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CAPÍTULO I VIVÊNCIAS E ORIGEM DA PESQUISA: BRINCAR E JOGAR

CAPÍTULO 5 RESULTADOS E ANÁLISES: A APROPRIAÇÃO DO JOGO

3. E como foi pesquisar a apropriação do jogo?

É nesta relação entre a prática e a teoria que se constrói também o saber docente.

Ghedin, 2008, p. 134.

Ao relembrar minha historicidade e as relações construídas a partir do contexto lúdico, reflito sobre minha constituição profissional e meu caminhar até aqui. Relaciono esses aspectos vividos, comparando-os aos andaimes e a cada jogada em um jogo: aos andaimes remeto a força e a coragem para subi-los processualmente ao longo de minha vida, alcançando a cada passo degraus não conhecidos e cheios de novas possibilidades e, quanto a cada jogada, faço referência às descobertas, medos, crescimentos e também o lidar com a imprevisibilidade, que permeia cada instante de nossa vida.

Meu caminhar foi constituído a partir de desafios internos e da busca de soluções. Desafios e “cartas surpresas” que ao longo dessa pesquisa impulsionaram a descobrir- me e tomar decisões diante da imprevisibilidade. Constituir-me como professora e também pesquisadora é um processo permanente de entrega, tentativas, resgates, autoconhecimento e possibilidades. E, durante esses momentos, torna-se inevitável se abrir ao mundo, olhar para si e escutar, pois mesmo diante da construção da dissertação somos levados a resgatar nossa visão de mundo. Escrevê-la não foi um processo fácil, porém prazeroso. Pesquisar um objeto e analisá-lo implica aproximação também consigo mesmo em outros aspectos da vida e o reconhecimento de nossos limites, do tempo, da busca de conhecimentos, chegar ao final desse processo desejando a continuidade desse fazer.

Investigar o jogo de regras para o favorecimento da aprendizagem matemática foi fantástico, apesar de compreender que este foi um ato difícil. Fantástico porque os questionamentos práticos acerca do jogo de regras advindos do meu fazer pedagógico foram reveladores e cheios de novas aprendizagens nesse estudo e difícil, pois o jogo se relaciona às dimensões reais e imaginárias, à busca incessante e à relação com a pesquisa, que não é neutra. Pelo contrário, esse caminho é cheio de afeições, desejos, imprevisibilidades e descobertas. A pesquisa foi um processo de diálogo, de trocas e compartilhamento de idéias e sentimentos. Envolvi-me bastante na relação com a professora e as crianças, bem como com os jogos existentes na escola, afinal, não era somente alguém que estava ali para pesquisar.

Afinal, estamos sempre aprendendo e recomeçando o jogo, é o que pude perceber ao longo de minha vida profissional e também na pesquisa. Foi encantador pesquisar o jogo de regras, desde o primeiro contato na escola (espaço aberto à

pesquisa), as jogadas das crianças, o diálogo, o acompanhamento do processo de elaboração e reelaboração do fazer pedagógico da professora diante das atividades com jogos, propiciaram momentos ricos em vivências e reflexões acerca da ludicidade no ambiente escolar.

A pesquisa teve seus desafios teóricos, metodológicos, porém, contou com um sujeito, “carta surpresa” ao longo de cada encontro. Sujeito esse também que se abriu para si e para o outro, possibilitando a realização do estudo. Temos, às vezes, uma realidade institucional que diz não ao novo, desse modo, dizer sim as possibilidades pode abrir caminhos desconhecidos e interessantes. Assim como no jogo, vibramos e também nos frustramos com a educação, porém, temos o desejo e o desafio como impulsionadores da busca e das tentativas. Retomo os questionamentos levantados e, como nada está pronto, consequentemente, outros emergirão a partir dessa pesquisa:

• Por meio do jogo de regras, como é possível o professor desenvolver novas estratégias para ligar a elaboração do conhecimento matemático às outras atividades? Como o professor pode registrar a partir do jogo?

• E o processo de avaliação por meio do jogo de regras, como pode ser norteado?

• O professor além de levar jogos de regras para a sala de aula, não poderia também desenvolvê-los junto às crianças?

• Será que a formação inicial e continuada de professores oferece e discute momentos nos quais há um olhar sobre este aspecto da infância? Ao nos tornarmos adultos não brincamos, não jogamos mais, como podemos pensar essa relação entre o jogo e o conhecimento tratado na escola?

• Qual a concepção dos pais acerca dessa “nova” matemática, cheia de vida e possibilidades de construção do conhecimento? Dessa forma, como conceber como séria a escola que se constitui a partir do jogo da criança promovido pela professora?

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