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2 A PAISAGEM DIALÓGICA DA PRAINHA DO CANTO VERDE CEARÁ

2.4 Diagnóstico ambiental da RESEX da Prainha do Canto Verde

2.4.3 Impactos ambientais

Os impactos ambientais na RESEX Prainha do Canto Verde foram identificados pelas ações modificadoras e transformadoras da paisagem, consequências do uso inadequado, através da observação direta, em atividades de campo. Estão representados no mapa 02 através de símbolos, referentes a cada um dos principais impactos existentes em cada unidade de paisagem.

Pode-se listar os principais impactos da RESEX que são: redução da biodiversidade marinha; erosão marinha; tráfego de veículos; descaracterização da paisagem; acúmulo de resíduos sólidos; desmatamento das áreas edafizadas e da mata de tabuleiro; exploração mineral; uso de agrotóxicos; poluição dos recursos hídricos com expansão urbana; avanço das dunas móveis sobre o núcleo comunitário.

A redução da biodiversidade marinha pode ser constatada pela crise na qual se encontra a atividade da pesca artesanal da lagosta. Registrada no laudo para criação da RESEX (MEIRELES, 2005). É fundamental frisar que a queda da diversidade e, por consequência, da produtividade, é provocada pelo excessivo esforço da pesca industrial, até em períodos de defeso. Essas ações são condenadas pela comunidade, sendo esta participante de movimentos contrários a esses mecanismos de agressão ao ambiente.

A erosão costeira ou marinha é causada pela ação das ondas e marés na faixa de praia. Apesar da baixa intensidade, já que não se apresentam grandes recuos da linha de costa, os processos erosivos podem ser percebidos na área através da queda de algumas barracas e de uma residência. Essas construções são afetadas, principalmente, pela ação das marés de sizígia, aliado ao rebaixamento da praia e pós-praia nos trechos onde há deflações. O processo erosivo, em três pontos da praia, adentra para o continente, onde a penetração da maré está se configurando em corredores de deflação. Tais corredores ligam os cursos d’água (pequenos riachos e lagoas de caráter intermitente) provenientes dos aquíferos dunares ao mar.

A descaracterização da paisagem (natural) é definida como consequência do uso e ocupação na área de dunas móveis, extremamente instável, considerando a

106 dinâmica costeira. Este impacto pode ser percebido na faixa de praia, pós-praia, mas principalmente, no núcleo comunitário, com a presença de edificações com características discordantes destas unidades de paisagem, com restrita utilização de matéria-prima local. Mas vale dizer que a comunidade tem uma relação quase simbiótica com essas unidades de paisagem, com um diálogo permanente, construindo sua paisagem dialógica a partir daí.

As unidades habitacionais e comerciais, em sua maioria, estão alocadas de maneira a dificultar o fluxo de sedimentos arenosos, sendo comum casas recobertas de areia, principalmente no período de estiagem (junho a dezembro), quando os ventos são mais intensos. As próprias construções exercem o papel de apoio ou anteparo provocando o acúmulo dos sedimentos, tornando-se, inclusive, ameaça à própria população com o soterramento, provocando prejuízos materiais (fotos 37 e 38).

Fotos 37 e 38 – Avanço das dunas sobre edificações da comunidade (Erica Pontes, 2005 e 2011)

O acúmulo de resíduos sólidos é notável em toda a Prainha do Canto Verde. O problema de destinação desses resíduos deixa essa marca em praticamente todas as unidades de paisagem. São poucas as lixeiras ou coletores ao longo do núcleo comunitário ou das outras unidades. Podem ser encontrados, de maneira esparsa, com destaque para a área das barracas de praia, na pós-praia.

A maioria das famílias da comunidade armazena o lixo em sacos plásticos para que sejam coletados, como já constatou ALMEIDA (2002), apontando o índice de 93,4%. Além do mais, a coleta ainda é deficitária, sendo realizada somente uma vez por semana. No intervalo entre uma coleta e outra, o lixo pode ser armazenado em contêineres. Entretanto, esta sistemática não atende à demanda e provoca outras ações impactantes,

107 como a queima e/ou o enterro dos resíduos. Por toda a carência na coleta e no tratamento adequado (coleta seletiva, reciclagem e compostagem), são facilmente encontrados cocos, plásticos e garrafas (material não-biodegradável), espalhados por toda a área (foto 39).

Foto 39 – Acúmulo de resíduos sólidos na área de dunas (Erica Pontes, 2010)

A qualidade dos recursos hídricos pode ser questionada a partir da constatação da ausência de esgotamento sanitário e tratamento dos efluentes, sendo estes drenados para os pequenos cursos d’água. Segundo ALMEIDA (2002), 48,3% das famílias da comunidade possuem fossa, 34% das famílias possuem poço a mais de 15 metros9 da

fossa ou banheiro e somente 20,6% possuem água encanada. Considerando que o lençol freático da área é raso e que a maioria das famílias utiliza esta água por meio de poços, com captação por bombas (manual ou elétrica), pode-se concluir que a água possui qualidade duvidosa merecendo tratamento específico. ALMEIDA (op cit) apresenta os tipos de tratamentos realizados pelas famílias: 2% praticam a fervura, 3% utilizam o SODIS10 (foto 40), 33% fazem filtragem e 70% realizam a desinfecção através do cloro.

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Essa distância é estabelecida por SILVA (1993) e LENGEN (1997) citados por ALMEIDA (2002), tida como mínima requerida entre o poço e a fossa.

10SODIS é um tipo de tratamento de baixo custo onde são utilizadas garrafas pet’s e energia solar. O procedimento é

armazenar água nas garrafas e expô-las ao sol por, no mínimo, 12 horas, para desinfecção de pequenas quantidades de água para o consumo doméstico.

108 Foto 40 – Tratamento de água através do sistema SODIS. (Arquivo da comunidade, 2010)

A expansão urbana tem se demonstrado intensa na Prainha do Canto Verde, nos últimos cinco anos. Há a substituição das antigas residências de palhas por construções de alvenaria, devido ao aumento no poder aquisitivo das famílias, que demandavam um pouco mais de conforto para suas moradias. Além disso, as novas famílias (filh@s e net@s de morador@s) tem ampliado a área urbana da comunidade. (fotos 41 e 42). A consequência negativa dessas ações tem sido o desmatamento das áreas edafizadas e da mata de tabuleiro, para a alocação dos imóveis, em consórcio com a exploração mineral, para uso de material para construção.

Fotos 41 e 42 – Construção de novas residências de alvenaria Erica Pontes (2011)

109 A agricultura de subsistência aparece como uma complementação alimentar e de renda na comunidade. Sua prática é marcante nas áreas de vazante, depressão interdunar (fotos 43 e 44). O impacto negativo desta atividade tem sido o uso mais frequente de agrotóxicos e fertilizantes químicos, comprometendo o solo e os recursos hídricos.

Foto 43 – Cultivo no núcleo comunitário. Foto 44 – Cultivo na depressão interdunar Arquivo da comunidade (2010) Erica Pontes (2011)

No Quadro 05, estão sintetizadas as informações que se referem às potencialidades, às limitações e aos impactos ambientais na RESEX da Prainha do Canto Verde, em cada uma das suas unidades de paisagem.

Na sequência, apresenta-se o mapa 02: Diagnóstico ambiental da RESEX da Prainha do Canto Verde, produto final deste capítulo.

110 Quadro 04 - Diagnóstico Ambiental da RESEX da Prainha do Canto Verde

Unidade de Paisagem

Potencialidades Limitações Impactos Ambientais

Mar litorâneo Pesca artesanal, esportiva e recreativa. Lazer e turismo comunitário.

Esportes náuticos.

Legislação da RESEX.

Pesca predatória, de compressor e de arraste.

Correntes e tormentas marinhas.

Redução da biodiversidade marinha.

Faixa de praia

Patrimônio paisagístico. Lazer e turismo comunitário. Esportes de praia.

Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Restrições legais da RESEX.

Baixo suporte para edificações, processos de transporte de sedimentos ativos.

Erosão marinha. Tráfego de veículos.

Acúmulo de resíduos sólidos. Descaracterização da paisagem.

Pós-praia

Patrimônio paisagístico. Lazer e turismo comunitário. Esportes de praia.

Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Restrições legais da RESEX.

Baixo suporte para edificações, processos de transporte de sedimentos ativos.

Salinização e contaminação da água.

Tráfego de veículos.

Acúmulo dos resíduos sólidos. Descaracterização da paisagem.

Dunas Móveis

Patrimônio paisagístico. Lazer e turismo comunitário. Recursos hídricos subterrâneos. Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Legislação da RESEX.

Baixo suporte para edificações, processos de transporte de sedimentos ativos. Susceptibilidade à poluição dos recursos hídricos.

Acúmulo dos resíduos sólidos. Desmatamento das áreas edafizadas. Exploração mineral.

111 Dunas Fixas

Patrimônio paisagístico. Lazer e turismo comunitário. Recursos hídricos subterrâneos. Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Legislação da RESEX.

Susceptibilidade à poluição dos recursos hídricos.

Acúmulo dos resíduos sólidos. Desmatamento das áreas edafizadas. Exploração mineral.

Depressões interdunares

Patrimônio paisagístico. Reservas hídricas superficiais. Agricultura orgânica e permacultura. Lazer e turismo comunitário.

Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Legislação da RESEX.

Ocupação de margens de lagoas; inundações periódicas, baixo suporte para edificações.

Acúmulo de resíduos sólidos. Poluição dos recursos hídricos Uso de agrotóxicos. Tabuleiro Litorâneo Expansão urbana. Agroextrativismo e agrofloresta. Permacultura.

Recursos hídricos subterrâneos. Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Legislação da RESEX.

Carência de locais favoráveis ao represamento de água.

Desmatamento.

Poluição dos recursos hídricos com expansão urbana.

Núcleo Comunitário

Organização comunitária. Movimentos sociais organizados. Lazer e turismo comunitário. Educação ambiental dialógica. Pesquisa científica.

Legislação da RESEX.

Expansão urbana sobre o campo de dunas.

Tráfego de veículos.

Acúmulo de resíduos sólidos. Descaracterização da paisagem. Avanço das dunas móveis.

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3- PRÁTICAS AMBIENTAIS NA RESEX DA PRAINHA DO CANTO VERDE:

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