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3. EDUCAÇÃO

3.1. A Educação à luz das leis brasileiras

Não poderíamos situar este estudo sem apresentar a Educação na abrangência das leis brasileiras. Historicamente na política brasileira, a educação aparece, de acordo com Saviani (2002), na primeira Constituição Brasileira, outorgada por D.Pedro I, em 1824, no inciso 32 do artigo 179, do último Título (VIII), limitando-se a afirmar que “a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Segundo Horta (1998),

estabeleceu-se com esta lei, pela primeira vez, uma relação direta entre educação e cidadania no Brasil; mais especificamente, estabeleceu-se a inserção do direito à educação como um dos direitos sociais da cidadania.

Ainda segundo Saviani (2002) em 1827, a Câmara dos Deputados, mesmo tendo um projeto muito ambicioso para a Educação no Brasil, preferiu ater-se a um projeto mais modesto, determinando a criação das “escolas de primeiras letras”. A lei estabelecia que, nessas escolas, os professores deveriam ensinar: a ler e escrever, as quatro operações de aritmética, além de outras noções matemáticas, a gramática da língua nacional, moral cristã e doutrina da religião católica proporcionada à compreensão dos meninos. O autor considera que, se essa lei tivesse sido cumprida, de fato ter-se-ia dado origem a um sistema nacional de instrução pública. Ainda dentro das primeiras leis voltadas para a educação, Horta (1998) referenda a lei n°13, de 28 de março de 1835, na então província das Minas Gerais, que determinava uma multa para os responsáveis pelos menores que não freqüentassem a escola ou não recebesse instrução.

Longe de fazer um resgate histórico, vamos nos posicionar nos tempos atuais e recordar que a atual Constituição Brasileira, no caput do artigo 205, estabelece que:

“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

A Constituição de 1988 foi considerada por Horta (1998, p. 25) como a responsável por “fechar o círculo com relação ao direito à educação e à obrigatoriedade escolar na legislação educacional brasileira”, recuperando assim o conceito de educação como um direito público subjetivo que, desde a década de trinta do século XX, havia sido abandonado. Também Cury et al. (1996, p. 26) pontuam a relação de cidadania estabelecida pela lei, ao considerarem que “a assunção da educação como direito público subjetivo amplia a dimensão democrática da educação, sobretudo quando toda ela é declarada, exigida e protegida para todo o Ensino Fundamental e em todo o território nacional”.

Posteriormente, foram elaborados outros documentos, já apresentados neste estudo, como a LDB, os PCN’s e as Diretrizes Curriculares, todos reforçando a formação do cidadão como direito amplo e dever do Estado. Para Pereira e Teixeira (1997, p. 83) “a atual LDB introduziu mudanças significativas na educação básica do nosso país”. As autoras partem do pressuposto de que o avanço se deu em função da participação da sociedade civil na construção da lei e na compreensão do significado da educação básica.

Seria leviano não considerar que há muito tempo a legislação brasileira inseria preceitos relativos à educação básica, à formação geral e universal. Entretanto, as leis anteriores, trataram a educação básica de maneira reducionista, o que vem sendo modificado nas leis.

Assim sendo, concordamos com Pereira e Teixeira (1997) que, sustentados pela legislação vigente, ou seja, a Constituição Federal de 1988, a LDB, o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente,32 consideram de grande importância as seguintes normas gerais para a Educação no Brasil: gratuidade, obrigatoriedade, direito, dever e responsabilidade.

Por entendermos que essas normas devam ser tratadas mais claramente, faremos uma abordagem de cada um delas, sustentados pela análise das autoras acima citadas.

1 - Gratuidade: o ensino público deve atingir todos os níveis e ser oferecido gratuitamente pelos estabelecimentos oficiais. Mesmo não estando na idade apropriada, fica assegurado a todo e qualquer cidadão, o acesso gratuito ao Ensino Fundamental, assim como ao Ensino Médio, que deve ser progressivamente universalizado.

2 - Obrigatoriedade: o Ensino Fundamental, com duração mínima de oito anos, além de gratuito passa a ser obrigatório, ressaltando que em alguns estados, como é o caso de Minas Gerais, essa duração passou para nove anos.

32 De acordo com Oliveira (2000), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA - lei 8.069/90) é a lei mais

3 - Direito: a Educação é um direito público e subjetivo a todos os cidadãos, irrestrito, assim como seu acesso, gratuito, ao ensino obrigatório.

4 - Dever: a Educação é dever do Estado e da família. Dentre as funções dos Estados e Municípios, assessoradas pela União, estão: I - recensear a população com idade escolar para o Ensino Fundamental e os jovens e adultos que a ele não tiverem acesso; II – fazer-lhes a chamada pública; III – zelar, juntamente com a família, pela freqüência e permanência na escola. É dever dos pais ou responsáveis legais efetuar a matrícula dos filhos menores, no Ensino Fundamental, anteriormente, a partir dos 7 anos de idade e, atualmente, a partir dos 6 anos.

5 - Responsabilidade: o não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou seja, a oferta regular e sistematizada acarreta em responsabilidade da autoridade competente. Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento gratuito do ensino obrigatório, poderá ser imputado a ela o crime de responsabilidade.

Apesar de ser consensual entre autores, como Pereira e Teixeira (1997), Horta (1998) e Oliveira (2000), sobre o avanço no ponto de vista legal em relação à política educacional brasileira, ainda estamos longe de ter um país onde o povo recebe educação de qualidade. Dessa forma, vale a pena citar Cury (2003, p. 569) quando considera que “o Brasil é ainda um país endividado com sua população”, pois nossa cidadania educacional está longe de ser um exemplo. Apesar dos investimentos corresponderem, em termos percentuais, a valores próximos aos de países com melhores índices de desenvolvimento humano, quando comparado ao nosso número de habitantes e ao nível de formação, deixamos muito a desejar. Devemos insistir em que todas essas conquistas legais, aqui apresentadas, são fruto de muitas lutas, permeadas de embates e mobilizações, mas que só podem adquirir o seu verdadeiro sentido, de acordo com Horta (1998, p. 31), “quando os poderes públicos se revestirem da vontade política de torná-las efetivas e a sociedade civil organizada e mobilizada no sentido de defendê-las e exigir o seu cumprimento na justiça e nas ruas, quando necessário”.

Para avançarmos no entendimento da educação, devemos situar a escola, o currículo e o professor e como eles estão relacionados na promoção do saber, mas, principalmente, na formação do ser humano.