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3.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE

3.2.1 Educação formal

A educação formal está relacionada ao ensino planejado intencionalmente, estruturado, sistematizado e organizado que, normalmente, acontece em ambientes escolares e requer profissional qualificado para atuação. É também nesse ambiente e estrutura que as ações de Educação em Saúde acontecem.

Em 1971, a temática da saúde foi introduzida formalmente na educação pela Lei nº 5.692, denominada como Programa de Saúde, tendo como objetivo “[...] „levar a criança e o adolescente ao desenvolvimento de hábitos saudáveis quanto à higiene pessoal, alimentação, prática desportiva, ao trabalho e ao lazer, permitindo-lhe a sua utilização imediata no sentido de preservar a saúde pessoal e a dos outros.‟” (PARECER CFE nº 2.264/74 apud BRASIL, 1998, p. 258). Em documento de 1977, o Conselho Federal de Educação reafirma que o Programa de Saúde não deve se constituir como disciplina, mas como um fundamento do processo formativo, devendo estar correlacionado aos demais conteúdos curriculares, especialmente Ciências, Estudos Sociais e Educação Física (BRASIL, 1998).

A relação saúde-escola volta a ser revista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), artigo 4º inciso VIII, que estabelece como dever do Estado, referente à educação escolar pública, a garantia de: “atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;”. Ou seja, cabe ao governo público desenvolver programas que possam complementar, e não substituir, as ações de amparo à saúde dos tentativa de proporcionar melhoria da qualidade de vida dos educandos, através “[...] de ações de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos à saúde e de atenção à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de

2 Programa do Ministério da Saúde (MS) e do Ministério da Educação (MEC), articulado pelo Governo Federal na tentativa de construir políticas públicas intersetoriais para alcançar os objetivos previstos pelo Estado no cumprimento do seu dever.

crianças e jovens da rede pública de ensino.” (Ministério da Educação, 2013). Além dos estudantes da Educação Básica, o PSE beneficia a comunidade escolar, aos profissionais e gestores da saúde e da educação, aos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (MEC, 2013).

O MEC recomenda que as ações do PSE estejam previstas no Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas, considerando o contexto escolar e social e o diagnóstico local de saúde do educando. Destaca que esse programa promove a articulação de saberes e a participação da comunidade interna e externa das escolas na construção e controle social das políticas públicas. Como é possível perceber, a proposta é que Saúde e Educação se articulem na realização de ações de Educação em Saúde para promoção da qualidade de vida dos educandos, da garantia dos seus direitos e de sua formação para a cidadania.

Ainda no âmbito das políticas públicas, o MEC, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN‟s), estabelece a saúde como um tema transversal.

A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E a uma forma de sistematizar esse trabalho e incluí-lo explícita e estruturalmente na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofundamento ao longo da escolaridade. (BRASIL, 1998, p. 30) A proposta da transversalidade tem como objetivo que um conjunto de temas tido como transversais perpassem por todas as disciplinas definidas, durante todo o período escolar, buscando uma contextualização desses com a vivência dos escolares.

Para Diniz, Oliveira e Schall (2010, p. 120) os PCNs consideram a escola como parceira da família e da sociedade na promoção da saúde dos educandos, e “[...] delega, para a escola, uma corresponsabilidade de orientação da criança desde a pré-escola ao ensino fundamental.” De acordo com as autoras, a proposta apresentada pelos PCNs representa um considerável avanço no campo da Educação em Saúde, porém, enfrentam algumas dificuldades para sua efetivação, que vai desde “[...] a valorização da formação científica de professores e alunos na educação básica até a falta de qualidade da maioria dos materiais para o trabalho em sala de aula.” (DINIZ; OLIVEIRA; SCHALL, 2010, p. 120).

Os estudos de Schall (2010) apontam que, ainda hoje, mesmo com a transversalidade da saúde, sua abordagem continua vinculada às Ciências Naturais. Nos livros didáticos os conteúdos de saúde continuam sendo apresentados distantes das situações do cotidiano dos

alunos, tendo como foco a doença, seus ciclos e sintomas, formas de contágio e/ou transmissão. Além da ênfase na abordagem biomédica, falhas conceituais e iconográficas são encontradas em alguns dos livros didáticos, adotados pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), voltados para o ensino de Ciências na Educação Básica no Estado de Minas Gerais, onde informações importantes que favorecem a formação “crítica, construtivista e transformadora” em Educação em Saúde são furtadas.

Observam-se, nos livros, erros conceituais e imagens incorretas do ciclo do parasita [da esquistossomose]. À parte das incorreções [...] a relação com o cotidiano da vida dos alunos e a determinação social da doença não são discutidos. Essa seria uma informação de grande utilidade, momento de discutir a responsabilidade individual de evitar a deposição de fezes no ambiente, assim como de refletir sobre os direitos do cidadão aos serviços públicos como água encanada, saneamento e moradias adequadas. Percebe-se assim o quão distante das evidências científicas está o texto, bem como o descompromisso educativo que prima por contextualizar o ensino na vida cotidiana, envolvendo aspectos sociais, culturais e políticos, oportunidades por excelência para uma educação em saúde crítica, construtiva e transformadora.

(ibidem, p. 183)

Nesse sentido, a atuação do pedagogo pode contribuir para a superação dessas e outras dificuldades no campo da Educação em Saúde, tendo em vista a corresponsabilidade da escola em educar os sujeitos para a promoção da saúde, desde a Educação Infantil, e a efetivação das propostas apresentadas na LDB e nos PCN‟s, no que concerne à formação dos profissionais que atuam nessa área, na mediação do processo ensino-aprendizagem e na análise e seleção de materiais educativos em saúde no âmbito escolar.

Para que as ações de Educação em Saúde sejam efetivadas na escola, faz-se necessário que o pedagogo, a partir das discussões com a comunidade escolar e não escolar e do diagnóstico local, garanta a inclusão no Projeto Político Pedagógico das questões concernentes a Educação em Saúde. Ainda, busque a mobilização de professores, alunos e comunidade para o reconhecimento e problematização dessas questões no entorno escolar, objetivando garantir a transversalidade da saúde nos conteúdos escolares, de modo a atender ao que é preconizado nos PCN‟s, bem como a interdisciplinaridade dos temas relevantes sobre saúde.

Partindo das demandas e problematizações levantadas pela escola, o pedagogo pode desenvolver projetos de Educação em Saúde que envolvam a comunidade escolar e não escolar buscando parcerias com profissionais da saúde, universidades, secretarias, empresas, dentre outras, para a realização das atividades planejadas.

Nos momentos de orientação pedagógica com os docentes, tendo em vista o planejamento e acompanhamento de atividades a serem desenvolvidas com os alunos, o pedagogo pode auxiliar o professor a refletir sobre sua prática e sobre os conteúdos curriculares, indicando metodologias e recursos didáticos que condizem com os princípios norteadores da Educação em Saúde, dentro de uma proposta horizontal, dialogada, considerando o público ao qual está sendo direcionada, na busca da construção dos conhecimentos e saberes na área.

Na educação formal, tendo como base o ensino sistematizado, estruturado e intencional, o pedagogo pode atuar, também, na formação inicial e continuada de professores em cursos presenciais e/ou à distância, abordando a Educação em Saúde e possibilidades de metodologias de trabalho. Essa formação pode ser estendida também aos profissionais da Saúde, onde o educador pode contribuir no desenvolvimento de uma abordagem mais humanizada, que leve em consideração os sujeitos atendidos, bem como sua cultura e forma de organização social.

Os apontamentos levantados até o momento correspondem a algumas sugestões e possibilidades de atuação do pedagogo na Educação em Saúde, no âmbito da educação formal. Contudo, essa discussão não tem como ser esgotada, outras possibilidades de efetivação da Educação em Saúde na escola podem ser pensadas. Cabe agora, como proposto neste trabalho, apontar as áreas de atuação do pedagogo na educação não formal e indicar algumas ações a serem desenvolvidas.

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