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II Capítulo: As Expressões Artísticas na Educação

2.1. A Educação pela Arte

Vários autores têm refletido sobre o papel e a importância que a arte tem na educação. A palavra educação deriva do termo “educere”, e está ligada à ideia de criar.

Segundo Read na sua obra A educação pela Arte não é fácil chegar a um consenso sobre a finalidade da educação, para o autor existem duas intenções completamente incompatíveis. Numa o indivíduo é educado de acordo com as suas características permitindo-lhe desenvolver as suas potencialidades. Na outra, são

eliminadas todas as propensões demonstradas pela criança que estejam em desacordo com o ideal tradicionalmente aceite pela sua sociedade.

Para Read o objetivo geral da educação deve ser ”encorajar o desenvolvimento daquilo que é individual em cada ser humano harmonizando simultaneamente a individualidade assim induzida com a unidade orgânica do grupo social a que o indivíduo pertence” (1982: 21). Para este autor educação pode ser definida como:

o cultivo de modos de expressão - consiste em ensinar as crianças e os adultos a produzir sons, imagens, movimentos, ferramentas e utensílios. Um homem que consegue fazer bem estas coisas é um homem bem educado (...). Todas as faculdades, de pensamentos, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, estão envolvidas nestes processos e nenhum aspecto da educação está aqui excluído. E todos eles são processos que envolvem a arte (...). O objetivo da educação é por isso a criação de artistas - pessoas eficientes nos vários modos de realização. (1982: 24 e 25)

Este autor também defende que tanto a educação como a arte deveriam ter como finalidade a preservação do indivíduo como ser total e das suas capacidades mentais para que quando fosse adulto conservasse a “unidade da consciência que é a única fonte de harmonia social e de felicidade individual” (1982: 90).

Também Platão na sua obra, A República, Platão defende que a educação é algo inerente ao ser humano que contribuí para a sua elevação espiritual:

(…) cada um possui a faculdade de aprender e o órgão destinado a esse uso, semelhante a olhos que só poderiam voltar-se das trevas para a luz, deve voltar-se com toda a alma para o que há de mais luminoso do ser, aquilo a que chamamos o bem! A educação é a arte que se propõe este objetivo. Não em dar a vista ao órgão que já a tem, mas encaminhá-la na boa direção (cit. Sousa, 2003a: 17).

Platão foi um dos grandes defensores do ideal de que a arte e a educação estão ligadas com a finalidade de atingir “ o Belo Espiritual”. Tal como Platão, também Read defende a inclusão das artes na escola, para este autor a “arte deve ser a base de toda a educação”, pois esta é capaz de dar à criança “ (…) não só uma consciência em que a imagem e o conceito, a sensação e o pensamento se relacionem e estejam unidos, mas também, ao mesmo tempo, um conhecimento instintivo das leis do universo” (1982: 91). Para estes autores, quanto mais possibilidades a criança tiver para exercitar os sentidos e expressar as suas emoções, mais possibilidades terá de aprender. É através deste exercício que a ela apreende o material que servirá de base à estruturação das imagens mentais fundamentais à construção dos conceitos. Platão entendia a arte como:

algo inatingível e superior ao homem, algo luminoso que é reflexo do esplendor dos deuses, de nível transcendente, mas para o qual se aproxima da sua via espiritual, sendo motivada pela contemplação de obras que despertam esse sentimento espiritual que é o Belo. (cit. Sousa, 2003, p.18)

Na obra Educação Pela Arte e Artes na Educação. Bases Psicopedagógicas, Alberto Sousa apresenta diversas teorias sobre a arte das quais destacamos: as teorias clássicas que entendiam a arte com um valor transcendente; as teorias psicológicas, em que a arte é entendida como uma elevação moral de natureza psicológica; as teorias expressivas, em que a arte é vista como um meio de expressão; as teorias socioculturais que compreendem a arte como forma de expressão cultural da sociedade; as teorias lúdicas defendidas por Shiller que entende a arte como atividade lúdica; as teorias representativas, segundo as quais, a arte é utilizada como reprodução simbólica da realidade.

Na opinião de Sousa diversas metodologias têm tido como principal objetivo educacional os diferentes domínios de desenvolvimento do ser humano dando, algumas, mais relevância a um domínio do que a outro, no entanto, a educação pela arte é uma metodologia abarcante de todas as dimensões do ser humano, assim, “a educação aparece, pois, como modelo metodológico educacional, não com o propósito de ensinar Arte, mas de utilizar esta como meio de promover a Educação” (Sousa, 2003a: 80). A educação pela arte tem como objetivo o desenvolvimento do racional numa interação entre o pensar, sentir e agir e é aplicada através de atividades lúdicas, criativas e expressivas. Sousa alega que a educação pela arte faculta

(…) todo um vasto leque de vivências simbólicas e emocionais, que contribuem de modo muito especial, não só para o desenvolvimento afectivo-emocional e intelectual da criança, como permitem o colocar em ação toda uma série de mecanismos psicológicos de defesa (…) que robustecem a criança na sua luta contra as frustrações e conflitos da vida (2003a: 83).

Na opinião do Professor António Damásio, no Roteiro para a Educação

Artística Desenvolver as Capacidades Criativas para o Século XXI, a prioridade dada

ao desenvolvimento cognitivo em detrimento da área emocional é um fator que contribui para o atraso do comportamento moral da sociedade moderna. Para este cientista “o desenvolvimento emocional faz parte integrante do processo de tomada de decisões e funciona como um vetor de ações e ideias, consolidando a reflexão e o discernimento “ (UNESCO,2006: 7) e não assenta apenas em bases racionais. Para que

um indivíduo tenha um comportamento saudável, necessita de ter um bom desenvolvimento emocional. Daí o papel da educação pela arte ser tão importante. Atualmente, a principal preocupação do ser humano é adquirir saberes que o possam ajudar a conseguir uma boa profissão que lhe assegure adquirir uma importante posição social, esquecendo-se de ser feliz. Tal facto leva-nos a repensar a educação com vista a uma harmoniosa formação do ser, pois como refere a obra, de vários autores, Educação

pela arte, Estudos em Homenagem ao Dr. Arquimedes da Silva Santos “Um dos fins

sempre presentes da educação pela arte é a felicidade da pessoa, sendo esta uma ação preventiva que procura afastá-la do sofrimento e proporcionar-lhe alegria” (2000: 17).

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