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1.2 AS FLORESTAS TROPICAIS E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 20

1.2.1 Situação atual das florestas tropicais 20

Segundo a FAO (2005), o mundo possui cerca de 3.870 bilhões de hectares de florestas que cobrem 30% da superfície da terra. Cinco países (Federação Russa, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América e China) possuem juntos mais da metade do total de florestas do mundo. Cerca de 52% são classificadas como tropicais.

A taxa de desmatamento total anual é próxima a 13 milhões de hectares. De 1990 a 2005 houve uma perda de 3% da superfície florestal no mundo. Apesar de ter havido diminuição de 2000 a 2005, a taxa de desmatamento continua alta, com 7,3 milhões de ha/ano (FAO, 2005). Do total de florestas no mundo, 36% são consideradas primárias, ou seja, não sofreram distúrbios visíveis por atividades humanas e seus processos ecológicos não sofreram transtornos consideráveis, segundo avaliação da FAO (2008). A maior contribuição em floresta primária é América Latina e Caribe (75%), seguida da Russia (50%) e da América do Norte (45%).

Segundo o informativo da FAO (2005), os países que tiveram, entre 2000 e 2005, a maior perda em floresta primária foram Indonésia (13%), México (6%), Papua Nova Guiné (5%) e Brasil (4%). Dessa forma, deduz-se que as florestas estão sofrendo severo impacto nos últimos anos, com destaque para as localizadas nos trópicos.

As causas do desmatamento nos trópicos são várias, mas o que aparece em maior evidência é a pecuária, seguida da agricultura (MARGULIS, 2007; PACHECO, 2002; LE DAIN et al., 2002; FEARNSIDE, 2005; CASTRO, 2005). 0

O desmatamento causa danos ambientais severos, como perda de biodiversidade e alterações nos ciclos biogeoquímicos da natureza e contribui para a emissão de gases na atmosfera (HOUGHTON, 1991), com graves consequências ao desenvolvimento humano.

Estima-se que as florestas tropicais estão dentre os mais ricos e diversificados habitats que existem no mundo e que contêm o maior número de espécies animais e vegetais (WHITMORE, 1990; MALHI; PHILLIPS, 2005; FAO, 2008). Ressalta-se que é difícil precisar a biodiversidade, por diversos aspectos, que vão desde os custos para se realizar levantamentos, até os métodos diferenciados utilizados nos cálculos de estimativas, além da degradação dos ecossistemas antes que se conheça a biodiversidade etc. (WILCOX, 1995). O primeiro registro que descreve a aparência e a atmosfera de uma floresta tropical foi fornecido pelo explorador Cristóvão Colombo em suas viagens de descoberta pelo mundo, que abriu novas rotas de comércio e navegação. Séculos após a chegada de Colombo, um botânico alemão deu a essas florestas o nome atual de "florestas úmidas". Muitos viajantes e cientistas que as visitaram nesse ínterim referiam-se a elas simplesmente como florestas tropicais. Mas, se muitos deles já se maravilhavam perante a abundância de plantas e animais que continham (WHITMORE, 1990), foi apenas há pouco tempo que se começou realmente a entender o quanto as florestas tropicais são singulares e excepcionais.

Existem muitos tipos de florestas tropicais. Alguns botânicos falam em mais de 30, incluindo as florestas “sempre verdes”, as “semi-decíduas”, as “florestas de altitude” nas altas montanhas e as “matas ciliares” que crescem ao longo das margens de rios. Pode-se distinguir dois tipos principais: as florestas equatoriais e as florestas semi-decíduas. As florestas equatoriais crescem mais próximas à linha do Equador, em temperaturas muito elevadas e grande abundância de chuvas. As árvores nessas florestas são principalmente sempre verdes e há pouca diferença entre as estações no decorrer do ano. Mais distante do Equador, em temperaturas mais amenas e menor quantidade de chuva, associam-se às estações mais definidas para produzir as chamadas de semi-decíduas, que não possuem a mesma abundância de plantas e animais que as florestas equatoriais (WHITMORE, 1990).

Atualmente, a floresta tropical só é encontrada nas Américas Central e do Sul, na África Central, na ilha de Madagascar, no Oceano Índico e no Sudeste Asiático. As florestas da Ásia estendem-se da Índia a Malásia, das Filipinas ao norte da Austrália. As maiores áreas de

florestas hoje existentes estão nas Américas Central e do Sul e na Bacia do Congo. A floresta Amazônica representa hoje a maior área incólume de floresta tropical do planeta, abriga uma enorme riqueza de vida vegetal e animal e se estende por nove países sul-americanos: Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Venezuela e Brasil. O Brasil sozinho tem um terço das florestas remanescentes, mas é também o país que possui os menores resquícios de uma extensa floresta tropical que antigamente acompanhava toda a costa atlântica, a Mata Atlântica (WWF, 2005).

O Sudeste Asiático, em seu conjunto, possui cerca de um quarto da totalidade das florestas tropicais que ainda restam no mundo, enquanto o Brasil detém a maior área contínua dessas florestas, que estão localizadas, principalmente, na Bacia Amazônia. Dos mais de cinco milhões de quilômetros quadrados que constituem a Amazônia Legal no Brasil, 64% ou aproximadamente 3,3 milhões de km² é constituído de formações florestais (bioma floresta Amazônica), o que representa um terço da vegetação tropical do planeta. A floresta Amazônica abriga aproximadamente 30 mil espécies vegetais das quais 2.500 são espécies de árvores (30 % das espécies vegetais da América Latina) e 10 mil espécies de animais (WWF, 2005).

Também fazem parte das florestas tropicais brasileira a Mata Atlântica, exuberante na época da chegada dos colonizadores, atualmente reduzida a 7% da floresta original. O bioma Mata Atlântica compreende um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados. Em 1500, essa vegetação cobria 15% do território brasileiro, área equivalente a 1.306.421 km2 (Figura 1). É o segundo ecossistema mais ameaçado do planeta, perdendo apenas para as quase extintas florestas da Ilha de Madagascar, no continente africano (SCHAFER; PROCHNOW, 2002).

Figura 1. Biomas brasileiros. Fonte: WWF/Brasil (2005).

Desde o início da colonização do território brasileiro que as florestas e demais biomas tropicais, sofrem impacto, seja pela exploração madeireira ou pela substituição destas por áreas de cultivos e criação de gado, mineração etc.

Até pouco tempo, a principal fonte de madeiras para abastecimento das indústrias madeireiras da região amazônica (predominantemente floresta tropical úmida) eram as florestas de várzeas, onde espécies flutuáveis, como Virola surinamensis (virola ou ucuuba), estão entre as mais exploradas. No estado do Amazonas, por exemplo, mais de 95% da madeira serrada tem origem nas florestas de várzea (SANTOS; HUMMEL, 1988; SMERALDI; VERÍSSIMO, 1999). A partir da década de 1960, com a construção das chamadas estradas de integração nacional, inicialmente a Belém-Brasília e, posteriormente, a Transamazônica, Cuiabá-Porto Velho e Santarém-Cuiabá, as florestas de terra firme, outrora pouco acessíveis à indústria madeireira, tornaram-se importante fonte de matéria-prima. Com a exaustão das florestas de Araucaria angustifolia (pinheiro-do-Paraná) no sul do Brasil, a indústria madeireira deslocou-se para a região Norte, dando um impulso no setor madeirieiro regional. Em 1986, por exemplo, havia 2.231 serrarias e 70 fábricas de compensados na região Norte (MERCADO; CAMPAGNANI, 1988). No estado do Pará havia 602 serrarias e 1210 indústrias madeireiras em 1998 (VERISSIMO; LIMA; LENTINI, 2002). Essa tendência segue atualmente, foi registrado no Pará, em 2002, a quantidade de 10 mil m3 de madeira

explorada, representando um pouco mais de 50% da produção total do país (IBGE, 2004; SMERALDI; VERÍSSIMO, 1999; SOBRAL et al., 2002). Em 2006, aquele Estado foi responsável por 77% da produção de madeira, segundo dados estatísticos de Extração Vegetal e Silvicultura do IBGE (2008), e possuía 1592 empresas madeireiras. Como pode ser observado na Figura 2, a região Norte destaca-se na produção extrativista de madeira de 1990 a 2002.

Ex p lo ra çã o Ex tra tivista n o B ra sil

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 N NE SE S CO Re g ião % 1990 (% ) 1995 (% ) 2000 (% ) 2002 (% )

Figura 2. Porcentagem da produção extrativista de madeira no Brasil, de 1990 a 2002. Fonte: IBGE (2004).

A exploração florestal nas florestas de várzea e de terra-firme pode ocorrer tanto à baixa como à alta intensidade (UHL; CLARK; CLARK, 1982). A exploração à baixa intensidade, em geral, não resulta em grandes perturbações no ecossistema. Ao contrário, a exploração à alta intensidade, com o uso de máquinas pesadas, provoca um impacto ambiental considerável, principalmente se realizada sem planificação e cuidados técnicos, como é a maioria dos casos, segundo estes autores. A exploração realizada dessa forma retira da floresta toda a madeira possível, sem a preocupação com a capacidade de produção futura e assim, provoca severos danos na biodiversidade vegetal.