• Nenhum resultado encontrado

A DURAÇÃO DO TRABALHO, O TEMPO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR

A jornada de trabalho significa o número de horas diárias trabalhadas. São computadas na jornada de trabalho não só o tempo efetivamente trabalhado, mas também o tempo a disposição do empregador.

O art. 4º da CLT assevera:

Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada.

Nessa toada, no que concerne à consideração do tempo à disposição do empregador, o art. 58, § 2º da CLT, com a redação dada pela Lei 13.467/2017, prevê que:

Art. 58 - A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite.

(...)

§ 2º O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não

44

será computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do empregador.

Deixam de ser devidas assim, as horas in itinere ou de trajeto. Anteriormente,

esse mesmo dispositivo legal, com a redação dada pela lei 10.243/2001 previa que o tempo despendido pelo empregado até o seu local de trabalho, bem como seu retorno, não eram computados como jornada de trabalho, exceto quando se tratar de local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer condução.

Para que as hora de trajeto integrassem a jornada de trabalho, eram exigidos dois requisitos: local de trabalho de difícil acesso ou não servido por transporte público regular, e condução fornecida pelo empregador.

Insta frisar que a incompatibilidade entre horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público, era circunstancia que também gerava o

direito às horas in itinere, mas, a insuficiência do transporte público não ensejava o

pagamento da horas in itinere, e se houvesse transporte público regular em parte do

trajeto percorrido em condução da empresa, as horas in itinere remuneradas

limitavam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público, conforme a súmula 90, item II do TST:

Súmula nº 90 do TST

HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas as Súmulas nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-1) - Res.

129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de

trabalho. (ex-Súmula 90 - RA 80/1978, DJ 10.11.1978)

II - A incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas "in itinere". (ex-OJ nº 50 da SBDI-1 - inserida em 01.02.1995)

III - A mera insuficiência de transporte público não enseja o pagamento de horas "in itinere". (ex-Súmula nº 324 – Res. 16/1993, DJ 21.12.1993) IV - Se houver transporte público regular em parte do trajeto percorrido em condução da empresa, as horas "in itinere" remuneradas limitam-se ao trecho não alcançado pelo transporte público. (ex-Súmula nº 325 – Res. 17/1993, DJ21.12.1993)

V - Considerando que as horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo. (ex-OJ nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001).

45

Súmula nº 320 do TST

HORAS "IN ITINERE". OBRIGATORIEDADE DE CÔMPUTO NA JORNADA DE TRABALHO (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

O fato de o empregador cobrar, parcialmente ou não, importância pelo transporte fornecido, para local de difícil acesso ou não servido por transporte regular, não afasta o direito à percepção das horas "in itinere".

Como as horas in itinere, quando presentes os mencionados requisitos legais,

eram computados na jornada de trabalho, devendo ser remuneradas integralmente, sob pena de se admitir algo próximo ao labor sem a correspondente remuneração, como ocorre no trabalho forçado, que é análogo ao trabalho escravo, totalmente proibido no ordenamento jurídico brasileiro.

Há de se reiterar que é considerado como serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada (art. 4º da CLT).

Nessa esteira, sabendo que as horas in itinere eram computáveis na jornada

de trabalho, o tempo que ultrapassava a jornada legal, era considerado como

extraordinário, devendo sobre ele incidir o adicional respectivo, conforme o item V da súmula 90 do TST.

O art. 58, § 3º, acrescentado pela lei complementar 123/2006, previa que poderiam ser fixados, para as microempresas e empresas de pequeno porte, por meio de acordo ou convenção coletiva, em caso de transporte fornecido pelo empregador, em local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o tempo médio despendido pelo empregado, bem como a forma e a natureza da remuneração. Essa previsão foi revogada pelo art. 5º, inciso I, “a”, da lei 13.467/2017, cuja redação segue:

Art. 58 - A duração normal do trabalho, para os empregados em qualquer atividade privada, não excederá de 8 (oito) horas diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite.

(...)

§ 3o Poderão ser fixados, para as microempresas e empresas de pequeno porte, por meio de acordo ou convenção coletiva, em caso de transporte fornecido pelo empregador, em local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o tempo médio despendido pelo empregado, bem como a forma e a natureza da remuneração.

Art. 5º Revogam-se:

I - os seguintes dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),

aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943:

46

Anteriormente, mesmo não se tratando de microempresas e empresas de

pequeno porte, a jurisprudência admitia a fixação de quantidade de horas in itinere, a

serem remuneradas por meio de negociação coletiva de trabalho.

Apesar da tendência do Tribunal Superior do Trabalho fosse decidir pela

validade da fixação ou limitação, em termos razoáveis, da jornada in itinere, em norma

coletiva negociada, desde que observado o Princípio da Proporcionalidade entre o tempo fixado e aquele efetivamente gasto, a jurisprudência da referida corte

considerava inválida a simples supressão, de formai integral, do referido direito, ainda que

por meio de negociação coletiva de trabalho (GARCIA, 2017, p. 69).

De todo modo, o art. 58, §2º da CLT, com redação dada pela Lei 13.467/2017,

excluiu por completo o direito à remuneração das horas in itinere.

Em artigo denominado Supressão das Horas in itinere, Marina Quaglio Marques

(2018, p. 367 a 378), conclui, dentre outros pontos, que a reforma trabalhista, neste ponto atendeu ao clamor dos empresários, pois os empregados contratados a partir de 11/11/2017 não tem direito a receber a referida verba salarial ainda que o local de prestação de serviços seja de difícil acesso e o empregador forneça transporte. Isso inverteu o entendimento pacificado pela doutrina e a jurisprudência, mas trata-se de uma reforma lacunosa, gerando bastantes dúvidas e provocando mais insegurança jurídica.

Também em artigo denominado A Supressão das horas in itinere, Leandro

Antunes de Oliveira (2018, p. 379 a 387), destaca â nota técnica número 7 do Ministério Público do Trabalho atacando de forma fundamentada as arbitrariedades trazidas pela reforma trabalhista, na qual aponta violações à ordem constitucional, trazendo prejuízo ao equilíbrio da relação capital-trabalho, bem como facilitando as fraudes trabalhistas e a corrupção nas relações coletivas, somado ao aprofundamento da segurança jurídica. O autor cita como uma das principais consequências negativas

da reforma, o sepultamento das horas in itinere.

Documentos relacionados