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A educação a distância não é uma novidade no cenário educacional, apenas utilizava- se de outros meios antes do advento do computador e da internet, como material impresso postado via correio, programas transmitidos por rádio e programas televisivos. Entretanto, é importante apresentar um conceito sobre EaD para introduzir a discussão. Teleducação é definida por Restrepo como (1996, p. 9-10): “sistema de insumos e processos que visam levar o ensino a uma população geograficamente dispersa, portanto, através de uma relação não- presente. É bom notar que se utiliza o termo ensino em vez de educação”.

Como indica Restrepo, a implementação de um programa de ensino a distância teria como meta inicial ministrar o ensino através das tecnologias da informática e comunicação para as populações ou grupos que se encontrassem distantes dos centros de estudo. Entretanto, esse conceito foi ampliado e o ensino a distância faz parte da realidade de universidades,

centros de formação e escolas, seja na modalidade totalmente telemática, seja no regime chamado de semipresencial.

A educação a distância surge como uma forma de democratização do acesso aos bens culturais para aqueles que por diferentes razões, não tinham possibilidades de frequentar um curso regular, entretanto, esse modelo foi alterado ao longo do tempo e a EaD se coloca como um novo paradigma educativo. Sobre as metas do programa, Martinez (1985) afirma que: “a educação a distância é uma estratégia para operacionalizar os princípios e fins da educação permanente e aberta, de tal modo que qualquer pessoa, independente de tempo, espaço, possa converter-se em sujeito protagonista de sua própria aprendizagem”. (MARTINEZ, 1985, p.02,

apud ARETIO, 2001, p.26).

Em ambas as citações, percebe-se que a educação a distância relaciona-se com o processo ensino aprendizagem, fazendo uso de todas as condições do sistema de instrução para levar o ensino dos conteúdos para todos os indivíduos que não se encontram em condições de frequentar um estabelecimento escolar. O conceito inicial tem uma proposta válida que pode ser representada pela possibilidade de inclusão social daqueles e daquelas que estavam excluídos do processo educacional e que agora podem participar de sua formação. Entretanto, observa-se que esse projeto foi aos poucos modificado, abrindo brechas para discussões.

Segundo Aretio, a educação a distância exige uma justificativa e deve ter objetivos e metas bem estabelecidos, de forma que possa atingir de forma eficiente os grupos sociais para a qual está direcionada (2001, p.30). Outro aspecto que o autor também destaca é a preparação dos conteúdos utilizados e da seleção dos métodos e meios, ou seja, que tecnologias podem ser aplicadas nesta modalidade. Aretio finaliza afirmando que tanto o feedback dos alunos, quanto a avaliação da modalidade e as revisões contínuas são fundamentais para a eficácia desta política. Luckesi nos indica o seguinte (LUCKESI apud LOBO NETO, 2001, p.42):

O ensino a distância- pelo seu caráter massivo- poderá tanto tornar linear a cultura quanto possibilitar a emergência reelaborada e diversificada de culturas locais e comunitárias. Serão os objetivos políticos, os recursos científicos e metodológicos da ação que configurarão uma ou outra dessas dimensões.

Ou seja, ao mesmo tempo que a EaD aponta para a inclusão social e democratização do acesso, ela também pode ser utilizada para as finalidades do mercado, reduzindo os investimentos feitos em educação e propiciando uma formação massiva através da aplicação das novas tecnologias, com ênfase no processo e não mais no ensino.

Kenski (2003) afirma que o mundo está diante de uma “nova lógica do ensino na sociedade da informação”, e que são necessárias: “outras maneiras de pensar e fazer educação”. Para a autora: “o amplo acesso e o amplo uso das novas tecnologias condicionam a reorganização dos currículos, dos modos de gestão e das metodologias utilizadas na prática educacional” (2003, p.92).

Na sua concepção, a tecnologia digital, sobretudo as conhecidas como TIC, configura-se como opção para a dinamização do processo de ensino aprendizagem. Da mesma forma que Lévy (1999), Kenski acredita na formação de redes virtuais de aprendizagem colaborativa entre alunos e professores sem as barreiras expressas de espaços e tempos rigidamente definidos, ou seja: “ficam independentes dos tempos e perímetros restritos das salas de aula convencionais” (Idem, p.93). E finaliza afirmando que:

A lógica educacional que prevalece na sociedade da informação – de compartilhamento, integração, colaboração e participação integrada entre pessoas e instituições – é muito distante da forma estruturada, burocraticamente hierarquizada e centralizada existente nas atuais instituições educacionais. (Idem. Ibidem, p. 95).

Para Kenski, é preciso que ocorra novos posicionamentos ligados à política e a gestão da educação para estabelecer uma relação adequada e significativa entre educação e novas tecnologias. O presente estudo partilha dessa percepção, quando constata um descompasso entre as diretrizes do Programa de Tecnologia Educacional, o Proinfo Integrado, e a articulação prática de seus pressupostos no ambiente escolar. No momento que se fala em rede de compartilhamento e de colaboração de aprendizagem, existem escolas carentes de materiais básicos para seu funcionamento e bem distantes da imagem de escola conectada que foi estabelecida pelo MEC. Importante destacar que a primeira tecnologia educacional amplamente apoiada pelo MEC foi a televisão, sendo a difusão dos computadores um segundo passo deste processo.

No ano de 1996, o MEC criou a Secretaria de Educação a Distância (hoje extinta). A SEED criou o seu primeiro programa de educação a distância com a implantação da TV

Escola, que tinha seu sinal transmitido por um canal analógico. Segundo dados do MEC, a TV Escola tem como objetivos a capacitação, aperfeiçoamento e atualização dos professores da educação básica. Sua programação atualmente está dividida em faixas: ensino infantil, ensino fundamental, ensino médio, Salto para o futuro e Escola aberta.

O programa leva ao ar diariamente documentários estrangeiros, cursos de capacitação a distância e séries. Existe uma produção própria de conteúdos que tanto pode ser vista hoje na TV pelo sinal analógico como pelo sinal digital. A TV Escola também possui parte da programação em seu site com a possibilidade de acesso de vários conteúdos pelos seus usuários. Entretanto, existem muitos artigos e relatórios que tratam do sub aproveitamento dessa ferramenta de ensino pelos professores das escolas públicas brasileiras em virtude de diferentes fatores, que não nos cabe aqui a análise.

Apesar da criação da primeira TV pública voltada para educação a distância ocorrer na década de 1990, foi o decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005 que regulamentou o artigo 80 da Lei de nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, inserindo o uso das TIC no processo educacional. O primeiro artigo assim indica:

Caracteriza a Educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino- aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares e tempos diversos.

Este decreto foi recentemente alterado a partir do decreto nº 7.480 de 16 de maio de 2011, da presidente Dilma Rousseff, criando a Secretaria da Regulação e Supervisão da Educação Superior e a Diretoria de Regulação e Supervisão da Educação a Distância. Podemos compreender que a teleducação surgiu como uma ferramenta de inclusão social e de acesso mais democrático ao sistema educacional. Em contrapartida, o ensino a distância configura-se como uma tentativa de redução de custos na contratação do corpo docente. Sobre esta questão, Luckesi (Op. Cit.) nos indica que:

Democratização da educação significa acesso, permanência e qualidade. Para que a educação intencional seja democratizada é preciso que todo cidadão efetivamente tenha acesso a ela; ter acesso é o início, importa permanecer e aprofundar no seio da cultura que se veicula através dessa educação. Por último, é preciso ter acesso e permanência em algo de qualidade satisfatória.

Para que? serve a educação a distância hoje? Muitos defendem que esta modalidade pluraliza o acesso à educação quando cria novas plataformas de ensino que auxiliam na inclusão social e digital. Entretanto, uma corrente crítica vê nessa modalidade tão somente a influência dos mercados e agências internacionais que defendem a redução dos custos e investimentos no setor de educação, barateando a instrução pública a partir da adoção da EaD. No próximo tópico discutiremos os estudos que examinam o programa governamental cujo objetivo é inserir a escola pública brasileira na cibercultura a partir da formação em EaD aos professores e inserção das TIC na sala de aula.