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EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

1 REVISÃO DA LITERATURA

1.4 EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para que a criança possa vivenciar, construir e ampliar seu movimento devem ser trabalhadas atividades que promovam os aspectos psicomotores, ou seja, o esquema corporal e a estrutura espaço-temporal. Além disso, a ludicidade deve ser uma das principais ferramentas de ensino, tendo em vista a necessidade que a criança tem em brincar e socializar através do lúdico (MATTOS; NEIRA, 1999).

Para as crianças pequenas é fundamental enfocar o desenvolvimento motor, juntamente com dança, folclore, teatro, brincadeiras, jogos e outros. As experiências vivenciadas pela Educação Física escolar devem ser ministradas com uma didática específica para cada faixa etária, grau, série, e nível de ensino e, além disso, deve-se levar em consideração que o corpo e a mente não podem ser trabalhados em etapas diferentes. Assim, a Educação Física deve ser orientada no sentido de satisfazer os dois propósitos fundamentais: o corpo e a mente, em seu meio social.

Dessa forma, a Educação Física deve, progressiva e cuidadosamente, conduzir o aluno a uma reflexão crítica que o leve à autonomia no usufruto da cultura corporal de movimento (BETTI; ZULIANI, 2002). Portanto, esse é um processo que possui fases, com objetivos específicos, que respeitam os níveis de desenvolvimento e as características e interesses dos alunos:

Na primeira fase do Ensino Fundamental (1º a 3º/4º anos), é preciso levar em conta que a atividade corporal é um elemento fundamental da vida infantil, e que uma adequada e diversificada estimulação psicomotora guarda estreitas relações com o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança; deve-se privilegiar o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, jogos e brincadeiras de variados tipos e atividades de autotestagem. A partir do 4º/5º anos do Ensino Fundamental, deve-se promover a iniciação nas formas culturais do esporte, das atividades rítmicas/dança e das ginásticas. É importante considerar que, nessa fase, a aprendizagem de uma habilidade técnica deve ser secundária em relação à concretização de um ambiente e de um estado de espírito lúdico e prazeroso, e levar em conta o potencial psicomotor dos alunos (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 76).

Por isso, desde os primeiros anos, a Educação Física deve estar presente no processo de ensino, trabalhando os aspectos corporais, cognitivos, afetivos e sociais da criança, por meio da construção de habilidades e competências diversificadas e que busquem promover o desenvolvimento integral. Desse modo, é importante compreender que:

O papel da Educação Física deve cumprir dois objetivos fundamentais na pré-escola e séries iniciais que é: proporcionar o desenvolvimento das potencialidades da criança e, consequentemente, auxiliar outras aprendizagens. Ela deve nortear também suas atividades com a finalidade de proporcionar a aprendizagem das crianças em um ou vários esportes, criando hábitos da atividade física, como meio de conservar a saúde física e mental, e buscar o equilíbrio socioafetivo (BRANDL NETO, 1996, p. 58).

A educação do movimento, desde os primeiros anos, deve compreender a realização de atividades motoras que visam o desenvolvimento das habilidades motoras (correr, saltar, arremessar, empurrar, puxar, balançar, balancear, subir, descer, andar), da capacidade física (agilidade, destreza, velocidade, velocidade de reação) e das qualidades físicas (força, resistência muscular localizada, resistência aeróbica e anaeróbica) (FREIRE, 1997). Tudo isso, aliado aos conteúdos curriculares e integrado com as outras disciplinas, num esforço coletivo e globalizante para que a criança tenha maiores e melhores condições de aprendizagem.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), os conteúdos da Educação Física devem ser trabalhados de maneira equilibrada e adequada, não se tratando de uma estrutura estática ou inflexível, mas sim de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos abordados. O documento enfatiza três blocos: esportes, jogos, lutas e ginástica; atividades rítmicas e expressivas e conhecimento sobre o corpo. Os três blocos articulam-se entre si, têm vários conteúdos em comum, mas guardam especificidades. Esses

blocos podem ser a base para o desenvolvimento dos projetos interdisciplinares, na integração com os saberes de outras disciplinas (BRASIL, 1997).

Na perspectiva dos Parâmetros Curriculares de Educação Física, Neira (2003) ressalta que articulados aos eixos temáticos distribuem-se os elementos pertencentes às dimensões cognitivas, psicomotoras e afetivo-sociais do comportamento humano. A utilização de conteúdos de diferentes potencialidades do indivíduo desenvolverá simultaneamente conhecimentos relativos aos fatos, conceitos, princípios e capacidades cognitivas, como memorização, classificação, quantificação e outros, o que se chama de conteúdos conceituais; os fazeres, que nas atividades motoras preenchem-se na fase motora fundamental, como o correr, saltar, saltitar, rolar, equilibrar-se em uma superfície, arremessar, receber, rebater, etc., são chamados aqui de procedimentais, e, da mesma forma, as normas, os valores, o trabalho em grupo, a cooperação, o respeito a si e aos outros, são denominados de atitudinais.

Conforme o autor, os conhecimentos dos conceitos, dos procedimentos e das atitudes compõem juntamente com os eixos temáticos, os objetivos das atividades dessa proposta, desencadeando, assim, a integração entre saber, saber fazer e ser, tão necessária aos processos de desenvolvimento humano (NEIRA, 2003).

Todos os conteúdos acima considerados apontam para uma série de relações com outras áreas do conhecimento, não ficando estáticos apenas à Educação Física e ao movimento, mas sim, podendo desenvolver, em conjunto com outros saberes, diversas competências, habilidades e conhecimentos.

Outro ponto fundamental que precisa ser analisado quando se fala em Educação Física para crianças é a necessidade de dar ênfase à ludicidade:

Ao organizar a Educação Física para e com as crianças, precisamos, também, levar em consideração que o brincar é uma linguagem fundamental na infância, podendo se constituir em uma forma singular de produção e apropriação do conhecimento, em suas múltiplas dimensões. Inserir essa reflexão sobre o brincar nos processos de construção da cultura e produção do conhecimento significa buscar na linguagem sua plena possibilidade emancipadora, o que implica a descoberta de formas de expressão que possam ir além do recurso da palavra e se materializarem como gesto – sentido ampliado da palavra, que inclui o corpo e a memória como elementos da experiência humana de coletivamente dar significado ao mundo (DEBORTOLI et al, 2002, p. 103).

Nessa perspectiva, observa-se que a Educação Física na infância precisa ser desenvolvida de forma dinâmica, considerando os avanços motores, as necessidades de

socialização e afetivas, bem como de expressão e cultura corporal, favorecendo o desenvolvimento do corpo e a construção de relações e de conhecimento de mundo para a criança.

Contudo, pesquisa realizada por Darido (2001), mostrou que dentre os problemas enfrentados pela Educação Física nos anos iniciais estão o fato de que a maioria dos professores desenvolve suas aulas a partir de suas experiências anteriores na escola com as aulas de Educação Física e a formação inicial realizada no magistério (nível médio) ou no ensino superior, parecem não garantir qualidade de ensino, na medida em que as práticas mais comuns se resumem a oferecer uma bola para os alunos. Os alunos do 1º ao 4º ano, por sua vez, experimentam bastante prazer com as aulas de Educação Física, mas em função da influência da mídia já tem propensão à prática de esportes de competição. Já os professores especialistas da área admitem que as professoras de sala sabem sobre o papel que a Educação Física tem neste nível de ensino, e tem consciência de que são melhores preparados para atuarem com a disciplina na escola, além de admitirem que a Educação Física pode auxiliar na melhoria do rendimento da aprendizagem em outras áreas.

Outro estudo desenvolvido por Etchepare et al (2003) também verificou que a grande maioria dos professores que trabalham Educação Física nas séries iniciais possui formação de Magistério e/ou Pedagogia. Além disso, a pesquisa mostrou que muitas escolas consideram desnecessária a presença de professores formados em Educação Física para orientar a prática de atividades físicas com crianças pré-escolares e dos primeiros ciclos escolares.

Assim, muitos são os problemas enfrentados pela Educação Física no contexto dos anos iniciais, sendo que além do caráter não obrigatório, não há exigência da atuação de um professor da área para o trabalho com as crianças. Portanto, verifica-se a necessidade de refletir sobre Educação Física como componente curricular fundamental aos anos iniciais que contribui para o desenvolvimento da criança, e que deve ser trabalhado a partir de princípios metodológicos coerentes e da presença de profissional docente especializado.

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