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Educação ambiental crítica no contexto escolar

3.4 COMO SURGIU O TERMO EDUCAÇÃO AMBIENTAL

3.4.2 Educação ambiental crítica no contexto escolar

A grande preocupação com o meio ambiente e a necessidade de se conversar sobre os riscos ambientais provocados pela relação desequilibrada do ser humano-natureza, vem sendo tema de debates contemporâneos.

Loureiro, explica pelo Instituto de Arte Tear - Pontão de Cultura e Educação, Rio de Janeiro-RJ, no texto “Educação Ambiental Crítica – Contribuições e Desafios”, que se olharmos a EA vem “sendo adjetiva de várias formas”. Nessa busca da identidade que se definiu pela negação ao estilo de vida urbano-industrial e no diálogo e várias visões de mundo que se limitam a valores culturais individualistas, consumistas poderemos cair em uma “visão homogeneizadora ou simplificada”. Loureiro explica que, para não cairmos nessa visão, é preciso construir outros caminhos e que “Educação Ambiental pode não ser suficiente para se entender o que se pretende com a prática educativa ambiental” (LOUREIRO, C. F., 2016).

A escola, como instituição, pode proporcionar conhecimento e promover ações e reações e, assim, despertar o senso crítico ao promover uma Educação Ambiental Crítica (EAC). Lopes (2010, p. 41), no livro Ecopedagogia e Cidadania Planetária, capítulo cinco, discutiu sobre: “a evolução do conceito de EA”. Abordou também sobre “a postura reducionista presente na Educação Tradicional impede percepção de que os problemas atuais vividos pela humanidade estão interligados”. Assim, para a autora: “Todos esses fatos e mais as discussões ocorridas no âmbito social e ecológico fizeram com que se direcionasse para uma educação que fosse ambiental na sua totalidade.”

É preciso desempenhar a EA em sua totalidade para encaminhar ao entendimento sobre sua importância, reduzindo a visão fragmentada de mundo, além de romper paradigmas. Para isso, é preciso incorporar outras dimensões como a cultura, a política, a história entre outras, desempenhando assim uma EAC.

Para Loureiro (2012, p. 17), na EA, ciência e formação crítica precisam se relacionar de modo a compreendermos sob que condições o saber científico se desenvolve a favor do que é de quem. Portanto, “Educação Ambiental antes de tudo é Educação”, e fazer reflexões a respeito dos problemas ambientais

desvinculadas da complexidade social, cultural, histórica, política, ideológica e econômica, resulta numa visão de mundo dualista, que dissocia as dimensões social e natural. Completa ainda que “longe de uma educação temática e disciplinar, a EA, é uma dimensão essencial do processo pedagógico [...]” (LOUREIRO, C. F., 2012, p. 102).

A EAC, no contexto escolar, pode promover a quebra de paradigmas, posto que ela não se reduz somente ao meio ambiente, já que existe um conjunto conceitos que perpassam vários setores como o econômico, o social, o cultural, entre outros, buscando, assim, mais justiça, qualidade de vida, cidadania, igualdade e equidade.

Dessa forma, a escola é corresponsável pela promoção dessas mudanças, juntamente com o poder público, por meio da legislação na área ambiental. Mas muitos são os desafios e demandas no campo educacional que necessitam ser superados, como, por exemplo, uma formação adequada do professor, (re)definição do papel da escola na sociedade atual e uma melhor abordagem da Educação Ambiental no contexto escolar, formando, assim, uma sociedade com cidadãos comprometidos, conscientes e sensibilizados, sabedor do poder das ações individuais e coletivas para a qualidade de vida da natureza e do planeta, para as futuras gerações numa relação de envolvimento, de conexão e equilíbrio com a sua própria natureza.

Para Loureiro, continuando no texto, “EAC contribuições e desafios”, a EAC situando a perspectiva crítica é vista como sinônimo de outras denominações que aparecem com frequência em textos e discursos: (transformadora, popular, emancipatória e dialógica), estando muito próxima também de certas abordagens da denominada ecopedagogia. É preciso vincular os processos ecológicos aos sociais na leitura do mundo, isto é, reconhecer e relacionar a natureza às questões sociais que formamos ao longo da vida bem como à: “cultura, educação, classe social, instituições, família, gênero, etnia, nacionalidade etc)” (LOUREIRO, C. F., 2016).

A EAC é bastante complexa em seu entendimento de natureza, sociedade, ser humano e educação, exigindo amplo trânsito entre ciências (sociais ou naturais) e filosofia, dialogando e construindo “pontes” e saberes transdisciplinares. O autor completa que é preciso realizamos ações sobre componentes micro, ou seja:

Elementos “currículo, conteúdos, atividades extracurriculares, relação escola-comunidade, projeto político pedagógico etc e sobre aspectos macro (política educacional, política de formação de professores, relação educação-trabalho- mercado, diretrizes curriculares etc.), vinculando-os (LOUREIRO, C. F., 2016).

Nesse entendimento, na visão crítica, Loureiro interpreta que não terá:

Leis atemporais, verdades absolutas, conceitos sem história, educação fora da sociedade, mas relações em movimento no tempo-espaço e características peculiares a cada formação social que devem ser permanentemente questionadas e superadas para que se construa uma nova sociedade vista como ‘sustentável’. [...]. Os efeitos deste movimento crítico na Educação Ambiental são bastante visíveis. Há uma ampliação na compreensão do mundo e o repensar das relações eu-eu, eu-outro, eu-nós no mundo. Temas anteriormente tratados como meio para a preservação ou respeito à natureza (elementos importantes mas insuficientes ao reforçarem a dicotomia cultura-natureza), são problematizados em várias dimensões (cultural, econômica, política, legal, histórica, geográfica, estética etc.). Projetos que ficavam como um “apêndice” são concebidos e planejados em diálogo com a estrutura pedagógica de cada escola. Ações que ignoravam secretarias de educação e a autonomia escolar, reconhecem que é preciso dialogar com o “mundo da educação” e intervir nas políticas públicas para que práticas viáveis sejam democratizadas. E o principal: a perspectiva ambiental passa a fazer parte ativa dos projetos político-pedagógicos (PPP), permeando a instituição escola em seu pulsar (LOUREIRO, C. F., 2016).

A prática escolar com perspectiva da EAC exige do educando conhecimento da posição ocupada, pois, convém relembrar que a EAC não favorece a separação entre cultura-natureza.

4 METODOLOGIA

Para construção e desenvolvimento desta pesquisa, que tem como objetivo inicial analisar de que forma a EA foi contemplada no documento BNCC, foi realizada uma escolha metodológica particular. Inicialmente, uma abordagem qualitativa, utilizando o método de caráter documental e bibliográfico. Os procedimentos metodológicos da técnica de coletas de dados, a partir da perspectiva qualitativa de Minayo et al. (2007), que possibilitou a colheita de materiais e categorização dos mesmos que, a posteriori , constituiriam o corpus da pesquisa.

Em seguida, procedeu-se à análise corpus, etapa da pesquisa em que foram utilizados recursos da Análise de Discurso (AD) para identificar, na construção do texto da normativa, a intencionalidade do autor.

Assim, a pesquisa faz um resgate dos aspectos das análises possíveis do tema, culminando com a análise da perspectiva discursiva do documento, ou seja, a relação entre língua-discurso-ideologia existente no texto da normativa. Ao determinar que fique a cargo das escolas a inclusão da temática ambiental nos documentos, a BNCC materializa a intenção de silenciar as vozes discordantes que, numa visão crítica das questões ambientais, poderiam, no espaço escolar, promover discussões que levariam a uma visão crítica por parte dos alunos.