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3 PRÁTICAS AMBIENTAIS NA RESEX DA PRAINHA DO CANTO VERDE:

3.2 Feira Cultural da Escola Bom Jesus dos Navegantes

A Escola Bom Jesus dos Navegantes é o maior espaço educativo da comunidade. Não só por ser o espaço da educação formal, mas também por abrigar e acolher diversas atividades promovidas pela comunidade tradicional, e em parceria com diferentes entidades (foto 52).

Foto 52 – Fachada da Escola Bom Jesus dos Navegantes. (Erica Pontes, 2013)

121 A Escola foi fundada em 1980 e oferece à comunidade o Ensino Infantil e Fundamental I e II (1º ao 9º ano), atendendo, nos turnos manhã e tarde, 316 alun@s, sendo 10 no Ensino de Jovens e Adultos (EJA); 71 no Ensino Infantil; 134 no Ensino Fundamental I; 101 no Ensino Fundamental II. O núcleo gestor é composto por 01 diretor, 01 coordenador pedagógico e 01 secretária. O corpo docente possui 13 professoras e 01 professor. O quadro de funcionári@s contem: 01 auxiliar administrativo, 03 cozinheiras, 05 auxiliares de cozinha e 02 vigias, na sua maioria com contratos temporários.

No que se refere à infraestrutura, a Escola oferta: 07 salas de aula, 01 sala multifuncional, 01 sala de multimeios (fotos 53 e 54), 01 biblioteca/sala de arte (fotos 55 e 56), 01 refeitório, 01 cozinha, 02 banheiros, 01 galpão de artesanato (fotos 57 e 58).

Fotos 53 e 54 – Sala de multimeios da Escola. (Erica Pontes, 2013)

Fotos 55 e 56 – Biblioteca/sala de arte e da Escola. (Erica Pontes, 2004 e 2013)

122 Fotos 57 e 58 – Galpão de artesanato da Escola. (Erica Pontes, 2004 e 2013)

A Escola conta também com um prédio anexo, com quatro salas. São desenvolvidos os projetos governamentais Pró-Jovem e Mais Educação. Este último com quatro oficinas, ministradas no contra-turno d@s estudantes. As oficinas ofertadas são: Acompanhamento Pedagógico, Canteiros Sustentáveis, Percussão e Coral.

A Escola Bom Jesus dos Navegantes pode ser apontada como “suporte exterior da memória”; uma referência espacial externa/física/material para demarcação da história de uso e ocupação da paisagem. Além disso, a Escola é também um espaço de discussão, de conflitos e de onde emergem as novas lideranças. É necessário o entendimento de que a Escola foi e é um espaço de redefinição/retroalimentação da luta. Corrobora com esta afirmativa o desenvolvimento de diferentes atividades nas dependências da Escola. Como exemplo de sua relevância, ali ocorrem as reuniões do Conselho Deliberativo da RESEX. (fotos 59 e 60)

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Fotos 59 e 60 –Reunião do Conselho Deliberativo da RESEX da Prainha do Canto Verde. (Erica Pontes, 2013)

É importante mencionar que a escola trabalha com a pedagogia de projetos interdisciplinares mensais, na tentativa de construir conhecimento de forma coletiva, através do estudo e da participação d@ alun@ e da comunidade. Por isso, que a prática ambiental em destaque é a Feira Cultural.

A Feira Cultural da Escola Bom Jesus dos Navegantes é um evento que tem promovido grande envolvimento entre Escola e comunidade, mobilizando estudantes, educador@s e comunidade em geral, construindo um conhecimento amplo e crítico, trabalhando a paisagem e as potencialidades locais. Isso já conecta a prática ambiental com o critério de dialogicidade, a simetria discursiva, pois contribui com o processo educativo através da horizontalidade nos debates. Além disso, valoriza e estimula o exercício da autonomia d@s participantes, propiciando a livre expressão, contribuindo para o direito à informação, para a educação ambiental (dialógica), para a valorização da cultura local, para a arte e para a construção da cidadania.

A Feira Cultural é promovida pela Escola em parceria com a Associação de Moradores da Prainha do Canto Verde, culminando na Regata Ecológica da comunidade, objetivando o estudo e o aprofundamento de temas relacionados aos saberes, às práticas, às questões ambientais. Procura também contribuir com o fortalecimento da identidade local, em especial das crianças e adolescentes. Desta forma, estimula o engajamento de tod@s, por um aprendizado coletivo, através da educação formal e informal. Acrescente- se o espírito científico, uma vez que favorece a produção de materiais didáticos locais e o

124 desenvolvimento de pesquisas científicas, como esta.

O tema da Feira Cultural está diretamente relacionado com aquele escolhido para a Regata Ecológica e é decidido, coletivamente, em assembleia da Associação de Moradores. O tema da XVIII Regata Ecológica da Reserva Extrativista da Prainha do Canto Verde13, de 2013, é “Cultura dos Povos do Mar e Gestão Ambiental”. O tema

escolhido intenciona proporcionar um debate sobre o fortalecimento da cultura dos povos do mar na defesa de seus territórios e modos de vida, bem como favorecer a conscientização da importância da educação para os processos de gestão e conservação ambiental. Propõe-se a convidar tod@s a olhar e escutar a paisagem, identificando potencialidades e limitações locais, para compreender, reconhecer e robustecer o sentimento de pertença a essa comunidade tradicional litorânea. Destaca-se então, o estímulo à reflexão constante sobre o processo de aprendizagem impulsionando a argumentação, o confronto de ideias e a problematização, ou seja, a reflexividade crítica, mais um critério para a dialogicidade dessa prática ambiental.

O projeto para a Feira Cultural 2013, elaborado pela Escola e fornecido pelo núcleo gestor para a pesquisa, aponta como objetivos:

Sensibilizar estudantes e comunidade para a problemática socioambiental discutida a partir do tema “Cultura dos Povos do Mar e Gestão Ambiental”;

Promover a interdisciplinaridade dos conteúdos, incentivando a pesquisa, o trabalho em grupo e a criatividade;

Ampliar conhecimentos por meio do estudo de temas transversais; Desenvolver habilidades de leitura, escrita e cálculos;

Estimular a criatividade, inteligência, autonomia e senso crítico;

Promover a inter-relação entre escola e comunidade, contribuindo para o processo de melhoria da educação e qualidade de vida local;

Possibilitar intercâmbio entre escolas do município de Beberibe ou de outro, visando a troca de vivências e o debate sobre educação ambiental;

Resgatar memórias culturais dos povos do mar, buscando a consciência crítica quanto ao sentimento de pertencimento ao lugar e ao modo de vida, como forma de reafirmar a própria identidade.

A metodologia utilizada indica a participação d@s alun@s do Ensino Infantil e Fundamental no concurso de desenhos e frases, relacionadas com o tema da Feira. Estes desenhos e estas frases serão reproduzidos nas velas das jangadas que participam da Regata Ecológica, como acontece desde a sua primeira edição da Feira Cultural, em 2001. Para 2013, propõe-se que @s alun@s construam e ampliem seus conhecimentos sobre gestão ambiental e cultura dos povos do mar, no contexto da RESEX e dos conflitos existentes.

Durante dois ou três meses, a temática é trabalhada em sala de aula, através

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A Regata Ecológica da Prainha do Canto Verde teve sua primeira edição em 1993, incorporando em sua nomenclatura a RESEX a partir de 2009.

125 de debates com a comunidade, palestras com profissionais convidad@s (foto 61), intercâmbio com outras escolas do município (foto 62), confecção de diferentes materiais com o tema central e subtemas (fotos 63 e 64). A culminância das atividades dá-se na semana que antecede a Regata Ecológica (que em 2013, acontece em dezembro), havendo a montagem e exposição dos materiais produzidos (maquetes, cartilhas, vídeos, documentários, etc), além de apresentações culturais d@s alun@s e de outras comunidades tradicionais litorâneas.

Fotos 61 e 62 – Atividades da Feira Cultural da Escola Bom Jesus dos Navegantes (Erica Pontes, 2013)

Fotos 63 e 64 – Produção de materiais para a Feira Cultural da Escola Bom Jesus dos Navegantes (Erica Pontes, 2013)

126 A Feira Cultural da Escola Bom Jesus dos Navegantes apresenta-se como uma grande referência de prática ambiental dialógica. Relaciona, diretamente, o universo escolar com a comunidade. Para além de um projeto de extensão, a Feira Cultural é um projeto da comunidade. A comunidade reconhece-se nas atividades pedagógicas e acadêmicas e @s estudantes identificam-se nas atividades comunitárias e de luta. É enriquecedor ver o espaço escolar discutindo a realidade local. E é emocionante ver as frases e os desenhos das crianças e adolescentes lançados ao mar, na Regata Ecológica.

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