• Nenhum resultado encontrado

Cánepa (2010) mostra que foi Arthur Cecil Pigou quem pela primeira vez incorporou na teoria econômica o problema da poluição. Ao considerar que os prejuízos causados pela poluição representavam um custo social, desenvolveu-se o conceito de externalidade negativa. A externalidade negativa resultaria do fato de que a ação de um indivíduo acarretaria um custo que um outro indivíduo deveria pagar.

A teoria Pigouviana prevê, segundo Faucheux e Noël (1995), que os custos não compensados podem ser avaliados em termos monetários. Então, se tais custos fossem incluídos no custo social, este custo se tornaria mais elevado que o custo privado do emissor de poluentes.

Sendo assim, se em uma atividade poluidora num mercado de competição perfeita não recaem regulações ambientais, o preço e quantidade de equilíbrio estão ilustrados na Figura 9 como sendo P e Q, respectivamente. Porém, se a externalidade causada pela poluição for internalizada, os valores P e Q não refletem mais o custo total da atividade, pois o custo privado é acrescido do custo de se internalizar a externalidade, fazendo com que o custo marginal social se torne mais elevado que o custo marginal privado.

Figura 9 – Custo marginal privado da poluição x custo marginal social da poluição Fonte: Faucheux e Noël (1995).

É possível perceber que com a inclusão da externalidade negativa da poluição, o custo para a empresa se torna mais elevado e com isso, o preço também se torna maior (P’ > P), e quantidade diminui (Q’ < Q). Sendo assim, esta não é uma situação de ótimo de Pareto,

uma vez que tanto o preço como a quantidade não equivalem aos valores de uma situação de equilíbrio.

Um meio de se voltar ao equilíbrio pode ser por meio da internalização fiscal proposta por Pigou. Sendo assim, é imposta uma taxa ao emissor da poluição, sendo que seu valor deve ser a diferença entre o custo social e o custo privado. Tem-se então uma situação em que a externalidade é internalizada.

No entanto, a solução pigouviana tem sido criticada pelo fato de que atribuir a responsabilidade para uma externalidade não é algo tão simples. Além do que, o custo da imposição de uma taxa pode ser maior que os benefícios de tal imposição.

Diante desta possibilidade, o Teorema de Coase (1960) surge como uma alternativa a internalização da externalidade. Neste caso ocorreria uma negociação bilateral entre as partes: emissor e vítima. Esta negociação seria capaz de apresentar bons resultados desde que o ganho social seja maior que o custo de transação.

É válido ressaltar que para o sucesso de tal negociação os direitos de propriedade devem estar bem definidos. Se o agente que possui os direitos de propriedade é o emissor de poluição, então este deve receber uma indenização por deixar de poluir. Isso, supondo que ocorra a determinação de se reduzir as emissões. Mas, se o agente poluidor não tem os direitos de propriedade, este deve indenizar aos demais agentes.

Q’ Q Quantidade P’ P S’ S D Custo marginal social

Externalidade Custo marginal privado Preço

Fica claro que o problema está em definir que tem tais direitos. Quem tem o direito sobre o ar? Ou sobre um rio que é de uso comum? Essa resposta é tão difícil quanto escolher entre a imposição de uma taxa e a negociação entre as partes.

4.1.1 Poluição ótima

As analises vistas anteriormente geram no equilíbrio uma situação de ótimo de Pareto, o qual é decorrente de um nível ótimo de poluição. Tal nível se localiza entre o máximo emitido de poluição e o mínimo emitido. Se o nível ótimo é o máximo que se emite, então não há internalização da externalidade. Numa situação em que o nível de poluição emitido é zero, isto implicaria produção zero. Fica claro que, sob o ponto de vista econômico, esta não é uma situação desejável.

O exemplo de Faucheux e Noël (1995) mostra duas empresas, A e B, em que a empresa A emite poluição, recaindo os efeitos da sua atividade poluidora sobre a empresa B. O lucro marginal da empresa A é representado pela reta PM da Figura 10. Por se tratar de um mercado competitivo, a receita marginal da empresa é igual ao preço de mercado. A produção é feita com rendimentos decrescentes e a custos de produção crescentes. Numa situação de lucro máximo, a produção é determinada pela área OPM.

Figura 10 – Ganhos e perdas das empresas quando se considera a poluição Fonte: Faucheux e Noël (1995).

Já para a empresa B, a reta OL representa a perda marginal que é submetida pela atividade poluidora de A. Se os custos de tal perda são proporcionais ao aumento da produção de A, quando a produção atinge OM a perda total de B é representada pela área

ORM. P Produção q O Q M L R N Custos, lucros

O ganho social líquido da produção do bem q é dado pela diferença entre as áreas OPM e ORM. Tal diferença, por sua vez, corresponde à diferença entre as áreas OPN e

NRM. O ganho social máximo ocorre quando o lucro marginal de A é igual à perda marginal

de B. Neste caso, tem-se a quantidade ótima Q, onde o ganho social é máximo (a diferença entre as áreas OPM e ORM é máxima). Como em Q a área NRM é igual zero, o ganho social líquido máximo é dado pela área OPN. A perda sofrida por B, quando se produzem Q unidades do bem, é representada pela área ONQ, que representa o nível ótimo da externalidade.

Nesse caso, não é necessário internalizar a externalidade, pois Q representa um nível ótimo. Entretanto, os níveis de externalidade representados pela área QNRM são relevantes, uma vez que quando não existem tais externalidades, ocorre um aumento de bem- estar social ao se alcançar o nível ótimo Q.

Por outro lado, numa situação de ótimo, o nível de ganho privado é maior que o nível de ganho social, representado pelas áreas OPNQ e OPN, respectivamente. A diferença entre estas duas áreas representa o nível de externalidade. Se houver a internalização da externalidade, obtém-se a igualdade dos ganhos social e privado.

Com respeito à quantidade de poluição, um ponto a ser destacado é a capacidade de o meio ambiente absorver a poluição. De forma ilustrativa, pode se supor que o nível de capacidade seja dado por A e que QA e WA sejam, respectivamente, a produção e a

quantidade de poluição associada à capacidade A, conforme mostrado na Figura 11.

Figura 11 – Gráfico de Turvey com capacidade de absorção da poluição Fonte: Faucheux e Noël (1995).

O WA W WM * QA Produção q O Q* QM Custos, lucros Poluição w

Enquanto o nível de poluição W emitido for inferior à capacidade de absorção WA, embora ocorra a degradação ambiental, não ocorrerá a acumulação liquida de poluentes

no meio ambiente. Porém, assim que a quantidade de poluição ultrapassa o limite WA, ocorre

uma acumulação líquida de poluentes no meio ambiente.

É importante ressaltar que, para níveis de poluição abaixo da capacidade de absorção (W < WA), a produção não é nula, embora não seja a quantidade ótima. No

equilíbrio, a quantidade ótima produzida corresponde a Q* enquanto a poluição ótima é W*. Percebe-se que o nível ótimo de poluição é superior à capacidade de absorção do meio ambiente, o que implica que o ótimo econômico é diferente do ótimo ecológico (FAUCHEUX; NOЁL, 1995).