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O Brasil vive do ponto de vista constitucional, um Estado Democrático de Direito, conforme previsto na Carta Magna em seu Art. 1º. A Constituição Federal, promulgada em 1988, é a lei máxima do país hierarquicamente superior a qualquer outra lei nacional. Uma das preocupações

centrais no texto dessa lei é a busca pela consolidação de direitos civis, políticos e sociais, que não vinham sendo garantidos à maioria da população, sendo por isso denominada de “Constituição Cidadã”. É importante lembrar que durante mais de vinte anos o Brasil viveu um estado de exceção, a partir do Golpe Militar de 1964, onde os direitos e garantias do cidadão deixaram de ser observados.Essa constituição representou uma ruptura com o ordenamento anterior, já que se originou no período de transição entre um regime ditatorial e uma democracia, instaurando no plano legal o surgimento de um novo Estado.

A Constituição Federal definiu entre outros que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da Família, além de especificar os princípios que devem balizar o ensino brasileiro. Isso ficou evidenciado no artigo 205:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Assim é que a educação foi afirmada como constitutiva dos direitos básicos do cidadão, e reforçada no artigo 6º da Constituição Federal, como o primeiro dos direitos sociais. Segundo Cury (2008, p. 296), desse direito

nascem prerrogativas próprias das pessoas em virtude das quais elas passam a gozar de algo que lhes pertence como tal. Estamos diante de uma proclamação legal e conceitual bastante avançada, mormente diante da dramática situação que um passado de omissão legou ao presente.

Do reconhecimento da educação como direito nascem obrigações a serem respeitadas tanto pelos poderes constituídos, bem como por outros sujeitos implicados nessas obrigações, como é o caso da família (CURY, 2008, p. 296), os quais são corresponsáveis na garantia desses direitos.

Outra contribuição importante sobre os avanços na Constituição Federal de 1988é a de Oliveira (2009, p. 22),a qual afirma que:

O traço forte da Carta Magna foi a atribuição de caráter universal aos direitos assegurados. Apesar de mais de cem anos de republicanismo no Brasil, assegurado no artigo 1º de sua lei maior, na instituição de um estado de direito, ainda se observa o constante desafio de desmantelar a tradição patrimonialista, herdada de uma cultura colonial e escravista. A luta pela constituição de uma cultura republicana, que repouse sobre os direitos e elimine definitivamente o privilégio, ainda é algo bastante presente.

O caráter universal dos direitos do cidadão ficou explícito na Constituição de 1988e foi objeto de modificações através de emendas constitucionais onde se reconhece o dever do Estado com a educação, o que foi assegurado através da universalização da educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria (Emenda Constitucional nº 59, de 2009). Outra conquista foi a progressiva universalização do ensino médio gratuito (Emenda Constitucional nº 14, de 1996), além do atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; além da educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade( Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

Segundo Cury (2008), a Constituição Federal como direito, significa “um recorte universalista próprio de uma cidadania ampliada e ansiosa por encontros e reencontros com uma democracia civil, social, política e cultural”. (CURY, 2008, p. 294). Esse autor caracteriza a inserção da ideia de educação básica, uma nova forma de organização da educação escolar nacional, que atingiu tanto o pacto federativo quanto a organização pedagógica das instituições escolares, atribuindo à educação um papel que lhe é como imanente, o de serem si um pilar da cidadania.

Ainda na Carta Magna, na seção I – da Educação, em seu artigo 206, foi estabelecido que o ensino deve ser pautado em princípios como igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; gestão democrática do ensino público, na forma da lei; garantia de padrão de qualidade e piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. 99850630

Em relação ao pacto federativo mencionado por Cury, segundo Almeida (Almeida apud Camini 2009, p. 60) na Constituição foi reafirmado o princípio do federalismo, que tem como pressuposto básico a soberania da união, um sistema político que envolve a relação entre as diversas unidades da Federação entre si e que se caracteriza pela não centralização, isto é, pela difusão de poderes de governo entre muitos centros, cuja autoridade não resulta da delegação de um poder central, mas é conferida por sufrágio popular. O estabelecimento do regime de colaboração entre os entes federados pode contribuir para a proposição de ações que favoreçam a implantação de um Sistema Nacional de Educação.

Oito anos após a sua promulgação, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº 9394/1996, na qual aparece com destaque a expressão educação básica.

Destacam-se ainda na Legislação Educacional alterações importantes verificadas entre os anos de 2003 e 2010 na LDB nº 9394/1996, além das Emendas Constitucionais nº 53/2006, que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB e o piso salarial dos professores; e a de nº 59/2009, que ampliou a escolarização obrigatória a ser iniciada aos 4 anos de idade e se estendendo até os 17 anos, além da desvinculação de receitas da União.

Outra definição dada pela Constituição Federal foi inclusão de um artigo prevendo a necessidade de aprovação de um Plano Nacional de Educação - PNE, o qual deve ter o seguinte objetivo:

articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas. (Constituição Federal, 2008, art. 214).

Adicionalmente a Emenda Constitucional nº 59/2009 definiu que diretrizes do PNE devem se voltar para a erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, científica e tecnológica do País, estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. Em relação a essa última diretriz, a definição do percentual de investimento público em educação tem motivado intenso debate inclusive sobre a aplicação desses recursos.

Para Silva e Alves (2009, p. 102), a importância do PNE, de duração decenal, relaciona-se com o fato de que “buscam tratar do caráter mais global da educação ao tentarem alcançar todos aspectos relativos a sua organização, seus níveis e modalidades, as condições de formação e de exercício de seus profissionais e seu financiamento”.

O PNE pode contribuir para dar continuidade às políticas educacionais no Brasil, considerando que as políticas de governo apresentam usualmente uma natureza conjuntural e descontínua. Trata-se, portanto de definição de políticas que ultrapassem as diferentes gestões, marcadas por articulações políticas diferenciadas e conjunturais. O que ocorre usualmente é que a cada novo governo há um novo, começar, sem considerar as políticas já em curso. Nesse sentido, o PNE pode ser um instrumento que procura corrigir essas distorções.

O aumento dos recursos financeiros para a educação foi objeto de intensa polêmica e debate no novo Plano Nacional de Educação - PNE, aprovado através da Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014.

Desde a aprovação da Constituição Federal e da LDB nº 9394/1996 já foram aprovados dois PNE: o primeiro aprovado em 2001, por meio da Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, e o

segundo aprovado pelo Congresso Nacional em junho de 2014 e sancionado sem vetos pela presidente Dilma Roussef por intermédio da Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, cujas definições mobilizaram tanto setores governistas, quanto acadêmicos e vinculados aos movimentos sociais organizados.

O PNE recentemente aprovado prevê a ampliação do financiamento da educação pública, podendo chegar em até dez anos, a 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Para que essa ampliação do investimento público se concretize, será possível recorrer às fontes de financiamento, como os recursos da exploração de petróleo e gás natural, além do aumento da arrecadação do salário- educação e instituição de um Custo Aluno-Qualidade (CAQi). Em relação a esse índice, será estipulado um padrão mínimo de insumos indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem, com a multiplicação desse valor pelo total de alunos registrados pelo Censo Escolar. (artigo 5º, parágrafo 5º).

As metas do PNE compreendem ainda a erradicação do analfabetismo na população com 15 anos ou mais de idade; a universalização da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio; e a elevação da escolaridade média da população entre 18 e 29 anos de idade para um mínimo de 12 anos de estudo.

Trata-se de um documento cuja tramitação se deu em meio a intenso debate entre setores da educação brasileira. Sobre a questão, veja o que expõe em seu blog Luís Araújo, doutor em educação e que já ocupou inúmeros cargos públicos, inclusive já foi secretário de educação do município de Belém.

A hora do balanço – 1ª parte

ARAÚJO, Luiz.O governo pode comemorar teor do PNE ou não?Escola Pública. (Disponível em http://rluizaraujo.blogspot.com.br. Acesso em 20 de junho de 2014).

Semana passada apresentei neste espaço virtual a sugestão de alguns parâmetros para que seja feita uma avaliação do conteúdo do novo Plano Nacional de Educação. Como ontem (03 de junho) a votação foi encerrada e o texto seguirá para a sanção presidencial e mesmo que a Presidenta Dilma possa ainda vetar alguma parte do texto, já é possível iniciar uma análise mais detalhada do que o Congresso Nacional apresenta como planejamento para melhorar a educação na próxima década.

Vou iniciar por onde a votação terminou, ou seja, por quanto que o país irá investir em educação nos próximos dez anos e se esse percentual é suficiente.

Como já registrei, os investimentos públicos em educação cresceram pouco na última década e parte destes recursos reforçou o caixa do setor privado via isenções e bolsas.

Dados disponíveis mostram que o investimento público direto (dinheiro público na rede pública) chegou a 5,5% do PIB em 2012 (último dado público sobre o tema). Quando a este percentual são somados os gastos com bolsas e outras subvenções destinadas ao setor privado, chegamos a 6,4% do PIB.

A participação financeira da União, ente federado com maior capacidade tributária, girou em torno de 20% do efetivamente aplicado, percentual muito aquém do seu potencial. Em termos de investimento direto, chegou a 1% e somando os gastos com setor privado alcança 1,3% do PIB.

Este recurso foi suficiente para termos a educação que temos hoje, ou seja, com milhões de crianças ainda fora da escola, com 14 milhões de analfabetos, 29 milhões de analfabetos funcionais, com desempenho de aprendizagem sofrível, com apenas metade dos jovens entre 15 a 17 anos estudando no ensino médio, dentre outras mazelas.

Durante os debates ocorridos no Congresso, tanto os especialistas em financiamento da educação, quanto as entidades da sociedade civil, convenceram os deputados e senadores que a proposta do governo de chegar em 7% do PIB ao final da década era insuficiente. E, ainda na Câmara, foi aprovada nova redação, a qual elevou o percentual para 10% do PIB. O governo tentou derrubar na Câmara esta decisão em junho de 2012 e conseguiu alterar por dentro o seu conteúdo no Senado, ao incluir na contabilização dos gastos públicos todos os repasses públicos ao setor privado, inclusive itens de temerosa legalidade de serem arrolados como gastos educacionais, como o subsidio nos juros praticados no financiamento estudantil.

A última votação ocorrida na Câmara foi justamente a tentativa de evitar um texto com enorme contradição. De um lado, uma redação da Meta 20 que aponta para 10% do PIB para a educação pública (escolas mantidas e dirigidas por entes públicos) versus um parágrafo que autoriza a contabilização como gasto educacional de recursos transferidos a qualquer titulo para a iniciativa privada, inclusive incentivos ou isenções fiscais e subsídios a empréstimos, além do que a Constituição autoriza a contabilizar no seu artigo 213. Por 269 a 118 votos foi mantida a destinação de parte dos 10% para o setor privado.

O texto final perdeu a oportunidade de sinalizar pra sociedade brasileira que a educação é um direito fundamental e que a responsabilidade pelo seu provimento é do Estado. E, ao invés de aprovar 10% do PIB para a educação pública, na prática aprovou uma redação que, caso seja cumprida na sua integralidade, aplicará no máximo 8% do PIB nas escolas públicas. O restante será destinado a fortalecer o caixa das instituições privadas, que certamente ficaram felizes com a referida votação e, caso os parlamentares a procurem e o STF mantenha o financiamento privado de campanha, saberão retribuir de forma generosa a postura solícita da maioria legislativa.

O governo também ficou feliz com o aprovado, porque pode continuar direcionando recursos para seus programas de expansão de vagas, todos ancorados no aumento da parceria com

o setor privado, por meio de bolsas, isenções, empréstimos subsidiados, o que diminui a pressão social pela oferta de vagas públicas, estas de melhor qualidade e por isso mais onerosas aos cofres públicos. Afinal, existem outras prioridades mais relevantes do que elevar o investimento público na rede pública.

Sempre poderia ser pior. Olhando o que o governo apresentou em 2010 e o que foi aprovado, a pressão da sociedade civil arrancou conquistas importantes neste quesito. Escrever na meta 20 que a educação pública deve ter 10% do PIB, mesmo com os problemas acima descritos, significa ter elementos para fortalecer a luta por uma educação pública de qualidade.

Exercício

Procure discutir no fórum o seu entendimento sobre o assunto: o documento aprovado apresenta avanços em relação ao anterior aprovado em 2001? Em sua opinião a ampliação de verbas pode representar um avanço qualitativo na educação de seu município?

Para isso você deverá buscar maiores informações sobre o PNE aprovado em 2001 e sobre o PNE recentemente aprovado em junho de 2014.

RESUMO DA ATIVIDADE

Você deverá ter identificado a legislação do sistema educacional brasileiro, a partir da Constituição Federal e da LDB nº 9394/1996 e as principais mudanças ocorridas desde a aprovação da Constituição em 1988. Além de situar os principais marcos regulatórios, trata-se igualmente importante de compreender como esses documentos irão contribuir na definição das políticas educacionais desenvolvidas a partir da década de 1990.

ATIVIDADE 6

ORGANIZAÇÃO

ADMINISTRATIVA

E

DIDÁTICA

DO

ENSINO

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