CAPÍTULO I VIVÊNCIAS E ORIGEM DA PESQUISA: BRINCAR E JOGAR
Apêndice 23: Exemplo de organização dos indicadores da pesquisa
Entrevista com a professora após a atividade com os jogos “casa da matemática: em busca do ábaco perdido”, “jogo do sorvete” e “corrida dos gulosos”
CONTEXTO ANALISE
PR: Eles estavam super curiosos, interessados em
conhecer os jogos. E... ficaram empolgados... assim,
é ... Parece-me que alguns já tinham lido... é... da vez
que eu fui jogar com a outra professora da 2ª série.
*Jogar.jogo – a professora fala do interesse das
crianças quanto ao jogo.
*Jogo.apropriação – a professora se apropriou do
jogo e fez suas observações com as crianças.
PR: É... e tem os desafios que puxam um
pouquinho mais as crianças e se não tiver um adulto perto pra incentivar, mediar... talvez eles não
tivessem dado conta e ...ele não quis participar.
*Olhar.criança – a professora observa as crianças e
pensa sobre os desafios do jogo.
*Jogo.mediação – a professora fala sobre a
necessidade de mediação durante o jogo. PR: Houve interesse. O Artur ao menos abriu um
sorriso, uma coisa assim... pra conhecer o “jogo do sorvete”. E o outro foi a “corrida dos gulosos”. Achei ótimo! Ele é um jogo simples para eles fazerem, jogarem sozinhos, sem precisar da mediação. Tinham esse entendimento em relação ao
dinheiro... reais e centavos. Levei este jogo para a 3ª série e eles jogaram sem a minha mediação.
*Jogo.prazer – a professora percebe nas crianças o
interesse pelo jogo, pelo sentido que lê faz para as crianças.
*Jogo.autonomia – a professora percebe a
autonomia das crianças ao jogar.
*Jogo.conhecimento matemático – a professora
reúne conhecimento matemático e jogo. PR: Estava na “casa da matemática”. Tinham várias
crianças--- tinha o Márcio, ele é inseguro demais,
mas aí ele vai fazer e resolver super tranquilo. É uma criança muito esperta, muito inteligente, mas num primeiro momento ele nega... --- A Júnia se entrega muito aos desafios e às vezes eu acho que ela acaba se cansando enquanto joga. Ela queria se divertir mais e não ter que resolver muito (rs)--- O Marcos é muito bom na matemática, mas aquele dia eu tive que falar muito com ele... ele estava
muito impaciente, tive que mediar no
comportamento, nas regras para ele obedecer, entendeu? É uma criança que é tranquila na
matemática, mas você tem que “tá” perto para ele prestar atenção. --- A Bianca adorou. Ela adora
desafios, ela gosta, não tem receios. E o Ricardo que ficou juiz, mas aquele juiz (rs) ficou sem fazer nada... (rs) ele é tranquilão.
*Olhar.criança – a professora reflete sobre cada
criança, incluindo não só o conhecimento matemático, mas o que permeia o jogo.
*Jogo.ZDP – a professora percebe o desafio
matemático como algo que exige mais da criança.
*Jogo. mediação – a professora fala sobre a
mediação realizada com as crianças.
*Experimentar.papéis – a professora reflete sobre a
experimentação de papéis na sala de aula.
P: Em relação a interação entre as crianças mesmo, você percebeu algum tipo de interação? PR: E... Desta vez o Marcos estava mais pra
brincar mesmo... ele não ajudou o outro, não. O Marcos estava brincando...
P: Mas ele estava brincando com o material criando dentro do contexto.
PR:--- É... a gente tem que prestar mais atenção
mesmo nisso, eu estava olhando só quem estava resolvendo.
*Percepção.brincar – a professora percebe o brincar
durante a atividade das crianças.
*Jogo.olhar.ouvir – a professora percebe a
necessidade de um olhar mais cuidadoso e próximo à criança durante o jogo.
CONTEXTO ANALISE
P: Em termos de aprendizagem matemática... foi possível você acompanhar?
PR: Foi... foi. Os desafios aqui eram maiores, a
criança tinha que colocar a mão na massa, usar o material... para resolver.
*Jogo.ZDP – a professora percebe a necessidade de
agir sobre a ZDP e utilizar o material concreto.
P: Por exemplo, a divisão do Márcio, ele disse: _Ah, eu não sei dividir e você foi lá e fez a mediação.
PR: Então, foi fácil, ele foi lá e dividiu... Ele usou o material dourado --- ele ia trocar as barrinhas pelos
toquinhos, estava contando de 5 em 5, aí eu perguntei pra ele--- eu devia ter deixado ele trocar, na hora a gente fica querendo adiantar tudo.(rs)
*Jogo.mediação – a professora incentiva a criança na
tentativa de resolução.
*Controle.reflexão – a professora reflete sobre sua
práxis.
P: Lembra na hora que ela resolveu a subtração tirando do menor o maior?
PR: Ah, lembro... inclusive estes dias eu vi o
mesmo caso da resolução da subtração no caderno dela. Mas ela resolveu... ali ela resolveu e ficou em dúvida, ela tirou duas quantidades... aí você mediou. Ela é tranquila quanto ao manuseio.---
Ela tirou o primeiro número que era quatrocentos e pouco e já retirou dele o outro número (que era maior)
*Olhar.criança – a professora reflete sobre o
conhecimento da criança e seus avanços na aprendizagem.
*Intervenção.pesquisador – a professora lembra do
momento no qual intervi na jogada e mediei a criança.
P: Num momento era juiz e outro ficava ali olhando
o jogo... --- talvez trocar ele de papéis para observar melhor... De forma geral, nessa atividade o
que é que você viu de positivo? Conseguiu alcançar seus objetivos?
PR: Eu achei. Apesar de a Bianca querer deixar num determinado momento... eu achei super produtivo,
tiveram de movimentar mais, pensar mais pra resolver os desafios. Alguns desafios que eles acreditassem que não conseguissem resolverem sozinhos ali... Ah, não, não dou conta! Tentaram resolver e resolveram. Eu gostei porque a gente
acaba com esse medo deles de pensar que não dão conta ---
* Intervenção.pesquisador – sugiro momentos no
jogo nos quais a professora pode sugerir troca de papéis para conhecer melhor as crianças.
* Jogo.ZDP – a professora considera a participação
das crianças e a necessidade de desafios.
*Jogo.avaliação – a professora avalia a aprendizagem e o conhecimento das crianças através do jogo, incentivando-as a tentar sem medos.
*Jogo.mediação – a professora incentiva as crianças
a tentarem resolver os desafios sem medos.
PR: A questão é a seguinte... o tempo que a gente está destinando ao jogo está sendo muito pouco. A gente vai ter que aumentar, não deu tempo de terminar o jogo. Foi uma hora não foi?
P: Foi uma hora e 20. --- Agora o brincar... tudo aconteceu, mas não deu tempo de terminar o jogo. --- e brincar com o ábaco.---
PR: --- Agora tenho que apresentar pra eles. Talvez
peça a Bianca pra apresentar pra eles... alguma coisa assim... que gere o conhecimento... de como a gente usa.--- Eu posso partir do que ela fez,
apresentar da forma delas e ir questionando as crianças.--- A gente não precisa apresentar pronto
e acabado, pode ser construído.
*Jogo.reflexão.ação – a professora reflete sobre sua
atuação e organização do trabalho pedagógico com o jogo.
*Olhar.criança – a professora tem um olhar
diferenciado sobre a criança, considerando seu conhecimento.
*Interação.crianças – a professora reflete sobre sua
práxis e tenta valorizar uma relação mais próxima as crianças.
P: E em relação ao que estava planejado o que modificou?
PR: Eu vou ter que planejar um jogo por grupo...
Separar os grupos e cada semana estar com um grupo... o tempo do jogo é maior do que a gente prevê, né.---
*Interação.jogo – a professora procura favorecer a
interação das crianças em grupos diversos.
*Jogo.reflexão.ação – a professora reflete sobre sua
práxis e planeja mudanças.
*Jogo.imprevisibilidade – a professora percebe a
CONTEXTO ANALISE
P: Eu observei no jogo que eles não pensaram na estratégia de para onde deixariam a cabeça da tartaruga virada, indicando uma direção.---
PR: Mas aí é uma questão... não está escrito, eles tem que pensar isso.
* Jogo.ZDP – a professora fala da importância de agir
sobre a ZDP; a criança ver o que não está explícito.
P: Se você fosse trabalhar com aquele jogo de novo, você modificaria alguma coisa?
PR: Esse do jogo da matemática, depois que eu
sentei e joguei é que percebi que as operações eram para ser resolvidas no ábaco e eu não tive esse entendimento... então talvez isso, ter usado o
ábaco. A questão de ter chamado atenção do
ábaco não era só no final, seria no processo todo... Mas aí por que eu não coloquei o ábaco? Porque eles não conheciam.
*Jogo.reflexão.ação – a professora reflete sobre sua
ação a partir do momento que vivencia o jogo.
* Jogo.imprevisibilidade – a professora tenta se justificar quanto à descoberta feita a partir do momento que jogou.
--- Observar o jogo porque a gente não “tá”
trabalhando só aquilo ali [referindo a matemática] tem mais coisas envolvidas. Por isso que tem que
“tá” atento e observar mais. O jogo te dá mil
possibilidades de trabalhar com o jogo.
*Olhar.criança – a professora percebe que o jogo
permite conhecer a criança em sua integralidade, não trabalha apenas o conhecimento matemático.
*Avaliação.jogo – a professora percebe as inúmeras
possibilidades integradas ao jogo.
PR: Da outra vez eu queria porque queria que eles jogassem e dessa vez eu deixei que eles se organizassem no grupo, cada grupo que abriu, mexeu na sua caixinha...
*Jogo.reflexão.ação – a professora reflete sobre seu
fazer pedagógico e vai mudando suas ações.
*Jogo.autonomia.criança – a professora viu que o
jogo propicia o desenvolvimento da autonomia infantil. P: Teve alguma coisa de forma geral que você
mudaria no contexto de sala de aula?
PR: Acho que o tempo. Eu tenho que me organizar
em relação à observação. Eu não posso ficar presa só em um grupo e ao mesmo tempo é necessário observar de mais perto. ---
*Jogo.reflexão.ação – a professora reflete sobre sua
práxis e procura mudanças.
*Jogo.avaliação – a professora percebe o jogo como
um momento de conhecimento e avaliação da criança.
*Jogo.olhar.criança – a professora percebe cada
criança e seu desenvolvimento como únicos.
*Jogo.imprevisibilidade – a professora fala de não
ser “pega de surpresa”, ainda não refletindo sobre a imprevisibilidade do jogo.