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2 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS: UM LINK NECESSÁRIO

Conforme a Proposta Curricular de Santa Catarina, é preciso compreender o potencial dessas ferramentas no processo de formação que acontece no universo escolar:

Crianças e adolescentes convivem dentro desse universo e, para eles, o uso de redes sociais, jogos em rede, blogs, microblogs e afins, é inerente ao processo de constituição da sua subjetividade. Negar os jogos eletrônicos e as tecnologias no processo de formação humana que acontece na escola seria uma postura infrutífera, uma vez que não possibilitaria reconhecer e permitir aos estudantes desenvolver formas de relação com elas diferentes daquelas presentes no universo não-escolar. (SANTA CATARINA,2014, 2014, p. 104)

No entanto, Demo (2011, p. 11) ressalta a importância de se considerar as tecnologias sobre dois ângulos: “De maneira similar e coerente, as tecnologias invadem o campo da educação, abrindo, de um lado, oportunidades virtuais praticamente inesgotáveis, e, de outro, reforçando o cinturão do mercado.”.

A necessidade de especial atenção a questões de relações de poder neste momento de intenso avanço tecnológico também é tema debatido pelo sociólogo espanhol Manuel Castells:

Se tomarmos o exemplo dos aparelhos telefônicos celulares, é impressionante a velocidade das inovações, bem como a queda dos preços para os consumidores, mas tudo isso não ocorre em nome das necessidades humana básicas, mas da voracidade do mercado. As tecnologias

V Congresso Regional de Docência e Educação Básica | Anais Eletrônicos

informacionais formatam, literalmente, a sociedade atual, em especial a economia competitiva globalizada. (CASTELLS, 1999, p. 87).

Nesse sentido, “[...] a tecnologia revela o modo de proceder do homem para com a natureza, o processo imediato de produção de sua vida social e as concepções mentais que delas decorrem.” (MARX, 1988, p. 425).

Poucos negariam hoje que os processos educacionais e os processos sociais mais abrangentes de reprodução estão intimamente ligados. Consequentemente, uma reformulação significativa da educação é inconcebível sem a correspondente transformação do quadro social no qual as práticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança. Mas, sem um acordo sobre esse simples fato, os caminhos dividem-se nitidamente. (MÉSZAROS, 2007, p. 196)

Segundo Demo (2009 p. 27), “Não se pode esquecer que, quem sabe pensar, geralmente não gosta que outros também saibam pensar.”. A leitura crítica, análise das linguagens, dos opostos, dos interesses ocultos é fundamental.

Neste contexto, saber pensar conjuga dupla habilidade. De uma parte, apresenta-se a habilidade metodológica, epistemológica que sabe lidar com conhecimento, manejá-lo com perícia, dominar questões de método, usar lógica e todos os expedientes da retórica. De outra parte, apresenta-se a ferramenta mais potente da intervenção alternativa, unindo saber pensar com saber intervir. (DEMO 2011, p. 42).

Sobre as tecnologias educacionais, Demo (2011, p. 22) destaca:

O lado talvez mais triste desta análise é que as mudanças estão sendo empurradas para dentro dos sistemas educacionais, não pelas demandas do bem comum, mas pelas demandas do mercado. Questiona-se o atual ensino, não tanto porque não corresponde ao desafio de uma democracia que sabe pensar, mas porque não satisfaz ao ímpeto inovador do mercado.

Essa perspectiva ratifica o entendimento de que não basta apenas munir as escolas com as novas tecnologias: é imprescindível mudar sua estrutura organizacional, e o papel dos educadores precisa ser revisto, considerando as possibilidades de produção de novas relações mediadas pela informática na escola.

Segundo Demo (2011, p. 9), “Embora não se possa negar o potencial humanizador da educação, no capitalismo comparece sempre como serviçal da lógica abstrata da mercadoria.”. No entanto, para ele, nesse espaço o aluno deveria ser estimulado a pensar, a questionar a realidade, não se satisfazer com as aparências: “Ler a realidade para Paulo Freire era precisamente questioná-la, confrontar-se com ela, para poder mudar, intervir.” (DEMO 2011, p. 9).

Eis que superar o instrucionismo imposto historicamente na educação é uma tarefa que engloba inúmeros impasses, mas que é necessária quando se vislumbra um futuro justo para todos os cidadãos.

É próprio do conhecimento mais profundo questionar – seu primeiro ímpeto é desconstrutivo, porque parte para duvidar do que vê ou ouve, não se resigna a simplesmente aceitar; em seguida reconstrói, sabendo, porém, que este gesto é provisório, porque não é viável questionar e impedir o questionamento. (DEMO 2009, p. 23)

Considerando que a educação se constitui em espaço privilegiado de formação, Valente (1993, p. 6) salienta que:

A mudança da função das tecnologias como meio educacional, acontece juntamente com um questionamento da função da escola e do papel do professor. A verdadeira função do aparato educacional não deve ser a de ensinar, mas sim a de criar condições de aprendizagem. Isso

40 V Congresso Regional de Docência e Educação Básica | Anais Eletrônicos significa que o professor deve deixar de ser o repassador de conhecimento – o computador pode fazer isto e o faz muito mais eficientemente do que o professor – e passar a ser o criador de ambientes de aprendizagem e o facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do aluno.

Nesse sentido, entende-se como essencial a questão do filtro, em que, na Escola, o aluno deveria ser orientado para a leitura crítica, para a escolha de sites confiáveis, para a participação coletiva. Segundo Lévy (2010), devemos optar por uma gestão ao mesmo tempo pessoal e coletiva de saberes. Ele nos sugere que nos conectemos a fontes relevantes, mantendo o foco naquilo que é mais importante. Dessa maneira, iremos filtrar somente o que realmente interessa, sintetizando as informações e nos concentrando nas mais relevantes. Para isso, no entanto, ressalta que não o façamos de forma individual, mas de forma compartilhada, criando espaços coletivos de acesso.

3 A PRÁTICA PEDAGÓGICA ARTICULADA ÀS NOVAS TECNOLOGIAS: NOVOS DESAFIOS