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A economia fora do Planeta

2. Capítulo II Investimentos no Espaço Exterior: Estado versus Privados

3.6. A economia fora do Planeta

"Gentlemen, you can't fight in here! This is the war room!"- (Kubrick, 1964, p. s/p)

Cerca de 70% do Planeta Terra é composto por água; 90% é parte integrante de Oceanos, Mares e Lagos de água salgada. Esta, porém, permite-nos ‘chegar’ a todo o Planeta. Na abertura das grandes Auto-estradas Oceânicas, foi reconhecido o ‘Poder Naval’ e sendo comparadas às Auto-estradas que surgem no ‘EE’, conferem aos Estados Pioneiros o ‘Poder Espacial’.

Jorge Paulo Napoleão Garcia Inácio - 2017/8 81

Existem ‘reservas’ quanto ao encontro de similitudes, entre as Teorias do Mar e as do Espaço, e a projecção da geopolítica clássica às “estrelas”, as ressalvas prendem-se com as salvaguardadas respeitantes às distâncias históricas e tecnológicas inerentes.

Nos Descobrimentos, as embarcações de guerra dos diversos países serviram para proteger os impérios coloniais e as rotas marítimas; num paralelo com o ‘EE’, não existe previsão, nem meios, para a protecção de futuras rotas comerciais espaciais.

O comércio espacial tenderá a ser de consórcios internacionais e distinguir a que país pertence determinado veículo espacial será difícil, tornando problemática a protecção deste tipo de naves.

Aqui a doutrina diverge no conteúdo dos Tratados, dependendo se a posição dos autores se enquadra numa escola mais liberal ou mais conservadora, e também, se é mais independente ou com um nacionalismo próximo das posições dos Estados.

Não podemos esquecer que a matéria em apreço está para lá da fronteira terrestre, como chamou Dominic Basulto, «Economia fora do Planeta» (2015, p. s/p.), que aproveita a analogia dos direitos dos navios de pesca em águas internacionais como um modelo económico para um Space Act.

Esta analogia é útil, pois ao compararmos os direitos de pesca com o que acontecerá no ‘EE’, estamos a estender os mesmos princípios económicos usados na Terra, transferindo- os para os ‘CC’, e não estão a ser criados novos princípios. Sustentamos que as nações marítimas são agora nações espaciais.

Numa solução dos Direitos de Propriedade Privada no ‘EE’, analisamos diferentes regimes legais usados nas propostas, considerando a CNUDM, o Tratado Sea Bed379 e o Tratado da Antárctica.

Analisando os Tratados Terrestres, abordaremos o ‘TA’380, que representa os

princípios e normas orientadoras para as actividades na Antárctida e garante a sua utilização para fins pacíficos, centrando-se nas actividades científicas e exploratória381.

Comparando o ‘TSB’ com o Tratado do Alto Mar, ambos são regidos pelo ‘DI’ Consuetudinário e pela UNCLOS, ao contrário do ‘EE’ que é regulado pelo TEE e pela

379 Adiante designaremos de ‘TSB.’ 380 Cfr. Anexo II Nota IV Secção III.

381 Teremos em conta que em todos os Tratados, a ‘SP’ e as ‘RI’ estiveram por trás da sua elaboração

Jorge Paulo Napoleão Garcia Inácio - 2017/8 82

UNCOPUS, além do Direito Consuetudinário.

A principal diferença, reside nas fronteiras: enquanto as marítimas estão bem definidas, as do ‘EE’ não são claras, nem consensuais382.

Existe uma diferença na questão Político-Jurídica383. Em primeiro lugar os três

Tratados divergem: no Alto Mar existe a jurisdição de Bandeira384, no Fundo Oceânico é

exercida pela ISA (International Seabed Authority).

A exploração no alto mar é possível385 (Meloni, 2016, p. s/p.), mas só com a autorização

da ISA386, por consórcios Privados, por causa dos altos custos de extracção. “The main idea that supports this kind of limitation is the common heritage of mankind387” (Meloni, 2016, p. s/p.)e no ‘EE’, é praticamente inexistente.

Por último, o ‘EE’ é diferente de ambos, embora os Estados sejam livres para explorar, o ‘EE’ e os ‘CC’ estes não estão sujeitos à apropriação. No que se refere ao ‘EE’, a única semelhança com o Tratado dos Fundos Oceânicos é relativamente ao Bem Comum da Humanidade, que está próximo do “concept of ‘res communis omnium’, argued about high seas. There are not any regards to the development of the country, in order to ensure freedom to explore and discover to every country” (Meloni, 2016, p. s/p.).

A definição destes princípios corresponde de maneira diferente a cada situação e considera a natureza diferente de cada área. Nesta análise, assistimos à inadequação dos regimes terrestres ao regime do ‘EE’. Numa base elementar não se pode fazer uma analogia da CNUDM, do TSB e do Tratado da Antárctida, porque existe um desequilíbrio nos interesses da ‘comunidade global’ com a necessidade de proteger os Direitos de Propriedade Privada.

O regime da CNUDM, em relação ao Alto Mar, aproxima-se de um Regime com possibilidade de ser adoptado para o ‘EE’, mas não possui a fórmula de equilíbrio entre o interesse de Privados com o dos Estados, conjugados com a comunidade global.

Salientamos a proposta de Rosanna Sattler, que aos Estados sejam dados ou declarem uma ZEE nos ‘CC’, transferindo o conceito para o ‘EE’. Analisando identificamos

382 Vide Tese de BIttencourt Neto. 383 Referimo-nos em termos técnicos. 384 Cfr. GG; Cfr. SAA.e Anexo III Nota III Secção VII.

385 Constatamos por exemplo que o território do Alto Mar é considerado ‘res communis omnium’ “the

high seas territory is considered ‘res communis omnium’. This means that all States are free to navigate, to fish, to promote scientific research and to construct artificial islands and other installations, according to UNCLOS”.

386 International Seabed Authority; Cfr. SAA. 387 Cfr. Anexo III Nota III Secção III

Jorge Paulo Napoleão Garcia Inácio - 2017/8 83

uma questão politicamente insolúvel: como é que as ZEE serão distribuídas num ‘CC’? A pergunta base da nossa dissertação, é coincidente ao defendido por Dalton “The

ambiguity of the current regime must be resolved as humanity prepares to venture into space with more energy and ambition”388 (2010, p. 22).

388 Em termos de ‘SP’ esta questão tem de ter uma resolução por parte dos actores políticos, de modo

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