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2 E XCLUINDO O P ODER E STABELECIDO

A I MPLANTAÇÃO P RIMEIRAS M EDIDAS

2 E XCLUINDO O P ODER E STABELECIDO

O diretor experimentou o desafio de executar diretamente as ações de um projeto sob sua liderança política. Isto não significou, necessariamente, um benefício ou fator positivo. Mas foi o aspecto relevante quando se considera o conjunto de mudanças que o Projeto Escola-Padrão alcançou.

As possibilidades de uma ação desburocratizada e desvinculada de níveis hierárquicos marcou as primeiras ações dos diretores:

Não tinha atuação da DRE e DE. Eles não passavam as coisas para a DE, então eles não tinham como passar para a gente. As orientações eram em nível de Diário Oficial então a gente ia direto pra São Paulo. Os supervisores não tinham culpa disso (L.)

Quando pedíamos algo para algum supervisor ele dizia: liga pra São Paulo; pois o mesmo foi excluído do projeto em sua fase inicial. (A.)

... em relação a DRE a hora que você ouvia: vou ver o que esta acontecendo lá em cima... sentia que você sabia muito e a pessoa que estava bloqueando o serviço, não. Nas primeiras reuniões já se pode sentir que não dava pra contar com a DRE. A gente sentia que dava pra contar com a DE. (A.)

As reações das diretoras divergem quanto a esse momento em que se observa o rompimento no “tecido da rede” de ensino de relações de poder historicamente estabelecidas.

A ausência de instâncias intermediárias no momento da implantação do projeto ou a diminuição do poder de influência dessas instâncias, reorientaram as condições do clima organizacional dentro da S.E.

Essa reorientação estabelece novas condições e regras em termos de ação cotidiana, quando ocorre o deslocamento de algumas linhas de comando.

A atividade política consiste em suma, no jogo que tenta incessantemente formar, desenvolver, entravar, deslocar, perturbar as relações de domínio... Weber define o poderio como a oportunidade de um indivíduo fazer triunfa no seio de uma relação social sua própria vontade contra resistências...67

A atividade política do Governo Fleury, observada através das ações de implantação do Programa de Reforma, buscou instalar um jogo que procurava deslocar os eixos do poderio burocrático dominante na Secretaria de Educação.

A inversão de mão nas relações entre gabinete e escola, ou o estabelecimento de uma via de mão dupla na definição desse fluxo, era necessária na medida em que o governo considerava o modelo de gestão autônoma para a escola o elemento fundamental para a construção dos parâmetros de Qualidade do ensino.

Era intenção expressa do governo, romper com o gigantismo da rede construído com base no modelo burocrático que atribuía prestígio e poder aos órgãos centrais da Pasta da Educação, que comandavam a estrutura interna e suas atividades meio.

O mando é, por natureza, fator de organização do agrupamento; em nossos dias, ele se exerce em geral com base em uma organização fortemente estruturada, graças a presença de uma administração, de um aparelho permanente de

compulsão, de regulamentos racionais etc..., que são como garantias da continuidade da atividade política.68

O isolamento de órgãos regionais e locais da estratégia de implantação do Projeto Escola-Padrão fazia parte das estratégias de racionalização dos processos de descentralização da Pasta da Educação.

Os deslocamentos do eixo de poder da máquina administrativa para a escola perturbaram as relações conforme estavam organizadas na rede.

A estrutura burocrática da S.E, gigantesca e imobilizada em suas rotinas tem sido o obstáculo para a implantação de diversas políticas educacionais, ao longo das últimas décadas.

Quando o Governo Fleury desloca os eixos de poder prestigiando novos

parceiros envolvidos no processo de execução do Programa de Reforma abre um novo

ciclo de relacionamentos na estrutura da Secretaria.

Esse novo ciclo passa a gerar novos conteúdos, novos procedimentos e uma nova rotina vai ocorrendo no universo das Escolas-Padrão.

O poderio que um agrupamento político exerce se faz acompanhar em geral, mesmo entre seus membros, de um sentimento de soberba e orgulho que pode segundo o caso assumir caráter conquistador.69

68 Freund, Julien — Op. Cit. p. 168

Para além das condições objetivas de organização de um novo modelo para a escola, novos sentimentos foram mobilizados a partir do momento em que as velhas relações hierárquicas foram postas em xeque.

Os novos sentimentos mobilizados eram pertinentes ao processo de construção de um provável novo modelo de escola. Surgia uma nova competência, um possível novo perfil de profissional da Educação.

O modelo DRHU na Escola-Padrão era diferente da escola comum. Quando a secretária da minha escola entregou o documento na DE, o pessoal do administrativo não aceitou, porque desconhecia as novas orientações. Foi necessário a intervenção das diretoras para contornar a situação. Tudo porque a orientação foi passada para as escolas sem passar pela D.E. (Ana)

O diretor de Escola-Padrão assume um papel diferenciado na execução das ações do Projeto. É prestigiado pelo grupo de mando, então no comando do governo, e partilha de informações restritas ao universo do projeto Escola-Padrão.

“... não existe absolutamente domínio que não mantenha segredo em torno de alguns pontos essenciais.”70

Dos relatos acima pode-se inferir que a estratégia de se transformar o diretor de escola em dirigente local, responsável pela implantação do projeto trouxe os primeiros resultados positivos: estabeleceu um clima favorável a mudança, baseado num clima de otimismo e até entusiasmo.