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ração dos Tamoios,U0 dedicada ao imperador, em que a colonização é apresentada como violência e conquista, interpretando-se a resis tência contra isso como luta justificada do que é americano e /o u brasileiro contra o que é português.
O imperador, a quem Magalhães fez uma apresentação pessoal na Corte, colocou-se a favor da epopeia: entre outras-coisas, median te apoio financeiro da publicação e envio de exemplares a intelectu ais, tais como Varnhagen e o português Alexandre Herculano, com a solicitação de se manifestarem a respeito da obra.
A publicação da obra de Magalhães deu lugar a uma polêmica radical na imprensa, em que se fizeram ouvir escritores como José de Alencar, Manoel de Araújo Porto Alegre e até o próprio imperador.
Enquanto José de Alencar, autor do romance histórico mais importante da literatura brasileira - O Guarani—, em que ilustrava o ideal da fusão pacífica entre os portugueses brancos e os índios, havia criticado de modo agudo a obra de Gonçalves de Magalhães, Manoel de Araújo Porto Alegre e o imperador assumiram posição favorável em relação à obra.110 111
Varnhagen não se deixou intimidar pelo engajamento impe rial em prol da obra de Magalhães, e, numa carta de 25 de setem bro de 1856 enviada ao imperador, agradeceu o envio do exemplar, negando a Magalhães qualquer qualificação literária e colocando-o enfaticamenté sob julgamento: “Infelizmente está o poema mui lon ge de poder, no mais mínimo, aspirar às honras da epopeia nacional do século de Pedro II. Nem o assunto de tal Confederação bestial é verdadeiramente épico...”.112
Quatro anos mais tarde, o alvo da crítica radical se defrontou na Revista do Instituto com as opiniões de Varnhagen acerca da ques-
110 MAGALHAES, Domingos José de. A Confederação dos Tamoios. Rio de Janeiro: Empresa Tipográfica 2 de dezembro, 1857, 324p. + 20p. Notas.
111 Para a reconstituição desse debate, veja-se: GASTELLO, José Aderaldo. “A polêmica sobre ‘A Confederação dos Tam oios’”. São Paulo: FFCL-USP, 1953,
139p.
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tão indígena, como expostas na História Geral do Brasil}11 O objetivo de seu artigo foi “a reabilitação do elemento indígena como parte que é da população do Brasil”.113 114
Por reabilitação, Gonçalves de Magalhães entendia provar ser falso designar os indígenas como bárbaros. Com a ajuda da análise de fontes históricas e, portanto, trabalhando do mesmo modo metológi- co adotado por Vamhagen, Magalhães provou que, na sociedade dos indígenas, existiam instituições que correspondiam às instituições da sociedade portuguesa. Como prova, ele mostrava que, entre outras coisas, a estrutura social dos indígenas funcionava igualmente basea da em certos princípios e que dispunha de uma espécie de conjunto de conceitos jurídicos. Desses fatos, ele concluía que, em toda parte, existiria um mesmo espírito humano. A existência de um sentimen to, como o da hospitalidade, por exemplo, a seu ver provava que os indígenas possuíam propriedades semelhantes às dos povos cristãos.
Em sua descrição, os indígenas eram apresentados como por tadores de uma racionalidade e de uma moral que, mesmo com base em atitudes peculiares, também se apresentavam com condições para ser considerados “civilizàdos”. Enquanto Vamhagen acreditava que a força era o meio apropriado para tratar os indígenas, Gonçalves de Magalhães se empenhava em “conclamar os indígenas à civilização e ao cristianismo”.115
A revisão almejada por Magalhães da imagem do indígena no plano ideal - nesse sentido, deve-se mencionar, sobretudo, o âmbito da literatura, em que a epopeia indígena frequentemente aparecia como a de heróis positivos - não era motivada, porém, exclusivamen te por considerações de ordem humana, mas perseguia também ob jetivos práticos:
Se eles nos não dessem logo braços à lavoura e à nossa Ma rinha, dariam seus filhos, já sujeitos às nossas leis e falando 113 Revista do IHGB, Rio de Janeiro, 23, 1860, pp. 3-66.
114 Idem, p. 6. m Idem, p. 66.
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a nossa língua; e nós cumpriríamos assim um dever que nos impõem a religião, a moral, a civilização e o Patriotismo.116 O sentido representado por Magalhães em matéria de polí* tica indígena surgia de um relacionamento alternativo entre uma descrição positiva dos indígenas na literatura e projetos para sua in tegração concreta à sociedade brasileira.
Tanto Magalhães como Vamhagen não tinham dúvidas de que a concretização de um projeto nacional não seria possível sem a in tegração da parcela indígena da população, como já dito. Ambos, no entanto, divergiam fortemente quanto ao modo e à forma de incluí- los e como os indígenas deveriam ser descritos no plano literário.
Num texto inicialmente concebido como introdução â Histó ria Geral do Brasil, Vamhagen apresentou suas ideias a respeito da nacionalidade brasileira. Ele deu a esse texto o título programático de “Como se deve entender a nacionalidade na história do Brasil".11’
O objetivo de Vamhagen e de todos que se engajavam em prol da formação de uma nação brasileira era, como na Europa, “... por meios lentos, cautelosos e políticos, fazer que, em séculos futuros, da qui a duas ou três gerações, não haja um só servo, nem bugres bravos, e todos venham na Pátria a ser cidadãos”.118
A nação, no futuro, poderia certamente ser uma comunidade de cidadãos, mas só se os responsáveis por essa nação fossem brancos, já que, só sob a sua liderança, a nação poderia surgir;
E desgraçadamente quanto mais remontamos ao primitivo Es tado dos nossos Tupinambás, mais tropeços encontramos para reabilitar ante a civilização, à qual nunca teriam chegado sem os esforços quase excepcionais, de abnegação, dos primeiros jesuítas...
1,6 Idem.
117 Conforme nota 103. 118 Idem, p. 232.
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N ão, a nacionalidade brasileira atual e futura, n ão é neta da antropofagia que a raça tupi havia trazido à nossa terra.”” 9 Mesmo antes de Vamhagen chegar a examinar os indígenas em sua História Geral do Brasil, chegou a pronunciar opiniões que iriam cunhar seus estudos.
Nos selvagens não existe o sublim e desvelo que cham am ps pa triotismo, que não é tanto o ap ego a um p ed aço d e terra, ou bairrismo (que n em sequer eles com o nôm ades tinham bairro se u ), com o um sen tim ento elevado que nos im p ele a sacrificar o bem-estar e até a existência p elos com patriotas, ou p éla gló ria da pátria, com a só ideia d e q u e a posteridade será grata...1“ Uma vez que somente os portugueses possuíam o sentimento de patriotismo tão valorizado por Vamhagen, e apenas eles estavam em condições de transmiti-lo, Vamhagen terminava por articular com isso uma nova comprovação quanto à necessidade de fazer deri var a nacionalidade brasileira dos colonizadores brancos.
O tratamento da temática indígena para Vamhagen servia tão- somente para a comprovação de que eles viviam em condições de barbárie e de atraso. Todos os aspectos dessa sociedade “selvagem”, de acordo com as palavras de Vamhagen, eram descritos em deta lhes, sempre invocando a sociedade branca para fins comparativos. Assim ele julgaVa a sociedade indígena: “os laços de família, primeiro elemento de nosa organização social, eram mui frouxos”.119 120 121
Algumas páginas adiante, ele caracterizava os indíge nas como “falsos e infiéis; inconstantes e ingratos, e bastante desconfiados".122
119 Conforme nota 103, p. 232v.
120 VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História Geral do-BrasiL 1 ed., v. 1, p. 98. 121 Idem, p. 46.
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O quadro dos indígenas que se nos afigura com base em sua descrição detalhada era considerado pelo próprio Varnhagen pou co prazeroso e um a crítica aguda em relação à apresentação do indígena como le bon sauvage: “A vista do esboço que traçamos, sem nada carregar as cores, não sabemos como haja ainda poetas, e até filósofos, que vejam no estado selvagem a maior felicidade do homem...”123
Vamhagen chegou a ponto de classificar contatos sexuais en tre mulheres indígenas e homens brancos como contribuição das mulheres indígenas ao processo civilizador e à libertação do jugo de seus homens.124
A imagem dos indígenas traçada por Vamhagen justificava a colonização como empreendimento civilizador e luta contra a bar bárie, em vez de criticá-la como empreendimento de conquista, tal como opinava parte da literatura contemporânea.
Como já mencionado, Vamhagen, após a publicação de sua obra, sofreu violentas críticas pelas opiniões vertidas acerca dos indí genas. Na segunda edição da História Geral, ele tratou dos indígenas no segundo capítulo, ainda antes do descobrimento do país pelos portugueses. Ele esperava, com isso, reduzir a censura de que sua história brasileira teria sido escrita sob prisma português, crítica que, entre outras cojsas, lhe era feita sob a alegação de que os indígenas apareciam, na primeira edição, apenas no oit?tvó capítulo.125 Essa re formulação, porém, não era expressão de uma mudança de base em sua avaliação da problemática indígena.
Não era apenas por parte da literatura que as opiniões de Varnhagen a respeito dos indígenas eram criticadas. Varnhagen também teve um a polêmica com um historiador contemporâneo, * 129
,ís Idem, p. 13S. '« Id em , p. 172.
129 Essa crítica foi formulada por D ’Avczac, em análise da obra de Vamhagen publicada n o Bulletin de L a Société dç Geographie. Desse fato, desenvolveu-se um debate entre os dóis membros da Société de Geographie.
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João Francisco Lisboa (1812-1863),126 cujos pontos centrais não di vergiam de sua controvérsia com Domingos José Gonçalves de Ma galhães.127
O historiador Lisboa, que inicíalmente costumava qualificar-se como aluno de Vamhagen, criticava em seu texto os comentários des te a respeito da colonização como luta justificada contra a barbárie, e os métodos que Varnhagen defendia para “integrar” os indígenas.
Tratando-se de uma polêmica entre historiadores, ambas as partes procuravam apoiar seus argumentos em fontes. Um debate de estudiosos, cuja dimensão política contemporânea, contudo, era muito clara, ou seja, como resolver a questão indígena.
Coerente com seu conceito de história, o historiador Vamha gen buscava encontrar na história também respostas para os desafios do cotidiano político. Quanto à integração à nação brasileira da par cela populacional indígena, ele preconizava como modelo a atuação dos bandeirantes do século XVII, que haviam organizado empreen dimentos para capturar indígenas e empregá-los como mão de obra na lavoura.
I
Vamhagen propunha que o Estado deveria apoiar iniciativas privadas dessa espécie. Aos que realizassem tais caçadas humanas, dar-se-ia, como recompensa pela “ação de civilizar” os indígenas, um período limitado para disporem dessa força de trabalho. Esse mode lo traria também uma solução para o problema da escravidão negra, pois, em vez de buscar mão de obra noutro continente, tal “ação de civilizar” de indígenas brasileiros engendraria: "... um aumento de braços menos perigosos que bs dos negros, porque, daqui a pou co, estariam misturados conosco em cor e em tudo, e então tería-
126 Sobre o historiador João Fran risco JJsboa, veja-se: JANOTTI, Maria de Lour des M. João Francisco Lisboa: jornalista e historiador. São Paulo, Ática, 1977, p. 253. m Sobre esse debate, veja-se: LISBOA, João Francisco. “Sobre a escravidão e a
História Geral do Brasil pelo sr. Vam hagen”. In Apontamentos para a História do
Maranhão. Petrópolis, Vozes, 1976, p: 577-605; VARNHAGEN, Francisco Adol
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mos em todas as províncias - povo - classe social que algumas não possuem”.128
Com isso, Varnhagen tocava o problema básico de um país em que uma terça parte da população era composta de escravos e um número desconhecido de pessoas vivia fora de determ inado “contrato social".129 A m inoria tinha plena consciência da profunda brecha entre essa m inoria ciosa de pensamentos nacionais e um a vasta massa quase intocada por essas ideias, e dos riscos daí resul tantes para a consolidação do Estado nacional.
A constatação de Vamhagen de que o “povo” não existia em todas as províncias tocava nessa problemática. A força lhe parecia um recurso apropriado no trato com os indígenas: “A experiência de cada dia nos está provando que sem o emprego da força não é possível repelir a agressão dos mais ferozes, reprimir suas correrias; e mesmo evitar as represálias a que elas dão lugar”.130
Pelo seu posicionamento em relação aos indígenas, Vamha gen, de certo modo, distanciava-se daqueles que achavam que a cris tianização era o meio apropriado para a solução da problemática in dígena.131 Vamhagen julgava a catequese, demasiadamente lenta para se chegar ao objetivo almejado: “civilizar” os índios, a fim de tom ar o Brasil independente dos escravos negros. A escravidão, na visão de Vamhagen, era, o maior mal, embora não tanto em razão de escrú pulos morais, rnas devido a seus efeitos, entre outras coisas, sobre a cultura da emergente nação brasileira:
Sem identidade d e língua, d e usos e d e religião entre si, só a cor e o infortúnio vinha a unir estes infelizes, com unicando-se na língu a d o colon o, estrangeira a todos, e p or isso sem pre por eles cada vez mais estropiada, em detrim ento até da educação * 150 151 m Conforme nota 63, p. 32.
1W Idem, p. 33.
150 Conforme nota 120, p. 178.
151 Sobre isso, veja-se neste trabalho descrição do tratamento deste tema do ponto de vista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.,
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da m ocidade, que, havendo com eçad o p or aprender com eles a falar erradam ente, tinha depois m ais trabalho para se desa- vezar d e muitas locu ções viciosas.132
No Memorial orgânico,133 anteriorm ente referido, Varnhagen sustentava a necessidade de uma solução política para a questão da escravidão, aludindo à terrível imagem de uma rebelião dos negros:
É urgentíssim o impedir-se q ue entrem mais; e antes pedirm os todos am anhã esm olas e andarmos descalços q u e ver o belo e risonho Brasil - a nossa pátria - convertida num a cadnguenta G uiné. E cuidado que eles n ão dorm em tanto com o se pensa! Já têm feito seus ensaios em vários anos, n o Dia d e Reis, em que se juntam por tod o o Brasil, e só é para tem er que um a vez se com binem a um tem po.
É necessário tratar de equilibrar as raças, proteger por todos os m odos, o seu cruzam ento, para assim term os daqui a um ou dois séculos um a população h om ogên ea, con d ição essencial para evitar n o futuro contínuas guerras civis.154
O Memorial orgânico, redigido em 1849, foi a contribuição a um intenso debate de política interna acerca da problemática do co mércio de escravos. Sua opinião era de que aqueles que apoiavam o comércio de escravos apenas preparavam “um vulcão sombrio e terrí vel para o Brasil".135 Varnhagen'considerava o transporte de escravos negros para o Brasil desde o início da colonização a causa de todos
132 Conforme nota 120, p. 180. 138 Conforme nota 63.
134 Idem, p. 8. 133 Idem, p. 30.
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os maus costumes: "... por seus hábitos menos decorosos, seu pouco pudor, e sua tenaz audácia”.136
Ao nos referirmos, na primeira seção desta parte do trabalho, aos escritos de Vamhagen, pudemos constatar que sua atuação mui tas vezes era marcada pelo predicado de “pragmática”. O mais impor tante paradigma da historiografia brasileira situada na tradição do Iluminismo daquela época era a ideia de que, da história, era possível extrair lições para o presente.137
As interpretações de Varnhagen acerca da história do Brasil eram fortemente impregnadas por questões políticas da época, para cuja solução a história, como cadinho de experiências passadas, ti nha uma contribuição a dar. Nesse sentido, sua observação do passa do era pragmática.
Um bom exemplo disso é a História das Lutas contra os Holan deses no Brasil, publicado em 1871, em Viena.138 A obra foi iniciada em 1867, por ocasião de uma estada no Brasil com o propósito de estimular os que duvidavam da vitória do Brasil na Guerra do Para guai (1865-70).139 Segundo a perspectiva de Vamhagen, os brasileiros poderiam encontrar coragem para o presente a partir da luta de seus antepassados, que durou 24 anos e foi coroada de êxito, contra um dos maiores poderes da Europa na época.
Por sua vez, na História Geral do Brasil, Varnhagen havia rela tado, em detalhes, a invasão dos holandeses no Nordeste do Brasil durante o século XVII. As lutas que daí surgiram, segundo a visão de Varnhagen, foram úteis para o Brasil por dois motivos. Em pri meiro lugar, porque a nação brasileira se formou quase no sangue do combate:
Cremos, sim, que um a guerra de tem pos a tem pos p od e erguer um país d e seu torpor; crem os... poderia estabelecer, com o 196 Conforme nota 120, p. 185.
137 Sobre o conceito d e história do IHGB, veja-se o Capítulo 3 deste livro. 138 Conforme nota 69.
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estabeleceu, mais u nião e fraternidade, em toda a família já brasileira; crem os q ue se estreitam m uito nas mesmas fileiras os laços d e que resultam glórias com uns, e q ue não há víncu los mais firmes que os sancionados pelos sofrimentos; e tanto que ao estrangeiro q ue peleja ao nosso lado e que derrama o seu sangue pela nossa causa, lhe conferim os p elo batismo do sangue a mais valiosa carta de naturalização...140
Com isso, Vamhagen, de forma muito elegante, também resol veu o problema dos estrangeiros que participaram da luta contra os holandeses. Já que a guerra fez deles todos brasileiros, o princípio da nacionalidade, tão importante no século XIX, pôde ser soerguido.
A presença dos holandeses, no entanto, promoveu a civilização do Brasil ainda em outro sentido.
De acordo com Vamhagen, por um lado, só o contato com a cultura holandesa elevou o nível das províncias (então chamadas capitanias) da Bahia e de Pernambuco. Nisso, ele destacava especial mente a atuação do Príncipe Maurício de Nassau e o embelezamento da capital do Recife.141
Para acompanhar a argumentação de Vamhagen, é preciso lem brar, de forma sucinta, o que de fato levou os holandeses àquela épo ca ao nordeste: a região canavieira. O que pretendiam era dominar a totalidade do comércio de açúcar, razão pela qual, de forma coerente, ocuparam também os portos da costa africana, de onde os negros eram transportados èomo mão de obra para o Brasil. Devido à ação dos ho landeses, o comércio de escravos entre Brasil e África ficou fbrtemente prejudicado. Foi também essa a razão pela qual vieram para o sul des povoado do Brasil claramente menos escravos negros do que antes. De vido à sua conhecida posição negativa em relação aos escravos, Vamha gen julgava esse fato por si só como positivo para a evolução civilizatória do Brasil. Isso porque, motivados pela falta de mão de obra, os bandei rantes cruzavam o interior para capturar indígenas, que também eram 140 Conforme nota 120, p. 337.
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vendidos no nordeste, e abriram novos territórios. Achava Vamhagen que, com isso, como resultado da ocupação holandesa, tanto o norte como o sul do Brasil experimentaram um movimento civilizador.
Na perspectiva de Vamhagen, enfeixavam-se dois dos mais im portantes problemas de sua época num acontecimento histórico do século XVII: o advento da nação e sua definição como representante da civilização, razão pela qual, n a obra de Vamhagen, a esse aconte cimento se atribui um significado simbólico tão intenso.
Fiel à sua convicção de que cabe ao historiador proferir sen tenças, Vamhagen opinava a respeito dos resultados da guerra con tra os holandeses:
O perigo com um fez aproxim ar m ais do escravo o sen h or e o soldado eu rop eu do brasileiro, ou d o ín d io am igo... Por outro lado, tam bém o perigo com um au m en tou m u ito a tolerância dos povos d e umas capitanias para as outras, e estabeleceu m aior fraternidade; d e m o d o q ue quase se p o d e assegurar que dessa guerra data o espírito público mais generalizado por tod o o Brasil.
Em definitivo: da invasão holan d esa resultou algum proveito para o Brasil? - grande responsabilidade envolve a resposta, q uando, ao pensar dã-Ia, co m o q ue acom etem nossos ouvidos