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ECONOMIA CRIATIVA: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO

2 ECONOMIA CRIATIVA E CRIAÇÃO DE SIGNIFICADOS

2.1 ECONOMIA CRIATIVA: UM CONCEITO EM CONSTRUÇÃO

A primeira definição para este termo foi desenvolvida em 2001, por Jonh Howkins, que definiu a Economia Criativa como sendo as atividades que exploram seu valor econômico a partir do exercício da imaginação. Segundo afirma Howkins (2001), as pessoas possuidoras de ideias são mais poderosas do que as pessoas que trabalham com as máquinas e, em muitos casos, mais poderosas do que pessoas que são as donas das máquinas. Howkins afirma que a EC consiste na ciência das transações em produtos criativos, que recebem proteção por meio de quatro setores: direitos autorais, patente, marcas e design industrial - que juntas constituem as indústrias criativas.

Já Hartley (2005), definiu em seu livro Creative Industries, a Economia Criativa como a: convergência conceitual e prática das artes criativas (talento individual) com indústrias culturais (escala de massa), no contexto das novas tecnologias de mídia em uma nova economia do conhecimento, para uso de novos consumidores-cidadãos interativos. Tal conceito reflete um direcionamento da EC

voltado à promoção da tecnologia, da conectividade, e por que não dizer de TIC. Este é o conceito adotado pelo Portomídia, o objeto de estudo da pesquisa em questão.

No entanto, de acordo com a UNCTAD (2010) e o Plano da Secretaria de Economia Criativa, Brasil (2011), não existe consenso para a definição de Economia Criativa podendo ser moldado aos interesses institucionais a depender da organização ou país. Mas há uma convergência para a utilização do conceito da UNCTAD, que define EC como uma opção de desenvolvimento viável, que pode fomentar o crescimento econômico, a criação de empregos e os ganhos de exportação, ao mesmo tempo em que promove a diversidade cultural, a inclusão social e o desenvolvimento humano. Ainda segundo a UNCTAD (2010), suas atividades econômicas baseiam-se no conhecimento, compreendem os aspectos econômicos, culturais, tecnológicos e sociais, e a dimensão do desenvolvimento, promovendo ligações cruzadas em níveis micro e macro econômicos como um todo.

2.1.1 Economia Criativa como tábua de salvação?

Segundo Avogrado (2013) é interessante desenvolver a abordagem da EC, não como “tábua de salvação”, mas como uma das oportunidades para desenvolver economia no país, que busca questionar não apenas as políticas industriais ou econômicas, mas sim realizar:

Revisão do sistema educacional - questionando o perfil dos profissionais de hoje e o de amanhã, com as profissões emergentes;

Requalificação urbana - novas propostas que vêem os projetos de clusters criativos e cidades criativas;

Reconhecimento do valor do intangível cultural por parte de instituições financeiras;

Reconhecimento da cultura como estratégia socioeconômica;

Revisão da estrutura econômica, de cadeias setoriais para redes de valor, incluindo novos modelos de negócio - devido à emergência de criações colaborativas e às novas tecnologias (REIS, 2008. p.18) [grifo nosso].

Assim, percebe-se que a EC passa a repensar não apenas a inserção cultural como meio para promover a Economia. Mas repensam os sistemas educacionais, econômicos e a cidade como um todo, englobando o conhecimento tácito dos envolvidos direta ou indiretamente com o público-alvo em questão para, enfim, propor um ambiente propício à promoção de diferenciais competitivos capazes de subsidiar conhecimento para possíveis interpretações e arranjos não convencionais.

2.1.2 Economia Criativa no Brasil

O Brasil cria, em junho de 2012, através do decreto 7743, a Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura (SEC/MinC), com a missão de conduzir a formulação, a implementação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, de modo a tornar a cultura um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos (BRASIL, 2012).

Para entender o conceito adotado pelo Governo Federal do Brasil, precisa- se compreender a princípio o termo setor criativo: "[...] são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social" (BRASIL, 2011, p.22) [grifo nosso].

Os setores criativos vão além dos setores denominados como tipicamente culturais ligados à produção artístico-cultural (música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema), compreendendo outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à produção de software, à indústria de conteúdo, ao design, à arquitetura, ao turismo, entre outros.

O conceito adotado para Economia Criativa no Brasil foi proposto, pelo MinC, no Plano da SEC que parte: "[...] das dinâmicas culturais, sociais e econômicas construídas a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/ circulação/ difusão e consumo/fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos, caracterizados pela prevalência de sua dimensão simbólica" (BRASIL, 2011, p.23). Desta forma, foi definido que a Economia Criativa Brasileira incorpora

quatro princípios norteadores na sua conceituação, no Plano da SEC, de acordo com Brasil (2011, p.19-20):

percepção da sustentabilidade como fator de desenvolvimento local e regional;

inovação como vetor de desenvolvimento da cultura e das expressões de vanguarda;

inclusão produtiva como base de uma economia cooperativa e solidária, e, por último,

diversidade cultural do país entendendo que a diversidade cultural (como produtora de solidariedade entre indivíduos, comunidades, povos e países; e como ativo econômico, capaz de construir alternativas e soluções [...] (BRASIL, 2011. p. 19- 20) [grifo nosso].

A missão da Secretaria da Economia Criativa é "formular políticas para os pequenos empreendedores criativos brasileiros, além de [...] desenvolvimento local e regional [...] onde a dimensão simbólica é que acaba definindo o valor do bem, o valor do serviço" (LEITÃO, 2013) [grifo nosso]. Assim, vê-se a dimensão simbólica como oportunidade para criação de significados, no intuito de estimular a identificação do consumidor final com o produto e a sustentabilidade econômica do empreendedor.

2.1.3 Contextualização da Economia Criativa no Brasil

Com base no Creative Industries Mapping Document, realizado pelo Department for Culture Media and Sport em 1998, pela Inglaterra; em Howkins (2001); Florida (2001), a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) lançou em 2008, um estudo pioneiro no país: “A cadeia da Indústria Criativa no Brasil”, que acabou por gerar interesse do poder público em monitorar e apoiar a expansão dessas atividades no Brasil. Tal estudo foi atualizado em 2011, por meio dos dados estatísticos advindos do Ministério do Trabalho e Emprego, resultando na configuração do “Mapeamento das Indústrias Criativas no Brasil”, que abrangia uma visão sobre as cadeias produtivas e uma análise sobre os profissionais criativos brasileiros (FIRJAN, 2012).

O estudo em questão revelou que os empregados na EC são mais bem remunerados em relação aos demais trabalhadores, evidenciando ainda que 243 mil

empresas fomentam o núcleo da indústria criativa brasileira, gerando um PIB equivalente a R$ 110 bilhões, ou seja, 2,7% de tudo o que é produzido no país.

Já de acordo com pesquisa realizada por Florida (2011), os resultados posicionam o Brasil entre os maiores produtores de criatividade do mundo, superando Espanha, Itália e Holanda. Ainda no que diz respeito aos Índices Globais de Criatividade, o Brasil posiciona-se, com relação ao Talento, no “81° lugar geral, mas em segundo entre os países do BRIC (a Rússia está em 12°; a Índia, em 102°; e a China 104°)” (FLORIDA, 2011, p.ix), estando bem abaixo das outras potências econômicas da América Latina como Argentina, em 40°; Venezuela, 46°; e o México, em 80°.

O mercado formal de trabalho do núcleo criativo é composto por 810 mil profissionais, o que representa 1,7% do total de trabalhadores brasileiros (FIRJAN, 2012, p.06). O segmento de Arquitetura & Engenharia é o que tem a maior representatividade, concentrando mais de um quarto (230 mil) desse universo. Logo em sequência vêm os segmentos de Publicidade e Design que empregam mais de 100 mil trabalhadores cada. Juntos, esses três setores concentram metade dos trabalhadores criativos brasileiros. O estado com maior representatividade do núcleo criativo no mercado de trabalho formal é o Ceará, no nordeste brasileiro. Isto reflete a força do segmento de Moda, responsável por 13,1% do núcleo criativo estadual, percentual mais de duas vezes superior ao patamar nacional (5,4%). Outro ponto forte do Ceará são os setores ligados à cultura, que também se destacam em outros dois estados nordestinos, Pernambuco e Bahia (FIRJAN, 2012).

Segundo Florida (2011), o Brasil se localiza em 43° lugar com relação à Tecnologia, apresentando-se como um dos líderes, em relação à América Latina, perdendo apenas para Argentina, em 21° lugar (a Venezuela está em 65°; e o México, em 54°). O Brasil, no entanto, vem atrás dos países do BRIC relacionados anteriormente, Rússia, em 21°; Índia, em 40°; e China em 33°. Contudo, Pernambuco vem se destacando no cenário nacional, com o parque tecnológico urbano do Porto Digital, considerado pela ANPROTEC (2011) como o melhor parque tecnológico/habitat de inovação do Brasil, e a apontado pela consultoria McKinsey (2011), juntamente com a Região de Campinas - SP, como os dois ambientes de inovação com maior potencial de geração de negócios de base tecnológica do país.