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Pressupostos da Educação de Jovens e Adultos Integrada à Educação

O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na modalidade Educação de Jovens e Adultos – PROEJA – foi criado por meio do Decreto nº 5.478/2005 e alterado pelo Decreto 5.840/2006 que faz referência a implementação de um programa específico que ofereça oportunidades educacionais aos jovens e adultos que já concluíram o Ensino Fundamental prosseguirem seu itinerário formativo na etapa final da educação básica aliando a formação geral e profissional.

O PROEJA veio preencher uma lacuna no sistema educacional brasileiro, permitindo que a integração entre a formação geral e a educação profissional fosse estendida à educação de jovens e adultos, pois, como afirma Ciavatta, (2005, p. 89) “[...] numa sociedade como a nossa com alto grau de desigualdade social e que não universalizou a educação básica (fundamental e média)”, a EJA ficou, durante muito tempo, limitada aos cursos e aos exames supletivos, cuja finalidade era oferecer exclusivamente a certificação nas etapas finais da educação básica.

A certificação obtida permitia ao aluno ingressar em cursos técnicos para uma formação rápida que o levasse para o mercado de trabalho como mão de obra especializada e de baixo custo, expondo da forma mais escancarada possível a dualidade do sistema educacional brasileiro.

De acordo com Moura (2006b) o que se fazia era na realidade era “uma educação pobre para pobres” e não um percurso escolar que permita a formação integral do indivíduo em detrimento da formação para o mercado.

Ramos (2010, p. 77) refere-se a isso dizendo: “[...] não se pode admitir que a educação profissional seja planejada e desenvolvida para atender às necessidades identificadas no mercado de trabalho tendo em vista antes de tudo os interesses da produção e, só depois, os interesses dos trabalhadores.”

Por esse entendimento não se pode abrir mão de uma educação profissional integrada destinada à formação de jovens e adultos que permita a construção de um sujeito com autonomia política, social e econômica capaz de lutar por sua emancipação, superando uma formação reparadora no processo de letramento e aligeirada na área profissional desenvolvida apenas para atender as necessidades do mercado de trabalho.

Acredita-se que a superação deste modelo de educação que tende a reduzir a formação humana à formação profissional só será possível a partir do momento que a educação geral se torne indissociável da formação profissional.

Ciavatta (2011, p. 7) chama-nos a atenção para o fato de que

A sociedade brasileira tem uma dívida secular para com a população trabalhadora, relegada, desde os primórdios do país, a não receber conhecimentos, senão aqueles que fossem necessários ao trabalho produtivo no campo e nos espaços urbanos. Mais tarde, com séculos de atraso em relação aos países europeus colonizadores, o ideal educacional, necessário à produção capitalista, se implantou, de modo escasso e limitado, apenas nas funções de ler, escrever, contar e aprender um ofício. Manteve- se sempre, por artifícios legais e administrativos, a meia-educação para a população. Portanto, o PROEJA deve ter como premissa maior permitir a reinserção no sistema escolar dos jovens e adultos que, em algum momento de suas vidas, tiveram seu percurso escolar interrompido, ofertando a eles uma nova trajetória educacional que permita a elevação de sua escolaridade por meio da conclusão do ensino básico, com a formação profissional na perspectiva de uma formação integrada pondo fim o caráter assistencialista que historicamente acompanhou a EJA.

De acordo com Moll (2010, p. 132), “O Proeja constituiu-se como marco para construção de uma política pública e aproximação entre escolarização e profissionalização e de ampliação do acesso e da permanência de jovens e adultos na educação básica.” A integração entre a educação básica e educação profissional para o público da EJA é um dos pressupostos do PROEJA.

Portanto, esta integração deve ter como objetivo fazer a aproximação entre os pressupostos da formação técnica com a formação geral, para que ambas não assumam caráter meramente técnico e reducionista no interior das relações produtivas, econômicas, políticas, sociais e culturais.

Assim, a necessidade de se conjugar, nesse nível de ensino, a preparação pra o trabalho e a formação geral se faz necessário que ela estimule à reflexão e à crítica, com o propósito de tornar os estudantes do PROEJA agentes de mudanças nos níveis do indivíduo, da sociedade e da natureza.

A efetivação deste programa é a possibilidade de “A ampliação de oportunidades, necessária e desejável, para as populações jovens e adultas, que encontrarão no PROEJA novo lócus para a vida escolar.” (MOLL, 2010, p. 135).

As questões relacionadas ao Ensino Médio, à educação profissional e à EJA enquanto modalidades de ensino são extremamente complexas. Para Kuenzer (2007), o Ensino Médio tem se constituído no grande desafio do sistema educacional brasileiro, pois, historicamente, revela um caráter contraditório e dual, sofrendo com a ausência de identidade,

já que ora tem o caráter de propedêutico, ora de preparação para o ingresso no mundo do trabalho.

Nesse contexto, torna-se necessário compreender que a política de ensino médio integrado é mais que uma sobreposição de conteúdos, ela deve se concretizar efetivamente através de uma integração curricular que supere a dualidade de saberes gerais e específicos.

Ramos (2010, p. 53) confirma este ponto de vista afirmando categoricamente: “[...] no currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, posto que estrutura objetivos de produção, nem somente específico, pois nenhum conceito apropriado produtivamente pode ser formulado ou compreendido desarticulado da ciência básica.”

Portanto, para que seja possível entender as implicações pedagógicas que se fazem presentes na educação integrada, que tem como objetivo superar a dualidade de um currículo fragmentado em disciplinas, apresento alguns elementos dos estudos do currículo que vão permitir a compreensão do currículo integrado que será abordado a seguir.