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Tabela IV — Quantidade Anual de Procedimentos Instaurados

No documento Coleção Jovem Jurista 2011 (páginas 158-168)

Nota explicativa: os dados utilizados são até o ano de 2005, tendo em vista que somente o

Relatório de Atividades de 2005 possui dados sobre o número de inquéritos, ações penais, total de réus e total de réus condenados. Além disso, os dados até 2005 representam um acumulado desde o ano de 1998, data de criação da Lei de Lavagem, tendo o número de processos instau- rados com base em informações provenientes do COAF.

Até 2005

Inquéritos policiais 998(2)

Ações Penais 171(3)

Total de Réus 1.973(5)

Total de Réus Condenados 361(4)

Fonte: Relatório Atividades, 2005.

A partir da Tabela IV, o que se pode aferir é que, até 2005, foram instau- rados 998(2) inquéritos policiais com 171(3) ações penais (17,13% de aproveita-

mento de inquéritos), totalizando 361(4) réus condenados de 1.973(5) denuncia-

dos (18,29% de condenações).

Esse número de procedimentos policiais e judiciais poderia ser maior se houvesse uma melhor regulação do setor.

Diz -se isso, pois, tomando como base os dados fornecidos anteriormente, tem -se uma utilização de 9,4% das comunicações recebidas. Esta utilização re- sultou em procedimentos policiais e judiciais, além de pedidos de cooperações, sejam nacionais ou internacionais.

No caso do setor de cartões de crédito, seus critérios de regulação são alta- mente subjetivos. Esta forma explica os resultados encontrados na análise: (i) o baixo número de comunicações recebidas e (ii) o alto número de comunicações utilizadas.

Ambas as consequências derivam do substancial subjetivismo dos requi- sitos. Um administrador desse setor, ciente desses critérios, só irá comunicar

aquilo que tiver “suspeita” ou quando houver “alta concentração sem causa aparente”, cabendo a ele enviar tais informações. Por um lado, cria um subjeti- vismo, mas por outro, cria uma i ltragem por parte do obrigado, que só irá en- viar informações que tenham algum tipo de “indício” e não qualquer transação, somente por ultrapassar determinado valor.

Esse tipo de análise ajuda o COAF, visto que já traz a ele comunicações com possibilidade real de serem utilizadas, não i cando a seu cargo fazer uma i ltragem daquilo que realmente importa.

Contudo, ao se adotar esse critério de subjetividade em todas as comuni- cações, como já acontece, o que se tem é uma baixa utilização de apenas 9,4%. Ao tratarmos somente dos setores que o COAF regulamenta, somente o setor de cartões de crédito tem uma maior utilização de suas comunicações. O restante dos setores obrigados, mas com regulação própria do setor, enviam bastantes comunicações.

Então, o que se pode concluir é que não basta haver maior ou menor sub- jetivismo na regulamentação do setor, porém um caráter objetivo especíi co, fazendo com que o setor seja obrigado a enviar comunicações de transações independentemente de sua vontade, mas somente daquelas que realmente inte- ressam, de uma faixa, proveniência ou forma especíi ca.

Como exemplo do exposto, citamos novamente o modelo do feixe de pes- ca. O que há para o setor de cartões de crédito é um feixe grande, no qual passampeixes menores, i cando somente os maiores, levando a um cuidado pos- terior de especii car, dentre os maiores, aqueles que realmente importam. Nos setores com regulação própria, há a utilização de um feixe pequeno, no qual i cam todos os peixes possíveis, sem, contudo, ter um cuidado de especii car quais seriam os peixes que realmente importam, i cando a cargo do órgão pe- neirar os peixes que poderão ser utilizados.

O que poderia haver, como já exposto, seria a atuação em uma área es- pecíi ca de ei ciência, tornando os outros setores baseados em requisitos sub- jetivos que realmente possam gerar comunicações utilizáveis, ou aumentar as regulações de todos os setores de modo a gerar um número maior de comuni- cações ei cientes.

Como a primeira opção é a adotada hoje pelos órgãos, através de uma re- gulação subjetiva, cujo resultado é de 9,4% de utilização de comunicações, uma alternativa seria a mudança do restante para uma regulação objetiva especíi ca, na qual o feixe de peixe seria pequeno, i cando preso à rede um grande número de comunicações, mas somente sendo reportadas, através de novas regulamen- tações, aquelas especíi cas e que possam ser utilizadas.

Assim, se poderia focar naquilo que realmente é utilizado e resulta em in- quéritos policias e judiciais. Além disso, com o número de 9,4% de utilização das comunicações, o que se percebe -se que estes critérios poderiam ser melho- rados, cabendo tal alteração a uma melhoria na percepção global de enquadra- mento, passando de formas mais gerais, para especíi cas.

No tocante às diretivas internacionais, vê -se que a legislação brasileira tem um histórico muito bom de recepção de diretivas internacionais, participando dos principais tratados internacionais e convenções que coíbem o crime.

As resoluções editadas pelo GAFI têm grande receptividade no Brasil. A re- comendação 1 do GAFI, que sugere uma tipii cação mais abrangente do crime antecedente, até agora não foi adota. Entretanto, o PL 3.443/08, como citado acima, propõe a alteração do caput do art. 1º da Lei de Lavagem de forma a abranger qualquer infração penal como crime antecedente, podendo aí incor- porar diversos crimes.

Mais ainda, diversas recomendações foram incorporadas ao ordenamento, tanto através de resoluções do COAF ou Banco Central, quanto através de legislação ordinária. As nove recomendações especiais do GAFI, editadas em 2004, tratam especii camente do terrorismo e seu i nanciamento.

A tipii cação da conduta exposta no art. 1º, inciso II, da Lei de Lavagem, conforme demonstrado anteriormente, não foi incorporado pelo ordenamento brasileiro, mesmo tendo o Brasil assinado Convenção Internacional para Su- pressão do Financiamento do Terrorismo. Logo, ainda necessita de regulação ordinária, além de incorporação das regras previstas nas nove recomendações especiais do GAFI.

Em especial, frisa -se sobre a Recomendação 3, daquelas editadas em 2004, que sugerem uma implementação de medidas para congelar, sem atrasos, fun- dos e rendas de terroristas ou de quem os i nancia. É preciso haver uma propor- cionalidade no momento de elaboração da norma ou na sua aplicação de modo a não haver injustiças ou arbitrariedades.

É claro que é preciso haver uma repressão sobre esses grupos terroristas, ainda mais quando se trata em ativismos contra a população em nome de um “ideal maior”. Porém, não se devem quebrar direitos com base na justii cativa de que a segurança é o bem mais importante, visto que é justamente em situa- ções de risco que os direitos fundamentais devem ser resguardados.

Hoje em dia, com diversos seriados, i lmes e pressões internacionais, a pu- nição tornou -se o argumento a i m de prevenir. Contudo, como já exposto anteriormente, não adianta reprimir se a prevenção é inei caz, seja através das fronteiras, contas, movimentação de ativos, entre outros.

No Brasil, o COAF e o DRCI possuem acordos bilaterais ou multilaterais com vários países, entre eles, EUA, Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, França, Itália, Portugal, Suíça, Coréia do Sul, Peru, Líbano e Ucrânia. São estes tratados que possibilitam a troca de informações em relação à fraude i scal e facilitam a repatriação do dinheiro de origem ilícita.

Há uma tentativa de interação global de modo a remover etapas numa so- ciedade cada vez mais ágil em meio à tecnologia. Isso tem custos, muitas vezes altos, mas que precisam outras vezes ser repensados, tendo em vista os objetivos do país, sejam eles resguardar uma democracia com seus direitos fundamentais, sejam a garantia da segurança coletiva, cada vez atuando de modo repressivo, extinguindo aos poucos com a democracia e suas liberdades individuais.

4. Conclusão:

Diante de todas as análises feitas pelo presente estudo, tendo como base as es- tatísticas obtidas junto aos Relatórios de Atividades do COAF, podem -se aferir algumas inei ciências administrativas no uso e formulação das regras de comu- nicações das pessoas obrigadas pelo art. 9º da Lei n. º 9.613/98.

Com o i m de melhorar tal desempenho, não adianta a formulação de no- vas regras sem foco especíi co ou focando sobre aspectos errados, criando novos obrigados e pessoas obrigadas a prestar comunicações, tratar toda e qualquer infração como crime antecedente do crime de lavagem, seguir ou não as normas internacionais a dedo ou, simplesmente, criar milhões de cargos achando que poderá usar -se de toda e qualquer informação recebida para o i m da crimina- lização da lavagem.

O verdadeiro foco, ao entender particular, num primeiro momento, de- veria ser a administração interna com ênfase na elaboração de normas sobre a sua utilização em procedimentos policiais e judiciais. Não adianta receber comunicações sobre diversas áreas, sendo que aquelas que realmente interessam são subutilizadas ou passam despercebidas. Focar nos setores que geram efeti- vamente uma demanda maior por resultados nada mais é que gerar ei ciência, algo que não está claro até o momento.

Esse foco se daria como um exemplo e algo a se copiar. Como visto, os setores regulados pelo COAF que mais têm utilização são aqueles com regras subjetivas, mas com características especíi cas sobre o que se quer i ltrar. Outras regras, como as dos Bancos com operações em espécie, possuem normas muito abrangentes, com um corte nas transações muito baixo. Dessa maneira, diver- sas operações serão reportadas, muitas inúteis, precisando ainda ser i ltradas,

inchando o órgão de informações que não tem uma praticidade com relação à lavagem de dinheiro.

Além disso, quando se diz que o ideal é uma postura mais objetiva espe- cíi ca, propõe -se terem normas com características diretas, de modo que não haja obscuridade por trás da regulação. Uma forma especíi ca ajudaria a focar realmente no que se propõe, o objetivo principal sobre aquele que se quer pegar.

A diferença entre um corte em operações de cinco mil reais e quinze mil reais é somente o valor. Pessoas que realizavam operações com quatro mil reais vão continuar a realizar operações com quatorze mil reais. O que muda é que a faixa irá frisar uma especii cidade de operações, aquelas menos engenhosas e que geram mais custos. Aqueles que fazem armações ambiciosas serão difíceis de encontrar, mas é possível encontrar aqueles que não se importam ou têm menos cuidados com isso.

Contudo, se uma alternativa diferente for tomada, aumentando o corte e propiciando que novos atores e operações sejam reportados ao COAF, o resul- tado será mais comunicações ao órgão. Aquelas que não estavam sendo abran- gidas, agora serão reportadas. Isso sempre acontecerá, aumentando em números exponenciais as comunicações recebidas.

O critério, então, baseando -se em uma forma mais objetiva, tentaria ma- ximizar as áreas especíi cas a dar -se ênfase. Hoje, há um caráter subjetivo gene- ralista, no qual as comunicações recebidas têm utilização baixa, o que rel ete no número de procedimentos, sejam policiais ou judiciais.

Caso se queira mudar, isso não pode vir a todo custo, primeiro porque o problema é interno e administrativo e segundo porque não adianta punir mais e de um modo severo quebrando garantias fundamentais e direitos constitucionais.

A primeira razão, como já analisado durante o trabalho, advém de regu- lações redigidas de modo abrangente que acabam por ser um dos fatores que implicam na baixa utilização das comunicações, gerando inei ciência adminis- trativa policial e judiciária.

A segunda razão é uma tendência brasileira dos últimos anos e que a cada dia se faz crescente: penas e leis mais severas como forma de acabar com os crimes. Não é através de leis e penas que se protege a sociedade de crimes, mas sim de uma i scalização mais adequada.

Nesse caso não seria diferente. Fiscalizar e fazer normas mais ajustadas ao padrão, através de estudos técnicos e referências, com certeza é muito mais produtivo que gerar mais processos com o i m de punir mais. Ninguém será punido se não for pego, tornando a lei inepta e inei ciente, tomando por base sua i nalidade.

Além disso, necessário seria fazer uma melhora no controle das informa- ções que são recebidas. O COAF é um órgão centralizador de informações, de- vendo a ele fazer um banco de dados e cruzar as diversas operações, semelhante ao que ocorre com a Receita Federal.

Para isso o incentivo à melhora deve ser feito na parte de elaboração de normas e controle das comunicações. Desta forma, os resultados serão maiores, melhores e mais ei cientes.

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No documento Coleção Jovem Jurista 2011 (páginas 158-168)

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