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Educação e Espiritualidade: um binômio possível, uma relação necessária

CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE: UMA (RE)APROXIMAÇÃO

1.3 Educação e Espiritualidade: um binômio possível, uma relação necessária

Nessa direção, optamos por fazer uma aproximação por pensamentos que têm problematizado a educação por meio da temática da espiritualidade. Essa aproximação pode trazer contribuições interessantes para ressignificar o sujeito da educação, bem como a finalidade da ação pedagógica.

Entretanto, nossa ligação com a temática da espiritualidade não será feita de modo geral, nem de qualquer forma. Afinal de contas, apesar de ser temática hegemonicamente desprivilegiada no campo acadêmico, como vimos no tópico acima, estamos assistindo a um aumento no interesse pela espiritual. Por isso,

Falar sobre espiritualidade vem se tornando moda, cada vez mais, nos dias de hoje. Sinal inconfundível é o considerável número de celebridades que acumulam fama, declarando-se espiritualistas. Para alguns, anuncia-se nisso uma nova era; para outros, trata-se de uma

recaída em misticismos ultrapassados e alienantes. As falsas expectativas, por um lado, e os preconceitos, por outro, podem ser superados, em boa medida, a partir de tentativas de conceituações mais claras sobre o que se entende por Espiritualidade. Como é de se esperar, não existe consenso sobre o significado da Espiritualidade (RÖHR, 2013, p. 09).

No intuito de não correr os riscos acima citados e fazer de nosso trabalho uma investigação com falsas expectativas ou confirmação de preconceitos, optaremos em seguir as reflexões produzidas pela perspectiva transpessoal acerca da espiritualidade, procurando deixar evidente que essa aproximação pelo princípio espiritual é apenas uma forma de resistência aos modelos hegemônicos de pensar/experienciar o sujeito e não uma tentativa de elaborar uma teoria dominante no campo da educação.

Ao lado disso, ainda que haja diferentes significados para o termo, o que mostra a dificuldade de se ter um consenso, nosso desejo foi o de, sem menosprezar as definições já estabelecidas, deixar clara e ampliar a definição presente na perspectiva transpessoal, uma vez que, apesar da perspectiva transpessoal resgatar a espiritualidade para as discussões no meio acadêmico de modo direto e central (CHIMABUCURO, 2010), não há, ainda, uma obra ou um autor que sintetize ou sistematize a definição dessa noção para a abordagem – principalmente quando se fala das obras em português e no contexto acadêmico brasileiro.

Em suma, apesar da espiritualidade ser um dos objetos centrais de discussão da transpessoal, seus pesquisadores e representantes parecem ter dado pouca atenção para o conceito. Não por acaso, atualmente é difícil, senão impossível, dentro da perspectiva transpessoal, encontrar uma obra ou um autor que se dedique centralmente e exclusivamente ao significado desse tema, a não ser de modo tangencial.

Dedicar-se a esse conceito será fundamental para fazermos do binômio educação-espiritualidade não apenas uma relação possível, mas, acima de tudo, necessária. Pois, em que pesem as divergências dos sentidos em torno da espiritualidade entre pesquisadores e autores dedicados e comprometidos com tema – como podemos ver em Ferdinand Röhr (2012) e Alexandre Freitas (2012), só para ficarmos no campo educacional pernambucano –, as convergências apontam e indicam que sem essa articulação será cada vez mais impossível experimentar uma educação como sinônimo de formação humana.

O que estamos querendo dizer é que a necessidade pelo preceito da espiritualidade encontra-se no fato de que sem ele a educação permanecerá atrelada a um processo mais profissionalizante-normalizador do que um dispositivo formativo- humano. Tanto Röhr (2012) quanto Freitas (2012) compartilham da ideia, portanto, de que a educação para ser experienciada como formação humana precisa levar em conta a experiência da espiritualidade. Para ambos, a prática espiritual é apreendida como um aspecto central dos processos de formação dos homens e mulheres.

Araújo (2005), que também apresenta outro sentido para a espiritualidade, defende a ideia de que o termo possibilita criar um contexto rico através do qual acrescenta qualidade aos discursos e às práticas educacionais. Nesse aspecto, a questão da espiritualidade não pode ser preocupação só de religião, mas de todos aqueles que estão comprometidos de modo positivo com a educação. Essa relevância da dimensão espiritual para a experiência e educação humanas requer um tratamento e um olhar especial e, por isso, não pode ser ignorada pela ciência ou qualquer outro saber. Caso contrário, continuaremos privilegiando, nos processos educativos, apenas algumas dimensões em detrimento de outras.

De outro lugar, mas em mesmo caminho, Bogado (2004) compartilha que a espiritualidade, com toda e em toda sua ambiguidade, é fundamental dentro do campo educativo para que mestres e alunos compreendam melhor sua condição de seres humanos e para seu processo de humanização. Por isso, um olhar que inclua a espiritualidade na educação como uma esfera importante para a formação de homens e mulheres conscientes de sua (des)humanidade é essencial para a construção de uma cultura de respeito.

Não é difícil perceber, nesse caso, que apesar de suas divergências e falta de consenso, podemos afirmar que a educação apreendida pela ótica da espiritualidade pode engendrar processos de formação humana para além dos modismos e das crises de nosso tempo, contribuindo para repensar os processos pedagógicos a partir de novas cifras, possibilitando, dentre outros elementos, reconhecer o ser humano em sua multidimensionalidade, uma questão central quando se observa o estado de fragmentação e reducionismo subjacentes às principais teorias e práticas pedagógicas vigentes na atualidade.

Com o intuito de contribuir com e ampliar essas discussões, em suas divergências e convergências, partimos para apontar uma noção de espiritualidade da perspectiva transpessoal a partir de nossas próprias lentes, uma contribuição não

menos importante, nem mais precisa, apenas singular e sui generis para engendrar um “novo” modo de pensamento em torno dos processos educacionais no presente e ampliar as discussões em torno do “Pra quê educamos?” ou “A quem pretendemos educar?”.