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3.1. D E QUE DIREITA ESTAMOS FALANDO ?

3.3.5. E CONOMIA E INFRAESTRUTURA

No que se refere especificamente à economia, é possível afirmar que esta é a parte do plano de governo

mais propositiva e que aparenta ter uma consistência técnica e programática mais sólida; não há aqui espaço para discursos propagandistas anti-esquerda ou teorias da conspiração, como observado nos outras dimensões do plano, mas sim uma concepção de estratégia económica a ser adotada no país, que obviamente é correlacionada a um espectro ideológico, mas a partir de um debate conceptual mais elevado.

O que é apontado como prioridade no plano é “gerar crescimento, oportunidades e emprego, retirando enormes contingentes da população da situação precária na qual se encontram” (página 51), a partir da estabilidade macroeconômica, evitando assim o desequilíbrio fiscal e situações de crise e descontrole da inflação a partir da manutenção do tripé macroeconômico de câmbio flexível, meta de inflação e meta fiscal, mas com uma maior flexibilidade cambial e ortodoxia fiscal.

Propõe-se reorganizar a área económica fazendo com que ela tenha dois organismos principais: o Ministério da Economia e o Banco Central, que seria independente – com diretoria com mandato fixo, metas de inflação e métricas de atuação –, mas alinhado ao primeiro. Na ideia de “enxugar” o Estado, o Ministério da Economia abarcaria as funções de outros três ministérios e uma secretaria.

Neste caminho, para aumentar a eficiência do Estado e o controle de gastos, propõe-se aplicar técnicas na gestão pública como “Orçamento Base Zero” e cortar privilégios, além de controlar a folha de pagamento do Governo Federal, promover cortes de despesas, redução de renúncias fiscais e realização de ativos públicos para reforçar a redução de dívida, com a meta de eliminar o déficit público no primeiro ano do mandato e converter em superávit no segundo ano.

Como pode ser observado, há no programa uma tendência privatista, que estaria diretamente relacionada com a perspectiva de redução das despesas com juros da dívida pública, uma vez que a desmobilização de ativos públicos, através de privatizações, concessões, venda de propriedades imobiliárias da União, devolução de recursos em instituições financeiras oficiais e extinção/privatização da maioria das empresas estatais (resguardando as que forem consideradas de caráter estratégico), teriam os recursos

52 obtidos condicionados para o pagamento da dívida, além de, na perspectiva do programa, as privatizações gerarem aumento na competição, com a entrada de novas empresas no mercado, que por fim acabaria por beneficiar o consumidor.

O plano também se baseia na maior abertura comercial, com a redução de alíquotas de importação e das barreiras não-tarifárias e constituição de novos acordos bilaterais internacionais; modernização da estrutura produtiva através do desenvolvimento e fortalecimento do mercado de capitais, estímulos à inovação e ao investimento em novas tecnologias por meio de políticas de depreciação acelerada e abertura comercial imediata a equipamentos necessários à migração para a indústria 4.0 e requalificação da força de trabalho para as demandas da “nova economia” e tecnologias de ponta; investimento, em parceria com instituições privadas do mercado de capitais, em “startups” e “scale-ups” de alto potencial; simplificação de abertura/fechamento de empresas através da centralização de todos os procedimentos burocráticos para este tipo de ação, em um prazo máximo de 30 dias, ou o início ou encerramento da empresa de forma automática.

Há duas reformas estruturais previstas no plano: a reforma da previdência, com a introdução paulatina do modelo de capitalização, de forma paralela ao atual modelo por repartição (escolha do modelo a cargo do beneficiário), com criação de um fundo para reforçar o financiamento do modelo antigo e redução de encargos trabalhistas para os optantes do novo; e a reforma tributária focada em unificar tributos e simplificar o sistema tributário através da gradativa redução da carga tributária, simplificação e unificação de tributos federais, descentralização e municipalização dos tributos, discriminação de receitas tributárias específicas para a previdência, introdução de mecanismos capazes de criar um sistema de imposto de renda negativo e melhorar a carga tributária brasileira.

Ainda no tópico que se refere à política económica do governo, é apresentada a proposta de renda mínima, acima do valor hoje ofertado no programa Bolsa Família (o qual seria aprimorado, assim como o Abono Salarial), criação de uma carteira de trabalho verde e amarela concomitante a tradicional carteira azul, sendo que na nova prevalece o contrato individual sobre a CLT e na antiga o atual ordenamento jurídico, e a proposição da permissão legal para a escolha entre sindicatos, sem o retorno do imposto sindical.

Em relação à infraestrutura brasileira, o diagnóstico do plano de governo é que ela é de baixa eficiência; para tanto são apresentados dados do “Global Competitiveness Report de 2017 do World Economic Forum, que, em 136 países, classifica o Brasil como 88º em ferrovias, 95º em aeroportos, 103º em rodovias, 106º em portos e 84º em oferta de energia. Assim, o caminho proposto para reverter o atual quadro passa por “desburocratizar, simplificar, privatizar, pensar de forma estratégica e integrada”, partindo do princípio que “havendo baixo risco regulatório, o Brasil poderá atrair uma grande quantidade de investimentos, gerando empregos e reduzindo o custo para seus usuários”.

53 Ao tratar da demanda específica de energia, o plano de governo considera que “as últimas gestões provocaram grave crise setorial” e que “o setor é extremamente centralizado e dependente de ações e decisões do governo”, sendo necessário um “choque liberal no setor”; uma das medidas desse choque liberal seria diminuir as “barreiras quase instransponíveis no licenciamento ambiental” para a instalação de “pequenas centrais hidroelétricas”, agilizando o processo para um prazo máximo de três meses. Em contrapartida, o plano de governo também promete investir em energia renovável, especialmente na região Nordeste, “a base de uma nova matriz energética limpa, renovável e democrática”, expandindo a produção de energia a partir desta matriz, bem como toda sua cadeia produtiva relacionada.

Em relação ao uso e produção de petróleo e gás no país, considera-se que após a descoberta da camada de petróleo no pré-sal, a regulação foi orientada pelo “estatismo”, gerando ineficiência, corrupção e pouco impacto positivo na indústria nacional; assim a Petrobras, segundo o programa, passará a praticar preços seguindo os mercados internacionais, bem como a competição no setor de óleo e gás será estimulada a partir da venda de parcela substancial de sua “capacidade de refino, varejo, transporte e outras atividades onde tenha poder de mercado”.

O plano de governo também prevê um papel estratégico do gás natural na matriz energética nacional, pensando na expansão combinada com as energias fotovoltaicas e eólicas, contribuindo na transição para reduzir as emissões de CO2. Para tanto, prevê “acabar com o monopólio da Petrobras sobre toda a cadeia de produção do combustível, mediante: desverticalização e desestatização do setor de gás natural; livre acesso e compartilhamento dos gasodutos de transporte; independência de distribuidoras e transportadoras de gás natural, não devendo estar atreladas aos interesses de uma única companhia; criação de um mercado atacadista de gás natural; incentivo à exploração não convencional, podendo ser praticada por pequenos produtores.

Sobre a demanda de infraestrutura para transporte terrestre o documento apenas constata que, segundo os dados de uma pesquisa da Confederação Nacional de Transporte (CNT), a infraestrutura rodoviária piorou, sendo que para cada mil quilômetros quadrados de área, apenas 3,4 quilômetros possuem infraestrutura ferroviária.

Em relação ao transporte aquático, observa-se que o investimento do governo federal em transporte hidroviário caiu 77% desde 2010, enquanto, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), foram movimentadas mais de 800 milhões de toneladas em cargas nos portos brasileiros. O plano de governo prevê melhorar a eficiência portuária para atender à demanda crescente do país, indo para além de melhorias nas estruturas portuárias, estabelecendo integração com uma vasta malha ferroviária. A meta, para a estrutura portuária, seria a redução de custos e prazos para embarque e desembarque, com objetivo de atingir patamares similares dos portos da Coréia do Sul (porto de Busan), do Japão (porto de Yokohama) e de Taiwan (porto de Kaohsiung).

54 Já em relação à aviação, os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), indicam que 98.9 milhões de passageiros foram transportados em 2017, uma alta de 2,93% em relação a 2016. A partir deste número, o plano de governo propõe atrair investimento para a modernização e expansão dos aeroportos, buscando um modelo de maior participação privada.