manager/resourcesDB.aspx?path=700>. Acesso em: 09 set. 2017. 51 PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Direito da criança e do adolescente e tutela jurisdicional diferenciada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 23. Grifo nosso.

52 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 02 set. 2017.

capaz de permitir o seu pleno desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social, atendendo ao princípio elementar da dignidade da pessoa humana. [...]”53

Pela leitura do artigo 86 do Estatuto da Criança e do Adolescente, verifica-se que cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios assegurar os direitos contemplados às crianças e adolescentes. Os entes federados o fazem por meio da política de atendimento em um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais.54

Registrem-se, por oportuno, as elucidações feitas por Espezim, Veronese e Lima acerca do artigo 86:

O artigo 86 do Estatuto, ao indicar que a política de atendimento será realizada por um conjunto articulado de ações, aponta que o atendimento voltado para crianças e adolescentes dependerá da criação de um amplo sistema de garantias de direitos. E isso implica o reconhecimento da integralidade do sujeito criança/ adolescente, o qual exige muito mais do que apenas medidas pedagógicas quando o adolescente pratica um ato considerado antissocial.55

A ligação com as medidas socioeducativas e a política de atendimento consiste em assegurar a efetivação dos direitos assegurados aos adolescentes em conflito com a lei, pois há possibilidade destes terem “[...] sido submetidos a situações de vulnerabilidade, o que demanda o desenvolvimento de política de atendimento integrada com as diferentes políticas e sistemas dentro de uma rede integrada de atendimento, e, sobretudo, dar efetividade ao Sistema de Garantia de Direitos.”56

Em relação ao artigo 87 do referido estatuto, Ishida explica que a ação política contida no artigo em questão está fundamentada em políticas sociais, tais como a contratação de assistentes sociais, psicólogos, médicos, de identificação e de assistência judiciária.57 Assim, faz-se necessária a transcrição do artigo supracitado para visualizar a compreensão do Ishida acerca do tema:

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: I - políticas sociais básicas;

II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências;

53 PARANÁ. Ministério Público .Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado e Interpretado. Curitiba, FEMPAR, 2017. 7 ed. p. 126. Disponível em:

<http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/caopca/eca_anotado_2017_7ed_fempar.pdf>. Acesso em: 11 out. 2017.

54 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 11 out. 2017.

55 SANTOS, Danielle Maria Espezim dos Santos; VERONESE, Josiane Rose Petry; LIMA, Fernanda da Silva.

Ato infracional e medida socioeducativa. Palhoça: UnisulVirtual, 2013. p. 158.

56 BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Sistema Nacional de

Atendimento Socioeducativo SINASE. p. 18. Disponível em: <http://www.conselhodacrianca.al.gov.br/sala-

de-imprensa/publicacoes/sinase.pdf>. Acesso em: 11 out. 2017.

57 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 181.

III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;

IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;

V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescentes.

VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.58

Em complemento aos artigos mencionados, Barros explica que a execução da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente:

[...] a consecução de políticas públicas- dentre as quais se inclui a de atendimento aos direitos da criança e do adolescente (art. 86) - compete primordialmente ao Poder Executivo, em suas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Além disso, importante papel é desempenhado pelas entidades do terceiro setor (ONGs, fundações privadas etc.), com quem o Poder Público pode fazer parcerias para melhorar e ampliar a prestação de seus serviços. Por fim, ao Poder Legislativo, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à sociedade civil organizada toca a função de fiscalizar essas atividades, cobrar melhorias, propor soluções. É através da congregação de esforços de diversos setores que se torna possível construir uma

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