• Nenhum resultado encontrado

1 CONCEITOS AMBIENTAIS: teorias e procedimentos metodológicos

1.2 Conceitos de Ambiente

1.3.3 Educação Ambiental Dialógica (EAD)

O conceito de Educação Ambiental Dialógica (EAD) apoia o entendimento do diálogo como premissa para o processo educativo a ser identificado e (re) construído na Reserva Extrativista da Prainha do Canto Verde-Ce. Esta pesquisa toma como base o trabalho desenvolvido e publicado por Figueiredo (2007), no qual tece uma teia que une perspectiva eco-relacional e educação ambiental dialógica, com a presença marcante de Paulo Freire. “... perspectiva eco-relacional e uma abordagem educativa: a educação ambiental dialógica” (FIGUEIREDO, 2007, p.15 e 16) Esse trabalho dá voz e visibilidade a grupos populares do sertão nordestino, desvelando, através da criatividade e militância, o poder do saber-parceiro e o potencial libertador dos sujeitos em/com grupo.

Este aporte teórico clarifica o estudo na/da Prainha do Canto Verde-Ce, reconhecida por sua capacidade organizativa, resistência frente às ações hegemônicas capitalistas, competência cultural e política. Essas características estão corporificadas e fortalecidas nas práticas ambientais da comunidade, mas para sua identificação e sistematização fez uso desse entendimento conceitual, transpondo da realidade do semi- árido de Irauçuba para a zona costeira.

50 ... umas das relevâncias dessa pesquisa se define pela importância de se considerar devidamente os saberes populares procurando clarificar e contribuir com a potencialização dos movimentos populares enquanto grupo- sujeito de embates sociais.(FIGUEIREDO, 2007, p.24)

Faz-se necessário apontar, minimamente, a discussão sobre Perspectiva Eco- Relacional (PER).

A construção dessa teoria é dada por Figueiredo (1999), numa tentativa de unificar os contributos teóricos e epistêmicos da holística à dimensão política e aos elementos educacionais freireanos, num trabalho “ecohológico”. Essa trajetória foi iniciada na década de 1990, quando professor da disciplina de Ecologia, de onde buscou conceitos associando-os à Física Quântica. Deu continuidade na dissertação de mestrado , produzindo o primeiro texto científico, no Brasil, a apontar a holística como fundamentação epistemológica.

PER posiciona-se, enquanto viabilidade utópica e como uma possibilidade de superação dos paradigmas já (im)postos. Deve orientar, do ponto de vista ontológico, a forma de interagir com o objeto/campo de pesquisa, ultrapassando a fragmentação do conhecimento e a, consequente, observação fraturada do mundo. Surge na tentativa de preencher a lacuna existente entre o paradigma cartesiano e o novo modo de pensar/agir/viver. Essa nova razão de viver pede a incorporação da afetividade, da amorosidade, da intuição, enfim, das múltiplas formas de leituras do mundo.

Figueiredo (2007) aponta as culturas tradicionais, com destaque para a cultura indígena, como aquelas que “Possuem uma percepção próxima daquela que aqui denominamos de eco-relacional” (p.53); trazem a carga empírica da PER. Fazendo a extrapolação, considere-se também os povos do mar (terminologia também utilizada para auto-identificação da comunidade da Prainha do Canto Verde-Ce) como detentores dessa percepção.

O encaminhamento tem-se dado rumo à aceitação de se considerar a dimensão relacional humana, fazendo interagir as compreensões físico-químicas, biológicas e humanas diante das questões ambientais (FIGUEIREDO op. Cit).

A proposta de uma educação ambiental dialógica eco-relacional parece-nos favorecer a construção de um conhecer integrado, que pode resultar em uma percepção eco-relacional que se corporifica em ecopráxis. (FIGUEIREDO, 2007, p.58, grifo nosso)

Perceber, interagir, relacionar são ações que favorecem a construção dessa perspectiva, refletindo na proposta de Educação Ambiental Dialógica aqui posta.

51 Uma educação ambiental dialógica, portanto popular, embasada em uma perspectiva eco-relacional, que pode oferecer matrizes que se encaminhem para a construção de ações que se situem do ponto de vista do oprimido, na acepção freireana. (FIGUEIREDO, 2007, p. 83)

Destaquem-se os eixos que caracterizam a PER, apresentados pelo autor. O primeiro aponta para tornar prioritário o 'relacional' como contexto básico. Na sequência, enfatiza o prefixo 'eco' por conectar as relações entre elementos vivos e não-vivos da natureza. O terceiro eixo indica o 'eco-relacional' como retrato da totalidade, o 'tudo com tudo', considerando a dimensão afetiva nas relações. O quarto eixo explicita a abrangência e a complexidade das formas de vida, multidimensional. O quinto eixo considera a 'vivência sociopolítica' do ser humano. A perspectiva crítica humana é indicada no sexto eixo. E, por fim, o sétimo eixo destaca a dimensão ética, uma ética eco- relacional.

Na Perspectiva Eco-Relacional identificam-se estas dimensões anteriormente citadas articularem-se numa consistente teia que sustenta um projeto educativo, pedagógico que alinhava teoria-prática de modo indissociável, tal qual pensa objetividade e subjetividade, ensinar e aprender, pesquisa e intervenção, como componentes indissociáveis no panorama educativo que se proponha crítico, formador e dialógico, tal como a própria Pedagogia Eco- Relacional (FIGUEIREDO, 2007, p.12)

Conceber a PER ainda não é suficiente para encamparmos ações e atitudes em busca de uma Educação Ambiental Dialógica. Esse entendimento deve ir para além do discurso, para além da prática, deve ir para uma ecopráxis.

Ecopráxis (…) se caracteriza por ser uma práxis multidimensional, alicerçada numa percepção integral de mundo, e toda sua amplitude e inteireza; uma práxis que, ao ser eco-relacionada, tem como fundamento básico e essencial a inter-relação harmônica entre os seres vivos e os considerados não vivos. Traz como princípio as relações em uma perspectiva ecológica mais radical e ampla (…) Uma ecopráxis é percebida na busca de uma relação equilibrada e solidária do ser humano com ele mesmo, com o outro, com a sociedade e com a natureza, da qual ele faz parte; sendo uma prática consciente de que fazemos parte, na teia de relações inter-relacionadas e interatuantes. (FIGUEIREDO, 2007, p.61)

Há de se estabelecer uma forma, um processo de modificação, de transformação concreta e efetiva do/no mundo. Aproximar o que se pensa e fala daquilo que se faz. Conectar os novos paradigmas, que contemplam as múltiplas dimensões da natureza (elementos vivos e não-vivos), com as ações humanas em prol da transformação, do “borboleteamento”4 do mundo.

4“Borboletear” é um termo utilizado pel@s integrantes do GEAD (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação

Ambiental Dialógica, Perspectiva Eco-Relacional e Educação Popular Freireana) referindo-se a capacidade que tod@s temos de nos transformarmos diante do mundo. A borboleta é, inclusive, símbolo do GEAD.

52

Documentos relacionados