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Entre os accidentes tão numerosos da hysteria, os mais simples são as perturbações da sensibilidade, não essas diminuições já estudadas sob o nome da anesthesia, mas perturbações mais accidentaes e mais penosas para o doente, consistindo as mais das vezes em alterações, ou exaggero da sensibilidade normal, conhecidas sob o nome de dysesthesias e hyperesthesias.

Muitas hystericas parecem ter uma percepção inexacta das impressões que lhes ferem os sentidos ; algumas vezes trata-se simplesmente d'uma consequência da sua anesthesia e assim dizem, por exemplo, que os alimentos não teem gosto; n'outras, porém, a transformação é mais completa, e assim, uma diz que tudo tem um cheiro a ether, outra queixa-se que a sopa tem um gosto de veneno, embora ella não o possa precisar; esta tem adoração pelo vermelho, aquella sente sensações anormaes quando lhe tocam certos objectos.

Uma doente de Gilles de la Tourette experimentava uma sensação de queimadura quando tocava o ouro e ti-

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nha mesmo signaes vermelhos n'esses pontos da pelle. (*) E' a esta perturbação da sensibilidade que se chama dysesthesia.

Talvez se possa fazer intervir, em certos casos, mnito especiaes, algum phenomeno eléctrico ou chimico; na maioria, porém, tracta-se de cousas mais simples.

Briquet dizia, que por muito extraordinários que pa- recessem certos appetites, tinham frequentes vezes uma origem e razão de ser. Assim, diz elle "uma mulher que achava delicia em comer carvão, começou por gostar pri- meiro da crosta do pão torrado. Supponho que não seria difflcil encontrar uma origem idêntica para muitos gostos bizarros.,,

Parece-nos, pois, fora de duvida, que estas perturba- ções de sensibidade se relacionam intimamente com aspreoc- cupações da doente e sobre tudo com as ideas fixas.

Pôde dizer-se ainda o mesmo d'outra ordem de phe- nomenos da sensibilidade; as hyperesthesias. N'este caso certos pontos do corpo parecem dotados d'uma sensibilidade tão delicada, que se tornam dolorosos á menor impressão. Acontece algumas vezes haver uma agudeza exaggerada de qualquer sentido, ou existirem certas dores, como na cabeça, ou ovários, que as hystericas sentem independente das idea fixas; são as hyperesthesias verdadeiras,

Ha uma outra categoria, as falsas, que não se podem attribuir a um exaggero de sensibilidade porque se encon- tram em pontos anesthesicos.

O menor contacto, n'um d'estes pontos, provoca vivas

dores, espasmos, ataques ou outro qualquer .accidente, quando a doente acompanhar com a vista o objecto que a toca,e não sentirá nada se estiver distrahida ou voltada para outro ponto. Estas hyperesthesias não podem encontrar ex- plicação a não ser nas ideas fixas.

Pôde ainda, talvez, explicar-se pelas ideas fixas, um certo numero de perturbações de movimento muito frequente na hysteria, a que se dá o nome de tiques e movimentos cho- reicos. As doentes executam, com os membros, uma serie de movimentos involuntários que de forma alguma podem suspender; sendo pequenos e distanciados chamam-se ti- ques, sendo grandes e frequentes, choreas.

Charcot assignalou na hysteria os tiques da face, sob o nome de espasmos rythmicos e espasmos respiratórios; La- sègue deixou uma bella descripção da tosse hysterica, e o bocejo, o soluço e o riso são bastante conhecidos para se agruparem, como exemplos aos precedentes. Os tiques da linguagem são ainda mais conhecidos.

As choreas hystericas desempenharam um papel im- portante na historia d'esta doença e não é difficil encon- trar uma grande variedade em todas as epidemias de pos- sessão.

O caracter predominante, n'estes movimentos tão va- riados, é a sua regularidade. Com tudo Charcot diz que se toda a chorea rythmica pôde ser, com segurança, diagnos- ticada de natureza hysterica, a inversa não é verdadeira.

Para demonstrar o caracter psychologico d'estes factos basta vêr que, na maior parte, são systematicos, o que basta para os distinguir dos espasmos ou convulsões loca- lisadas n'um musculo.

Um tique é um conjuncto de pequenos movimentos har-

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moniosamente combinados e que exprime alguma cousa, como o sobresalto do medo, ou gesto d'uma surpresa.

A chorea hysterica é a repetição regular d'uma acção.- são movimentos rotatórios, saltitantes, etc, e indicam a pro- fissão que a doente tinha em quanto pôde trabalhar.

Se a doente tinha sido costureira os movimentos cho- reicos serão os mesmos que se estivesse assentada á ma- china, ou a fazer outra cousa da sua arte.

A's ideas fixas estão, sem duvida, ligados phenomenos motores, do mesmo modo que phenomenos sensitivos ; os tiques e as choreas hystericas parecem uma outra manifes- tações das ideas fixas.

O s a t a q u e s

"As hysterica», dizia Briquet, estão sujeitas a serem acommettidas de tempo a tempo por um conjuncto de ac- cidentes especiaes e graves, que apparecem rapidamente e, depois d uma pequena duração, desapparecem com a mesma rapidez com que appareceram.

A este conjuncto de accidentes é o que se chama um ataque.,,

Os ataques são, pois, accidentes ou grupos de acciden- tes que sobreveem d'uma maneira aguda, e perturbam o es- pirito fazendo desapparecer a consciência que a doente tem da sua personalidade; são momentâneos e a sua duração nunca excede algumas horas; são periódicos e manifestam tendência a reproduzirem-se regularmente com os mesmos caracteres.

O ataque é um dos phenomenos mais communs na hysteria e attrahiu sempre a attenção dos observadores pelo seu caracter extranho e algumas vezes assustador, considerando-o como possessões diabólicas, como acciden- tes terríveis e capazes de comprometter a vida da doente.

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Vejamos em separado as principaes variedades de ata- ques começando pelo de Briquet e considerando-os apenas sob o ponto de vista de perturbações psychicas:

O ataque emocional, ou ataque de Briquet, também chamado pequeno ataque, é um conjuncto de phenomenos sensitivos e motores muito pouco complexos á primeira vista. As doentes levam as mãos á garganta, como para re- tirar uma bolla que as suffoca; isto acompanhado de sen- sações diversas, constitue o prodromo, a aura do ataque. Em seguida caem, perdem os sentidos, agitam-se em mo- vimentos desordenados e despertam, passado algum tempo, em geral n'uni periodo muito curto — um quarto d'hora — a chorar ou a gemer. Esta pequena crise de nervos varia muito com as doentes; mas podem reduzir-se a duas as for- mas principaes : a convulsiva 9 a syncopal.

O ataque convulsivo é carecterisado sobretudo por movimentos desordenados, que sobreveem depois da aura. As doentes tomam uma attitude particular, carecteristica ; tornam-se rígidas, curvando o dorso em forma de arco e apoiando-se sobre os pés e a cabeça, com o ventre levan- tado. Outras vezes, executam movimentos variados, fecham e abrem os olhos, serram os dentes, agitam os braços, ferindo ao acaso os objectos próximos, soltam gritos, a respiração é ruidosa, e passado pouco tempo, a doente socega brusca- mente, olhando com espanto as pessoas que a rodeam e perguntam o que se acaba de passar.

Na forma syncopal, muito menos frequente, depois da aura, a hysterica sente-se enfraquecer, desmaiar; não tem convulsões, permanece immovel, com os tíhos semi-cérra- dos e os membros flácidos.

mente physicos e todavia é facil de constatar o papel im- portante que os phenomenos psychologies desempenham na sua formação, e mesmo na sua reproducção. "Quasi sem- pre o primeiro ataque vem depois d'uma emoção moral viva,, diz Pitres. E' provável que, conhecendo melhor o principio d'estes accidentes em todas as hystericas, se po- desse dizer que era sempre assim.

Uma das causas provocadoras da crise é a dòr ; mas se algumas vezes se tracta d'uma dôr physica, o maior nu- mero é sem duvida uma dôr moral. Uma emoção, uma sur- preza, o medo, o terror, a cólera, são a grande causa dos ataques.

Poderá dizer-se que os ataques continuam, apesar da emoção obrservada no primeiro, não se observar nos se- guintes.

Não se reproduzirá em cada ataque a emoção primi- tiva?

Em muitos casos pode-se reconhecer este facto pela attitude, gestos e movimentos, durante o ataque, que são tão significativos a ponto de recordar a natureza da emo- ção inicial : dôr, cólera, medo ou terror.

Quando o pequeno ataque convulsivo não é por si bem característico, temos os phenomenos phychologicos, que se manifestam ainda durante o período que o precede—durante a aura. Os phenomenos psychologies da aura mostram evi- dentemente a repetição da emoção original.

As difficuldades crescem quando a doente não tem uma aura psychica tão prolongada, nem tão nitida ; mas n'este caso póde-se, muitas vezes ainda, descobrir a emoção, exa- minando a natureza das causas que provocam facilmente a reproducção do ataque, "Um homem, a quem o medo pro-

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duzido por um incêndio despertou o primeiro ataque de hysteria, cahia, com um novo, todas as vezes que visse um phosphoro acceso ou um papel vermelho e gritava por soccorro, procurando salvar-se„. (') -; i

Não se reproduziria aqui a emoção que sentiu, quando presenceou o incêndio ?

Emflm doentes ha a quem falta inteiramente a idea da emoção. Não se deve, por estes factos, negar a sua exis- tência porque pôde existir n'um estado subconsciente, e militam em favor d'esta hypothèse os ataques nocturnos pro- vocados por sonhos — "são causados por sonhos pavorosos relacionados com o choque moral que determinuo n'elles o primeiro ataque,,. (2)

Em conclusão pôde dizer-se, e isto é o mais impor- tante sob o ponto de vista da hysteria, que no ataque ha uma emoção devida ao reapparecimento d'uma idea fixa e é essa idea fixa que o provoca.

Uma segunda forma de ataques é produzida pelos ti- ques, conhecidos ainda sob o nome de clownismo.

Estes accidentes em logar de se apresentarem isola- damente como durante a vigília da doente, podem reu- niï-se e condensar-se, por assim dizer, durante um certo momento e constituir um ataque.

Uma terceira categoria, em que os phenomenos emo- cionaes e os movimentos são reduzidos ao minimo, consti- tue os extasis. As doentes permanecem quasi immoveis, al- gumas vezes completamente inertes, parecendo não ter a idea do movimento.

(*) P. Jannet. O C. Féré.

Não é raro encontrar as hystericas immoveis, com os olhos fixos, as mais das vezes abertos ou semicerrados, deixando de quando em quando correr uma lagrima ou mover as pálpebras; raras vezes ainda os olhos estão fe- chados, a boca aberta, sem se poder obter d'ellas uma res- posta. Algumas parecem despertar subitamente se alguém as agita, outras só saem d'aquelle estado expontaneamente passado tempo.

Em algumas esta espécie de somno cómbina-se com os ataques convulsivos.

Estudos aprofundados, com o fim de penetrar no se- gredo d'estes phenomenos, tem permittido reconhecer que o espirito das doentas está longe de ser inteiramente ina- ctivo e vasio durante os ataques, mas que é, pelo con- trario, obsecado por uma quantidade de. phenomenos psy- chologicos, antes d'ordem intellectual do que de ordem moral.

Estes ataques são uma espécie de "crise de ideas» se assim se pôde dizer. As doentes não estão sem consciên- cia, sem pensamento ; pelo contrario, estão absorvidas por um pensamento obsecante, que lhes enche o pequeno campo da consciência. A sua insensibilidade apparente é uma anesthesia por distracção devida ás ideas que estorvam o seu fraco pensamento.

Estas ideas apresentam-se quasi sempre sob a forma de imagens extremamente vivas que dão á doente a illusão completa da realidade.

Ha varias formas d'esté género de ataques.

N'um grupo entram as doentes que não manifestam, de forma alguma, as suas ideas; parece que dormem e tem-se mesmo chamado a taes ataques : somno hysterico.

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A outro grupo pertencem as doentes muito curiosas, que exprimem, em parte, a sua allucinação por attitudes es- peciaes.

N'um terceiro e ultimo estão comprehendidas as que exprimem verbalmente a idea que as domina.

Resta finalmente a quarta ordem de ataques, o ataque completo, o de Charcot ou grande ataque.

Para termos uma descripção d'esté ataque basta reunir n'uma só as formas até aqui descriptas. A combinação, a mais simples, encontra-se quando dous ataques de natureza différente, causados por phenomenos psychologies diversos e independentes, se justapõem, se succedem e parecem constituir a mesma crise. Assim a primeira phase do grande ataque, o período epileptoide, parece corresponder, pelo menos em parle, ao ataque emocional.

A segunda phase, o periodo de clownismo, com seus grandes movimentos, regularmente rythmicos, lembra os tiques, as contursões extranhas, tão frequentes nas hysteri- cas, que repetem indefinidamente um movimento, desde que o comecem.

A terceira e quarta phase, o período das altitudes pas- sionaes e do delírio, não são mais do que variedades dos extasis nas diferentes formas.

S o m n a m b u l i s m e e delírios

N'este capitulo notarei, muito em resumo, as relações entre o somnambulismo e a hysteria, visto que desempeha um papel importante na pathologia d'esta doença e é o termo, a conclusão, d'um grande numero de ideas fixas, subcon- scientes.

E' um facto de observação popular que as bystericas podem entrar em estados psychicos anormaes, cujo caracter principale ode serem estranhos, extraordinários, muito dif- férentes dos normaes.

Parece-nos que não se pôde descobrir na attitude do sujeito, no estado das funeções orgânicas, nem ainda nas modificações da sensibilidade, intendimento e vontade, um caracter constante, sempre o mesmo, que possa separar o somnambulismo do estado de vigilia.

Todos os caracteres propostos estão longe de serem constantes no somnambulismo e encontram-se na vigilia muito frequentemente.

O somnambulismo é um estado anormal, distincto da vida regular do sujeito.

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Sendo­nos apresentado uni individuo que se possa exa­ minar apenas n'um só momento da sua vida, é impossível dizer em que estado se encontra; torna­se necessário, para o conhecer, poder comparar o seu estado com a vida nor­ mal e reconhecer, n'esse momento, um outro equilíbrio dos phenomenos psychologies. O somnambulismo é uma existência secundaria, que não tem outro caracter geral se­ não o ser secundário.

Esta differença dos dous estados pode ser muito visí­ vel: certos sujeitos anesthesicos, paralyticus, contracturados, no estado de vigília, não o são no estado do somnambulis­ mo; mas estes casos são muito raros e a differença psy­ chica, é as mais das vezes, tão insignificante, que seria difficil de apreciar, se não se fizesse acompanhar d'um phe­ nomeno bem apparente: a scisão na continuidade das ideas, pelo menos das ideas reflexas e pessoaes.

A memoria é uma faculdade delicada que se perturba muito facilmente, com modificações ás vezes imperceptíveis para a consciência.

Aò despertar do estado secundário, a doente não se recordará dos acontecimentos decorridos durante este pe­ ríodo, e não se poderá recordar em quanto não entrar de novo no estado em que tiveram logar os acontecimentos. Ora estas modificações psychologicas, embora reaes, só merecem o nome de somanmbulismo, quando forem sufficientes para arrastar comsigo esta perturbação da memoria; d'esta for­ ma só se pôde dar o nome de somnambulismo a estados em que o sujeito possue ideas particulares que não encon­ trará depois, entrando no seu estado normal. ,

O esquecimento no acto de despertar é o caracter essencial do somnambulismo propriamente dito. ■'­,.

Falta ajunctar um único caracter para precisar esta difinição e distinguir o somnambulisme» dos ataques e dos extasis. Nos ataques o sujeito limita-se. por assim dizer, a sonhar e a exprimir o seu sonho; não percebe o mundo exterior, não se adapta a elle.

No somnambulismo observa-se um desenvolvimento intellectual mais considerável que permitte ao doente ver, entender d'uma maneira consciente, e perceber as impres- sões que actuam sobre os sentidos. :

Tem pois o estado sômnamboíico dous caracteres; uma perturbação da memoria, relativamente ao estado normal, e um certo grau d'intelligencia, durante o estado anormal que permittem, até certo ponto, a percepção dos phenomenos exteriores. Cada um d estes dous caractères é susceptível de variações numerosas e dá margem a classificações di- versas do somnambulismo.

A interpretação d'estes phenomenos, é da mesma natu- reza das amnesias hystericus já descriptas : nem a conser- vação, nem a reproducção das imagens desapparece e tracta-se apenas d'uma perturbação da percepção pessoal. O individuo é incapaz de reunir á personalidade presente as ideas que tinha no estado de do somnambulismo; eis o facto essencial. Para ver quanto estas perturbações são análogas ás distracções, basta ter presente como a sugges- tão, ou um pequeno esforço da attenção, fazem apparecer momentaneamente essas ideas.

Estas perturbações dependem do aperto permanente do campo da consciência, do enfraquecimento da synthèse psychologica.

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tima que existe eatre o somnambulisme» e todos os outros symptomas da hysteria.

Em primeiro logar o somnambulismo produz-se quasi sempre em indivíduos que apresentam já o conjuncto de symptomas pertencentes á hysteria.

"E' a hysteria que fornece o maior numero de somnam- bulos artificiaes,,. (') "O maior numero dos somnambulos são mulheres hystericas,,. Q Seria um nunca acabar de citar autores que perfilham esta opinião.

Não é verdade que o somnambulismo natural e artifi- cial desapparece em muitas doentes depois de curadas da hysteria?

À escriptura automática só é possível em indivíduos que tenham o braço direito anesthesico, ou capazes duma distracção momentânea extrema, que lhes faça ignorar os movimentos da mão, sem que comtudo esta anesthesia e esta distracção suprimam os movimentos e as sensações ele- mentares. Onde se encontram taes caracteres a não ser nas hystericas?

Emfim existem phenomenos hystericus de que o som- nambulismo se approxima ainda mais; as fugas de que não se recordam ao despertar, os sonhos intermináveis, os ex- tasis, as catalepsias etc., não são mais do que graus ou for- mas variadas do somnambulismo, reapparições mais ou menos completas da existência secundaria.

Charcot nota mesmo as relações estreitas que existem entre o estado somnambolico e o ataque hysterico.

f) General Noizet. Le somnambulisme. (2) Briquet.

0 somnambulisme» liga-se pois d'uma maneira estreita a todos os phenomenos da hysteria.

Bem que a maior parte dos symptomas hystericus se- jam o resultado de desordens intellectuaes, nem por isso chegam a constituir delírios.

A percepção dos objectos exteriores e das relações sociaes, parece conservar-se suffi ci en temente correcta para que a doente possa viver a vida commum.

As illusões e os sonhos parecem desenvolver-se fora da consciência, perturbando-a muito pouco.

Nem sempre, porém, acontece assim; algumas vezes e de tempos a tempos, as perturbações intellectuaes au- gmentam um pouco, e alteram a consciência perturbando as suas relações, a sua correspondência com o meio exte- rior e social, alteração que constitue um verdadeiro delí- rio.

Sem duvida que estes delírios se encontram, e muito frequentemente nas hystericas ; mas serão elles acciden- taes, consecutivas a outra doença mental que muito fa- cilmente se pôde ajuntar á hysteria, ou farão parte dos symptomas hystericus propriamente ditos? Poremos de parte esta questão.

CONCLUSÃO

A HYSTERIA NO PONTO DK VISTA PSYCHOLOGICO

Lasègue que estava convencido da existência de leis rigorosas nas manifestações hystericas, não procurou definir esta doença e diz elle: "A definição de hysteria não foi dada nem jamais o será. Os symptomas não tem uma constância suffleiente, não são conformes, nem eguaes

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em duração, em intensidade para que um typo, mesmo descriptivo, os possa abranger a todos,,.

O conselho de Lasègue foi seguido pelos auctores mais competentes que não se quizeram pronunciar sobre a definição d'esta doença, limitando-se a mostrar um grande numero de caracteres, que permittissem reconhe- cer a natureza hysterica d'um phenomeno.

Mas será realmente impossível dar hoje uma defini- ção sufficients de hysteria? Não tem ella algum caracter commum, que predomine sobre todos os outros factos?. A ser assim, a hysteria não valeria a pena estudal-a como uma doença distincta.

Uma definição não pôde reunir os factos, sem os agrupar em volta d*um phenomeno dominante ; isto é, tomando hypotheticamente um caracter como principal e mostrando tão claramente, quanto possível, que todos os outros dependem d'elle.

. Nas definições antigas, o caracter escolhido, como mais essencial, era quasi sempre um caracter physico, uma modificação real, ou supposta, dos phenomenos phy- siologicos elementares. Durante muito tempo os passeios do utero atravez do corpo, e as suas dores, foram o centro em volta do qual gravitavam todos os outros sym- ptomas.

Mais tarde, um outro phenomeno considerado egual- mente como um facto physico, o ataque, tornou-se predo- minante e a hysteria foi considerada uma doença de convulsões.

Depois um grande numero de observadores, não po- dendo agrupar um certo numero de phenomenos cerebraes psychologicos, ha tanto tempo observados, em volta d'um

phehomeno physiologico, procuraram um symptoma, capaz de coordenar um grande numero de factos. As definições de hysteria tranformaram-se e tornaram-se psychologi-

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