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5. Actividades na sala de aula

5.6. Dramatização da obra A Galinha Xadrez

Para realizar esta actividade foi necessário a conjugação de vários elementos, nomeadamente a preparação dos actores, cenário, espaço cénico/espaço público e adereços. Embora, não fosse uma sala de espectáculos, procuramos (re)criar o espaço destinado à representação de forma a transmitir gosto pela arte de representar aos alunos. Por outro lado, procuramos despertar a curiosidade do “público” e aconchegá-

Podemos analisar a peça em dois momentos: anterior à dramatização e durante a dramatização.

Em relação ao primeiro momento constatámos que os alunos mostraram-se muito empenhados e motivados pela actividade, elaborando convites e outros acessórios necessários à peça, arranjando adereços e difundindo a peça a locais exteriores à escola, de tal modo que encarregados de educação e alguns familiares dos alunos vieram assistir à dramatização.

Quanto ao segundo momento constatámos que os alunos empenharam-se muito para que a representação resultasse em pleno. De referir que no final de cada sessão, o público infantil pediu para que voltassem a repetir a peça.

Ao entrar no mundo maravilhoso, em que o empírico e a fantasia se cruzam, a criança apreende valores essenciais à vida em sociedade de forma aprazível, pois o mundo do «faz de conta» é o mundo com o qual a criança mais se identifica. Como sabemos a literatura infantil é um meio através do qual o adulto comunica à criança vivências sociais. Dialogar com a criança neste sentido é ajudá-la a entender o mundo que a rodeia e fazê-la perceber da importância da literatura como abertura a «novas realidades».

Neste âmbito, não podemos ignorar o valor pedagógico da literatura, já sobejamente afirmado. Assim, consideramos a questão da recepção leitora, a fábula e as múltiplas linguagens como aspectos a ter em conta na ligação entre a criança e a literatura.

Levar a criança a aventurar-se nos «bosques da ficção» requer, em primeiro de tudo, a sua aceitação ao texto. Requer ainda uma criança activa, que se entrega ao texto, que o interpreta, cooperando com o autor, numa leitura construtiva, como alega Eco relativamente à Teoria da Cooperação Interpretativa. Para isso é necessário estimular- lhes a atenção. Permitir à criança esta possibilidade é contribuir para a dotar de novas experiências, novas realidades, novas visões, sobre o mundo. Este facto, possibilita à criança, por um lado, desenvolver o imaginário e a competência literária e, por outro, construir a sua personalidade de forma íntegra capaz de levá-la agir na sociedade de forma interveniente e justa.

Neste processo, é fulcral ouvir a criança. De acordo com a teoria da recepção, o leitor tem um papel preponderante na validação de uma obra de arte na medida em que é capaz de co-produzir no texto no acto da leitura.

Sabemos que quando um conto é contado a uma criança a mente dela reproduz outro. Tal facto, leva-nos à questão das múltiplas interpretações que se podem fazer de um texto. Dos textos produzidos pelas crianças neste estudo, podemos comprovar que cada criança interpretou as obras seleccionadas de forma muito própria, facto que advém do carácter plurissignificativo do texto literário ao possibilitar múltiplas interpretações. Interpretar, já o dissemos, não é só descodificar os signos da língua, é perceber o que se pretendeu transmitir e ser capaz de construir novos significados. Falamos da fidelidade ao texto, isto é, a capacidade de perceber a mensagem e de inferir sobre ela. Foi o que resultou das produções dos alunos. Uns valorizaram as personagens,

perceberam as mensagens dos contos – a existência do «eu» e do Outro. Ao estimular- lhes o imaginário, ressaltaram valores tão grandes como a amizade e a partilha, valores essenciais para a convivência social.

Assim, podemos constatar que a fábula representa uma potencialidade de leitura na medida em que não só estimula o imaginário como conduz à asserção de valores. A existência de animais humanizados, espelhando o comportamento humano na sua diversidade, institui no imaginário infantil um olhar mais humanista sobre si e o Outro porque desde tenra idade que a criança olha os animais afectuosamente.

Neste sentido, pensamos que a antropomorfização existente nas histórias, mais concretamente nas fábulas, ajuda a criança a compreender o mundo empírico, a realidade quotidiana, de forma mais aprazível. Entre a fantasia da criança e os sonhos dos adultos vivencia-se a realidade e constrói-se a personalidade daqueles que serão os homens de amanhã.

Correlativamente ao que já foi referido, subjaz a importância das múltiplas linguagens. Como sabemos a percepção do mundo pela criança é exteriorizada pelas múltiplas linguagens que ela realiza.

É pelo rabisco, pelo desenho, no brincar ao «faz de conta», que a criança expressa as suas ideias, as suas vivências e torna claro o que parecia obscuro. O que para nós adultos os rabiscos são só rabiscos, para a criança os rabiscos enchem-se de significado porque representam algo. Este facto permite-nos realçar a importância da ligação existente entre linguagem plástica e verbal, na medida em que para a criança a linguagem plástica ajuda a tornar compreensível a linguagem verbal. De certa forma, é um meio que ajuda a criança a arrumar a sua casa interior. Tal facto, constatamos pela existência de personagens imaginárias nos desenhos dos alunos, como por exemplo, as Galinhas Ruiva e Xadrez, o Pato Barato, o Rato Rota, como suporte da linguagem verbal.

Deste nosso olhar sobre o universo literário consideramos importante enfatizar a necessidade de mudar mentalidades face ao livro e à leitura para que a prática da leitura não seja uma mera leitura, mas uma aventura literária. Neste sentido, é emergente desbravar mentalidades no que concerne à infância, literatura e imaginário de modo a possibilitar à criança aceder a um mundo no qual irá explorar caminhos interiores necessários ao seu crescimento.

Defendemos a leitura mais frequente de fábulas como fio condutor de uma educação pelos valores. A antropomorfização, perante a qual a criança se move à

vontade, estimula não só o imaginário, como ajuda o desenvolvimento da criança, quer a nível da competência leitora ao inferir sobre os textos, quer a nível emocional ao resolver conflitos interiores.

Sabemos que actualmente este género literário caiu em desuso, talvez uma perda que ainda não tomamos verdadeiramente consciência da sua importância no campo educacional. Lembremos que os pedagogos e mestres da Antiguidade recorriam às fábulas para educar, moralizar e divertir.

Concluímos este trabalho cientes de que muito ficou por dizer neste universo literário, mais propriamente o infantil, mas que nem por isso é de menor valor. Por ser infantil, é necessário um olhar atento e redobrado do adulto.

O nosso anseio é que as crianças tenham todo o tempo do mundo para serem crianças. Brincando, aprendendo. E, aprendendo brincando.