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Educação do Campo na pesquisa acadêmica

INTRODUÇÃO – De onde partimos

CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS POLÍTICAS

2.3 Educação do Campo na pesquisa acadêmica

Com o objetivo de mapear o que vem sendo produzido e estudado pela pesquisa acadêmica nacional sobre a educação do campo, e mais especificamente, sobre a escola do campo, realizamos uma busca de produções acadêmicas em bases de pesquisas com indexação nacionais. Utilizamos como sítio de busca o Banco de Teses e Dissertações da Capes, que armazena teses e dissertações de programas de pós-graduação de todo o Brasil; o sítio do Domínio Público, biblioteca digital que permite a busca de diferentes tipos de comunicação, pertencente à Secretaria de Educação à Distância do MEC; o sítio da Scielo, plataforma eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros.

O levantamento dessas produções se torna importante para conhecer o que vem sendo produzido nas pesquisas acadêmicas sobre a temática que investigamos, possibilitando pontuar o que é mais ou menos abordado nesses

49 estudos. De início, fizemos uma busca, utilizando a palavra-chave “escola do campo”3

nos três sítios escolhidos, mas sem filtros de refinamento, identificando teses, dissertações e artigos que fizessem menção direta ao tema. Obtivemos os seguintes resultados:

a) No Banco de Teses e Dissertações da Capes: 208 registros b) No Domínio Público: 07 registros

c) No Scielo: Nenhum registro

Observamos uma grande quantidade de registros com esse descritor no Banco de Teses e Dissertações da CAPES em relação aos números obtidos nos sítios Domínio Público e Scielo (esse último sem nenhum registro). É importante ressaltar que os três sítios oferecem diferentes ferramentas de busca. No Catálogo da CAPES, é possível refinar os resultados por ano, área de concentração, programas de pós-graduação, dentre outros itens. No Domínio Público, existem as opções de refinar a busca por autor, tipo de mídia, título, categoria e idioma. Na plataforma Scielo, é possível refinar a busca por palavras-chaves, autor, ano de publicação, dentre outros.

No Banco de Teses e Dissertações da Capes, refinamos a procura, focalizando o período de 2002 a 2016, com concentração em programas de pós- graduação em educação. Escolhemos esse período para contemplar o espaço de tempo que compreende o ano de aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica do Campo e o momento atual. No Domínio Público, realizamos a busca, procurando a palavra “campo” no título. Na plataforma Scielo, optamos pela busca da palavra-chave em todos os itens disponíveis.

Definidos os critérios, realizamos a pesquisa com as seguintes palavras- chave: educação do campo, escola do campo, criança do campo e narrativas infantis. Optamos por identificar as produções com a palavra-chave narrativas infantis, com o objetivo de visualizar algum trabalho que relacionasse a pesquisa com a temática da educação do campo a partir da narrativa da criança, ou seja, da percepção da criança sobre a educação do campo. Alcançamos os seguintes resultados:

3

50 Tabela 1- Resultados da pesquisa no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES

Palavras-chave utilizadas na busca – período de 2002 a 2016

Educação do campo Escola do campo Criança do campo Narrativas infantis

2002 01 2002 02 2002 - 2002 - 2003 05 2003 02 2003 - 2003 - 2004 03 2004 01 2004 - 2004 - 2005 09 2005 01 2005 - 2005 04 2006 12 2006 04 2006 - 2006 - 2007 18 2007 03 2007 - 2007 01 2008 20 2008 05 2008 - 2008 02 2009 35 2009 08 2009 - 2009 - 2010 38 2010 03 2010 - 2010 05 2011 52 2011 05 2011 01 2011 01 2012 48 2012 07 2012 - 2012 04 2013 71 2013 13 2013 01 2013 - 2014 91 2014 15 2014 - 2014 05 2015 81 2015 20 2015 02 2015 03 2016 86 2016 15 2016 01 2016 10

TOTAL 570 TOTAL 104 TOTAL 05 TOTAL 35

Fonte: Tabela elaborada a partir de dados do Portal CAPES, 2017.

Com a palavra-chave educação do campo, dos 570 trabalhos encontrados no Catálogo da CAPES, 418 são dissertações e 152 são teses. Observamos uma crescente produção com essa temática de 2002 a 2016, o que expressa a visibilidade que os movimentos sociais e as políticas públicas vêm dando a educação do campo a partir, especialmente, da conquista da aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica no Campo. Dos 104 trabalhos encontrados com a palavra-chave escola do campo, 82 são dissertações e 22 são teses, concentrando-se maior quantidade nos últimos quatro anos. Quando utilizamos a palavra-chave criança do campo, observamos que há um decréscimo no quantitativo de produções, somando-se apenas cinco trabalhos, sendo cinco dissertações. A palavra-chave narrativas infantis também não se apresenta com expressividade no Catálogo da CAPES. Dos 35 trabalhos encontrados, 27 são dissertações e 08 são teses.

51 Tabela 2 - Resultados da pesquisa na biblioteca digital Domínio Público

Palavras-chave utilizadas na busca – período de 2002 a 2016

Educação do campo Escola do campo Criança do campo Narrativas infantis

2002 - 2002 - 2002 - 2002 - 2003 - 2003 - 2003 - 2003 - 2004 01 2004 - 2004 - 2004 - 2005 - 2005 - 2005 - 2005 - 2006 02 2006 - 2006 - 2006 - 2007 08 2007 01 2007 - 2007 02 2008 08 2008 02 2008 - 2008 02 2009 11 2009 03 2009 - 2009 - 2010 04 2010 01 2010 - 2010 - 2011 - 2011 - 2011 - 2011 - 2012 - 2012 - 2012 - 2012 - 2013 - 2013 - 2013 - 2013 - 2014 1 2014 - 2014 - 2014 - 2015 - 2015 - 2015 - 2015 - 2016 - 2016 - 2016 - 2016 -

TOTAL 31 TOTAL 07 TOTAL - TOTAL 04

Fonte: Tabela elaborada a partir de dados do Sítio Domínio Público, 2017.

Os resultados captados com a busca no Domínio Público demonstram um quantitativo pouco expressivo de publicações sobre as temáticas que se relacionam às palavras-chaves utilizadas. A maior parte dessas publicações são teses e dissertações. Nesse quantitativo, podemos encontrar ainda alguns documentos e cartilhas que resultaram das discussões e dos movimentos nacionais conhecidos como Por uma educação do campo. A maior quantidade de trabalhos aparece com a palavra-chave educação do campo, concentrando-se maior quantitativo entre 2006 e 2010. Observamos que existem poucos trabalhos que abordem especificamente a escola do campo. Não obtivemos resultados para criança do campo, e encontramos apenas quatro registros de trabalhos para narrativas infantis. Esses quatro, apesar de apresentarem a perspectiva da escuta da criança na pesquisa, não abordam a temática da educação do campo.

A busca feita na plataforma Scielo, apesar de não a refinarmos, utilizando as palavras-chaves para todos os itens de busca disponíveis, captou poucos trabalhos. Para as palavras-chave escola do campo e criança do campo, não encontramos nenhum registro. Sobre narrativas infantis, obtivemos apenas um

52 resultado. Para educação do campo, obtivemos nove registros distribuídos no período de 2007 a 2012.

Souza (2015) apresenta resultados de um mapeamento de teses e dissertações defendidas no Brasil entre 2000 e 2010, em diferentes programas de pós-graduação, e de artigos publicados em 20 periódicos (Scielo e CAPES). Com esse mapeamento que realizou em 2012, utilizando como descritores: classes multisseriadas, educação rural, educação do campo, multisseriação e escolas rurais; constatou que existia maior incidência de pesquisas contemplando essas temáticas nos anos de 2009 e 2010. No mapeamento que fizemos em 2017 no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, compreendendo o período de 2002 a 2016, conforme Tabela 1, observamos que o número de trabalhos defendidos continuou crescente, nos últimos cinco anos.

Além do quantitativo, os dados demonstram maior concentração de pesquisas com as temáticas, Educação do Campo e Escola do Campo, nas regiões sul e sudeste, conforme explicitado nos gráficos a seguir. Esse resultado também se confirma no levantamento feito por Souza (2015), que constatou que houve a “[...] ampliação da base teórica da pesquisa, uma possível superação na tensão semântica entre os conceitos de campo e rural, revelando uma maior concentração de estudos sobre a temática nas regiões Sudeste e Sul tanto em periódicos (Scielo e CAPES), quanto nas dissertações e teses (CAPES).” (SOUZA, 2015, p. 21).

Gráfico 1 - Distribuição de Teses e Dissertações sobre o tema Educação do Campo defendidas no Brasil, entre 2002 - 2016, por macrorregião.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Portal CAPES, 2017. 27% 15% 24% 22% 12% Educação do Campo

Sudeste Centro Oeste Sul Nordeste Norte

53 Gráfico 2 - Distribuição de Teses e Dissertações sobre o tema Escola do Campo defendidas

no Brasil, entre 2002 - 2016, por macrorregião.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Portal CAPES, 2017.

A temática Criança do Campo e a temática Narrativas Infantis têm um destaque maior na região sudeste, mas aparecendo com expressividade também nas regiões Norte (Criança do Campo) e Nordeste (Narrativas Infantis), conforme demonstram os Gráficos 3 e 4.

Gráfico 3 - Distribuição de Teses e Dissertações sobre o tema Criança do Campo defendidas no Brasil, entre 2002 - 2016, por macrorregião.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Portal CAPES, 2017.

60% 0% 0% 0% 40% Criança do Campo

Sudeste Centro Oeste Sul Nordeste Norte 21% 24% 32% 15% 8% Escola do Campo

54 Gráfico 4 - Distribuição de Teses e Dissertações sobre o tema Narrativas Infantis

defendidas no Brasil, entre 2002 - 2016, por macrorregião.

Fonte: Elaborado a partir de dados do Portal CAPES, 2017.

Os resultados dessas pesquisas no Banco de Teses e Dissertações da CAPES são significativos para o conhecimento de pesquisas sobre a temática que investigamos. A partir desse levantamento, selecionamos alguns trabalhos com o objetivo de conhecer os estudos, realizados nos últimos 15 anos, que trazem a perspectiva da pesquisa com crianças para a investigação de problemas no âmbito da educação do campo. Inicialmente, percebemos pouca produção no âmbito acadêmico que relacione a pesquisa com criança e sua percepção sobre a escola do campo.

Dos resultados encontrados que tratam sobre criança do campo, destacamos que a maior parte se propõe a ouvir o que têm a dizer as crianças sobre suas vivências no meio rural, seja na escola, na família ou na comunidade. Araújo (2016) e Moraes (2010) desenvolveram pesquisas em comunidades ligadas ao Movimento Sem Terra (MST), e investigaram o significado e sentido de infância em assentamentos a partir do que dizem as crianças sobre sua participação na vida da comunidade, o que envolve as brincadeiras, o trabalho, a escola e a luta pela terra.

A pesquisa de Loffer (2013), ao investigar o que as brincadeiras podem sinalizar acerca das significações sobre a escola do campo, constata a excessiva

54% 6% 14% 20% 6%

Narrativas Infantis

55 preocupação com o futuro, transmitida às crianças pelos adultos. O que faz da escola, mesmo sendo um lugar de socialização, um lugar de viver um “não ser”. Esse resultado tem sido comum nas pesquisas realizadas pelo GRIFARS-UFRN- CNPq - Grupo Interdisciplinar de Pesquisa, Formação, Auto.Biografia, Representações e Subjetividades -, em comunidades rurais, quilombolas, escolas da periferia urbanas, escolas de aplicação e classes hospitalares.

Das quatro Teses encontradas nesse levantamento a partir da palavra- chave criança do campo, apenas duas foram desenvolvidas na perspectiva da pesquisa com crianças. Oliveira (2013) buscou refletir sobre a compreensão das crianças acerca da escola da educação infantil do campo; e Oliveira (2009), compreender o cotidiano vivido por crianças do campo a partir das narrativas delas sobre seu mundo de vida.

Os trabalhos que encontramos com a palavra-chave escola do campo se concentram em estudos históricos, em políticas e práticas curriculares, com destaque para as turmas multisseriadas e para o processo de nucleação das escolas do campo. Muitos dos trabalhos que abordam a perspectiva histórica utilizam os termos: escola rural, zona rural, educação rural. Além desses, existem trabalhos que têm como temática a formação e prática educativa do professor no campo. Dentre os trabalhos, destacamos a dissertação de Freitas (2010) que traz traços comuns com a proposta desta Tese, quando se propõe analisar os sentidos atribuídos à escola e à experiência escolar por jovens do campo, sempre vinculados a projetos profissionais. Esses projetos sempre apresentam dilemas entre permanecer no campo ou migrar para a cidade.

Sobre a palavra-chave narrativas infantis, destacamos as pesquisas desenvolvidas por pesquisadores do GRIFARS, Rocha (2012), Fernandes (2015) e Silva (2016), que adotaram como metodologia as rodas de conversa com crianças para, a partir de suas narrativas, investigar as experiências vividas no contexto escolar, seja em classe hospitalar (pesquisa de Rocha) ou em escolas de periferia urbana (pesquisas de Fernandes e de Silva). A pesquisa de Andrade (2016) também utiliza a metodologia das rodas de conversa com crianças, e buscou investigar os sentidos construídos por crianças sobre suas experiências vividas na escola a partir de suas narrativas.

56 Encontramos ainda a dissertação de Carvalho (2015), que traz a proposta de trabalhar com narrativas de crianças rurais sobre a vida no meio rural, como aprendem, quais sentidos são atribuídos ao espaço e à escola rural, quando narram suas experiências. Utiliza como metodologia as entrevistas narrativas, rodas de conversa e observações, sendo esse o trabalho que mais se aproxima da proposta desta tese.

Esse mapeamento possibilitou conhecer os trabalhos acadêmicos desenvolvidos, em especial, nos programas de pós-graduação em educação, que envolvem a temática da educação do campo, o que contribuiu para as reflexões que permearam toda a construção do objeto de estudo desta Tese. Investigar o sentido da escola do campo para crianças e jovens a partir do que dizem sobre suas experiências de desenvolvimento intelectual e social vividas em seus processos de escolarização no espaço campesino vem contribuir e somar com toda produção acadêmica já desenvolvida, que trazem os problemas da educação do campo para serem discutidos e observados no âmbito das políticas públicas educacionais.

2.4 Portalegre, suas ruralidades e a escola do campo – contexto do lócus