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4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

4.3 PLANO INDIVIDUAL DE ATENDIMENTO E O RESULTADO DAS MEDIDAS

Antes de adentrar no aspecto do plano individual de atendimento referente aos adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa, faz-se pertinente abordar algumas considerações acerca da Lei 12.594 de 18 de janeiro de 2012, denominada como Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)171. Bandeira aborda o objetivo da referida Lei:

[...] O SINASE constitui-se, assim, num conjunto ordenado de princípios, regras e critérios extraídos da Constituição Federal, do ECA e das Convenções Internacionais sobre direitos das crianças e adolescentes – Regras Mínimas de Beijing, Regras mínimas das Nações Unidas para a proteção dos jovens privados de liberdade- e outros dos quais o Brasil é signatário, objetivando a efetivação do processo de apuração, aplicação e execução de medida socioeducativa. É importante assinalar que os órgãos deliberativos e gestores do SINASE, como os Conselhos Nacionais, Estaduais, Distrital e Municipais dos Direitos das Crianças e do Adolescente devem não somente implementar a prática de projetos e planos relacionados ao atendimento socioeducativo, mas sobretudo, em face da vulnerabilidade do adolescente em conflito com a lei, articular-se com outros órgãos ou subsistemas, no sentido de concretizar o princípio constitucional da proteção integral, proporcionando todos os meios para efetivar o atendimento prestado ao adolescente em conflito com a lei e contribuir, assim, para a sua inclusão social. 172

Assim, verifica-se o teor do artigo 1º, parágrafo 1º da Lei 12.594/12 que disciplina sobre o sistema do SINASE:

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e regulamenta a execução das medidas destinadas a adolescente que pratique ato infracional.

§ 1o Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei. 173

170 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

171 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

172 BANDEIRA, Marcos Antonio Santos. Atos infracionais e medidas socioeducativas: uma leitura dogmática, critica e constitucional. Ilhéus, Editus, 2006. p. 140.

173 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

Em complemento ao referido sistema:

Nesse sentido, o Sinase pode ser traduzido como uma política pública, articulada com as demais políticas imersas no Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, com fins no atendimento dos adolescentes em conflito com a Lei, desde a apuração do ato infracional até a execução da medida socioeducativa. Para tanto, o Sinase não se desenvolve de maneira isolada, estando integrado ao Sistema Único da Assistência Social, ao Sistema Único de Saúde, ao Sistema Educacional, ao Sistema de Justiça [...]174

Para Veronese e Lima, “como sistema integrado, o SINASE procura articular os três níveis de governo para o melhor desenvolvimento do atendimento socioeducativo ao adolescente, levando em consideração a intersetorialidade e a corresponsabilidade e entre família, o Estado e a sociedade.”175

A estrutura da Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo é dividida em três títulos: o primeiro título encontra-se subdividido em sete capítulos, que trata de conceitos e das responsabilidades dos entes federativos (artigos 1º a 30). Já o segundo título está subdivido em oito capítulos, que trata de normas de execução de medidas socioeducativas (arts. 31 a 80). Por fim, o terceiro título disciplina sobre as disposições finais e transitórias (artigos 81 a 90).176

Em relação ao Plano Individual de Atendimento, este se encontra disciplinado nos artigos 52 a 59 da Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Com fundamento no artigo 52, é necessária a elaboração do plano individual de atendimento do adolescente para execução de medida socioeducativa em meio aberto ou fechado, sendo elaborado no prazo de até 45 dias do ingresso do adolescente no programa de atendimento em meio fechado (artigo 55, parágrafo único), e no meio aberto o prazo será de até 15 dias (artigo 56)177. Acerca da importância do referido plano, Bandeira leciona que:

[...] O PIA é um instrumento de registro, acompanhamento e planejamento do adolescente e visa, assim, a conhecer a história integral do adolescente, devendo,

174 SANTA CATARINA. Ministério Público. Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude: o ato infracional e o sistema socioeducativo. Florianópolis, MPSC, 2013, v.3. p. 128. Disponível em

<https://documentos.mpsc.mp.br/portal/manager/resourcesDB.aspx?path=700>. Acesso em 29 set. 2017. 175 LIMA, Fernando da Silva; VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente: a

necessária efetivação dos direitos fundamentais. Florianópolis: Fundação Boitex, 2012. Disponível em:

<http://funjab.ufsc.br/wp/wp-content/uploads/2012/09/VD-Direito-da-Crianca-18-09-2012.pdf>. Acesso em 29 set. 2017. p. 156.

176 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

177 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

para tanto, ser analisado e discutido, também, com o adolescente e seu representante legal, pois a liberdade do adolescente de se manifestar e de ser ouvido constitui fator importantíssimo para o efetivo cumprimento da medida, a qual exige voluntariedade e envolvimento da família. 178

Ainda, de acordo com o artigo 53 da aludida lei “O PIA será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento, com a participação efetiva do adolescente e de sua família, representada por seus pais ou responsável.”179 Da mesma forma, o objetivo do plano individual de atendimento tem a finalidade de identificar a situação que se encontra o adolescente:

A elaboração do Plano deve se prestar a realizar um diagnóstico polidimensional, por meio de intervenções técnicas dirigidas ao adolescente e sua família, nas áreas jurídica (situação processual e providências necessárias); da saúde (física e mental); psicológica (traços afetivos, dificuldades, necessidades, potencialidades, avanços e retrocessos); social (relações sociais, familiares e comunitárias); e pedagógica (metas relativas à escolarização, à profissionalização, à cultura, ao lazer e esporte, a oficinas e autocuidado).180

Os requisitos mínimos para elaboração do plano individual de atendimento constam no artigo 54 da lei supracitada:

Art. 54. Constarão do plano individual, no mínimo: I - os resultados da avaliação interdisciplinar; II - os objetivos declarados pelo adolescente;

III - a previsão de suas atividades de integração social e/ou capacitação profissional; IV - atividades de integração e apoio à família;

V - formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual; e VI - as medidas específicas de atenção à sua saúde.181

Quanto à análise detida do plano individual de atendimento, bem como do procedimento de ato infracional, observou-se que, na pesquisa, ambos fornecem informações genéricas. No entanto, não trazem em seu bojo elementos essenciais que motivaram os adolescentes a praticarem infrações. Também é perceptível a ausência de dados completos

178 BANDEIRA, Marcos Antonio Santos. Atos infracionais e medidas socioeducativas: uma leitura dogmática, critica e constitucional. Ilhéus, Editus, 2006. p. 160.

179 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

180 SANTA CATARINA. Ministério Público. Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude: o ato infracional e o sistema socioeducativo. Florianópolis, MPSC, 2013, v.3. p. 09. Disponível em

<https://documentos.mpsc.mp.br/portal/manager/resourcesDB.aspx?path=700>. Acesso em: 29 set. 2017.p. 114- 115.

181 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

acerca da situação social, familiar e econômico dos adolescentes, o que prejudicaram na coleta de dados para o objeto monográfico.

Isso porque os documentos que instruem o procedimento de apuração de ato infracional consistem em boletim de ocorrência, oitiva do adolescente e testemunhas realizada na Delegacia de Polícia, certidão de antecedentes infracionais, termo de oitiva informal do adolescente no Ministério Público e sentença.

Desse modo, verifica-se que tais documentos não permitem extrair elementos do contexto social, familiar e econômico do adolescente em conflito com a Lei e, consequentemente não há como aferir a eficácia social, apenas informações sobre a idade, sexo, profissão, nível de educação, tipificação da infração penal, medida socioeducativa recebida e existência de registros de infrações perpetradas pelos adolescentes.

Em relação ao Plano Individual de Atendimento, em que pese estabelecer as metas a serem cumpridas pelo socioeducando, constatou-se a ausência de informações, ou informações insuficientes acerca do perfil do adolescente em conflito com a Lei, tais como os motivos que o levaram para prática de ato infracional, condição financeira da família, contexto social e financeiro do núcleo familiar, etc.

Dessa forma, é necessária a descrição completa do contexto social, familiar e econômico no qual o adolescente está submetido, para que, caso constatada situação de risco, haja medidas/encaminhamentos necessários à espécie para cessar eventual situação de vulnerabilidade que o adolescente esteja vivenciando, tais como a concessão de cestas básicas para a manutenção da família, incluí-la em quaisquer programas de apoio disponíveis no município, entre outros.

Outrossim, constatou-se que em alguns planos individuais de atendimentos, a equipe orientou o adolescente e seus familiares a respeito de como resolver os conflitos familiares. Porém, como a orientação feita pela equipe não possui rigor para alterar o contexto do grupo familiar, o adolescente e seus familiares não foram impelidos a cumprirem a orientação. As orientações somente serão seguidas conforme vontade deles e também com o auxílio e intervenção do Poder Público por intermédio de serviços e programas socioassistenciais para fortalecer os vínculos familiares e sanar as vulnerabilidades existentes no núcleo familiar.

Por outro lado, averiguou-se que em um dos planos individuais de atendimento, a equipe responsável encaminhou o adolescente e sua genitora para inscrição do curso gratuito de formação profissional do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), para complementação posterior da renda familiar. No entanto, não foi

possível efetuar a inscrição dos mesmos, pois o referido programa foi cancelado no município, frustrando as expectativas e metas previstas no plano de atendimento do socioeducando.

Ademais, inferiu-se que transcorre um prazo médio de um ano para o procedimento estabelecido ao artigo 39 da Lei 12.594/2012 (SINASE)182, que trata da execução de medida socioeducativa de meio aberto ou fechado, pois de acordo com a tabela de fl. 24, decorreu alguns meses para que o adolescente seja submetido ao plano individual de atendimento desde da prolação da sentença homologatória da remissão ministerial com medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade.

Vislumbra-se, temporariamente, a aplicação meramente formal das medidas socioeducativas (de meio aberto) aplicadas aos adolescentes em conflito com a Lei, sem que estas sejam imediatamente executadas, pelos motivos desconhecidos desta pesquisa, gerando temporariamente a sensação da ausência de responsabilização imposta aos adolescentes.

Destaca-se o lapso superior decorrido entre a data da infração praticada pelo adolescente até o cumprimento integral da medida socioeducativa, sendo que a média de lapso temporal é de um ano a dois anos, gerando prejuízo aos próprios adolescentes, por não receberem em tempo as intervenções necessárias. Esse lapso lesa também a sociedade, pois ao ver o adolescente em conflito com a Lei sem ser responsabilizado pelo seu ato, gera a sensação de impunidade, daí algumas manifestações positivas a respeito da redução da maioridade penal.

De outro lado, verificou-se dos seis adolescentes que cumpriram a medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade, dois continuaram na manutenção da prática de ato infracional após o cumprimento da referida medida socioeducativa.

No que diz respeito ao resultado das medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes, sejam de advertência, reparação de dano e/ou prestação de serviços à comunidade, constatou-se que 75% deles não continuaram na manutenção da prática de ato infracional, depois de realizada consulta no site do Poder Judiciário, com o fito de encontrar eventuais registros de procedimentos de apuração de ato infracional.

No tocante ao teor da certidão de antecedentes criminais dos adolescentes, objeto desse objeto monográfico, infere-se a anotação dos registros dos atos infracionais praticado

182 BRASIL. Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (Sinase). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12594.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

pelos referidos adolescentes, mesmo quando receberam a remissão ministerial cumulada com medida socioeducativa.

Vale lembrar que, de acordo com o disposto no artigo 127 do Estatuto da Criança e do Adolescente183, a remissão não prevalece para efeito de antecedentes. O adolescente que recebe a remissão não pode ter registro na sua ficha de antecedentes, portanto, não permitindo lhe atribuir a comprovação da autoria daquela infração penal.

Por fim, denota-se que a análise da natureza pedagógica ficou prejudicada em razão dos limites das informações contidas nos autos. Da mesma forma, verificou-se a anotação indevida do número de autuação do procedimento de ato infracional na ficha de antecedentes dos adolescentes, quando estes receberam remissão ministerial cumulada com medida socioeducativa.

183 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 29 set. 2017.

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