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CAPÍTULO 2 QUANDO A INVESTIGAÇÃO SE FAZ PROBLEMATIZAÇÃO

3.1 A quarta força em psicologia: sobre as condições e os eventos que deram

3.1.1 A Transpessoal no Brasil e em Pernambuco

3.1.1.1 Inserção da transpessoalidade em Pernambuco

O levantamento histórico da Psicologia Transpessoal no estado de Pernambuco não tem sido tão divulgado quanto a entrada desta no campo mundial e brasileiro. O que não equivale dizer que no Brasil a história da perspectiva esteja amplamente exposta, tanto que em suas diferentes regiões temos poucos registros e documentos históricos que explicitem, de modo claro, as condições de possibilidade da entrada da transpessoalidade.

A situação complica ainda mais devido à grande quantidade de pesquisadores e estudiosos anônimos, autônomos, invisíveis e autodidatas, o que torna a história em torno da entrada dessa abordagem em Pernambuco um evento ainda muito disperso.

Em função disso, Silva (2012), em seu trabalho de monografia pelo curso de graduação em psicologia da UFPE, realiza uma série de pequenas entrevistas com dois dos principais representantes da quarta força psicológica do estado pernambucano. Nesse trabalho, os resultados permitiram constatar que a inserção da

Psicologia Transpessoal deveu-se à vinda do professor Dr. Leo Matos, pioneiro da perspectiva no Brasil, para o Recife. Na ocasião, este veio atender à demanda, a convite de Marisa Sá Leitão, de psicólogos ligados à área hospitalar interessados em saber como a transpessoalidade trata a questão da vida e da morte.

Assim, na década de 1980, por meio do III Encontro Nacional de Psicologia Hospitalar, realizado pelo CPHD (Centro de Psicologia Hospitalar e Domiciliar do Nordeste) e organizado por Marisa Sá Leitão, Dr. Leo Matos, como profissional de psicologia convidado, discorre sobre o suicídio e oferece um minicurso sobre a morte e estados alterados de consciência a partir da Perspectiva Transpessoal. Neste momento, um pequeno grupo de pessoas, participantes do minicurso, mostrou interesse nos pressupostos e nas práticas dessa abordagem e convidou o professor Matos para voltar a Recife e oferecer um curso sobre a Transpessoal – curso este que até então era organizado por ele apenas em Minas Gerais e Finlândia.

Em função desse desejo, no final do ano de 1988, com o apoio de Marisa Sá Leitão, na época presidente do CPHD, e a ajuda de Salete Menezes, na época psicóloga e uma das participantes do minicurso oferecido naquela ocasião, Dr. Leo Matos volta a Pernambuco para oferecer o Curso Introdutório de Psicologia Transpessoal. Esse evento, que era dividido em módulos, durou cerca de 6 anos para chegar na etapa de conclusão.

Em suma, foi em meados de Novembro-Dezembro de 1988 que a transpessoalidade formalmente se insere em Pernambuco, na cidade de Recife, com a oferta do módulo 1 de formação em psicologia transpessoal. Esta formação só teve sua conclusão em meados de 1993. Durante este intervalo, entre 1988 e 1993, Salete Menezes, juntamente com um pequeno grupo que estava nessa primeira formação, começou a oferecer palestras em diferentes locais e espaços sobre a quarta força em psicologia.

Com sua formação já completa, em julho de 1993, Salete Menezes organiza e realiza um curso introdutório de psicologia e psicoterapia transpessoal em Recife. Com duração de cinco meses, o evento encerra-se no final desse mesmo ano.

Só em 1994, após a participação do Primeiro Curso Intensivo de Psicologia Tibetana e Transpessoal realizado na Índia pela Associação Brasileira de Psicologia Transpessoal (ABPT), sob os cuidados do professor Dr. Leo Matos, as psicólogas e agora psicoterapeutas transpessoais pernambucanas, Salete Menezes e Eliége Brandão, começam a oferecer uma formação em Psicologia e Psicoterapia

Transpessoal em nosso estado. Carga horária total de 500 horas e duração média de dois anos, essa especialização terminou por formar 9 turmas de psicólogos e psicoterapeutas transpessoais em Pernambuco.

Além dos cursos de especialização que ocorriam de forma autônoma desde 1993, houve ainda, em 1997, os estágios supervisionados em psicologia transpessoal pelo SUS (Sistema Único de Saúde) da prefeitura da cidade do Recife sob a atenção de Salete Menezes que atuava como psicóloga do setor desde 1994.

É importante ressaltar ainda, confirma Silva(2012), que tivemos como acontecimento central para a inserção da transpessoalidade em Pernambuco a participação de outros profissionais de psicologia que receberam influências diretas de pioneiros renomados como Pierre Weil a partir do Cosmodrama e ainda de Stanislav Grof a partir do estudo e prática de sua cartografia da consciência. A exemplo tivemos a psicóloga pernambucana Elny Banks que, trabalhando com gestantes e cuidados pré-natal na visão da abordagem transpessoal, oferece um curso de formação de psicologia da gravidez, parto e puerpério, possibilitando introduzir no estado um estudo sistemático do pensamento de S. Grof. Ao lado disso tivemos a criação e a realização de Cursos de Terapia Regressiva com as psicólogas Salete Menezes e Vânia Araújo a partir das contribuições trazidas por Roger Woolger, um dos maiores representantes da psicologia transpessoal no Brasil e no Mundo.

Em 1998, através de convênios com faculdades de psicologia em Recife, percebemos a inserção da transpessoalidade no âmbito da psicologia social comunitária a partir dos estágios supervisionados sob a cautela do professor Dr. Aurino Lima Ferreira junto à associação NEIMFA (Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis) localizada na comunidade do Coque, Recife-PE. Em 2011, essa articulação da psicologia social com as universidades, por meio da visão transpessoal, consolida-se pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Meados de 2000, na tentativa de sistematizar e ancorar a inserção da psicologia transpessoal em Pernambuco, um grupo de oito psicólogos transpessoais pernambucanos7 cria o ATMAN (Centro de Desenvolvimento Transpessoal), que teve uma duração aproximada de sete anos. Com finalidades terapêuticas, estudo e

7 Aurino Ferreira, Eliege Brandão, Elny Banks, Luzia Compasso, Nakeida Lima, Salete Menezes, Salomé Andrade e Vânia Araújo, em 2003 este grupo foi acrescido pela entrada de Adriana Dornelas, Alcileide Oliveira, Andreza Vieira, Ângela Dornelas, Fátima Raposo, Nazilda Coelho, Rúbia Tenório e Taciana Dornelas.

pesquisas, este grupo buscava sistematizar o movimento transpessoal local, favorecendo um aumento na formação de novos psicólogos transpessoais, assim como um contato regular com o CRP/02 (Conselho Regional de Psicologia em Pernambuco).

Em 2005, um dos fundadores do Centro de Desenvolvimento Transpessoal, Aurino Lima Ferreira, entra no doutorado em educação pelo PPGE-UFPE (Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco) e pesquisa, dentre outras categorias, a Psicologia Transpessoal. Tal acontecimento termina por marcar a entrada dessa perspectiva no mundo acadêmico pernambucano como o primeiro doutorado defendido na região que aborda o transpessoal.

Em 2009, o psicólogo Aurino Lima Ferreira é nomeado professor efetivo do Centro de Educação da UFPE pelo Departamento de Psicologia e Orientação Educacional. Essa nomeação possibilita a entrada, do agora professor universitário, no programa de pós-graduação deste Centro. Nesta ocasião ele passa a introduzir a disciplina “psicologia e educação transpessoal”, além de criar, junto com outros professores (Ferdinand Röhr, Alexandre Freitas, Policarpo Jr), um núcleo de pesquisa em Educação e Espiritualidade que tem como um dos eixos centrais o estudo e a pesquisa em Educação a partir da Perspectiva Transpessoal.

Lembramos que nesse cenário de introdução da psicologia transpessoal em Pernambuco, merecem destaque os trabalhos pioneiros de Luzia Compasso com técnicas regressivas transpessoais e respiração holotrópica. Maria Montessori foi uma das pioneiras no trabalho de respiração holotrópica; assim como o casal Reika e Nigiam que introduz os grupos de respiração e a arte-terapia transpessoal. Nakeida Lima sempre apresentou grande contribuição em estabelecer uma ponte com as teorias quânticas e a psicologia jurídica. Nazilda Coelho montou trabalho sistemático com crianças, sendo uma das principais referências nesta área. Vânia Araújo organizou um trabalho que recuperava a corporalidade na prática transpessoal.

É importante ressaltar que a maturidade teórica própria da Transpessoal tem sido, nas últimas décadas, notadamente percebida e exposta por diferentes pesquisadores e intelectuais. Isso tem possibilitado o embasamento necessário para um rico diálogo e construtiva relação com diferentes campos do saber. Ao lado disso, as pesquisas na área de espiritualidade, estados ampliados de consciência, dentre outros, têm crescido aceleradamente e ganho respaldo, inclusive por intelectuais das

diferentes ciências.O efeito disso tem sido uma maior abertura e um menor preconceito por parte do pensamento universitário.

Como pudemos perceber, a perspectiva transpessoal dá-se a ver de modo mais direto no Brasil no final de década de 1970; já em Pernambuco, nos fins de 1980.Desde então, com a criação de suas associações e organizações, essa abordagem só tem crescido no território nacional e pernambucano, fazendo nosso espaço social, científico, epistemológico e ético voltar a atenção principalmente para aquelas experiências através das quais o indivíduo é levado a transformar a percepção acerca de si mesmo e do mundo. Tais acontecimentos vêm nos dando margens, ferramentas, bases e instrumentos para olharmos com cuidado e atenção para os aspectos espirituais da vida humana.