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EDUARDO CASTRO — Diretor Financeiro

No documento Coleção Jovem Jurista 2011 (páginas 98-103)

1. Estão para ser realizadas as licitações das linhas de ônibus interestaduais. Como

está sendo a atuação da ANTT e do Ministério do Transporte diante dessa situação,

e como se deu esse fato na última licitação realizada?

O Ministério dos Transportes não tem atuação direta na execução do processo licitatório. Ele tem como tarefa o estabelecimento de políticas e diretrizes para o sis- tema de transportes no País. Cabe à ANTT a permissão dos serviços de transporte rodoviário de passageiros no âmbito interestadual e internacional. Nos termos do inciso V, do art. 24, da Lei nº 10.233/01, cabe à ANTT estabelecer a edição de atos de outorga e de extinção da prestação de serviços terrestres, assim como a celebração e gestão dos contratos e demais instrumentos administrativos decorrentes de tais ações. Considerando que em 07 de outubro de 2008 houve o termino da vigência dos contratos de permissão da maioria das linhas em operação no País e não houve como prorrogar os contratos, passou a ser necessária a licitação dos serviços. Nesse contexto é que a ANTT, como agência reguladora e cumprindo sua atribuição pre- cípua está agindo. Através da RESOLUÇÃO 407/2008 foi instituído o Projeto da Rede Nacional de Transporte Rodoviário Interestadual de Passageiros — PROPASS BRASIL, que tem como objetivo re -estruturar o sistema de transporte rodoviário de passageiros no País, através da apresentação de estudos de viabilidade econômico- -i nanceira das linhas. Desde então, diversos trabalhos já foram feitos visando a construção do modelo de licitação, dei nição do edital e das regras do certame lici- tatório, com previsão para estarem concluídos os trabalhos até dezembro de 2001, conforme dei nido no cronograma estabelecido pelo Tribunal de Contas da União —TCU. Uma primeira tentativa de licitar foi abortada por falta de consistência dos dados que a embasavam. Desde então a ANTT vem refazendo o processo e cole- tando mais dados, com vistas a publicar até novembro desse ano o novo modelo de edital. Quanto à última licitação ocorrida, em 1998, foi realizada sob o comando do então Departamento de Transportes Rodoviário — DTR, do Ministério dos Transportes. Àquela época ainda não existia a ANTT. Foram licitadas 26 linhas até então não existentes e que eram objeto de determinação judicial.

2. Quais dos “novos direitos” passou a ter mais influência no dia -a -dia da empresa?

Algum especificamente ou todos, sendo cada um a sua maneira? De que forma?

A legislação que causou maior impacto na rotina da empresa foi o Código de Defesa do Consumidor, que forçou a Administração a rever vários de seus procedimentos para oferecer um serviço adequado aos usuários e prestar -lhes informações mais precisas. Outras legislações não causaram tanto impacto na atividade da empresa quanto o referido Código.

3. No início da empresa qual o direito que tinha mais importância na rotina da em-

presa? Esse tipo de preocupação existia?

A Util S/A tem mais de 60 (sessenta) anos de existência. Quando iniciou suas atividades, só havia o Código Civil e a Lei das Estradas de Ferro, além de algumas normas regulamentares editadas pelo ente público competente. Foi um período muito fértil e lucrativo, pois, o mercado estava crescendo vigoro- samente e permitiu a expansão, não só da Util S/A, mas de todas as empresas contemporâneas a ela. Naquela época não havia a preocupação que temos hoje. Atualmente o serviço tem que ser prestado de forma adequada, o que importa dizer que deve ser pontual, seguro, confortável, etc. Antes não havia uma i sca- lização tão rigorosa em relação à qualidade do serviço, assim como os usuários não tinham muitas opções de transporte. Essas circunstâncias inl uenciavam na forma de gestão da empresa. Por essa razão, as empresas de transporte coletivo, de forma geral, sentiram as contundentes modii cações introduzidas pelo Có- digo Consumerista. Outra legislação que causou grande reviravolta na empresa foi a ambiental, que antes era praticamente inexistente.

4. Para que a empresa se adequasse a esse contexto de novos direitos, em qual área

precisou se focar mais? Os custos aumentaram muito devido a essa adequações?

Sem dúvida, a qualidade do serviço e o atendimento ao usuário foram os principais focos de atenção da administração da empresa, a i m de se adequar aos novos mandamentos legais. Com relação às adequações às normas do con- sumidor, o impacto não foi muito sentido, haja vista que voltou -se mais para a área de treinamento de pessoal e conscientização da necessidade de se prestar um serviços de qualidade. Por outro lado, no que pertine às adequações às leis ambientais, essas elevaram consideravelmente os custos da empresa, em razão das obras que se i zeram necessárias.

5. Após as a adequações feitas pela empresa para que estivesse de acordo com

nosso ordenamento pátrio, pode -se considerar que essas mudanças foram benéficas

para que a empresa crescesse? Passou a gerar mais lucros?

A qualidade dos serviços melhorou consideravelmente. Hoje os usuários viajam em veículos bastante confortáveis, com pontualidade e a máxima segu- rança. No que tange ao meio ambiente, as modii cações implementadas através, principalmente, das obras realizadas, foram benéi cas no processo de conscien- tização ambiental por parte de todos. Essas modii cações não geraram lucro, ao contrário, como esclarecido no item anterior, houve uma elevação nos custos.

Introdução

Nos últimos anos, o Direito Administrativo Brasileiro passa por profundas reformas com a busca da superação gradual de conceitos e institutos clássicos que se ai guram anacrônicos na atual conjuntura de busca da ei ciência na gestão pública, tais como: formalismo excessivo, legalidade estrita e supremacia do interesse público.

Contudo, permanece praticamente inalterada e pouco debatida a disci- plina jurídica dos contratos administrativos no Brasil, regidos pela Lei nº 8.666/93. Uma das principais questões a ser enfrentada se refere à repartição de riscos nos contratos administrativos comuns1. A disciplina contida na Lei

nº 8.666/93 aloca, na prática, de acordo com o modelo tradicional2 sustentado

pela doutrina clássica3, grande parte dos riscos para o Estado, o que suscita efei-

tos perversos para a sociedade como: inei ciência, morosidade no cumprimento dos contratos, extrapolação dos prazos previstos e aumento de custos.

Como se sabe, a Lei nº 8.666/93 versa tanto sobre o procedimento licita- tório como disciplina os contratos administrativos. No que concerne às dispo- sições referentes ao procedimento licitatório, já houve reformas importantes4

e existem, em tramitação, propostas de reforma; todavia, o mesmo não ocorre com o regramento atinente aos contratos administrativos, que permanece pra- ticamente inalterado e sem propostas efetivas de mudança.

Alguns autores possuem opinião extremamente crítica em relação à Lei de Licitações e Contratos, como salienta GUSTAVO BINENBOJM:

1 No presente trabalho, permite -se designar aqueles contratos administrativos regidos pela Lei nº 8.666/93, como contratos administrativos comuns.

2 Modelo que defende a constitucionalização da repartição de riscos contida no art. 65, II, d, da Lei nº 8.666/93.

3 Exemplos: Maria Sylvia Zanella Di Pietro; Marçal Justen Filho; Celso Antonio Bandeira de Mello. Ressalte -se que essa corrente é majoritária.

“A Lei 8.666/93 é, reconhecidamente, uma das piores leis de Li-

citações do Mundo. Um exemplo de academicismo jurídico prosaico, destituído de qualquer preocupação pragmática com resultados. E tal receita é ainda regada a altas doses de corrupção e pouca transparência” 5.

Com efeito, parte considerável da doutrina verii ca a superação do modelo consagrado na Lei nº 8.666/93. MARÇAL JUSTEN FILHO6 prevê que, em

breve, o procedimento licitatório nos moldes atuais será objeto de profunda reformulação:

“Verii ca -se forte tendência à alteração do modelo da Lei nº 8.666/93.

Há difusão da sistemática do pregão (disciplinada pela Lei 10.520), que vem sendo aplicado de modo amplo. A Lei n° 11.079 (de 2004) intro- duziu sensíveis inovações nas concorrências para outorgas de parcerias publico -privadas. É previsível que, em um futuro não muito distante, o procedimento licitatório siga disciplina muito diversa daquela prevista na Lei n° 8.666”.

Em relação à alteração do modelo consagrado na Lei de Licitações, é pre- ciso registrar que essa tarefa tem se mostrado extremamente árdua. Incontáveis propostas de alterações encontraram grande dii culdade de tramitação no Con- gresso, por isso, quando se fala em superação da Lei 8.666/93, é imprescindível levar em consideração a dii culdade em empreender mudanças.7

Parece -nos, entretanto, que grande parte dos problemas suscitados pela Lei 8.666/93 advém da sua aplicação e não da sua redação, mesmo considerando que a Lei em si, possui sérias dei ciências. Todavia, as distorções principais se referem à cultura anacrônica que norteia a sua aplicação, exemplo disso é justa- mente a repartição de riscos em contratos administrativos comuns.

Deste modo, é possível inferir que a Lei nº 8.666/93, da forma como vem sendo habitualmente aplicada, se ai gura como obstáculo a ei ciência adminis- trativa e, por isso, é antagônica ao Novo Direito Administrativo que a cada dia se desenvolve e avança no Brasil.

5 BINENBOJM, Gustavo. Reforma da Lei de Licitações: poderia ser melhor. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado, Salvador, nº. 8, dezembro 2006./ janeiro/fevereiro.

6 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos — 11. Ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 12.

7 Nesse contexto, é possível perceber um esvaziamento da Lei 8.666/93. Uma série de diplomas legais subsequentes tem reduzido a abrangência da referida Lei: Lei 8987/95, Lei 10520/02, Lei 11.079/04, sem contar os procedimentos licitatórios especíi cos referentes aos setores regulados, como ocorre com o setor elétrico, por exemplo.

No documento Coleção Jovem Jurista 2011 (páginas 98-103)

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