Esta pesquisa aponta, entre outras possibilidades, para a necessidade da discussão a respeito da própria estrutura da Base. O que se espera com o nivelamento proposto na parte comum, entre outras questões. A impressão pessoal que fica, ao fim do caminho percorrido, é que valeu a pena ter procurado desvendar as entrelinhas do texto. Valeu a pena ter me aventurado na perspectiva da Análise de Discurso como ferramenta para perceber que é sempre necessário questionar os documentos que regem a educação. Um exemplo disso está no processo de desgaste do termo Educação Ambiental que sofreu um deslize em seu significado, mudando de uma palavra à outra do mesmo campo semântico, mas que resultou no esvaziamento do termo inicial, perdendo sua essência e sua força.
A partir da não aceitação do silenciamento do termo Educação Ambiental, no texto da normativa, diversas outras incongruências foram percebidas na organização das unidades temáticas do CCN, por exemplo. Outra observação interessante diz respeito à própria sigla, BNCC, que contempla a parte comum do currículo, mas omite a parte diversifica.
Diante do exposto nesta pesquisa e entendendo a importância da abordagem da temática EA no contexto escolar, recomendo trabalhos futuros para analisar que noção de ciências de natureza é apresentada no CCH do documento normativo BNCC, que rege a vida escolar, mas que nem por isso está imune a questionamentos, uma vez que não dá conta da realidade das escolas. Assim, como esta pesquisa tem como sopro inicial a não aceitação do silenciamento da Educação Ambiental no texto da normativa, esta autora considera importante que o debate seja estendido para questões além da proposta neste trabalho. É urgente que se faça do espaço escolar o lugar de não aceitação do silêncio censura, do silêncio omissão, que nos é imposto não só na negação à educação de qualidade, como também o direito à cidadania, usurpado cotidianamente de todos os cidadãos. A escola precisa ser o ruído que rompe esse e outras formas de silêncio.
8 PROPOSTA DE PRODUTO FINAL
O foco desta pesquisa foi mapear o tratamento dado à temática ambiental no caderno de ciências da natureza e ciências humanas, contido no texto da BNCC. Como proposta de produto desta dissertação, faremos uma Sequência Didática destinada aos professores na forma da contribuição para a melhoria das práticas docentes, uma vez que a BNCC não oferece subsídios para o professor. Esta sequência estará embasada no Conteúdo Diversificado, oferecendo um modo de trabalho interdisciplinar da EA. Assim, a partir de uma proposta Sequência Didática para professores que ainda não se apropriaram do assunto, com atividades práticas para subsidiar o trabalho docente em sala de aula, entre outras possibilidades.
Na sua análise, a professora Vanessa Marion Andreoli (2016, p. 285) ressalta “que as formas de avaliação tradicionais, que abordam as atividades de forma isolada e independente, não cabem à Educação Ambiental e ainda seus ‘resultados’ dificilmente apresentam relação direta com uma única atividade, já que a Educação Ambiental é um processo e não uma ação pontual”. Essa perspectiva aponta para pertinência da sequência didática como prática pedagógica possível a qual consta como atividade prática elaborada pela autora, sob a orientação da professora Ana Josefina para ser apresentada aos professores da escola alvo desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
ACOSTA, Alberto; BREDA, Tadeu. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Editora Elefante, 2016.
ANDREOLI, Vanessa Marion. A educação ambiental no contexto dos colégios estaduais da Ilha do Mel/PR : currículo, ação docente e desenvolvimento comunitário local. 2016. Doutorado em Educação - Universidade Federal do Paraná, Curitiba - PR, 2016. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/46452. Acesso em: 30 abr. 2021.
BARBOSA, Giovani; OLIVEIRA, Caroline Terra de. Educação Ambiental na Base Nacional Comum Curricular. REMEA - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, [s. l.], v. 37, n. 1, p. 323–335, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.14295/remea.v37i1.11000
BEHREND, Danielle Monteiro; COUSIN, Cláudia da Silva; GALIAZZI, Maria do Carmo. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: O QUE SE MOSTRA DE REFERÊNCIA À EDUCAÇÃO AMBIENTAL? Ambiente & Educação, [s. l.], v.
23, n. 2, p. 74–89, 2018. Disponível em:
https://doi.org/10.14295/ambeduc.v23i2.8425
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. (BNCC). Brasília: Ministério da
Educação, 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofin al_site.pdf. Acesso em: 28 fev. 2020.
BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE
1988. [S. l.], 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília - DF: MEC, SEB, DICEI, 2013.
BRASIL. LEI No 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1996. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 22 abr. 2019.
BRASIL. LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília: Ministério da Educação, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 28 fev. 2020. BRASIL. Parâmetro Curricular Nacional. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamentalBrasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
BRASIL. Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 2001.
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/coea/CadernoApresentacao.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019.
BRASIL. RESOLUÇÃO CNE/CP No 2, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2017. Institui e orienta a implantação da Base Nacional Comum Curricular. MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2017. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias =79631-rcp002-17-pdf&category_slug=dezembro-2017-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 28 dez. 2020.
BRASIL. RESOLUÇÃO No 4, DE 13 DE JULHO DE 2010. Define Diretrizes Curriculares NacionaisGerais para a Educação Básica. MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf. Acesso em: 28 dez. 2020.
CARSON, Rachel. Silent spring. Boston: Houghton Mifflin Company, 1962. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; GRUN, Mauro; TRAJBER, Rachel. Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental. Brasília: Organização das Nações Unidas Para Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. DIAMOND, Jared. Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. 1a ediçãoed. [S. l.]: Editora Record, 2005.
ENRIQUE DUSSEL - BUEN VIVIR. [S. l.: s. n.], 2018. (41:10). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DLIEm_6Smds&list=FLmTAry68BsL1JvGaj wcBYxA&index=863&ab_channel=C.Paizanni. Acesso em: 5 ago. 2020.
FERRARI, Ana Josefina. Nomes próprios e descrição : um estudo da descrição e do nome próprio a partir da análise das descrições presentes nos anúncios de fuga de escravos publicados nos jornais de Campinas entre 1870 e 1876. [s.
l.], 2008. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/269162. Acesso em: 25 jan. 2021.
FERRARI, Ana Josefina. O SILÊNCIO DA DONA AMÉLIA. In: MULHERES EM DISCURSO: IDENTIFICAÇÕES DE GÊNERO E PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA. 1. ed. Campinas - SP: Pontes, 2017. v. 1, p. 231–251.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des) caminhos do meio ambiente. 13. ed. São Paulo: Contexto, 2005.
GRÜN, Mauro. Descartes, historicidade e educação ambiental. In: PENSAR O AMBIENTE: BASES FILOSÓFICAS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Brasília: Organização das Nações Unidas Para Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. E-book.
HELENO, Carolina Ramos. Contribuição à crítica da Base Nacional Comum Curricular–a máscara do conformismo na educação do Banco Mundial. 2017. - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA, Feira de Santana - BA, 2017.
LOPES, Claudemira Vieira Gusmão. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. Curitiba: Fael, 2010.
LOUREIRO, Carlos Frederico. Educação Ambiental Crítica. In: INSTITUTO DE ARTE TEAR. 6 jan. 2016. Disponível em: http://institutotear.org.br/educacao-ambiental-critica-contribuicoes-e-desafios/. Acesso em: 28 dez. 2020.
LOUREIRO, Carlos Frederico. Educar, participar e transformar em educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, [s. l.], p. 13–20, 2004. LOUREIRO, Carlos Frederico. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
LOUREIRO, Carlos Frederico; TORRES, Juliana. Educação ambiental: Dialogando com Paulo Freire. 1. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2014.
MARQUES, Ronualdo; RAIMUNDO, Jerry Adriano; XAVIER, Claudia Regina. Educação Ambiental: Retrocessos e contradições na Base Nacional Comum Curricular. INTERFACES DA EDUCAÇÃO, [s. l.], v. 10, n. 29, p. 445–467, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.26514/inter.v10i29.3935
MEC, Ministério da Educação. Um pouco da História da Educação
Ambiental. [S. l.], [s. d.]. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/historia.pdf. Acesso em: 11 set. 2020.
MINAYO, Maria Cecília de Souza et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 14. ed. [S. l.]: Editora Vozes, 2007. E-book.
MMA, Ministério do Meio Ambiente. Protocolo de Kyoto. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.mma.gov.br/informma/itemlist/category/139-protocolo-de-quioto. Acesso em: 15 ago. 2019.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2011.
NOGUEIRA, Christiano. Education for Sustainable Development and Conceptions of Environmental Education in Brazil: Possible Approaches. Journal of Education for Sustainable Development, [s. l.], v. 12, n. 1, p. 47– 58, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0973408218773269
NOGUEIRA, Luciana; DIAS, Juciele Pereira. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): Sentidos em disputa na lógica das competências. Revista Investigações, [s. l.], v. 31, n. 2, p. 26–48, 2018.
OLIVEIRA, Lucas de; NEIMAN, Zysman. Educação Ambiental no Âmbito Escolar: Análise do Processo de Elaboração e Aprovação da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC). Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), [s. l.], v. 15, n. 3, p. 36–52, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.34024/revbea.2020.v15.10474
ONU, Organização das Nações Unidas. 7 bilhões de pessoas. [S. l.], 2011. Disponível em: <https://news.un.org/pt/tags/7-bilhoes-de-pessoas>. Acesso em: 25 dez. 2020.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. 12a ediçãoed. Campinas: Pontes, 2015.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed. Campinas: UNICAMP, 2007.
PARANÁ. INSTRUÇÃO NORMATIVA CONJUNTA No 05/2019 – DEDUC/DPGE/SEEDCuritiba: DEDUC/DPGE/SEED, 2019. Disponível em:
https://www.appfoz.com.br/wp-content/uploads/2019/08/instrucao_052019_deducdpgeseed.pdf. Acesso em: 28 dez. 2020.
PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Plataforma Agenda 2030. [S. l.], 2021. Disponível em: http://www.agenda2030.com.br/sobre/. Acesso em: 1 mar. 2021.
PROF. LUIZ CARLOS DE FREITAS EXPÕE OS RISCOS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (6:18).
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nKvngaMZdKk&ab_channel=fliperama14. Acesso em: 28 dez. 2020.
QUIJANO, Aníbal. “BEM VIVER”: ENTRE O “DESENVOLVIMENTO” E A “DES/COLONIALIDADE” DO PODER. Revista da Faculdade de Direito da UFG, [s. l.], v. 37, n. 01, p. 46–57, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.5216/rfd.v37i01.31763
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: EPISTEMOLOGIAS DO SUL. Coimbra: Edições ALMEDINA, 2009. v. 1.
RIBEIRO, Amarolina. Países subdesenvolvidos. [S. l.], [s. d.]. Disponível em: https://www.infoescola.com/geografia/paises-subdesenvolvidos/. Acesso em: 28 dez. 2020.
SANTINELO, Paulo Cesar Canato; ROYER, Marcia Regina; ZANATTA, Shalimar Calegari. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO PRELIMINAR DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. Pedagogia em Foco, [s. l.], v. 11, n. 6, p. 104–115, 2016.
SANTOS, Elinaldo et al. Desenvolvimento: um conceito multidimensional. Desenvolvimento Regional em debate, [s. l.], p. 44–61, 2012.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4a ediçãoed. São Paulo, SP: Edusp, 2006.
SAUVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PESQUISA E DESAFIOS. Porto Alegre - RS: Artmed, 2005. p. 17–44.
SAVIANI, Dermeval. SOBRE A NATUREZA E ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, [s. l.], v. 7, n. 1, p. 286–293, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.9771/gmed.v7i1.13575 SEVERINO, Antonio Joaquim. Bacon: a ciência como conhecimento e domínio da natureza. In: PENSAR O AMBIENTE: BASES FILOSÓFICAS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Brasília: Organização das Nações Unidas Para Educação, a Ciência e a Cultura, 2006. E-book.
SILVA, Telma Domingues da. Educação ambiental: a educação para o consumo na sociedade da informação. Linguagem em (Dis)curso, [s. l.], v. 11, n. 3, p. 563–584, 2012.
SILVA, Silvana do Nascimento et al. The Voices of Teachers-Researchers in the Field of Environmental Education on the National Common Curricular Base (BNCC): Early Childhood Education to Primary School. Ciência & Educação (Bauru), [s. l.], v. 26, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1516-731320200004. Acesso em: 25 dez. 2020.
SILVA, Silvana do Nascimento; LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. O sequestro da Educação Ambiental na BNCC (Educação Infantil-Ensino Fundamental). In: XII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 2019, Natal - RN. Anais do XIIENPEC. Natal - RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019.
TIRIBA, Léa. Educação infantil como direito e alegria. Laplage em revista, [s.
l.], v. 3, n. 1, p. 72–86, 2017.
TOZONI-REIS, MARÍLIA FREITAS DE CAMPOS; MAIA, JORGE SOBRAL DA SILVA. EDUCAÇÃO AMBIENTAL A VÁRIAS MÃOS: EDUCAÇÃO ESCOLAR, CURRÍCULO E POLÍTICAS PÚBLICAS. 1. ed. Araraquara: Junqueira&Marin, 2014.
TRISTÃO, Martha. A educação ambiental e os contextos formativos na transição de paradigmas. Reunião anual da Anped, [s. l.], v. 30, 2007.