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A Grécia é considerada o berço da “história da educação ocidental” e, de acordo com Corrêa (2009), estava centrada na formação integral – corpo e espírito – a ênfase da educação se demandava mais, ora para o preparo militar ou esportivo, ora para o debate intelectual conforme a época e o lugar.

A educação só alcançou o estatuto de questão filosófica no século V a.C com os sofistas e depois com Aristóteles e Sócrates. Platão, juntamente com Sócrates, defendiam que a educação deveria conduzir os alunos a uma disciplina moral, perfeição espiritual, virtude e verdade. Defendiam, ainda, o desenvolvimento pessoal que valorizasse a verdade acima de qualquer outro valor. Para Aristóteles, a vida estaria dividida em duas partes: o trabalho e o ócio, trazendo, em consequência disso, uma separação das artes serviles e liberales com a finalidade de atender às duas expectativas.

As cidades gregas mais importantes dos séculos VII e VI a.C, segundo os historiadores, eram Atenas e Esparta. Nelas, existiam escolas destinadas a contribuir ao bem público. O principal objetivo educacional era a formação de guerreiros fortes e valorosos cidadãos leais e comprometidos com a moral vigente.

Em Esparta, a educação caracterizava-se pela formação de vigorosos soldados e políticos. Em geral, não alfabetizavam os meninos. O currículo educacional era voltado para o preparo físico e o teinamento era feito com ginástica do tipo militar. Decorar as leis de Licurgo e as poesias de Homero era o artifício utilizado para ensinar a moral e a política.

Na educação ateniense, a formação das meninas traduzia-se nas atividades doméstica e moral, desenvolvidas junto à sua mãe. As meninas deveriam também se preparar, adequadamente, para ter condições de gerar filhos fortes e sadios, quando adultas.

Em Atenas, a educação dos meninos começava com a idade de 7 anos. Vale ressaltar que as escolas eram de caráter privado e a elas só tinham acesso àqueles que pertenciam à classe social mais alta.

Depois do ano 479 a.C., a educação grega teve uma orientação basicamente ateniense. Para os meninos com idade entre 7 a 13 anos, ensinava-se leitura, escrita, aritmética e canto. Aos adolescentes de 13 a 16, ofereciam-se disciplinas como gramática, retórica, lógica, música e desenho. A educação superior integrada pela retórica e pela filosofia iniciava-se após os 16 anos de idade.

Enquanto na pedagogia grega valoriza-se a visão filosófica sistematizada ou o predomínio da retórica, em Roma dava-se o florescimento da Humanitas: cultura universalizada que equivale à Paidéia14, distinguindo-se como uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o homem, em todos os tempos e lugares. Essa concepção não se restringia ao ideal de homem sábio, mas à formação do homem virtuoso, como ser moral, político e literário.

A educação romana tinha como objetivo, então, inculcar a moral e as virtudes sociais necessárias para a manuntenção das leis, costumes e religião. Aos meninos com idade compreendida entre 6 a 12, anos ofertava-se a escola elementar, onde eram aprendidas leitura, escrita, aritmética, moral e, ainda, estudavam-se as leis das doze tábuas15. Após esse período, concluia-se o processo educacional na escola secundária, onde eram ensinadas as disciplinas de língua e literatura latina e grega, junto com história, geografia, mitologia e ética. Somente os maiores de 16 anos podiam se preparar para exercer o direito ou vida pública.

Para se identificar a gênese dos estudos curriculares, tem-se que fazer esse retorno histórico à educação da antiguidade clássica para se descobrir nas ideias de Platão, Aristóteles e Sócrates indícios de questões curriculares, que mais tarde foram identificadas e sedimentadas. O currículo da educação cristã refletia a cultura e ideais gregos, romanos e hebreus e sua influência perdura até os dias atuais.

Para alguns autores, Sacristán (2006), Silva (2007), Moreira (2004), Pacheco (2005) a discussão sobre currículo não se restringe aos aspectos da seleção e da organização do conhecimento como um processo neutro e desinteressado, pois nele estão embutidos os fatores sociais, econômicos e culturais. Para os estudiosos, uma teoria de currículo deve

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A Paideia é, então, entendida como uma formação geral que dará ao homem a forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. (POMBO, 2010).

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Constituía uma antiga legislação que está na origem do direito romano. Formava o cerne da constituição da República Romana e do mos maiorum (antigas leis não escritas e regras de conduta).

necessariamente envolver, em sua discussão, além dos conceitos pedagógicos de ensino e aprendizagem, os conceitos de ideologia e poder.

É importante destacar que as teorias de currículo são elaboradas de forma a garantir um consenso. Significa dizer, também, que elas visam garantir o discurso e a hegemonia de determinados grupos políticos e econômicos. Segundo Silva (2007), é a questão do poder que separa as teorias tradicionais do pensamento crítico e pós-crítico do currículo, pois nenhuma teoria é cientificamente neutra ou desarticulada do poder.

Originada do latim scurrere – correr –, a palavra curriculum passou a ser utilizada, a partir do século XVII, para designar o conjunto de assuntos estudados pelos alunos ao longo de um curso. De acordo com Goodson (2008b), essa origem está claramente associada à preocupação com os conteúdos e a sequência da escolarização.

Hamilton (1980 apud GOODSON, 2008b) observa que, nos séculos XVI e XVII, em Paris e em Glasgow, a organização do currículo ligava-se, por natureza, aos padrões da organização e controle sociais. Escócia, Suíça e Holanda, países de religião calvinista que possuem, teologicamente, a doutrina da predestinação (crença de que apenas uma minoria predestinada podia obter a salvação), transferiam essa mesma lógica para a educação. Nela, os “escolhidos” (aqueles que podiam pagar) eram agraciados com a perspectiva de uma educação avançada enquanto os demais (pobres da área rural) eram enquadrados num currículo mais conservador (o conhecimento era religioso e voltado às virtudes seculares). Torna-se evidente que o currículo exerce poder seletivo e discriminatório perante aqueles que recebem o conhecimento.

Com o fim da Revolução Francesa de 1789, o Estado passa a desempenhar papel cada vez mais influente no processo de escolarização e, consequentemente, interferindo no currículo. A partir deste período, o currículo escolar revestiu-se dos interesses de controle social sobre a mão de obra trabalhadora.

Goodson (2008b) define que, no final do século XVIII e início do século XIX, o currículo estabelecia-se como principal mecanismo de diferenciação social e esse poder de determinar e aplicar a diferenciação conferiu ao currículo uma posição definitiva na epistemologia da escolarização.

Os diferentes caminhos que o currículo percorreu a partir do século XX culminaram nas principais abordagens teóricas que vão permitir o estabelecimento das Teorias do Currículo como uma importante área de estudo no campo da educação e da sociologia. Esse tema é abordado na seção subsequente.