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2. A SOCIEDADE BRASILEIRA

2.3. A Globalização

Ao apresentarmos as sociedades brasileira e mineira fizemos uma abordagem geral e evolutiva, com o intuito de situar o leitor a respeito da população pesquisada neste estudo. Entretanto, não foi possível excluir dessas sociedades, assim como acreditamos não ser possível excluir de nenhuma sociedade dita ocidental, a grande influência do fenômeno denominado globalização.18

Burle Marx e Guignard que fazem parte da historia brasileira, como personalidades inovadoras e à frente de seu tempo. A construção de Brasília foi totalmente influenciada pelas teorias de Le Corbusier. (Wikipédia, acesso em 15/02/06).

18 Apesar de termos disponíveis na literatura diversos conceitos de globalização, fizemos a opção pelo conceito

apresentado por GIDDENS (1994, p. 64) que define globalização como “a intensificação de relações mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-versa”. Ainda na perspectiva do autor, deveríamos compreender a expansão global da modernidade “em termos de uma relação contínua entre a distanciação, por um lado e,

Autores como Santos (2001), Moraes (2004) e Deák (2004) situam temporalmente a globalização como fenômeno reconhecido e assumido a partir da década de 80 do século XX. Para Santos (2001, p. 31),

nas três últimas décadas, as interações transnacionais conheceram uma intensificação dramática, desde a globalização dos sistemas de produção financeiras, à disseminação, a uma escala mundial, de informação e imagens através dos meios de comunicação social ou às deslocações em massa de pessoas quer como turistas quer como trabalhadores migrantes ou refugiados.

Ainda na visão desse autor, estudos que abordam os processos de globalização demonstram que se trata de um fenômeno de múltiplas facetas e complexas interligações entre as dimensões sociais, políticas, culturais, econômicas, jurídicas e religiosas.

Mas o fato é que a globalização está instaurada no mundo e vem se tornando, ao longo dos anos, uma das palavras-chave mais em voga, sendo que, para Deák (2004), ela vem acompanhada de outras palavras tais como: privatização, ecologia, desenvolvimento sustentado ou fim da história, além dos inúmeros neo-, pós- e – ismos — neoliberalismo, pós-fordismo, pós-industrial ou pós-moderno. Ainda para o autor, o termo globalização vem sendo usado de forma alargada e constante, na maioria das vezes, com uma conotação “de inexorável acompanhante inevitável do rolo compressor da modernidade” (Deák, 2004, p. 22).

Sendo assim, não custa retomar o debate apresentado por Santos (2001), sustentado por três questões básicas:

1) A globalização é um fenômeno novo ou velho?

2) A globalização é monolítica ou tem aspectos positivos e negativos? 3) Aonde conduz a crescente intensificação da globalização?

Partindo da primeira questão, alguns autores como Deák (2004), Gorender (2004) e Chacon (2002) reconhecem a instauração e fortalecimento da globalização a partir dos anos oitenta do século XX, mas apresentam dados onde este fenômeno se faz presente em etapas, do Mundo Antigo ao Renascimento. Foram comuns as referências ao século XV, com a expansão do sistema capitalista e,

citações aos portugueses e espanhóis, responsáveis pelos descobrimentos, considerados como os primeiros e mais importantes globalizadores. Independentemente de ser velho ou novo, devemos reconhecer que a globalização está instaurada em nossa sociedade e que não se apresenta de maneira consensual, ela vem acompanhada de um vasto e intenso campo de conflitos entre grupos sociais, Estados e interesses, sejam eles hegemônicos ou subalternos (Santos, 2001).

Sendo assim, podemos avançar para a segunda questão, considerando que, por não ser consensual, a globalização apresenta aspectos positivos e negativos.

Para Dias (2002, p. 53) “o processo de globalização no mundo é inelutável, contínuo, acelerado e se revela em várias dimensões”. O autor apresenta como dimensões o ambiente, a economia, a política, o conhecimento, a ética e as redes de comunicação. Diante de tão amplas dimensões, não seria possível encontrar na globalização uma visão monolítica. Fatores positivos e negativos estiveram e estarão presentes neste fenômeno que veio para ficar. Sendo assim, não custa concordar com Chacon (2002, p. 16) que, ao relacionar a globalização com a tecnologia, considera que “não há que se subestimar a tecnologia, muito menos isolá-la do contexto cultural, nem das suas gerais conseqüências civilizatórias, positivas ou negativas”. Ainda segundo o autor, a chave do sucesso está no equilíbrio dos ciclos que a globalização propicia, por mais difícil e instável que eles sejam. Não podemos negar que, atualmente, existe uma maior necessidade em considerar a força e a diversidade das culturas, e este é um fator positivo da globalização. Em contrapartida, podemos avaliar um fator negativo à aculturação, quando uma cultura tenta dominar a outra ou mesmo a sua eliminação, através do genocídio. Segundo Dias (2002), essas podem ser ações derivadas do egoísmo e do medo da confrontação entre as culturas. Não menos negativa e também destruidora seria uma ação oposta, de total abertura a todas as outras culturas, onde a principal regra é andar de acordo com a moda, repetindo os modelos e acreditando que assim estariam instaurados os padrões de universalismo.

Dessa forma, podemos partir para a terceira questão: aonde nos leva a crescente intensificação da globalização? Para um fenômeno totalmente absorvido pelas diferentes culturas, já instaurado na sociedade e ciente da sua diversidade, devemos nos conscientizar de que, nós mesmos, fazemos a escolha de onde chegar com a globalização, através de nossas posturas diante dela. Diante de uma perspectiva tão difundida é preciso uma atuação constante ou, como apresenta Dias (2002, p. 56), “uma marcação cerrada”. Segundo o autor, não podemos ceder ao relativismo. Precisamos estabelecer critérios capazes de propiciar a capacidade de discernimento dos valores fundamentais da nossa cultura que permitam alcançar os objetivos comuns.

Acreditando que os caminhos diante do processo de globalização são múltiplos, vale a pena citar a fala da professora Sandra Almeida (2006), diretora de Relações Internacionais da UFMG, em seu artigo para o Boletim UFMG19 intitulado “De bem com a globalização”. A professora declarou que a palavra-chave para descrever o posicionamento da UFMG diante da globalização é reciprocidade. Mais ainda, Almeida (2006) declara que, para atingir esse patamar, a UFMG teve que ser persistente e sábia no trato de suas relações internacionais e, assim, soube abrir caminho rumo à autonomia e solidariedade, num mundo globalizado, extremamente desigual e competitivo na produção do conhecimento.

Portanto, podemos fechar este ponto do presente capítulo, com a certeza do sentido e da força da cultura no processo de globalização, e de que, de acordo com Dias (2002), crescer ou não, diante deste processo, depende da ação humana, considerando a justiça, a paz, a empatia, a solidariedade, a compreensão, o amor, a inovação e a criatividade.