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Geralmente ocorre em áreas de terra firme e em diferentes tipos de solo, sendo encontrado em solos pobres, ricos, arenosos ou argilosos, segundo Calzavara (1970), que afirma (p. 17):

quanto ao tipo e fertilidade de solo, o bacurizeiro é uma fruteira pouco exigente. Vegeta bem tanto em solos arenosos quanto em argilosos de baixa, média ou alta fertilidade, desde que sejam permeáveis e profundos. Solos sujeitos a encharcamentos no período das chuvas devem ser evitados, tais como aqueles cujo lençol freático é superficial. A planta é bastante tolerante à acidez do solo, apresentando desenvolvimento satisfatório em solos com pH entre 4,8 e 5,5.

Enquanto no Pará aparece em áreas onde originalmente foi caracterizada como floresta tropical úmida de terra firme, nos estados nordestinos encontra-se em áreas de transição (entre esta e o cerrado) e cerrado. A maior parte dos bacurizeiros é nativos, resultado de algum tipo de manejo, principalmente em áreas próximas das habitações (Figura 10), como parte do “quintal” 27, e raramente é observado como resultado de plantio.

A espécie possui características que a enquadram no grupo ecológico das espécies clímax, pois suas sementes podem germinar e as mudas estabelecerem-se no sub-bosque de floresta com o dossel fechado, assim como em lugares abertos (SWAINE; WHITMORE, 1988). Entretanto, é rara a ocorrência de plântulas, provenientes de sementes, no sub-bosque com indivíduos produtivos, porque os frutos são geralmente coletados na totalidade, isto é, não são deixadas sementes para germinação ou ocorrem outros tipos de predação (por animais roedores, por exemplo). Diante disso, a espécie pode, erroneamente, ser classificada como oportunista (VIANA, 1989).

É possível que a grande abundância da espécie, encontrada atualmente nas regiões do Nordeste Paraense e Ilha do Marajó, decorra da decorrência da extrema facilidade de regeneração vegetativa após a intervenção na vegetação original e de adaptação em solos pouco férteis. E essas regiões são de mais antiga colonização no Estado, o que resultou na transformação da vegetação em um mosaico de vegetação secundária, favorecendo a regeneração dessa espécie (VIEIRA; SALOMÃO; ROSA, 1996; VIEIRA et al., 2002; WATRIM, 1994). Assim, na mesorregião Nordeste Paraense (principalmente as microrregiões Salgado, Bragantina, Cametá, Tomé-Açu, Guamá) são encontradas áreas de vegetação secundária, com predominância de bacurizeiro, adquirindo um caráter de floresta oligárquica (CARVALHO, 2007; CALZAVARA, 1970), que são florestas com

27 Quintal é expressão popular que se refere à áreas próximas das residências, onde as famílias rurais

cultivam espécies frutíferas e medicinais associadas à criação de pequenos animais, também conhecido como pomar caseiro.

predominância de poucas espécies (do grego onde oligo=poucos; árquico=dominado/governado) (PETERS, 1992; PETERS et al, 1989).

Figura 10. Bacurizeiros como parte de quintal, no município de Bragança. Foto S. Ferreira.

Oliveira, Ferreira e Melo (2000) encontraram a espécie P. insignis Mart. com abundância de 68 indivíduos/ha, no município de Bragança, em inventário de vegetação secundária jovem (entre cinco e dez anos de sucessão) na categoria arbórea ≥ de 5 cm de diâmetro à 1,30 m do solo, DAP. Reis Junior et al. (2002) e Reis Junior e Oliveira (1999), na mesma região, encontraram uma abundância de 107 indivíduos/ha em vegetação com mais de 20 anos de descanso, e Alvino, Silva e Rayol (2005), 25 indivíduos/ha, em vegetação secundária com mais de 30 anos de descanso, aproximadamente, após roça, em vegetação arbórea (≥ 5cm de DAP). Possivelmente esses inventários foram realizados em “pedaços” ou “manchas” de vegetação utilizada para produção agrícola, que favoreceu o processo de propagação vegetativa por raiz. Fatores como quantidade de indivíduos antes da derruba e queima, quantidade de ciclos de derruba e queima, condições ambientais, dentre outros, podem influenciar na abundância da espécie em determinado local.

Em floresta primária é encontrada em baixa densidade “0,5 indivíduos/ha, ocasional lugares com 50-100 indivíduos/ha, possivelmente devido ao manejo de populações

tradicionais” sem especificações das dimensões (CLEMENT; VENTURIERI, 1990, p. 6), e quatro indivíduos/ha acima de 40 cm de DAP (AZEVEDO, 2006). Em fragmento de floresta primária no município de Tome-Açu, Pará, foram encontrados de cinco a oito árvores por hectare (HOMMA et al., 2006). Na Ilha de Ipomonga, situada no município de Curuçá, cuja vegetação é considerada como floresta de terra firma alterada28 por pesquisadores que realizaram levantamento para a ONG Peaberu (2007)29, a espécie P. insignis apresentou abundância de 50 a 60 ind/ha (acima de 5 cm de DAP), em mancha (3x2 km) com predominância dessa espécie. Segundo informação constante neste relatório, essa abundância pode ter sido favorecida, ao longo do tempo, pelo manejo e extrativismo do fruto, realizado pelas populações locais (PEABERU, 2007).

O caráter oligárquico das florestas com predominância do bacurizeiro deve-se à capacidade de regeneração natural por brotações oriundas de raízes e troncos. Tendo, portanto, esta espécie, facilidade de ocupar os espaços rapidamente após a eliminação da vegetação existente (Figura 11). A título de ilustração, onde havia um espécime, após uma atividade agrícola, passam a existir centenas, ocupando o espaço onde alcançam as raízes da árvore original. Esse é um aspecto importante no contexto do sistema tradicional de agricultura, de roça-queima-plantio-pousio, existente na Amazônia, pois possibilita uma recuperação da biomassa em curto espaço de tempo. Por outro lado, é considerada como espécie invasora dos cultivos, pois ela compete com as espécies cultivadas nas roças. Neste caso, é de difícil erradicação, devido à agressividade da regeneração. Segundo Carvalho e Muller (2007), um bacurizeiro com aproximadamente 25 m de altura e diâmetro de copa de 15 m pode emitir até 700 brotações em um único ano após derrubada da árvore-mãe.

Devido a essas características descritas acima, é difícil pensar em erosão genética da espécie, a não ser que a monocultura de grãos estabeleça-se nas áreas de ocorrência natural, conforme alertam Araújo, Martins e Santos (2004) referindo-se ao avanço da cultura da soja sobre o cerrado maranhense.

28 “É considerada alterada porque algumas manchas demonstram claramente a intervenção humana, seja a

exploração seletiva de algumas espécies madeireiras, abertura de pequenas clareiras e as evidências de uso do homem com a densa rede de trilhas e caminhos. Todos esses fatos alteram de alguma forma a estrutura original da floresta” (PEABIRU, 2007 p. 25-26).

29 Instituto Peabiru é uma organização não governamental que tem como missão gerar valores para a

conservação da biosociodiversidade da Amazônia, o qual foi designado para realizar estudos preliminares técnicos e científicos de avaliação dos recursos naturais da Ilha de Ipomonga, município de Curuçá, Pará.

Figura 11. Regeneração de bacurizeiros após cultivo de roça, em Bragança. Foto: S. Ferreira.

Em área de ocorrência natural, onde houve intervenção humana na vegetação natural, surgem brotações de raízes ou de tocos, parte inferior do tronco de um vegetal que foi cortado ou quebrado (Figura 12). Nessa situação, é desenvolvido um sistema radicular superficial, que pode facilitar o tombamento das árvores, quando em áreas sujeitas a ventos fortes.

Figura 12. Regeneração natural de bacurizeiros por brotação de raiz. Foto: S. Ferreira.